Dr. José Wilson de Souza - Médico e Membro da SOBRAMES-CE |
O BALAFONE (O MISTÉRIO DO TELHADO QUEBRADO)
Era um acampamento de operários trabalhando na construção de um grande
açude público.
Este acampamento era formado de dezenas de casas que abrigavam os
trabalhadores e suas famílias. Nesta comunidade ocorria tudo: noites bastante divertidas para os adultos
que improvisavam festas. As crianças se divertiam com
brincadeiras próprias de sua idade e os adolescentes aproveitavam a distração dos pais para
ficarem de amores no escuro das vielas.
Havia também muitas brigas de vizinhos e também muitos amores
proibidos. Participava daquela comunidade o casal Lorena e Laurentino. Lorena era uma jovem senhora, branca de cabelos castanhos, de um corpo
escultural. Quando caminhava seus quadris bamboleavam em um ritmo frenético, o que
era uma festa para os homens que assistiam esta cena de beleza e graça. As más línguas comentavam que ela tinha fama de esquecer o esposo de
vez em quando. O esposo era um jovem homem triste, talvez porque tivesse consciência
do peso que levava. Chegara ao acampamento, o Dr. Macário, um jovem engenheiro,
para fazer parte da equipe técnica da construção. Um dia Laurentino foi ao canteiro de obras receber o pagamento semanal.
Levou Lorena em sua companhia. Ao chegar no barracão da
construtora ( escritório improvisado), a mulher despertou a atenção de todos, mas ela
dirigiu o olhar para o Dr. Macário que lhe lançou um olhar fulminante ao que
ela respondeu com um maroto sorriso. O engenheiro conseguiu descobrir onde
ficava a casa de Laurentino. Todas as tardes após o fim do expediente saía
passeando de carro por falta de outro divertimento, e também para ver Lorena
que já acostumada com o horário do passeio do doutor, ficava na janela de onde
ela trocava olhares e sorrisos com o engenheiro. Assim foram passando os dias e
aquele namoro a distancia continuava. Em uma daquelas tardes, como de costume
Macário passou em frente à casa de Laurentino e não viu Lorena. Continuou o seu
trajeto, decepcionado e ao mesmo tempo apreensivo. Depois de muito passear e ao
mesmo tempo procurar, encontrou a jovem que havia saído para visitar um
familiar que estava doente. O engenheiro parou o seu carro, e ofereceu carona,
ao que ela respondeu: e se meu maridinho achar ruim? Foi a senha. Ela não aceitou carona, mas
informou que no dia seguinte Laurentino iria viajar e que tarde da noite ele
fosse para casa dela, já que ela iria ficar sozinha e estaria a sua espera. No dia seguinte conforme combinado se encontraram. Foi uma bela noite.
Desnecessário dizer que ficaram carentes de outros encontros. Filho do sertão,
Dr. Macário nas horas vagas divertia-se caminhando pelo mato com uma baladeira
( arma artesanal) caçando passarinhos, lembranças do seu tempo de criança e das
férias, quando vinha da capital no tempo da Universidade. Baladeira também
chamada atiradeira ou estilingue, é um artefato feito de um cambito de madeira
com duas pontas amarradas às extremidades de duas tiras de borracha flexível
medindo entre 25 e 40 centímetros de comprimento. As outras extremidades das
borrachas são presas em um pedaço de couro retangular. Neste couro é colocada
uma pequena pedra que depois de esticadas e soltas as borrachas, é jogada à
longa distancia atingindo um determinado alvo. É muito utilizada no sertão para
caçar pequenos pássaros utilizados para o consumo humano. Inspirados na
baladeira, o casal urdiu um plano: existia após os fundos do quintal uma grande
propriedade agrícola com muitas árvores. Macário entrava na mata e atirava uma
pedra no telhado da casa. Quando Lorena perguntasse em voz alta, quem era o
moleque que estava jogando pedra em cima do telhado, o engenheiro se retirava
para o seu alojamento, pois já sabia que Laurentino estava em casa. Ocorrendo o
contrário, ou seja, se Lorena permanecesse calada, o marido não estava em casa.
Os dois entravam no matagal e iam se encontrar em uma aconchegante gruta para
mais uma tarde de amor. Passaram-se os meses a construção
terminou. O engenheiro Macário, triste, teve que partir. Lorena continuou com
Laurentino. O tempo passou. O acampamento transformou-se em uma pequena cidade
com as suas vantagens e também com os problemas socioeconômicos que não poderia
deixar de existir. Agora o esposo Laurentino está mais descansado, pois não
precisou mais consertar o telhado da casa.
José Wilson de Souza
Olá, José Wilson, gostei do conto. De um humor sutil, como aprecio.
ResponderExcluirParabéns....
A "baladeira" e suas utilidades, no caso, funcionando melhor q o telefone.rsrsrs
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