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sábado, 29 de outubro de 2022

A PAZ - Por: Dr. Ronald Teles

                             

                                                     Dr. Ronald Teles - Cardiologista

PAZ 

O homem sempre guardou dentro de si um instinto indômito, que o fazia cercar  animais pré-históricos com seus pequenos grupos, abatendo-os para saciar sua fome, através de pelejas que duravam muitas vezes dias pela fragilidade e precariedade dos instrumentos de caça. No entanto eles não desistiam, pois o ambiente era hostil e todo dia eram desafiados em várias aventuras para a preservação de suas vidas também tão frágeis. A arqueologia descobriu que naquelas priscas eras, a violência contra o próximo, estava bem marcada em vestígios ósseos de crânios perfurados e afundados por artefatos primitivos, ossos quebrados e amputados por lanças e machados de pedra. A violência contra o próximo é germinal, primitiva e arraigada no coração do homem; essa animosidade instalada em sua carga genética já determinava a agressão e morte do próximo por motivos ancestrais, que na verdade estão bem presentes nos dias atuais. Na pré-história se matava por fome, ciúme, competição, territorialidade, afirmação de poder, rejeição a novos grupos, personalidade, e vários outros fatores. Alguma semelhança com o nosso século 21?.O cérebro primitivo nos acompanha, com seus instintos mais profundos, a amígdala cerebral é a sede do medo mais arraigado em nossos seres; ela deflagra as crises tão comuns de síndrome do pânico, que hoje atinge grande parte dos seres humanos. Um pico de ansiedade liberado por uma descarga anormal adrenérgica, que resulta em palpitações, falta de ar, sensação de morte iminente, e um grande sufoco, levando muitas vezes o indivíduo a um pronto socorro, pensando que se trata de um infarto ou algo mais grave.

Um sueco de nome Alfred Nobel, descobriu a TNT, que é a dinamite. Sua descoberta descortinou uma nova era para a humanidade, pois a capacidade destrutiva da dinamite seguia também a dualidade do bem e do mal. Logo foi pensada para aniquilar o próximo, fomentar guerras e discórdia. Ele constrangido com seu artefato mortal criou o prêmio Nobel, que seria entregue aos mantenedores da paz e mais tarde estendido aos grandes feitos da humanidade. A fortuna que amealhou, seria mantenedora de um fundo para perpetuação do prêmio, hoje recebido em todas as áreas de destaque global e marcantes de seus merecedores.

O inventor da teoria da relatividade, Albert Einstein, um dos maiores gênios que a terra abrigou era pacifista, discreto, judeu- alemão. Sua tese foi utilizada no projeto Manhattan que culminou na criação, pelos Estados Unidos da América, na criação das primeiras bombas atômicas; estreando uma nova era de morte, terror e ameaça entre as nações, que às detêm, usadas para barganhar poder, instabilizando nossas vidas e nos colocando constantemente sobre a égide de um Armagedon de fogo, que nunca foi tão ameaçador como o que estamos vivendo hoje. Einstein morreu amargurado, sabendo do destino macabro do seu pensamento formidável.

Essa violência, desamor, desprezo pela vida, nunca esteve tão presente como hoje. Nós a encontramos em nosso dia a dia, desde as relações humanas estremecidas com agressões gratuitas, por preconceitos dos mais variados ,como pela cor da pele, orientação sexual, conformação corporal, religião, gênero musical, afiliação política entre tantos, e o desfecho animalesco do homicídio, fratricídio, suicídio, as mais variadas perversões, passando pela violência dos que não tem o que comer, não têm um teto, não têm condições mínimas sanitárias onde habitam ou qualquer infra- estrutura que os sustentem em suas necessidade mais básicas e prementes.

Esse desprezo proposital pelos semelhantes, os deixam marcados com o "rótulo" de " invisíveis”, mas enquanto eles existirem, haverá uma chaga aberta que sangrará e um dia será notada pela sociedade civil ou pelo estado, pois haverá uma crise imensa que já se iniciou e conflagrará um prejuízo imenso ao arcabouço social ora dito " normal”. Então receberão tratamento digno e viveremos plenos e irmanados pelo amor verdadeiro.

