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quarta-feira, 29 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (41º dia)

Diário de uma quarentena (41º dia)
Obrigado, Senhor!
Por Arruda Bastos

Na segunda, dia 27 de abril de 2020, fiquei preocupado com uma febre repentina que uma das minhas filhas passou a apresentar. A informação chegou aos meus ouvidos através da ligação telefônica de outra filha, que é médica, já que a caçula, de início, quis poupar minha querida Marcilia de sobressaltos. Como surgiu também dor de garganta e persistia a febre, ela resolveu me comunicar.

Em tempo de pandemia, é sempre preocupante o sintoma febre, pois demonstra um quadro infeccioso que pode ser bacteriano, mas também virótico, com especial tendência no momento ao coronavírus. No caso da minha filha, ainda maior a tendência, devido ter tido contato com pessoa que testou positivo.

Aqui em casa, temos seis médicos: eu, um filho, duas filhas e dois genros. Os outros membros da família, embora não tenham diploma, por osmose, e pela convivência, também são afeitos, em casos simples, a emitirem suas orientações, afinal, como diz a expressão idiomática: “de médico e louco todo mundo tem um pouco”.

Voltando para os sintomas da minha lindinha, na terça a dor de garganta piorou e a febre também, apesar da medicação prescrita no pôr do sol no dia anterior, após confabulações entre os médicos da família. A orientação, então, foi de realizar alguns exames, o que motivou o acréscimo de novo medicamento. Um dos meus genros, médico com experiência na área, comandou a mudança no tratamento.

Nesses momentos de dificuldade e de apreensão, não podemos deixar de rezar e pedir a intercessão de Deus e de Nossa Senhora. Aqui, minha querida Marcilia comandou as preces, o que foi acompanhada por toda a família. É confortador também sentirmos a solidariedade tão necessária para encontrarmos a força e o equilíbrio para enfrentarmos os momentos de incerteza.

Como já escrevi em crônicas anteriores, tenho uma fé muito grande na providência divina e, com toda certeza, nos últimos dias, renovei ainda mais a minha crença. O que posso dizer é que minha filha teve uma recuperação extraordinária com o tratamento, que inclusive não foi composto por drogas em uso na atual pandemia. Afinal, ela ainda vai realizar o teste para Covid-19 e, pela evolução, o quadro parece ser de outra etiologia.

Foi uma semana de muita emoção, que termina com a felicidade de ler a mensagem: “Gente, estou me sentindo muito bem, graças a Deus. A garganta só arranha um pouco agora e o pus já foi todo embora. Agradeço imensamente a todos pela atenção e pela rápida conduta e tratamento proposto para minha recuperação, especialmente ao Gerardo. Amo vocês de paixão. Agora vou seguir o tratamento até o final e repousar um pouco mais. Fiquem com Deus e se cuidem”.

Para concluir, com sentimento, transcrevo a oração dos médicos e profissionais de saúde, como forma se agradecer às graças recebidas:

Ó Mestre, eu te agradeço porque me entregaste a missão de exercer a Medicina, restituir a alegria de viver às pessoas que me são confiadas a qualquer hora, momento e lugar.

Ofereço-te a minha vocação de servir a sociedade como instrumento de tua providência.

Grandes são os avanços da ciência, mas também são inúmeros os desafios à limitação humana que exige de mim seriedade, equilíbrio, sabedoria e fidelidade ao juramento que fiz.

Ó Deus da vida! Ilumina-me e faça de mim um mensageiro de misericórdia e esperança.

Que no final de cada jornada eu possa celebrar o renascer da vida, fruto do trabalho e entregar-te às situações da minha limitação quando não tiver êxito.
Senhor, que vieste trazer vida e vida em abundância, tornar-me um instrumento de tua misericórdia.

Amém.
Obrigado, Senhor!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 41. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

terça-feira, 28 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (40º dia)




Diário de uma quarentena (40º dia)
O bíblico, o profano e a Mulher de quarenta
Por Arruda Bastos

Hoje, 28 de abril de 2020, completo meus 40 dias de quarentena. O isolamento foi total desde o início e a única vez que saí foi por uma boa causa, afinal, pertencendo ao grupo de risco, tinha que tomar a vacina da gripe, como já relatei na crônica “Uma odisseia na terra dos vírus gigantes”.

A história das quarentenas nasceu no século 14. Na época, a peste bubônica matou mais de um terço da população da Europa. O governo de Veneza, temendo que o mal viesse do mar, determinou que todas as embarcações ficassem isoladas durante 40 dias antes do desembarque dos passageiros. O fato inspirou outras quarentenas em todo o mundo, agora baseadas em dados científicos que comprovam sua eficácia.

Como no dia de hoje escrevo a minha quadragésima crônica do “Diário de uma quarentena”, vou falar do número 40 e dos segredos e mistérios por trás dele. Para iniciar, encontrei que, em geral, esse número poderoso representa mudanças, transformações, desafios e decisões, mas também, tempo e paciência necessários para que todas as coisas se resolvam. Exemplo maior não poderíamos encontrar atualmente, na pandemia do coronavírus.

Nas Sagradas Escrituras, há uma frequente relação entre o número 40 e períodos de preparação e mudança: Deus fez chover 40 dias e 40 noites nos tempos de Noé (Gênesis 7,4); Moisés passou 40 dias de jejum no Monte Sinai, a sós com Deus (Êxodo 24,18); O povo de Israel passou 40 anos em êxodo pelo deserto rumo à Terra Prometida (Números 14,33).

Encontramos também que duraram 40 anos os reinados de Saul (Atos 13,21), Davi (II Samuel 5,4-5) e Salomão (I Reis 11,42), os três primeiros reis de Israel; Jesus foi levado por Maria e José ao templo 40 dias após seu nascimento (Lucas 2,22); Jesus jejuou durante 40 dias no deserto, onde foi tentado pelo demônio (Mateus 4,1–2; Marcos 1,12–13; Lucas 4,1–2).

Existem, ainda, diversas outras citações bíblicas com o número 40, mas vou preferir agora passar para o próximo assunto, o profano e lembrar-vos da música “Mulher de quarenta”, de autoria de Roberto Carlos, que foi lançada no ano de 1996. Na inspirada letra, encontramos que a mulher de 40: “Por experiência, sabe a diferença de amor e paixão, o que é verdadeiro, caso passageiro ou pura ilusão” e que, para o Rei, a idade não interessava: “Não quero saber da sua vida, sua história, nem do seu passado. Mulher de quarenta, eu só quero ser o seu namorado”.

Agora que me lembrei da letra, vou continuar cantando: “Se ela se distrai, uma lágrima cai, ao lembrar do passado, seu olhar distante vai, por um instante, a um tempo dourado. Retoca a maquiagem, cheia de coragem, essa mulher bonita que já não é menina, mas a todos fascina e a mim me conquista. Não quero saber da sua vida, sua história, nem do seu passado. Mulher de quarenta, eu só quero ser o seu namorado”.

Para concluir, digo que o número 40 é mesmo mágico, pois com ele foi possível misturar o bíblico e o profano. Com isso, espero que a crônica de hoje estimule o isolamento social, visto que sabemos, não como no século 14, que é a única forma de reduzirmos a disseminação de uma pandemia e o número de óbitos.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 40. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

segunda-feira, 27 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (39º dia)

Diário de uma quarentena (39º dia)
Vou chamar a Feiticeira e Jeannie é um Gênio
Por Arruda Bastos

Nesta segunda-feira, 27 de abril de 2020, trigésimo nono dia de quarentena, fiquei realmente muito preocupado com as últimas notícias da pandemia no Ceará. O boletim da Secretária da Saúde do Estado, divulgado há pouco, demonstra um crescimento exponencial da covid-19.

Os canais de televisão, desde ontem e continuando nos telejornais de hoje, só demonstram números crescentes em todo Brasil, dificuldade de leitos, de atendimentos e ainda um grande percentual de pessoas sem noção que não atentaram ainda para o caos que estamos vivendo e continuam a burlar o isolamento social.

Como minhas crônicas buscam entreter as pessoas vou ficar por aqui, pois a verdade nua e crua da pandemia vou publicar como crônicas extras no meu livro “Diário de uma quarentena”. Elas serão apresentadas intercaladas com as de água com açúcar que posto todos os dias no site da SOBRAMES e nas redes sociais.

Pensando assim, depois de fazer uma verificação da audiência dos meus textos, descobri que os que tratam de coisas antigas, do arco da velha, são os preferidos. Resolvi, então, dar mais uma canja aos meus leitores da melhor idade e no dia de hoje vou tratar das séries de televisão exibidas nos anos 1960 e 1970.

Digo que nesse período eu era vidrado nas séries que normalmente passavam à tarde ou depois da novela das oito. Lembro da “A Feiticeira” (1964 - 1972), que contava a história de Samantha, que, além de uma dona de casa, era também uma bruxa capaz de fazer mágicas com uma torcidinha no nariz. Que bom seria se a Feiticeira existisse para afastar esse pesadelo de todos nós.

Outra que não esqueço é a “Agente 86” (1965 - 1970), uma divertida série sobre o espião Maxwell, que de um jeito atrapalhado e engraçado resolvia os crimes praticados pela organização criminosa CHAOS. Ele contava com a ajuda da bela agente 99. Seria muito útil se nos dias de hoje o atrapalhado espião encontrasse a vacina para o coronavírus em algum país do mundo.

