Dr. Martinho Rodrigues - Médico e membro da SOBRAMES-CE |
Agosto, madrugada.
(do livro Em Tempo de Poesia)
Em hora incerta (que muito insinua)
reaparece na minha janela,
me seduzindo a passear com ela
entre os casais que ainda estão na rua.
Pouco importa se a madrugada é fria,
se minha voz me foge de repente,
se a poesia é uma mulher ausente
a debochar dos versos que eu faria.
Abro a porta, mesmo rouco e assustado,
sem resistir, jamais, aos seus encantos
ou recusar, nesses momentos, tantos
afagos brancos sobre o meu telhado...
Pois, sem pudor, logo que o sol é posto,
vem debruçar-se na minha janela,
depois, se erguendo, exuberante e bela,
cobre a cidade com o luar de agosto!...
Tendo a poesia a mendigar por ela,
mui democraticamente, entretanto,
casta donzela envolve com seu manto
palácios, e... casebres da favela.
Martinho Rodrigues
Martinho Rodrigues
Lindo poema, Dr. Martinho. Parabéns! Destaque para essa estrofe:
ResponderExcluirPouco importa se a madrugada é fria,
se minha voz me foge de repente,
se a poesia é uma mulher ausente
a debochar dos versos que eu faria.
Que belos versos essa lua inspira!
ResponderExcluir"tantos afagos brancos sobre o meu telhado..."
Magníficos, Dr.Martinho! Que presente nos oferece!