Um grande pastor presbiteriano chamado John MacArthur proferiu um pensamento em uma de suas pregações que dizia" A dor é o freio do corpo, e a consciência é o freio da alma”. Pensamento magnífico e lindo deste grande homem de Deus! Nossas consciências tranquilas assinalam que estamos bem conosco e com nossas atitudes em relação ao próximo.

São Paulo, o apóstolo dos gentios, falava que se não tivéssemos o amor, nada valeria em nossas vidas, esse sentimento permeia todas as grandes virtudes e as enobrece, pois ganham um revestimento divino, pregado por Cristo como o mandamento cardinal de amar o próximo como a si mesmo.

O sermão das bem-aventuranças, proferido por Cristo Jesus, é uma das peças mais lindas dos evangelhos, O criador   remete os fiéis a exortar o que de melhor pode haver em seus corações, Ele diz: " Bem-aventurados os mansos, pois estes possuirão a terra, em aventurados os aflitos e os que têm sede de justiça, pois serão consolados".

Esse sermão proferido na montanha, é uma das peças mais lindas do cristianismo, é uma bússola de paz, amor e confiança na palavra sagrada, nos faz crer no bem, nos faz afastar o mal, nos reveste de energia pura e do bom sentimento.

Não há felicidade no egoísmo, no egocentrismo, o olhar para si deve ser analítico, cuidadoso, não deve se perder na soberba, na exiguidade de caráter, na falsa aparência, na hipocrisia de ser e se não fazer o certo. Temos a obrigação de sermos bons, pois o mundo carece dessa qualidade. Não existe essa tal" nova ordem mundial”, essa teoria conspiratória, esquizoide é fruto de uma sociedade em convulsão de seus valores, que se apega às mais variadas mídias que apregoam uma névoa negra que imiscui os fragilizados de vontade e pensamento. Na verdade, quem determina os bons costumes, as boas atitudes, as boas ações e a boa governança é uma sociedade saudável.

Somos diariamente invadidos em nossos lares pelos meios de comunicação que elaboram perfidamente conteúdos propositais banhados de sangue, terror e miséria humana. Infelizmente o bem e as boas coisas não atraem audiência e atenção, pois o ser humano carrega dentro de si a morbidez de se nutrir da desgraça alheia.

A paz está nos olhos da criança ao seio materno, a paz está nas mãos que se estendem aos mais pobres, a paz está nos exercem suas profissões com dignidade e se voltam para o bem comum, a paz mora no coração do governante que atende as necessidades de seu povo, a paz floresce no perdão às ofensas que recebemos, a paz estará diante de nossos olhos quando amarmos nosso irmão como a nós mesmos e quando sentirmos que o mundo carece de um sentimento construtivo, algo que edifique, que perpetue as energias e os mais puros eflúvios de nossas almas, que reconheça nossa fragilidade enquanto seres humanos, indistintamente feitos da mesma matéria, susceptíveis globalmente aos mesmos sentimentos e paixões, independentemente de sexo, cor raça ou língua. Somos a raça humana. Queremos paz em nossas vidas para termos o que se chama de futuro e para que descansemos em paz com Deus e nossas consciências.

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

A PANDEMIA - Por: Dr. Ronald Teles

                                 Dr. Ronald Teles - Cardiologista

Pandemia

A Ásia é o continente mais populoso do planeta, detêm 60% de nossa população, é diversa em seus costumes, suas tradições ,sua religião, seu idioma ,seu relevo geográfico, seus acidentes naturais, sua cultura riquíssima, inteligência destacada, descobertas importantes e também perpetuadoras de conflitos como a pólvora chinesa; estes mesmos chineses , foram os pioneiros em grandes navegações e há relatos de que foram os primeiros a descobrir o continente americano em expedições impetuosas para a época. Lá também se desenvolveram as dinastias, cada uma dotada de grande relevância e mudanças para o país como a dinastia Ming. Eram respeitados e adorados como deuses, com obediência cega de súditos, e a guerra era um padrão de dominação quase constante que rearranjava o reino, ditava nova organização interna, fazia prevalecer novos decretos e tradições e ampliava o poder do soberano e sua riqueza. Eles também nos deixaram seus profetas, pacificadores, filósofos, e homens santos, Confúcio e Buda, esses pregavam um profundo conhecimento interior, para chegar- se à paz plena, uma iluminação onde só o bem invadisse os corações, um estado de felicidade permanente na  aura celestial permanente. A justiça social, a organização correta da sociedade o pensamento coeso com o bem.