Tenho saudade também da “Jeannie é um Gênio” (1965 - 1970), que narrava o acidente do major Nelson, piloto da Força Aérea Americana, em uma ilha deserta. Depois de cair, ele encontra uma garrafa com um gênio. O piloto liberta o cativo e descobre que o gênio é uma linda mulher. Os dois se apaixonam e ela vai com ele morar nos EUA. Que tal se encontrássemos um gênio nesse momento de quarentena para satisfazer nossos desejos?

De todas elas, “O Túnel do Tempo”, de 1966, que mostrava as viagens do cientista Doug Phillips e de outro que não lembro o nome, que como cobaias usam a máquina do tempo e acabam ficando perdidos, era a que eu não perdia. Suas viagens eram monitoradas pelos cientistas da sala de comando. Se a máquina existisse eu pularia sem sombra de dúvida o ano de 2020 como um toque de mágica.

Como já está ficando tarde, as duas últimas que lembro são “Perdidos no Espaço” (1965 - 1968) e “Viagem ao Fundo do Mar” (1964 - 1968). A primeira, uma série futurista que conta a saga da família Robinson no espaço a bordo da nave Júpiter 2. A missão foi sabotada pelo doutor Zachary Smith, um agente de um governo inimigo. A família então acaba perdida no espaço e não encontra a rota de volta à Terra. O Dr. Smith, com seu jargão “oh, dor!...oh, dor” e suas trapalhadas, caso estivesse aqui, ia tirar a quarentena de letra.

Já o seriado “Viagem ao Fundo do Mar” (1964 - 1968) conta a história do submarino Seaview e as aventuras de sua tripulação em missões, em cenários próximos da Guerra Fria. Os personagens Almirante Nelson e o Capitão Ted Crane eram os mais queridos. Às vezes nessa quarentena penso que estou isolado em um submarino tipo o Seaview no fundo do mar.

Para terminar, digo que estou me sentindo nessa pandemia como o jovem Will Robinson e o Robô B9 da série “Perdidos no Espaço” e o tripulante Kowalski em “Viagem ao Fundo do Mar”, sempre esperando encontrar um rumo e um final feliz.

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Essa foi a do dia 39. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

POR ALCINET ROCHA: AURORA QUARENTENAL

AURORA QUARENTENAL

As sombras vão beirando com vagar
Noite alta que me gera comoção
O aconchego do silêncio a planar
O vento uivando em forma de canção
Convertem sutilmente sem cessar
Prata e breu na matizada amplidão

A noite-dia inicia o ardejar
No céu que irrompe rosa num rasgão
A paz logo meu corpo anestesia
E afrouxa o peso alçado ao coração

Refaço as trilhas do obsoleto dia
Anulo as árduas e a alvorada amplia
Meu olhar à vida com nova feição.

Alcinet Rocha é médica sanitarista e hematologista, primeira secretária da SOBRAMES/CE

domingo, 26 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS:Diário de uma quarentena (38º dia)



Diário de uma quarentena (38º dia)
Domingo de precúndia e preguiça
Por Arruda Bastos

Nesse domingo, 26 de abril de 2020, acordei disposto como quase sempre durante os já trinta e oito dias de quarentena. Levantei cedo, assisti à missa do padre Marcelo, cumpri toda a agenda matinal: caminhar, levar sol, fazer alguma manutenção no apartamento, troquei até lâmpada queimada,  partir para um banho e depois para o almoço. Hoje, para variar um pouco, foi um filé com fritas que Marcilia pediu por delivery.

Em outras oportunidades, nunca tinha pensado na simplicidade do prato solicitado. Digo até que não fazia parte do meu cardápio preferido. O isolamento tem acarretado muitas mudanças na minha vida. O certo é que exagerei e comi mais do que o normal. Depois veio a consequência: aquela preguiça e até mesmo uma precúndia.

Depois de uma soneca, pois ninguém é de ferro, chegou a hora de escrever. Entretanto, o cérebro não funcionava e era um bocejar atrás do outro. Pensava em falar dos carecas, pois logo cedinho no instagram vi uma postagem do meu amigo Gabriel Seffair que dizia “visual pandemia, invejosos dirão que estou ficando careca”.  Desse tema vou tratar em outro dia, uma vez que vou necessitar de tempo para discorrer sobre o assunto, já que é dos carecas que elas gostam mais.

Fiquei a pensar no que escrever quando lembrei que, no dia de ontem, recebi uma carinhosa ligação solicitando permissão para publicar minha crônica “No tempo da brilhantina” em um livro escrito por idosos que também escrevem seu diário de uma quarentena. Fiquei sensibilizado com o pedido, visto que fui informado que os da melhor idade ficaram emocionados com as lembranças do tempo do ronca e as recordações do passado, da crônica.

Mas a preguiça e a precúndia não me estimulam a enveredar por essa linha. Preferi, então, para incentivar que mais leitores tenham acesso às minhas crônicas, fazer um release dos temas abordados durante a última semana. Muitas vezes, depois de escrever, fico pensando se realmente estou conseguindo o meu objetivo: entreter aqueles em isolamento e documentar o momento inédito que vivemos.

Decidi, assim, trilhar esse caminho e até mesmo por estar precisando recordar alguma das minhas crônicas, fui em frente. No domingo, iniciei com “O ‘gatoso’, a quarentena e o mesversário”; na segunda, o desabafo com o “É de lascar”; na terça, cheguei ao “Obnubilado de ‘A’ a ‘Z’”; na quarta, foi a vez da emoção com “O aniversário da netinha Larinha e o drible no coronavírus”; já na quinta, a nostalgia do “No tempo da brilhantina”; na sexta, o posicionamento com “ As lives das panelas” e no sábado aquele chororô com “ Os aniversários da Lilia e do Levi deixam o coronavírus doidim”.

Se meu leitor diário pensava que eu ia fazer um resumo de todas elas, digo que hoje não vai ser possível, pois a precúndia continua. O meu desejo é estimular quem não leu nas redes sociais a aproveitar agora para dar uma espiada no que escrevi. Se você está lendo no meu livro, já depois que tudo passou, e quando tudo agora é história, que tal voltar algumas páginas e reler algumas das crônicas que escrevi com as cordas do meu coração?

Concluindo, deixo o meu incentivo para todos e até para aqueles que, como eu, na tarde de hoje sentiram certa precúndia e muita preguiça. Vamos sacudir a poeira e continuar nossa cruzada de fé e orações na busca de força e conforto espiritual para enfrentarmos o que ainda há de vir nos próximos dias e semanas.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 38. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

sábado, 25 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (37º dia)

Diário de uma quarentena (37º dia)
Os aniversários da Lilia e do Levi deixam o coronavírus doidim
Por Arruda Bastos
 
Hoje, 25 de abril de 2020, é o aniversário de duas pessoas muito especiais, da Lilia, milha filha caçula, e do meu netinho Levi. A comemoração em dose dupla foi o ponto principal desse sábado de isolamento social. Cada qual na sua casa, comemoramos às 17 horas os 06 anos do Levi e às 20 horas o aniversário da Lilia.
 
Como já comentei em crônicas anteriores, esse período da pandemia da Covid-19 não tem arrefecido o ânimo de muitas famílias em promover encontros virtuais para saudar a vida e agradecer a Deus a existência dos seus entes queridos. O amor tem vencido o coronavírus e as dificuldades desse momento.
 
A produção para as festas de hoje começou alguns dias atrás quando meu genro Raul, esposo da Lilia, e minha filha Lia, mãe do Levi, encaminharam solicitações de vídeos para apresentar aos aniversariantes no início do dia do aniversário. A produção ficou belíssima e emoldurou, conjuntamente com a chuva e os primeiros raios de sol, o inesquecível dia que nascia.
 
Levi é uma criança linda, inteligente, com muitas qualidades e de uma personalidade forte. No seu vídeo da abertura dos presentes, emocionou a todos com sua alegria infantil e os agradecimentos que fez de forma espontânea para os tios e avós. Digo que a minha vontade foi mesmo de sair de casa para dar aquele abraço bem apertado como ele gosta.
 
Lilia é uma filha exemplar, dedicada, de uma inteligência rara e uma beleza de dar inveja às misses do meu tempo de rapaz. É também meu braço direito nas minhas produções literárias. Seu vídeo demonstra a grande quantidade de amigos que com facilidade cativa com seu jeito brejeiro de ser. Deu-me vontade também de sair correndo para dar aquele beijo de aniversário.
 
As festas virtuais foram emocionantes e sem dúvida ficarão indelevelmente marcadas na nossa memória, somadas aos encontros realizados no aniversário do meu filho Bruno, do meu genro Evalto e da minha netinha Larinha, todos realizados nesse momento de isolamento. Não tenho medo de dizer que a fragilidade atual tem deixado nosso coração mais aberto a recepcionar o calor do amor.
 
Tenho certeza que o mais incomodado com tantas festinhas está sendo o coronavírus que, sem dúvida, é poderoso quando infecta uma célula do nosso organismo e, por isso, todo cuidado é pouco. Mas é frágil diante dos cuidados com a limpeza das mãos, o uso das máscaras, o isolamento social, a solidariedade e o amor incondicional.
 
Para os aniversariantes, desejo felicidades, paz, muitos anos de vida e saúde, que no período atual é o nosso maior presente. Digo que o amor sempre vence, não interessa as dificuldades. Parabéns aos dois e fica o meu desejo de que no ano de 2021 estejamos novamente juntos, agora fisicamente, para celebrarmos a vida e agradecermos a Deus e a Nossa Senhora a graça de ter passado por tudo com muita fé e orações.
 
