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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

POR JOSÉ WILSON DE SOUZA - O BALAFONE



Dr. José Wilson de Souza - Médico e Membro da SOBRAMES-CE

                                                                       O BALAFONE                                                   (O MISTÉRIO DO TELHADO QUEBRADO)

 

Era um acampamento de operários trabalhando na construção de um grande açude público.

Este acampamento era formado de dezenas de casas que abrigavam os trabalhadores e suas famílias. Nesta comunidade ocorria tudo: noites bastante divertidas para os adultos que improvisavam festas. As crianças  se divertiam com brincadeiras próprias de sua idade e os adolescentes  aproveitavam a distração dos pais para ficarem de amores no escuro das vielas.

Havia também muitas brigas de vizinhos e também muitos amores proibidos. Participava daquela comunidade o casal Lorena e Laurentino. Lorena era uma jovem senhora, branca de cabelos castanhos, de um corpo escultural. Quando caminhava seus quadris bamboleavam em um ritmo frenético, o que era uma festa para os homens que assistiam esta cena de beleza e graça. As más línguas comentavam que ela tinha fama de esquecer o esposo de vez em quando. O esposo era um jovem homem triste, talvez porque tivesse consciência do peso que levava. Chegara ao acampamento, o Dr. Macário, um jovem engenheiro, para fazer parte da equipe técnica da construção. Um dia Laurentino foi ao canteiro de obras receber o pagamento semanal. Levou Lorena em sua companhia. Ao chegar no  barracão da construtora  ( escritório improvisado),  a mulher despertou a atenção de todos, mas ela dirigiu o olhar para o Dr. Macário que lhe lançou um olhar fulminante ao que ela respondeu com um maroto sorriso. O engenheiro conseguiu descobrir onde ficava a casa de Laurentino. Todas as tardes após o fim do expediente saía passeando de carro por falta de outro divertimento, e também para ver Lorena que já acostumada com o horário do passeio do doutor, ficava na janela de onde ela trocava olhares e sorrisos com o engenheiro. Assim foram passando os dias e aquele namoro a distancia continuava. Em uma daquelas tardes, como de costume Macário passou em frente à casa de Laurentino e não viu Lorena. Continuou o seu trajeto, decepcionado e ao mesmo tempo apreensivo. Depois de muito passear e ao mesmo tempo procurar, encontrou a jovem que havia saído para visitar um familiar que estava doente. O engenheiro parou o seu carro, e ofereceu carona, ao que ela respondeu: e se meu maridinho achar ruim?  Foi a senha. Ela não aceitou carona, mas informou que no dia seguinte Laurentino iria viajar e que tarde da noite ele fosse para casa dela, já que ela iria ficar sozinha e estaria a sua espera.  No dia seguinte conforme  combinado se encontraram. Foi uma bela noite. Desnecessário dizer que ficaram carentes de outros encontros. Filho do sertão, Dr. Macário nas horas vagas divertia-se caminhando pelo mato com uma baladeira ( arma artesanal) caçando passarinhos, lembranças do seu tempo de criança e das férias, quando vinha da capital no tempo da Universidade. Baladeira também chamada atiradeira ou estilingue, é um artefato feito de um cambito de madeira com duas pontas amarradas às extremidades de duas tiras de borracha flexível medindo entre 25 e 40 centímetros de comprimento. As outras extremidades das borrachas são presas em um pedaço de couro retangular. Neste couro é colocada uma pequena pedra que depois de esticadas e soltas as borrachas, é jogada à longa distancia atingindo um determinado alvo. É muito utilizada no sertão para caçar pequenos pássaros utilizados para o consumo humano. Inspirados na baladeira, o casal urdiu um plano: existia após os fundos do quintal uma grande propriedade agrícola com muitas árvores. Macário entrava na mata e atirava uma pedra no telhado da casa. Quando Lorena perguntasse em voz alta, quem era o moleque que estava jogando pedra em cima do telhado, o engenheiro se retirava para o seu alojamento, pois já sabia que Laurentino estava em casa. Ocorrendo o contrário, ou seja, se Lorena permanecesse calada, o marido não estava em casa. Os dois entravam no matagal e iam se encontrar em uma aconchegante gruta para mais uma tarde de amor.                                                                                                           Passaram-se os meses a construção terminou. O engenheiro Macário, triste, teve que partir. Lorena continuou com Laurentino. O tempo passou. O acampamento transformou-se em uma pequena cidade com as suas vantagens e também com os problemas socioeconômicos que não poderia deixar de existir. Agora o esposo Laurentino está mais descansado, pois não precisou mais consertar o telhado da casa.
                                                José Wilson de Souza 

2 comentários:

  1. Olá, José Wilson, gostei do conto. De um humor sutil, como aprecio.
    Parabéns....

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  2. A "baladeira" e suas utilidades, no caso, funcionando melhor q o telefone.rsrsrs

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