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sábado, 2 de fevereiro de 2013

POR SEBASTIÃO DIÓGENES - CASA DE REPOUSO



Dr. Sebastião Diógenes Pinheiro - médico e tesoureiro da SOBRAMES-CE
                                                                              
 A CASA DE REPOUSO
               
 Dr. Cassiano com a mulher escolhem a casa de repouso que fica no alto da serra para passar o longo feriado da semana santa.  A pequena sobra de mata atlântica de mistura com a caatinga torna o lugar muito aprazível. Foi no passado sanatório para o tratamento de doentes da tuberculose, dado o clima ameno e saudável. A hospedaria possui, no entorno, uma horta, um pomar, uma vacaria ao fundo e um enorme galinheiro com aves prontas para o abate. Suínos, caprinos e ovinos ficam na encosta do outro lado da serra, sítio que a vista não alcança do jardim que se localiza no pátio interno, entre as duas alas da rústica edificação. Anexa à ala esquerda, ergue-se a capela de alta torre, que as andorinhas-dos-beirais frequentam.

 A casa de repouso é dirigida por uma freira aplicada, germânica de nascimento. Ela domina muito bem o português e atende as pessoas com obsequiosidade, sem, no entanto, abdicar a formalidade do hábito.

- Café da manhã das 7 às 9 horas; almoço das 11 às 13 horas; jantar das 18 às 20 horas. Ela explana outras regras da casa, todas rígidas, e leva os hóspedes aos aposentos previamente reservados, porque a procura é grande.

O casal fica encantado com o antigo mosteiro beneditino, aprova as acomodações. Dr. Cassiano passa uma noite maravilhosa, desperta com os gorjeios dos pássaros da floresta. Deixa a mulher na cama e sai para o jardim.

- Bom dia, irmã Evelyn! Estou apreciando o seu jardim. Está muito bonito!

- Bom dia! Este jardim dá muito trabalho, mas só em vendo um beija-flor já vale a pena! Os hóspedes gostam muito. E então, o senhor já comeu hoje?

- Não, senhora!

- E a mulher?

- A mulher, já!

Conversam animadamente sobre rosas e orquídeas e dirigem-se ao refeitório.

- É aqui o nosso refeitório. Tenha um bom apetite! Pede licença e sai para ordenar outros afazeres.

Após o farto café da manhã, Dr. Cassiano sai para a caminhada, pega uma trilha bem sinalizada que passa pelos principais arroios da serra. Nesse ínterim, a freira encontra-se com a simpática mulher do Dr. Cassiano, radiante de felicidade.

- Bom dia, irmã! Que jardim lindo!

- Bom dia, dona Lia! A senhora dormiu bem?

- Sim, tivemos uma noite muito agradável. Cassiano está adorando!

- Com licença, irmã, deixe-me ir ao refeitório, senão perco o horário do café da manhã.

- E a senhora ainda não tomou o seu café?! Estranha a irmã Evelyn, de cenho contraído.

- Ainda não, senhora!

A freira, a aplicada administradora da casa, põe o indicador na fronte em sugestão de dúvida. Permanece pensativa por alguns instantes. Fica um pouco confusa. Alivia-se. Julga tratar-se de um mal entendido, coisa da língua portuguesa.

No dia seguinte, o casal acorda cedo sob os cantos harmoniosos da passarada e ambos vão diretamente ao refeitório. Após o café, Dr. Cassiano fica no jardim e a mulher dirige-se à capela do antigo mosteiro.

- Bom dia, Dr. Cassiano! Vejo que o senhor gosta muito da Natureza! Muito bem, meus parabéns! E então, já comeu hoje?

- Já, sim senhora!

- E a mulher?

- A mulher, ainda não!

Dr. Cassiano sai para a caminhada, desta vez, segue a trilha que passa pelo antigo povoado, que nasceu com a construção do convento. Logo em seguida, a freira encontra-se com a sua mulher no adro da igreja.

- Bom dia! A senhora é católica, hem?!

- Sim, sou devota de santa Mônica.

- Muito bonito, é uma santa muito estimada. Pouca gente sabe, era mãe de santo Agostinho. Agora, é melhor a senhora se apressar para o café, são quase nove horas.

- Obrigada, irmã! Já tomei o café com o meu marido.

A freira leva o dedo indicador à fronte e fica ainda mais confusa com as informações prestadas pelo Dr. Cassiano. Traz à memória os diálogos matinais que a deixam perturbada. Os detalhes...! Sim, a intenção do verbo! A mulher do médico observa-lhe as fácies contrafeitas. Em seguida, sobrevém-lhe o riso discreto e resignado, de quem compreende a ironia, o contexto incongruente com os seus votos monásticos. Sente-se humilhada. Monologa em voz baixa: “canalha!”

- Algum problema, irmã? Posso ajudá-la?

- Pode, pois não!

Dr. Cassiano lamenta a brincadeira, jura que não a fez por má fé. Beija-lhe os dedos em cruz, feito menino traquinas. A mulher mal humorada, não quer conversa. O casal desce a serra naquela mesma manhã. Logo abaixo, encontra-se a famosa curva da saudade, local que possui um pequeno santuário e tem uma vista privilegiada da ala direita da casa de repouso. Dr. Cassiano para o carro e desce para acenar um adeus, como manda a tradição. Olha para o alto e lá está a guardiã na varanda,  impassível, no seu hábito azul celeste de mangas largas e véu branco. De longe, assim, parece uma santa! Mas não lhe responde o aceno, braços cruzados, a mão sem retorno.

Sebastião Diógenes.

31 de dezembro de 2012.

3 comentários:

  1. Parabéns, Sebastião! O seu texto me fez viajar no tempo e visualizar os antigos sanatórios para tratamento de tuberculosos, na era pré- quimioterápica.

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  2. estamos no curso da unimwed, gostaria de receber correspondencia meu email ivanovichbmelo@gmail.com

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