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 37. #FiqueEmCasa
 
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (36º dia)

Diário de uma quarentena (36º dia)
As lives das panelas
Por Arruda Bastos

Hoje, 24 de abril de 2020, passamos o dia todo sendo bombardeados com as notícias da saída do Ministro Sérgio Moro do governo Bolsonaro. Foi pronunciamento pra cá e pra lá. Até agora, quando estou escrevendo minha crônica, as informações não param. O ministro saiu atirando e com certeza a situação do presidente vai se complicar muito. O pronunciamento de Moro mais pareceu uma delação premiada.

Como tenho compromisso de nas minhas crônicas não abordar temas políticos, a não ser de leve e quando o fato é muito relevante, se o som do tilintar das panelas, que batem insistentemente agora de forma ensurdecedora, deixarem eu vou voltar a escrever. Realmente está difícil, só mesmo com um fone de ouvido e fechando as janelas e portas vai ser possível continuar.

Nesse trigésimo sexto dia de quarentena e depois de tudo que relatei nos dois parágrafos anteriores, só mesmo apelando para a irreverência e o espírito moleque dos cearenses para tirar de letra. Assim sendo, resolvi escrever a respeito das inúmeras lives que inundam as redes sociais e de uma irreverente música que escutei no youtube.

Tenho participado de algumas lives, convidado que fui por diversos amigos como Jairo Castelo, Josemar Argolo do Jornal do Médico e muitos outros. Digo que foi uma excelente experiencia e a participação popular, o ponto alto. Foi tão estimulante que na próxima segunda-feira, dia 27, vou retomar o meu programa de televisão ”Encontro Marcado” com o parceiro José Maria Philomeno, agora na forma de live nas nossas contas do facebook.

Nos últimos dias tivemos ótimas lives: do Roberto Carlos, de Sandy e Junior, do Wesley Safadão, o festival “One World: Together At Home” e muitas outras. Todas bastante interessantes, com muita audiência e até com arrecadação de recursos para os mais necessitados.

Mas, no dia de hoje, de tanto ouvir batida de panelas, comentários nas redes sociais e na televisão, não me resta mais nada do que transcrever a letra da música, com bastante humor, “Não aguento mais “live” de Fábio Carmeirinho que transcrevo abaixo.

Eu agradeço a minha mulher / Por ter me preparado pra essa quarentena / Nesse confinamento / Todo hora ela manda eu fazer uma live / "laiva" louça, "laiva" a pia, vai "laivando" os pratos / Não tô aguentando fazer tanta live / "Live", vou fazer uma "live" / Não aguento mais "live" / Já "laivei" toda a louça / "Live", vou fazer outra live / Não aguento mais "live" / Já "laivei" toda roupa.

Para terminar, digo que tudo é brincadeira, pois estou aberto a novos convites para lives. Agora vou encerrar por aqui, pois, pelo que tudo indica, a barulhada de panelas vai ser tanta que não vai adiantar fone de ouvido, tampouco fechar portas e janelas.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 36. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

quinta-feira, 23 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (35º dia)

Diário de uma quarentena (35º dia)
No tempo da brilhantina
Por Arruda Bastos

Ao acordar no dia de hoje, encontrei no pé da cama uma chinela havaiana. De imediato lembrei-me de uma propaganda que passava na televisão Semp Toshiba da casa do meu pai quando eu era criança. O reclame dizia que ela era a única alpargata que não tinha cheiro e nem soltava as tiras.

Recordo que, na época, eu usava mesmo era a genérica e ela tanto soltava as tiras quanto era meio fedorenta. As tiras, quando soltavam, eu dava um jeito colocando um grampo de cabelo de uma das minhas irmãs; o cheiro não tinha mesmo como resolver e, por mais que Atá, que também nos criou, usasse Seiva de Alfazema e passasse talco Cashmere Bouquet com a pluma da minha mãe, não tinha jeito.

No continuar do dia, quando passei a escrever, só me vinha à mente coisas antigas. O teclado do meu computador Dell se transformou em uma máquina de escrever Olivette lettera, o meu Iphone 8 Plus virou, de repente, um gravador K7 Gradiente que mamãe comprou na Lobrás da praça do Ferreira, ao lado do abrigo Central.

Com tanta nostalgia, pensei que estivesse ainda sonhando. Levantei e fui lavar o rosto. Chegando ao banheiro o caso piorou, pois a minha pasta colgate se transformou em uma gessy e encontrei também uma latinha de pomada minancora que usava para tratar as espinhas quando estava ficando adolescente.

Resolvi, então, trocar de roupa para fazer um pouco de exercício, na esperança de voltar ao normal. Entretanto, no closet só encontrei uma calça Lee Faroeste boca de sino e umas blusas de gola rolê. O tênis nike sumiu e no seu lugar descobri um velho "conga" e um Vucabrás 752. O pior é que acho que o mal passou para Marcilia, pois na parte dela do closet vi uma saia plissada xadrez azul e uma blusa de banlon amarela.

Pensando que era hipoglicemia, fui comer alguma coisa na cozinha. Lá chegando senti que o caso era mais grave do que eu pensava, pois encontrei no lugar da Brastemp uma geladeira Frigidaire contendo uma jarra de Q-Suco de morango, uma garrafa de Grapette, uma de Crush e outra de guaraná Taí.

Com tantos pensamentos desencontrados, fui à farmácia daqui de casa para me medicar. Chegando no armário onde guardamos alguns medicamentos, tamanha foi a minha surpresa quando encontrei um vidro de Emulsão de Scott, outro de Biotônico Fontoura e um tubinho de pílulas de vida do Dr. Ross. Ainda bem que não me deparei com óleo de rícino, pois seria capaz de vomitar.

Depois de toda essa provação, não tive coragem de descer. Não só com medo do coronavírus, mas também com receio de não encontrar o meu Compass e o Honda da Marcilia e sim no lugar a Vemaguet do tio Monteiro, o Gordine do Henrique ou o Jeep Willys 51 do Augusto.

Se você, meu leitor, conhece todos esses produtos, digo que está com uma excelente memória, mas, infelizmente, já pertence ao grupo de risco para Covid-19. É melhor ficar em casa e não facilitar, mesmo que um dia desse acorde perturbado como eu, hoje.

Para concluir e entrar de vez no clima, vou procurar uma edição da Revista Cruzeiro, ler um pouco da Seleções Do Reader's Digest e depois do banho usar Lancaster, a brilhantina Glostora, pomada Trim e o gel Gumex. Com toda essa belezura e com os poucos cabelos devidamente bezuntados, vou ajeitar a cabeleira usando meu pente Flamingo. Recordar é viver!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 35. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES - CE.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (34° dia).

Diário de uma quarentena (34° dia).
O aniversário da netinha Larinha e o drible no coronavírus
Por Arruda Bastos

Hoje, 22 de abril de 2020, minha netinha Larinha completa seu primeiro aniversário. Eu estava presente e chorei de emoção no seu nascimento, mas como a cabeça não tá muito boa nessa quarentena, recorri à crônica que escrevi no ano passado intitulada “Lara, minha netinha ansiosamente aguardada, chegou” para recordar que foi às 8 horas e 27 minutos que nasceu, pesava 3 quilos e 100 gramas, com 48 centímetros. O Hospital foi o Gênesis, aqui em Fortaleza.

Voltando um pouco no tempo, lembro-me do chá de revelação, quando escrevi a crônica “Lara, minha nova netinha, é vitoriosa até no nome”. Na oportunidade, relatei que a cor rosa, depois do estouro dos cartuchos, foi a que prevaleceu e que o nome escolhido, Lara Parente Bastos manteria a tradição dos nomes iniciados com a letra “L” na família. Na época, o oitavo. Em agosto chega o nono, com a Lina da minha filha Lívia.

Pesquisando o nome com cuidado, encontrei, entre outras definições, que Lara indica uma pessoa vitoriosa, o que, por coincidência, define bem a luta, a perseverança e as orações para sua concepção, seu nascimento e a coincidência do seu aniversário acontecer no momento atual. Meu filho Bruno e minha nora Lais já tinham contratado uma bela festa, mas devido a Covid-19, tudo foi transferido.

Como escrevi em crônicas do meu “Dário de uma quarentena”, o coronavírus pode até tentar e estrebuchar, mas não vai impedir que o amor, a confraternização e a alegria aconteça entre as famílias. A festa virtual é uma saída e, no caso da Larinha, foi um show com tudo que tem direito: bolo, salgadinhos, lembrancinhas, parabéns e muita alegria.

Lais driblou o “corona” e até as dificuldades do isolamento social encaminhando, com antecedência, para casa dos convidados, muitas guloseimas. Assim, além do virtual, podemos ter aquele gostinho de festa e as crianças, suas lembrancinhas. Cada um pôde, então, organizar uma mesa de aniversário em sua residência e celebrar com toda a família. Foi uma grande sacada e vai ficar marcada indelevelmente nas nossas memórias esses momentos de emoção.

O dia foi de grande alegria. Logo cedinho, quando acordei, a minha querida Marcilia digitava e narrava, em voz alta, uma mensagem para nossa netinha. Depois, escutei o disparar do som do aplicativo, que muitas vezes me irrita, mas no dia de hoje tocou como uma música, e li as inúmeras mensagens para Larinha, lindas e de grande inspiração.