Na China, o país mais populoso do continente, também um dos mais acidentados e de difícil agriculturação há um problema seríssimo de alimentação e a diversidade do cardápio alimentar deles, contempla tudo que ande, rasteje e voe; mamíferos, aves, anfíbios e até insetos. Em uma incursão alimentar invadiram uma caverna, na busca de morcegos, próxima à uma cidade chamada Wuhan de aproximadamente 20 milhões de habitantes, capturaram esses animais e os transferiram para uma milenar e insalubre feira de animais vivos, colocando- os em gaiolas, e abaixo deles em outro cubículo outro animal, um pequeno tatu ,chamado pangolin.  Diga-se de passagem que esses animais além de nenhum cuidado sanitário, eram devorados praticamente vivos.

Foi aí que se iniciou uma das maiores tragédias vividas pela humanidade, desde a gripe espanhola em 1918 que dizimou 50 milhões de vidas. Aqueles morcegos são os hospedeiros naturais de um vírus já conhecido dos imunologistas, chamado coronavirus, que esperava uma oportunidade para seu salto evolucional biológico. 

O consumo da carne desses mamíferos rapidamente atingiu Wuhan com uma misteriosa virose, nos quedamos de incerteza e descrença achávamos que iria ser circunscrita, mas rapidamente foram erguidas estruturas hospitalares imensas em torno de 3 semanas para acolher pacientes com síndrome respiratória aguda grave, que acometia a árvore pulmonar de maneira célere e avassaladora. O Ocidente achava que a China era muito " distante" e que talvez o flagelo se circunscrevesse ao território deles. A verdade é que um profissional da Alemanha foi realizar um treinamento em Wunhan, numa fábrica e já exportou o vírus para a Europa, onde grassou rapidamente, começando a matança pelos asilos, e castigando cruelmente a Itália, que implodiu seu sistema médico, e avolumou alta estatística de mortalidade, dramas pessoais, gestos simbólicos de louvor aos heróis da guerra biológica, nós médicos, entoando canções, presos oficialmente em seus lares por um novo termo que seria uníssono em nossos ouvidos: Lockdown.

Nessa época já estava decretada a nova pandemia mundial pela OMS, batizada de Covid 19,oriunda de um vírus com uma " coroa" que foi o rei da morte por 2 anos e meio no mundo.

Em nosso país a doença praticamente entrou pela cidade maravilhosa, no carnaval, com sintomas iniciais e até então desconhecidos, de falta de olfato e paladar, alertados pela sociedade otorrino francesa como novo achado da virose, associados a outros comemorativos de maior gravidade.

Cientistas,sanitaristas,epidemiologistas,infectologistas,internistas e intensivistas, foram convocados para o enfrentamento da nova peste do século 21,alguns encastelados em seus laboratórios, com belos jalecos e gravatas, em aulas teóricas, falando da " beleza" da coroa envoltória do vírus e de suas características implícitas. Na verdade são uma forma de vida das mais rudimentares, no caso dele com uma tira de RNA, que procuram uma célula susceptível onde a impregnam com seu material genético, escravizando-a para realizar milhões de cópias suas, que irão provocar no organismo do hospedeiro um verdadeiro caos imune, chamado ' tempestade" citocinica. A reação é tão exuberante e nociva que desarranja todos os sistemas orgânicos, o vírus entra pelos pulmões pelo peneumócito tipo 1  e células ciliares e depois sobrevêm as várias disfunções como, imunológica, respiratória, cardíaca, renal, digestória, as infecções microbianas secundárias, Sepse, e a morte do hospedeiro pelas mais variadas causas, praticamente ultimando as por disfunção múltipla orgânica e os mais variados fenômenos trombogenicos, visto que é uma patologia pro- inflamatória tecidual.

