Dra. Ana Margarida Arruda Rosemberg - Médica e Secretária da SOBRAMES-CE |
Foto feita pela fotógrafa Jana Arruda, no dia 27 de maio de 2005 - Fim de tarde, em Sampa.
Texto premiado em 2º lugar na categoria Prosa, no I concurso Literário dos Profissionais de Saúde de Nível Superior do Estado do Ceará: PRÊMIO SOBRAMES-CE/UNIMED FORTALEZA DE LITERATURA - 2011
FIM DE TARDE
Há dias o frio não dava trégua em
Sampa. O cruzamento da Ipiranga com a São João regurgitava de gente naquele
quase fim de tarde, do dia 27 de maio de 2005. O vento frio chicoteava nossas
faces. Eu, bem agasalhada, carregava uma mochila com roupas, sapatos, jóias e
maquiagem. Você levava nas costas sua câmera fotográfica, além de um ventilador
em uma das mãos.
Entramos rapidamente no prédio belle époque e fomos direto ao 7º andar.
Ao entrarmos no estúdio, o calor nos envolveu como em um abraço carinhoso.
Sentei-me no confortável sofá e relaxei por alguns minutos. Apreciei as
artísticas fotos que cobriam as paredes e todo o estúdio tão bem arrumado.
Senti orgulho de minha primogênita.
Enquanto você preparava os
apetrechos para mais uma sessão de fotos eu desmanchava a minha mochila. Fui,
logo em seguida, calçando as meias finas que aos poucos foram cobrindo minhas
pernas e me protegendo do frio. Vesti o meu blazer cor de rosa e calcei meu par
de sapatos prateados de salto alto.
Sentada em frente à janela fui sendo
maquiada, por você, ao som dos beatles, que baixinho invadia o ambiente. Ao
ouvir Girl fui tragada em uma viagem
vertiginosa e voltei ao passado longínquo. A melodia e a letra, Is there
anybody going to listen to my story. All about the girl who came to stay? Ah, girl, girl, girl, me fez
reviver momentos passados ao seu lado e, de repente, nosso tempo de mãe e filha
se fez presente.
Maquiada e arrumada entreguei-me a
você, fotógrafa, minha filha, que com técnica e competência me via através de
suas lentes e captava aqueles momentos preciosos. Momentos de perfeita comunhão
entre mãe e filha.
O casaco de pele de lontra
aqueceu-me por instantes e ao ouvir a melodia de Eleanor Rigby, Ah, look at all the lonely people. Eleanor
Rigby, picks up the nic..., voltei novamente ao passado e revivi o momento
de seu nascimento. A emoção que você me proporcionou ao vir ao mundo, sem
dúvida, a maior que eu já senti em toda a minha vida, invadiu, novamente, a
minha alma. Mal pude acreditar que o tempo havia passado e que estava diante de
uma profissional que se agigantava à medida que o trabalho ia sendo
desenvolvido.
E, assim, ao som dos beatles, você me fotografou em pé,
sentada, deitada no sofá, recostada à porta com várias roupas e casacos diferentes.
Quando, Lucy in the sky with diamonds invadiu o estúdio lembrei-me da história
dos primeiros humanos e de Lucy que
foi encontrada na África, mais precisamente em Hadar, na Etiópia, em 1974, onde
viveu há 3.2 milhões de anos. O esqueleto lá encontrado, que foi atribuído a
uma fêmea Australopithecus afarensis,
era bípede e recebeu o nome de Lucy
em homenagem à canção feita pelos beatles.
A história tem dessas coisas.
Cansadas, mas felizes, deixamos o
estúdio quando o manto da noite já cobria Sampa. Em sua câmera fotográfica você
levava, eternizados, aqueles preciosos instantes e o meu amor por você.
Ana
Margarida Rosemberg
Que lindo texto! Parabéns por ser um ser humano tão sensível...
ResponderExcluirEm primeiro lugar, a foto está belíssima. Uma mãe e uma mulher plena! O texto como sempre impecável e merecedor de mil prêmios! A cumplicidade entre mãe e filha é a grande lição de harmonia. É a música de Deus, da criação, do universo... seja qual for a sua crença. A fotógrafa continua a eternizar momentos assim, com sua alma e com seus olhos atentos que fazem a máquina revelar a beleza das emoções. Que os relógios sejam parados em instantes assim. O meu abraço e obrigada por compartilhar.
ResponderExcluirObrigada, Iracema! Filhos nos fazem sensíveis... Netos, nem se fala...
ResponderExcluirA foto é bonita, pois foi feita pelo olhar da Jana. Como vc gostou ,vou postar outras feitas nesse dia, no meu BLOG. Obrigada pelo carinho, Fátima.
ResponderExcluirParabéns a ambas, escritora e fotógrafa. Quando vc descreve seus momentos em SP, o faz com tamanha veracidade, que chego a sentir o ventir frio e aquele arrepio que ele nos provoca quando se caminha pelas ruas.
ResponderExcluirObrigada, Celina. O Rosemberg falava que eu tinha uma memória eidética quando descrevia cenas. Já os parabéns, vou transmiti-los à Janinha, pois ela merece mais do que eu. bj. anamargarida
ResponderExcluirParabéns, Ana pelo belo texto! Momento como esse entre mãe e filha jamis será esquecido. Suas lindas fotos comprovam que o dia foi muito especial para vocês.
ResponderExcluirObrigada, Edna!
ResponderExcluir