Como exemplo, vou transcrever a da Marcilia que diz: “Hoje, nossa linda bonequinha está fazendo seu primeiro aninho. Com certeza teremos um lindo encontro virtual para comemorar esta data. Larinha é um grande presente de Deus para toda a família. Que Papai do Céu lhe abençoe com muita saúde, muitos presentes, muitas guloseimas e muito amor do papai, da mamãe, do vovô, da vozinha, dos titios e dos priminhos”. 

Para concluir, digo que Lara cresceu rápido, linda, com graça e inteligência. Como não podemos encontrá-la pessoalmente, seus vídeos são um colírio e, sempre que postados, um bálsamo para os nossos corações. Pedimos a Deus e Nossa Senhora a sua proteção para que minha netinha cresça com saúde, graça e inteligência. Nós te amamos! Parabéns!

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Essa foi a do dia 34. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES - CE.

terça-feira, 21 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (33° dia).

Diário de uma quarentena (33° dia).
Obnubilado de “A” a “Z”
Por Arruda Bastos

Acordei nessa terça-feira como tenho feito todos os dias: preparado para enfrentar as tarefas da minha agenda. Caminhar, tomar banho de sol, trabalhar em algum conserto, escrever a crônica, preparar aulas virtuais, e não poderia esquecer que terça é dia da minha tutoria com os alunos da Medicina da Unichistus.

Levantei, fui logo tomar banho, vesti uma bela camisa, a bermuda e liguei o computador para receber os alunos na sala virtual do Google Meet. Por volta das oito horas fiquei esperando e nenhum pé de pessoa entrou no circuito. Depois de algum tempo, fui olhar no grupo do WhatsApp dos professores e descobri então que hoje era feriado de Tiradentes.

Nesse período de isolamento social, não sei mais o que é sábado, domingo e, muito menos, feriado. Acho que estou mesmo ficando totalmente obnubilado, talvez até de “A” a “Z”. Também, não é de se estranhar, pois depois de trinta e três dias de isolamento, não é fácil lembrar o dia da semana uma vez que todos parecem domingos.

Depois que aterrissei no calendário, fiquei revigorado e foi só alegria. Realizei o cooper mais à vontade e caprichado, o sol foi pouco devido à chuva, mas, na hora do almoço, a grande surpresa foi a chegada de uma farta feijoada encaminhada pela minha querida nora Laís e pelo meu filho Bruno.

Para alguns dos meus leitores, sei que falar em feijoada deu água na boca e até tem quem tenha lambido os beiços com saudade daquela cervejinha gelada. Como não bebo a cervejinha, eu dispenso, mas o papo gostoso com familiares e amigos deu mesmo muita nostalgia.

Após o lauto almoço, sobrou mesmo foi o bucho cheio, aquela precundia, o sono, e também um tempinho curto, com alguns peixinhos para, antes de me entregar aos braços de Morfeu, assistir às últimas e nada alvissareiras notícias do Jornal Hoje.

Durante o cochilo, sonhei com a última feijoada que participei na casa do meu colega Evalto em Águas Belas, foi bom demais. Infelizmente, o sono durou pouco, pois fui logo acordado com um telefonema pedindo minha assinatura em uma nota de apoio ao isolamento social.

Por falar no Evalto, ele ontem me ligou para desabafar e se mostrou também preocupado com a evolução da Covid-19 no Ceará. Depois de solicitar a minha opinião, passamos a falar amenidades e até marcamos uma grande festa para quando tudo terminar. Digo que vou ficar contando os dias e, mesmo que obnubilado, esse regabofe eu não vou perder.  Planeje o seu também!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Esta foi a do dia 33. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

segunda-feira, 20 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (32º dia)

É de lascar
Diário de uma quarentena (32º dia)
Por Arruda Bastos

Hoje, dia 20 de abril de 2020, levantei, como popularmente se diz, “com a macaca”, digo mesmo “fumando numa quenga” e até “fulo da vida”. E isso tudo devido às imagens do Bom Dia Ceará e às primeiras reportagens do Jornal da CBN que escuto todos os dias bem cedinho na rádio O Povo.

As matérias mostravam manifestações de grupos que, sem noção do perigo, no dia anterior, pediam a flexibilização das medidas de isolamento social, o fechamento do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e, pasmem, até da volta da ditadura militar e do AI-5.

Realmente foi demais “pro meu visual” deparar-me com as reportagens depois de trinta e dois dias de quarentena muito rigorosa. Só saí de casa uma única vez para tomar a vacina da gripe no Shopping Rio Mar e, mesmo assim, em drive thru, como relatei na crônica “Uma odisseia na terra dos vírus gigantes”.

Digo mesmo que é de “lascar” e dessa vez não vou “empurrar com a barriga”, nem “passar pano” e, “sem meias palavras”, vou “abrir o bico” e “chutar o pau da barraca” para alertar que tal manifestação inconstitucional não pode “passar em branco” e que quem “for podre que se quebre”, inclusive uma autoridade do Brasil que compareceu e fez até discurso.

Meus leitores devem estar estranhando a quantidade de aspas nessa crônica, mas só mesmo apelando para o Dicionário de Expressões Coloquiais Brasileiras, de Nelson Cunha Mello, para recuperar o humor e a inspiração em um dia de tamanha apreensão quando os números da Covid-19 no Ceará alcançam a marca de 3.487 casos confirmados e 206 óbitos. Durma-se com um barulho desse pra pedir liberação do isolamento.

Digo que “em rio que tem piranha, jacaré anda de costas” e que “quem brica com fogo quer se queimar”. Não “sou de me emprenhar pelos ouvidos”, pois conheço esta “história de cor e salteado”. Tenho 6.5 de idade e em 1964 era uma criança. Fiquei homem durante o regime militar e sei tudinho o que aconteceu, como relato na crônica que escrevi em 2016, intitulada “Da criança de 64 ao médico pela democracia”.

Para terminar, e falando sério, não desejo a ninguém a minha sina, nem que tenham que escrever daqui a alguns anos para seus filhos e netos, como faço agora, um texto lamentando as manifestações de tamanha insensatez. Não posso ficar calado e deixar a garganta sem os gritos conscientes de “ditadura nunca mais”.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Esta foi a do dia 32. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

domingo, 19 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (31º dia).

Diário de uma quarentena (31º dia).
O “gatoso”, a quarentena e o mesversário
Por Arruda Bastos

A minha quarentena completou mesversário. Não realizei festa, passou batido, não teve bolo nem cantei parabéns. Só comemorei a certeza de que estou do lado da ciência, da Organização Mundial da Saúde e de todo o mundo civilizado que adotou o isolamento social e agora colhe os primeiros frutos com a diminuição dos casos da Covid-19. Espero que aqui também possamos ter o mesmo resultado.

O mesversário é a repetição do dia a cada mês em que se deu determinado acontecimento. Num sentido mais geral, refere-se à comemoração da periodicidade mensal de algum evento importante, como o nascimento de alguém. No meu caso, o dia em que comemoro trinta dias de isolamento social.

Com já pertenço ao grupo dos “gatosos”, ou seja, um gato idoso, não posso mesmo facilitar e nem dar canja para o coronavírus. Por isso, estou cumprindo religiosamente esse período em casa e trabalhando mais do que o habitual. Ministrei dezenas de aulas virtuais, elaborei projetos, formatei uma nova turma do MBA de Gestão em Saúde da Unichristus e até dei continuidade ao meu Mestrado em ensino na Saúde e Tecnologias Educacionais.

Não esqueci meu compromisso literário de escrever o “Diário de uma quarentena”, que são crônicas que diariamente são publicadas no Blog da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE) e que também posto nas minhas redes sociais. Mesmo com pouco tempo e muitas vezes abalado com as notícias da pandemia, para mim é uma questão de honra dar vazão ao que meu coração sente.

Hoje, 19 de abril de 2020, acordei pensando no tempo e no que já escrevi anteriormente em uma outra crônica que publiquei quando do meu último aniversário. Na época, falei que o tempo é muito curto para aqueles que não sabem amar. Para os que vivem a se lamentar, todavia, o tempo é longo; e para os que vivem a amar, como eu, mesmo no tempo de pandemia, o tempo é eterno.

Não existe nada mais precioso do que o tempo. Não temos o direito de desperdiçá-lo. Portanto, vamos viver intensamente esse momento e aproveitar ao máximo. A vida não nos dá oportunidades de replay. Não deixe o seu tempo voar pela janela, mesmo durante a quarentena, pois ele não vai voltar.

É com esse sentimento de aproveitar o tempo que chego ao mesversário e, aí sim, comemoro os primeiros trinta dias transcrevendo o título de todas as crônicas escritas nesse contexto e o link do Blog da Sobrames. Falei de tudo que me deu na telha, não censurei as minhas inspirações. Escrevi desde a besteira da “A quarentena da caneta Azul” até “Uma odisseia na terra dos vírus gigantes”, da “Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol nascer” a “Depois da tempestade vem a bonança”.

Considero minhas crônicas como filhas e, como tal, não tenho predileção por nenhuma. Todas elas e cada uma foi escrita com muito amor e do fundo do meu coração. Espero sinceramente que todos gostem e que nós possamos sair dessa incólumes para, no futuro, que espero não seja distante, comemorarmos juntos lendo essa crônica no lançamento do meu livro “Diário de uma quarentena”. Tenho fé!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Esta foi a do dia 31. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

Projeto “Quarentena Literária” - 30 primeiras crônicas de minha autoria - “Diário de uma quarentena”: Leiam aqui, nos links da Sobrames e em outras redes sociais.