Sou extremamente feliz em sempre ter participado do bom combate junto aos meus valorosos colegas cearenses médicos, na chamada linha de frente. Não sabíamos bem contra o que íamos lutar, mas sabíamos que estávamos em uma guerra jamais vista nos últimos cem anos da humanidade e jamais poderíamos abdicar de nossa honra e nossa missão de tentar salvar e ajudar ao próximo. O aprendizado foi duríssimo, assustador e sobrehumano, os pacientes adentravam ao hospital em insuficiência respiratória franca e tínhamos que intubá-los coloca-los em ventilação mecânica e dar o suporte necessário a todas as falências sistêmicas Esses procedimentos se revestiam de grande expectativa, temor por nossas vidas e pelas vidas dos pacientes. Tomávamos longos banhos ,quando havia tempo,  após as intubacões, esperávamos cinco dias por sintomas de febre ou " falta de ar " e por fim realizávamos o RT PCR  para afastar ou confirmar a moléstia. Nosso hospital fechou três vezes por super-lotação e o ministério público fazia-o abrir a fórceps, sem condições de nenhum acolhimento a mais, medidas desesperadas para uma situação caótica.

Lutei ao lado de gigantes médicos, colegas distópicos de suas especialidades, que fecharam suas clínicas, consultórios, deixaram de operar, e se transformaram em uma valorosa força tarefa que também teve grandes baixas. Perdi amigos pessoais médicos, chorei profundamente a morte deles, senti em meu coração algo que jamais experimentei. A morte quase súbita e galopante provocada pelo ar...

Perdi parentes, perdi conhecidos, perdi colegas, perdi amigos.

A doença do medo, com sobrenome de terror e morte. A humanidade por um momento irmanou- se, todos elevaram seus olhos a Deus e o Santo papa Francisco, percorreu o pátio do Vaticano com a cruz de São Marcelo, em um passeio solitário numa conversa pessoal com Deus, pedindo um alento ao Armagedon.

Hoje após todas as variantes, a de Wuhan, a Gama/ P1 de Manaus, A Omicrom, a Ba4 a Ba5,outras,subvariantes,temos 700.000 brasileiros mortos e milhares de famílias enlutadas, traumatizadas para sempre pela dureza do adoecer, da evolução, do morrer e do luto abrupto e sem reverências. Crueldade até o fim .

As vacinação  começou na Inglaterra com uma enfermeira brasileira que tomou a primeira dose da Pfeizer. De lá para cá, após várias plataformas testadas, vários boatos, infundados, negacionistas de todas as espécies, cientistas do mal, contra a vacinação,  estamos com a melhor situação vacinal mundial, pois nosso PNI( programa Nacional de imunização) é o melhor e mais famoso do mundo, e fizemos valer a tradição que agora dita mais de 85% do contingente brasileiro vacinado com 2 doses, mais de 60% com reforço de terceira e quarta dose, e sem sombra de dúvidas o único local com Covid 19 é o noticiário falacioso de certos jornais que são as verdadeiras carpideiras das desgraças diárias suas pautas são somente a miséria humana e nunca nada construtivo ou alvissareiro. Contínuo orgulhosamente na linha de frente, após um período de grave adoecimento por Covid , com 70 dias de internamento, em minha profissão que tanto amo, e não vemos mais Covid 19 em nossos nosocomios 

A humanidade se abraça à essa nova era e chance de vida, ela nos foi dada pela graça de Deus e sua profunda misericórdia por nós, que nos achamos auto-suficientes, muito inteligentes, e donos de nossos destinos, mas " Quão insondáveis são os teus juízos e quão inescrutáveis são os teus caminhos "assim fala São Paulo aos romanos em uma de suas 7 epístolas. 

Aproveitemos então as lições duras que tivemos e amemos mais ao semelhante praticando o mandamento cardinal do evangelho, para também sermos amados e a paz encontre refúgio no fundo de nossos átrios, sendo guia de nossas consciências, abraçando-a permanentemente para um mundo realmente melhor e diferente.