*1º dia: O início de uma longa travessia
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/diario-de-uma-qua…
*2º dia: O tédio, o vento e a rede na varanda
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/diario-de-uma-qua…
*3º dia: Depois da tempestade vem a bonança
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/diario-de-uma-qua…
*4º dia: Vão-se as barbas e ficam os dedos
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/pdiario-de-uma-qu…
*5º dia: Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol nascer
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*6º dia: Cabeça oca, vazia de tudo, sem pensamento
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*7º dia: Crianças são presentes de Deus
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*8º dia: Por favor, fiquem em casa
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*9º dia: Uma odisseia na terra dos vírus gigantes
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*10° dia: Mãezinha, que falta a senhora me faz
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*11° dia: Meu amigo de fé e um irmão camarada: o celular
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*12° dia: Armagedom > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*13° dia: Dia da mentira em tempo de coronavírus
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*14° dia: Se a gente colocar a nossa fé em ação, vai dar tudo certo
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*15º dia: Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*16º dia: Farinha pouca, meu pirão primeiro
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*17º dia: O domingo, a Lei de Chico de Brito e a dor no mucumbu
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*18º dia: Aniversário virtual e o amor são formas de destronar o coronavírus
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*19º dia: A inspiração de Roberto Carlos na rotina de uma quarentena
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*20° dia: Há luz no fim do túnel?
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*21° dia: Do barbeiro amador ao isolado sim, sozinho jamais
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*22° dia: Macambúzio e sorumbático com as lembranças da Semana Santa
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*23° dia: O testamento do Judas e o “Cachorro Magro”
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*24° dia: Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim?
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*25° dia: Fortaleza, a “arretada” loira desposada do sol
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*26° dia: A quarentena da caneta Azul
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*27° dia: Naquela mesa tá faltando ele
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*28° dia: O inoxidável e futuro pai do ano
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*29° dia: O Mestrado virtual >
http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_18.html
*30° dia: A dor de uma partida >
http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_83.html

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sábado, 18 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (30º dia)

Diário de uma quarentena (30º dia)
A dor de uma partida
Por Arruda Bastos

Hoje, 18 de abril, completo trinta dias de isolamento social. Seria uma boa oportunidade para fazer uma retrospectiva de todo esse período de quarentena. Falar das dificuldades, da rotina, das atividades, dos encontros virtuais, dos altos e baixos, das angústias e da esperança, apesar das notícias cada vez mais desalentadoras da evolução da Covid-19 na nossa querida cidade de Fortaleza.

Entretanto, os insondáveis desígnios de Deus me levam a escrever uma crônica chorosa com a dor de uma partida sem despedida de um grande amigo. A notícia chegou pela madrugada, pois, como faço todos os dias no período de isolamento, fui ler os grupos de whatsapp, principalmente à procura de respostas às minhas indagações postadas na noite anterior.

Duas pessoas em particular eram alvo da minha apreensão. Um amigo e primo da minha querida Marcilia, que se encontra internado na UTI do IJF vitimado pelo coronavírus e um camarada muito gente boa, que é meu vizinho há aproximadamente vinte e cinco anos, e que há poucos dias sofreu um AVC e se encontrava internado em estado grave na UTI do Hospital Prontocardio.

Com relação ao meu primeiro amigo, a esposa respondeu que ele estava na mesma. No que concerne ao meu vizinho, a mensagem causou-me uma grande comoção e tristeza, pois comunicava o seu falecimento.  Adauto era um homem de fibra, de uma capacidade de trabalho invejável e uma dignidade a toda prova.  Muitas vezes, por ser muito franco, deixava transparecer certa antipatia, o que era só de fachada, pois tinha um grande coração.

Partilhamos juntos muitas ações e gestões no nosso condomínio. Formamos durante muitos anos uma dupla inseparável. Ora eu era o síndico e ele o sub e muitas outras vezes o contrário. Sempre que o encontrava era aquele papo descontraído e, muitas vezes, com seriedade devido às dificuldades comuns no dia a dia.

Tinha por ele uma grande amizade e respeito e minha maior frustração e tristeza é de não ter tido a oportunidade de me despedir como ele merecia. A pandemia tem acarretado sofrimento e muita dor a todos nós. Para Adauto, como homem justo, agora é gozar da paz do Senhor.

Que Deus e Nossa Senhora possam confortar toda a família e os amigos.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Esta foi a do dia 30. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

sexta-feira, 17 de abril de 2020

POR ALCINET ROCHA SOARES: SOM DE QUARENTENA


SOM  DE QUARENTENA

Silêncio sempre me foi benvindo
E em quarentena ainda mais que dantes
Eu doendo ou de alegria sorrindo
Expõe-se revelador e instigante

Faz-me entender o linguajar da terra
Plantas, bichos...os pródromos da chuva
Dos já idos, som de amor que reverbera
E que na vida a reta é às vezes curva

Embebe-me as páginas do existir
Pra diuturnamente eu consumir
Os mil quilos de cores e coragem

Faz-me a sede de esperança avançar
Em Deus achar meu ponto de ancoragem
E com Sua frequência harmonizar

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (29º dia).

Diário de uma quarentena (29º dia).
O mestrado virtual
Por Arruda Bastos

Estamos mesmo fazendo história. Durante o nosso isolamento social, no dia de hoje, participei de mais um encontro do mestrado em educação em saúde da Unichristus. Foi tudo de forma virtual pelo sistema Google Meet, com a coordenação dos competentes professores Karla Nascimento e Arnaldo.

Tudo começou por volta das 14 horas e na programação constava a apresentação dos projetos de pesquisa de todos os mestrandos. Nesse final de semana, a parte do corpo que vai ficar mais dolorida será o bumbum de tanto ficar sentado olhando para o computador. Entretanto, é por uma boa causa, pois, assim, não vamos atrasar o nosso cronograma.

O bom mesmo foi presenciar minha querida filha Lia, que é minha colega de turma no mestrado, dar uma aula bem dada quando apresentava a sua pesquisa de criar um aplicativo voltado para a nefrologia pediátrica, esta sua especialidade. O certo é que todos apresentaram com muita competência seus projetos.

O Mestrado Profissional em Ensino na Saúde e Tecnologias Educacionais é um curso de Pós-Graduação Stricto Sensu, recomendado pela CAPES e homologado pelo Ministério da Educação. O curso tem como objetivo geral formar recursos humanos qualificados, capazes de oferecer subsídios andragógicos, científicos e teórico-conceituais para o ensino em saúde, visando contribuir para o desenvolvimento de atividades de educação e práticas de atuação nos diferentes níveis de atenção na saúde.

Como já está tarde, pois a aula só terminou no início da noite, e consequentemente não tive condição de escrever a crônica antes, colei e copiei o parágrafo anterior quase na totalidade da página da nossa instituição de ensino. Outros detalhes do mestrado quem quiser saber que entre no site da pós-graduação da Unichristus.

A minha apresentação ficou para a manhã desse sábado, quando vou expor o meu projeto de desenvolvimento de aplicativo móvel para incentivo da produção literária de estudantes de medicina. A tecnologia vem trazendo um bem para a literatura. Pouco a pouco, os livros vão incorporando ferramentas tecnológicas e as novidades da informática amplificam o universo da leitura e da produção literária. Por isso, é salutar que exista muitos aplicativos destinados a quem deseja ler e escrever.

Sabemos também que a decisão de escrever nos dias atuais esbarra quase sempre na falta do hábito, de tempo e de inspiração. Para os estudantes universitários, envolvidos no dia a dia de sua formação, isso é preocupante, pois os não afeitos à leitura podem sofrer de diversos distúrbios e perdem a chance de introjetar virtudes fundamentais para o profissional, principalmente a empatia, o humanismo e a visão holística do mundo.

A literatura, quando sorvida e incentivada, pode produzir mudanças consideráveis no comportamento dos seres humanos. Para aqueles afeitos à leitura, um incentivo a mais pode levar ao despertar de novas capacidades e à descoberta de talentos ainda latentes; para os noviços na arte literária, pode representar o desabrochar de enrustidos.

O descarrego das tensões do dia a dia em uma arte é fundamental para suplantar as dificuldades. Os estudos demonstram que o envolvimento nas artes durante o curso de Medicina é valioso no desenvolvimento de habilidades fundamentais para os futuros profissionais, como o pensamento crítico, a observação, a comunicação e a prevenção de algumas doenças.

Vou terminando por aqui, pois tenho que acordar cedo para minha apresentação. Quem quiser mais detalhes do meu projeto de pesquisa que espere até o final do curso, quando da defesa da minha dissertação de mestrado. Espero mesmo é que tudo termine logo para que possamos nos encontrar novamente com os colegas e os professores na sala 201 do campus Parque Ecológico da Unichristus

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Esta foi a do dia 29. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

quinta-feira, 16 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena 28º dia


Diário de uma quarentena 28º dia
O inoxidável e próximo papai do ano
Por Arruda Bastos

Muitas pessoas perguntam porque na maioria das minhas cônicas eu coloco a data. Eu costumo responder afirmando que o momento que estamos vivendo é de tamanha magnitude que devemos identificar todas as informações possíveis, pois estamos fazendo história e, sem dúvida, vamos ser lembrados durante muitos séculos como os sobreviventes de 2020.

Então, continuando, confirmo que hoje é 16 de abril, vigésimo oitavo dia de minha quarentena e, como escrevi em crônica anterior, não devemos nos entregar aos caprichos do coronavírus e ficar abatidos ou deprimidos. Muito pelo contrário, devemos manter nossa rotina e comemorarmos, mesmo fisicamente distantes, todas as datas importantes da nossa família.

Para isso, não nos faltam tecnologias, aplicativos e uma parafernália de opções. Aqui em casa todos combinamos uma festa surpresa para o meu genro Evalto, um dos mais estrogónoficos e inoxidáveis homens que conheço. Esposo da minha querida filha Lívia, pai do meu netinho Lucca e aguardando a Lina, que chega em agosto.

A descoberta do aço inoxidável foi um golpe de sorte do inglês Harry Brearley, em 1907. Ele trabalhava em seu laboratório para as companhias de aço. Os fabricantes de armas haviam pedido que ele criasse uma liga mais resistente ao desgaste, pois o interior dos canos das armas se esfarelava com as balas. Brearley misturou metais em diversas doses até notar que certa liga não sofria corrosão por oxigênio, não enferrujava, daí surgiu o aço inox.

Depois do inoxidável, lembrei-me do discurso que escutei há alguns anos e que fez muito sucesso no meio humorístico. Aproveitei, então, para rever o vídeo que me inspirou a saudar meu genro Evalto. A saudação aconteceu na cidade de Quixeramobim por parte de um popular com alcunha de “Carro Velho”, o Rei do Elogio. O programa era do apresentador Carlinho Eloi. A saudação foi assim: “você é uma pessoa mediocrática, uma pessoa retombante, uma pessoa cabriocárica, estrogónofico e inoxidável”.

Nesse tempo de pandemia, qualquer inspiração vale, e o importante mesmo é não nos deprimirmos. Se meu leitor não foi abençoado com genros semelhantes aos meus, tenha fé que você vai encontrar depois da pandemia. Finalizando, e retornando ao Evalto, desejamos nessa data tudo de bom, saúde, paz e felicidades. Sabemos que Deus tem um plano maravilhoso para sua vida, da Lívia, do Lucca e da Lina. Feliz aniversário!

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Esta foi a do dia 28. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

POR DIONE MOTA: O médico e o Covid

Poema : O médico e o Covid

Na beira do leito
A vontade de curar
Tudo é incerteza
Risco de se infectar
Os seus contaminar
Não pensa nisso agora
O importante é aquele paciente
À sua frente, aflito
Nos olhos o desespero...
Não pode ceder ao cansaço
Busca todas as pesquisas
Tem que manter a esperança 
Vai usar tudo o que já deu certo
Depois da tempestade vem a bonança 
E diz para o paciente
O que já disse pra si mesmo:
Tenha fé, Deus há de lhe curar.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (27º dia)

Diário de uma quarentena (27º dia)
Naquela mesa tá faltando ele
Por Arruda Bastos

Acordei saudoso no dia de hoje, 15 de abril de 2020, recordando do meu amado pai, que aniversaria nessa quarta-feira. Se não estivesse de quarentena, encontraria com toda a família no jazigo muito bem cuidado do Parque da Paz.  Minha amada mãe, enquanto viva, capitaneava e até exigia a presença de todos. Em sua homenagem, vou postar abaixo uma crônica que escrevi em 2017 quando do seu centenário de nascimento.

Para celebrarmos um século do seu nascimento, escrevo essa crônica em memória do meu querido pai, da falta que ele faz e do exemplo que deixou. Sua saga iniciou em Saboeiro, no interior do Ceará, em 15 de abril de 1917, e desde cedo vivenciou as agruras do sertão, da seca e de uma precoce orfandade paterna. Sua gênese representou o alvorecer do meu herói e uma vida de seriedade, coragem, honestidade, fé em Deus e amor. Euclides da Cunha escreveu que “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Assim era meu pai: um forte.

Em todas as famílias temos tradições e para que elas existam é necessário tempo e forte motivação. Uma delas, que participo desde criança, é o almoço dominical na casa dos meus pais. A família é numerosa, mamãe já tem bisnetos e mesmo assim a tradição se mantém. Meu pai foi o inspirador e era o grande motivador desse costume. A mesa de jantar sempre foi um dos destaques de nossas casas.

Com a passagem terrena de papai, poderia até se pensar no rompimento dessa tradição, mas felizmente ela persiste, a diferença é que naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim. Como forma de amenizar sua ausência e ter sempre por perto a lembrança do seu amado esposo, minha mãe tomou a iniciativa de colocar um quadro com sua foto próximo da cabeceira da mesa e de manter sua cadeira sempre vazia.

A emoção de ser meu pai o protagonista dessa crônica é indescritível; não é fácil falar de quem marcou nossa vida com lindas e indeléveis recordações. Quando criança, a sua figura austera e altiva era para mim como um gigante a me proteger; na juventude aquele provedor que trabalhava diuturnamente para dar à família a melhor condição de vida possível; na maturidade ganhei um amigo, parceiro, colaborador e mais que seu filho eu fiquei seu fã.

Na literatura encontro inspiração para expressar do fundo do meu coração o sentimento que tenho com relação à figura do meu pai. Ele era um esposo fiel e dedicado, um pai exemplar e ciente da responsabilidade de criar nove filhos em um período de grande dificuldade, um filho carinhoso e protetor da minha querida avó, um irmão e tio sempre aberto a acolher aqueles que necessitavam, uma qualidade atestada pelos muitos sobrinhos e irmãos que ajudou.

Meu pai tinha uma saúde de ferro, não recordo de nenhum grave problema, nunca se hospitalizou. Fumou durante um período de sua vida e, por insistência e amor à família, parou e nunca mais voltou. Era um motorista sem muita experiência, pois passou a dirigir já na meia idade. Teve várias Kombis, único veículo que comportava toda a família e que nos levava diariamente em algazarra ao colégio. Como servidor público federal, honrou todas as funções e cargos que ocupou, um exemplo de dedicação e compromisso com a sua repartição. São muitas lembranças!

Recordo da sua elegância, do terno de linho branco, do sapato sempre engraxado, do cabelo com brilhantina e barba sempre bem cortados, do charme do seu bigode, do tingimento que usava quando os cabelos brancos surgiram, do pijama de listras que vestia em casa, das festas e casamentos da família que, com muito esmero, promovia, do cuidado de não ser pego no flagra como Papai Noel e até das belas curvas da sua letra. Lembro também de pequenos gestos como os presentes e guloseimas que de vez em quando comprava e da sua impoluta figura abrindo o portão de casa todos os dias voltando do trabalho trazendo aquele gostoso pão da Padaria Ideal.

Ah! Que saudade dos sábados pela manhã quando papai chegava com mamãe em nossas casas com as frutas da semana. Digo que cada um dos nove filhos tem recordações próprias. O importante é que todas elas são sempre de um pai e homem maravilhoso, fato que nos faz agradecer diariamente a benção de termos nascido seus filhos. A minha santa mãe, que com dedicação, amor e devoção encaminhou nossa família para o bem, o nosso eterno reconhecimento. Ao Altíssimo, o agradecimento pela sua força e por permanecer entre nós com lucidez e saúde.

Meu pai era um homem de muita fé, um cristão convicto, um companheiro dos terços que minha mãe rezava todos os dias, principalmente durante a madrugada (no mínimo nove, um para cada filho). Sempre cumpridor das suas obrigações de católico, lembro do puxar dos dedos para nos acordar no domingo muito cedo para irmos à missa. Ele formava, com minha mãe, um santo casal e nessa área foi novamente um exemplo. Sempre dizia que não queria dar trabalho a ninguém e quando chegasse a sua hora, que ela fosse rápida. Seu pedido, infelizmente para nós, foi atendido em 01 de setembro de 2001.

Meu herói executou todas as missões que Deus lhe confiou com ações excepcionais, sempre com responsabilidade, dedicação, coragem e amor. Ultrapassou os momentos de dificuldades que viveu, tendo como base princípios morais e éticos. O seu exemplo é um farol que ilumina a todos que o conheceram. Sei que muitos dos meus leitores tem pais semelhantes ao meu e é a eles que também dedico essa crônica. O padre António Vieira escreveu que: “Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras”. Assim foi meu pai.

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Esta foi a do dia 27. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (26° dia)

Diário de uma quarentena (26° dia)
A quarentena da caneta azul
Por Arruda Bastos

Durante a quarentena, é importante a manutenção de uma rotina mínima. A minha continua rígida, com hora para acordar, para fazer exercícios, tomar banho de sol e tudo mais. Também tenho aproveitado para dar andamento a muitos projetos que, por falta de tempo, estavam adormecidos nos meus computadores.

Vasculhando meus alfarrábios virtuais, encontrei várias crônicas escritas pela metade, sem revisão ou que, de tão sem noção, não tinha levado a frente e nem tive coragem de publicar. Como no isolamento social vale tudo para se entreter, resolvi terminar uma que escrevi em dezembro do ano passado que tinha como titulo “A história da caneta azul”.

Para adaptar ao momento atual, resolvi mudar o nome para “A quarentena da caneta azul”, fato que vai justificar minha coragem de divulgar a história que escrevi quando pensava em ficar milionário no final do ano passado com a Mega Sena da Virada. Infelizmente, só acertei um número e mesmo que tivesse acertado todos, no atual quadro, não faria a menor diferença.

A crônica que escrevi relata: Depois de escutar a música “Caneta azul” do compositor maranhense, morador da cidade de Balsas,  Manoel Jardim Gomes, de ver suas participações na mídia e, agora no final do ano, na propaganda da Caixa da Mega Sena da Virada, fiquei com o hit definitivamente na cabeça.

Fui, então, pesquisar sobre a letra da música e sobre o autor. Descobri que a inspiração do compositor veio de um fato acontecido com ele no passado. Toda a inspiração veio do desaparecimento da sua caneta azul em uma escola. Ela estava marcada com o seu nome, escrito com sua própria letra.

Encontrei, também, que todo dia o autor viajava para o colégio levando uma caneta azul e outra amarela. Acontece que, numa bela manhã de sol, a de cor azul desapareceu. O trauma foi tão grande que o compositor decidiu escrever uma música solicitando, até pelo amor de Deus, a devolução do importante objeto. O fato acarretou, inclusive, em um atrito com a sua professora.

Na letra, Manuel desabafa e diz que foi repreendido pela mestra por não ter uma caneta azul. Ele ficou fulo da vida, pois a última que tinha era a desaparecida. Depois de calmo, e para amenizar o problema, prometeu à profa. que compraria uma nova logo que possível.

Manuel Jardim compõe desde os quinze anos e só atualmente, aos 49 anos, veio a fazer sucesso. Em outubro passado ele registrou a “Caneta Azul” em cartório. Atualmente, nas ruas de Balsas e na maioria das cidades do Brasil, os versos da melodia e a história são assuntos comentados.

O vídeo da sua interpretação, postado na internet, superou a marca de muitos milhões de visualizações, batendo inclusive a de muitos artistas famosos do nosso país. Não sei como Manuel vai de grana, espero que bem, e em isolamento social como a maioria de nós. Tenho convicção que a sua música continua a inspirar muitos escritores incautos como eu.

Para terminar, vou postar a música na íntegra para que você, meu leitor, possa cantar na noite de hoje e até quem sabe fazer uma serenata, com muito humor, para sua amada. O momento atual só será superado com muita perseverança e bom humor.

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Esta foi a do dia 26. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).


Caneta Azul
Manoel Gomes

Caneta azul, azul caneta
Caneta azul tá marcada com minhas letra
Caneta azul, azul caneta
Caneta azul tá marcada com minhas letra

Todo dia eu viajo pra o colégio
Com uma caneta azul e uma caneta amarela
Eu perdi minha caneta e eu peço, por favor
Quem encontrou, me entrega ela

Caneta azul, azul caneta
Caneta azul tá marcada com minhas letra

A professora, ela veio brigar comigo
Porque eu perdi a última caneta que eu tinha
Não brigue, professora, porque eu vou comprar outra canetinha

Caneta azul, azul caneta
Caneta azul tá marcada com minhas letra
Caneta azul, azul caneta
Caneta azul tá marcada com minhas letra

segunda-feira, 13 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (25° dia)

Diário de uma quarentena (25° dia)
Fortaleza, a “arretada” loira desposada do sol.
Por Arruda Bastos

Hoje, 13 de abril de 2020, no meu vigésimo quinto dia de quarentena, a cidade de Fortaleza “intera” os seus 294 anos. Pensei até em escrever uma nova crônica, mas preferi postar a que escrevi em 2018 para o último Congresso da SOBRAMES em São Luís-MA, pois ela expressa todo o meu amor por Fortaleza.

Quando convidado a prosear para a antologia nacional da Sobrames – Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – sobre a capital cearense, fiquei “aperreado” com a missão de retratar tanta beleza e tanta história da nossa linda cidade de Fortaleza. Resolvi, então, apelar para o “cearensês” e incorporar ao texto algumas palavras do linguajar do nosso estado.

Para nós, “cabeças-chatas”, é uma dificuldade “arretada” tratar da capital isoladamente, sem falar da Terra da Luz. Por isso, resolvi “botar boneco” e, mesmo correndo o risco de ser chamado de “abestado”, encarar dessa forma o desafio.

Como não disponho do livro todo para a minha prosa, sendo limitado meu espaço para discorrer, vou “chinelar” e me deter a pincelar alguns aspectos da linda história de Fortaleza. A situação é “braba”, por isso vou abordar principalmente aspectos da alma do “arretado” povo fortalezense, desses “cabras bom da moléstia” e das belezas incontestes do nosso torrão abençoado por Deus.

Dando uma de “buliçoso” e “assuntando” a história, esclareço a alguns dos meus leitores que o cognome de Terra da Luz, dado ao estado do Ceará, não tem nada a ver com o forte sol tropical que apreciamos durante todo o ano por aqui. Esse honroso título, de autoria de José do Patrocínio, deve-se aos “cabras-da-peste” da então província que, “dando o grau”, libertaram os escravos cearenses antes mesmo do Brasil, em 25 de março de 1884.

Não nego que sou “arriado” e um apaixonado por minha terra natal, e não a trocaria por nenhuma outra, pois, além de suas “apetrechadas” praias, Fortaleza conserva inúmeros monumentos, belos conjuntos arquitetônicos e belezas naturais que deixam qualquer “curriola” de boca aberta. Ainda, aqui se respira muita cultura e não vou ser “besta” de esquecer o papel exercido pela nossa Sobrames tupiniquim.

Em Fortaleza, o sol sempre foi testemunha de muitas histórias e uma das mais “abirobadas” da cidade aconteceu no início da tarde do dia 30 de janeiro de 1942, quando uma “cambada de fuleiros” na Praça do Ferreira tomou uma atitude inusitada. Na época, nos jornais, as notícias eram sobre a Segunda Guerra Mundial e a seca que vivenciávamos. O céu estava nublado há dois dias e a previsão era grande para um “toró”, mas o astro rei resolveu dar o ar da sua graça. O sol foi, então, vaiado sem censura e esse fato firmou a cultura da irreverência do nosso povo, que ansiava pela chuva que ameaçava banhar a cidade.

O fortalezense, como os demais cearenses, tem esse espírito de “achar e fazer graça”. Em Fortaleza, não se dispensa, portanto, os shows de humor. A vaia, para nós, não é somente uma expressão de inconformismo, ela é também um recurso moleque que consagrou o Ceará como um celeiro de humoristas. Dentre esses expoentes, podemos citar: Chico Anysio, Renato Aragão, Tom Cavalcante, Rossicléia e, no passado, Quintino Cunha e Paula Ney, que faziam humor só como parte da espiritualidade natural do cearense.

Sem “arrudiar”, digo que Fortaleza tem seu nome inspirado no Forte Schoonenborch, construído pelos holandeses em 1649, período em que dominavam nosso território. O batismo de “Loira desposada do sol”, deve-se aos versos do poeta Paula Ney: “Ao longe, em brancas praias embalada pelas ondas azuis dos verdes mares, a Fortaleza, a loura desposada do sol (…)”. Fortaleza já não é mais um “bruguelo” e ocupa atualmente a posição de quinta maior capital do Brasil em população e detém um importante centro industrial, comercial e turístico.

Não vou “arribar” sem citar que nossa metrópole cearense é a terra natal de brasileiros de grande renome como Dom Hélder Câmara (1909-1999), Gustavo Barroso (1888-1959), Casimiro Montenegro (1904-2000), José de Alencar (1829-1877) e Rachel de Queiroz (1910-2003), entre outros inúmeros e ilustres nomes. Fortaleza é, também, a capital brasileira mais próxima da Europa.

O litoral de Fortaleza abriga praias que são “só o mi disbulhado”, entre elas podemos citar a da Barra do Ceará e a de Iracema, com seus bares, prédios históricos, Igrejas, o Estoril, a Ponte Metálica, além do Centro Dragão do Mar. Na Praia do Meireles, encontra-se a Avenida Beira Mar com robustos hotéis, o Clube Náutico, a feira de artesanato e a Volta da Jurema. A do Mucuripe é famosa por seus pescadores, jangadas e o mercado de peixes. A Praia do Futuro é ocupada por “barracas” especializadas na sua “guaribada” caranguejada. Fortaleza, para quem gosta de “zuada”, é a terra do forró e seus “bate-coxas” e “arrasta-pés” são famosos em todo Brasil.

O povo “quintura”, hospitaleiro e a gastronomia local são grandes marcas da nossa metrópole de 2,5 milhões de habitantes. O regabofe é bem diversificado, com pratos típicos do sertão e do litoral do Nordeste. Ao cair do sol, a capital mostra sua intensa vida noturna. São inúmeros bares, casas de espetáculo, shows, além do badalado calçadão da Avenida Beira Mar, com sua Feirinha de Artesanato que não aceita “xexeiros”.

O Teatro e a Casa de José de Alencar são símbolos da cultura do nosso povo ao longo da história. As manifestações religiosas tem grande importância para a vida cotidiana da cidade, nossa Catedral é uma das mais belas do Brasil. A festa de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da cidade, que acontece em 15 de agosto, e as festas juninas nem se fala, são “só o pitel”

Fortaleza tem uma vida cultural intensa, com diversas agremiações, instituições literárias e científicas. O Instituto do Ceará de 1887, a Academia Cearense de Letras fundada em 1894, o Centro Cultural do Banco do Nordeste, da Caixa Econômica, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e uma “ruma” de outras associações culturais de grande conceito. Aqui nada é de “rebolar no mato”.

A gastronomia é diferenciada, ressaltando-se pratos como o baião de dois, o churrasco de carneiro e carne-de-sol, frutos do mar, peixadas de cavala ou pargo, o afamado caranguejo e tapioca para todos os gostos. O camarão também é uma iguaria bem degustada. Os pólos gastronômicos da Varjota, da Praia de Iracema e da Avenida Beira Mar são os de maior diversidade e nada “fajuto”.

Ademais, existem vários museus em Fortaleza. Os mais importantes são o Museu do Ceará, que reúne peças valiosas sobre a cultura e o povo cearense, o Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar e o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará. As maiores bibliotecas de Fortaleza são as da Universidade Federal, Universidade de Fortaleza e a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, uma das mais importantes do Brasil. Tudo bem pertinho e não no “inferno da pedra”.

“Perainda”, que não posso me furtar de falar da nossa arquitetura composta por prédios tombados, que devem ser visitados, como a Casa e o Theatro José de Alencar; a Estação João Felipe, que foi a primeira estação ferroviária do Ceará; O Palácio da Luz, que foi a sede do governo; o Farol do Mucuripe, que é um dos símbolos de Fortaleza; e o Cinema São Luiz, que figura entre um dos mais belos do Brasil. Temos também o Estoril, na Paria de Iracema, e o Mercado dos Pinhões, o primeiro mercado público de Fortaleza.

Fortaleza, a “arretada” loira desposada do sol, é uma cidade que meu amigo leitor precisa conhecer. Ela é aconchegante e seu povo é hospitaleiro por excelência. Ficar por alguns dias vai ser pouco para conhecer tanta coisa boa. Sei que todos quando “caparem o gato” da nossa cidade vão quase “bater o catolé” de saudade, pois quero cegar da “gota serena” se não falei só a verdade, uma vez que aqui não tem nada “paia”, pode acreditar.

Amanhã eu volto com uma nova crônica

Este foi o dia nº 25. #FicamEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES -CE)

Dicionário Cearense (Cearensês)

*Abestado – Bobo, tolo, apalermado.
*Abirobado – Doido no sentido mais suave da palavra. Maluco.
*Achar graça – Rir, sorrir.
*Aperreado – Muito nervoso, sem saber o que fazer.
*Apetrechada – Dotada de beleza física.
*Arretado (a) – Elogio a uma pessoa. Muito bom, bonito.
*Arriado – Apaixonado
*Arribar – Levantar, erguer, sair.
*Arrudiar – Dar a volta.
*Assuntar – Procurar saber mais sobre o assunto.
*Bate-coxa – Dança em que o casal fica muito colado. Arrasta-pé.
*Bater o catolé – Morrer, passar dessa para melhor.
*Besta – Pessoa tola, ingênua.
*Botar buneco – Criar caso, fazer confusão.
*Brabo – Gente irritadiça ou valente. Difícil.
*Bruguelo – Recém nascido ou criança muito nova.
*Buliçoso – Pessoa que mexe em tudo.
*Cabeça-chata – Apelido dos cearenses.
*Cabra-da-peste – Homem valente, intrépido, afoito.
*Cambada – Turma, grupo etc. Pode ter conotação pejorativa ou carinhosa:
*Capar-o-gato – Significa: ir embora, fugir de alguma situação, “se mandar”.
*Chilelar – Andar bem rápido.
*Curriola – Turma. Grupo de amigos.
*Dar o grau – Caprichar.
*Fajuto – Ruim, de má qualidade, falso.
*Fuleiro – Pessoa muito irreverente, brincalhão.
*Gota serena – Expressão usada, principalmente, nos juramentos.
*Guaribada – Dar uma caprichada.
*Inferno da pedra – Lugar tão longe que ninguém sabe nem dizer onde fica.
*Paia – O mesmo que brega ou o mais popular peba.
*Perainda – Forma sintetizada de: Espere ainda um pouco.
*Quintura – Pessoa legal, competente, gente boa.
*Rebolar no mato – Jogar fora, atirar.
*Ruma – Um monte, uma grande quantidade de alguma coisa.
*Só o mi disbuiado – Coisa muito especial.
*Só o pitel – Muito bom.Ótimo. Maravilhoso.
*Toró – Grande chuva.
*Xexeiro – Caloteiro.
*Zoada (Zuada) – Barulho.

Crônica lançada durante o XXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – de 20 a 22 de setembro de 2018 em São Luís – MA.

domingo, 12 de abril de 2020

POR MANOEL FONSECA: Páscoa

Páscoa

Jesus, o Ressuscitado,
No simbolismo cristão,
Significa um chamado
À humana renovação.

Páscoa quer dizer passagem
Da tormenta e escuridão
Para uma nova viagem:
A vida em celebração.

O pão e vinho sagrados,
Com amizade e afeição,
São dados de mui bom grado
A amig@s do coração.

Que uma nova primavera
Chegue com esta passagem.
Nossa saudação sincera:
Saúde, paz e coragem!

Iracema Serra Azul,
Manoel Fonseca e família

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (24° dia)


Diário de uma quarentena (24° dia)
Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim?
Por Arruda Bastos

O isolamento social e a Páscoa nos levam a lembranças de momentos da nossa vida, mesmo que os fatos tenham acontecido na infância e já estejamos “dobrando o Cabo da Boa Esperança”.

Para os que não conhecem essa expressão popular, “dobrar o cabo da boa esperança” é atribuída às pessoas que viveram intensamente, vencendo as adversidades, e que chegaram a um estágio da vida com certa idade e muita experiência.

Essa expressão foi inspirada nas dificuldades que tiveram os portugueses em contornar o Cabo da Boa Esperança no extremo sul da África, na época dos descobrimentos, à procura de alcançar o tão sonhado caminho para as Índias. O esforço foi sobre-humano para a esquadra do navegante Bartolomeu Dias.

Embora ainda esteja nesse estágio de vida, nessa manhã acordei lembrando-me de fatos longínquos da minha infância ligados à Páscoa. Recordo que, no jardim de infância, que fiz no Colégio Juvenal de Carvalho das irmãs Salesianas aqui em Fortaleza, fui coelhinho da Páscoa por um dia.

Como instituição religiosa, o colégio tinha uma programação toda especial para a Semana Santa. Na época, idos da década de sessenta, as missas eram diárias e as professoras leigas e as irmãs competiam entre si para apresentarem para a Madre Superiora a melhor participação dos seus alunos.

A minha professora era a irmã Paula que, com seu hábito impecável todo preto e, em outras vezes, reluzente de cor branca, me impressionava. Naquele tempo, o hábito era o tradicional, com touca que emoldurava o rosto e até cobria as orelhas, uma longa veste, meias, sapatos fechados e um cinto de tecido segurando o rosário. Daí o ditado popular “mais escondido que orelha de freira”.

Voltando à Páscoa, naquele ano, graças aos meus dotes artísticos, fui escolhido para representar a turma como personagem principal da peça infantil da Páscoa que foi encenada no auditório, para todo o colégio.

Como coelhinho da Páscoa, tive que vestir uma fantasia completa com orelhas, rabinho e tudo mais. Além da vestimenta, tinha que dançar e declamar “Coelhinho da páscoa, o que trazes pra mim? / Um ovo, dois ovos, três ovos assim / Coelhinho da páscoa, que cor eles têm? / Azul, amarelo, vermelho também”.

No final da minha performance, foi uma apoteose, sendo, então, aplaudido de pé, episódio que, sem dúvida, marcou para sempre aqueles dias de inocente criança no Juvenal e foi o responsável pelo meu desembaraço em falar em público para grandes multidões, fato que facilitou as minhas inúmeras campanhas políticas.

Mas a história do coelho não termina por aí, pois alguns anos depois, em uma festa de carnaval, o coelhinho ressurgiu lépido e fagueiro em um baile do Clube General Sampaio da Avenida da Universidade. Acho que isso aconteceu uns dois anos depois da minha estreia como ator. A fantasia, que estava guardada, como seria natural, quase não me cabia e teve o seu fechecler fechado a força, pois era o único traje carnavalesco que tinha.

A festa transcorria animadamente e meu saudoso tio Quelé, que nos levou ao baile, incentivou-me a cair na folia, mesmo com o desconforto da roupa. Resolvi, então, quando a animada bandinha iniciou a musica “A marcha da cueca”, cair na folia e ensaiar minhas primeiras voltas no salão.

Qual não foi minha surpresa quando senti que os foliões passaram a puxar partes da minha fantasia. Primeiro, arrancaram o rabo, depois, as orelhas, e assim as outras partes também. O certo é que depois de algumas voltas e antes dos acordes finais da marchinha com o tradicional “Eu mato, eu mato / Quem roubou minha cueca / Pra fazer pano de prato”, eu estava só de cueca.

Essa minha crônica de hoje representa muito bem as voltas que o mundo dá. Passei de ator de sucesso na Semana Santa encarnando o coelhinho da páscoa a uma pobre criança envergonhada no carnaval de dois anos depois.

O importante é encarar e, sempre que cair, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. E foi assim que eu fiz na época e que vamos, todos unidos, fazer agora na pandemia do coronavírus.

Para concluir, transcrevo três mensagens de páscoa, a primeira que diz: Uma prova de que Deus está conosco não é o fato de nunca cairmos, mas sim o fato de sempre levantarmos. A segunda, que nos faz pensar no espírito da Páscoa: O maior poder de Jesus não é ressuscitar os mortos, e sim ressuscitar os vivos. E a terceira que nos remete ao momento de solidariedade atual: Páscoa é ajudar mais gente a ser gente, é viver em constante libertação, é crer na vida que vence a morte. Páscoa é renascimento, é recomeço, é lutar por um mundo melhor e mais solidário. Que a alegria da ressurreição de Cristo esteja em seu coração hoje e sempre independe das dificuldades.

Feliz Páscoa!

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Este foi o dia nº 24. #FicamEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES -CE).