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quinta-feira, 26 de março de 2020

POR MARCELO GURGEL: FABRICANTE DE GÊNIOS

Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva - Ex Presidente da Sobrames-CE

FABRICANTE DE GÊNIOS
Quem contou esta foi o Livino Jr. Certo dia o Prof. Eilson Goes de Oliveira mandou chamá-lo, e disse:
– Livino, você vai fazer comigo a prova de Física do Vestibular da Escola de Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará.
– Não estou entendendo nada, retrucou o outro. Tem coisa errada aí, eu não sou professor da Universidade Estadual, sei física, mas não sou professor de física. Será que isso não vai lhe criar problema?
Eilson, peremptoriamente, respondeu:
– Livino, prefiro você mais do que uns professores que conheço.
A resposta veio imediata:
– Mestre, isso vai dar bronca.
Mas ele não quis nem saber. Em contrapartida, disse:
– Rapaz deixa de ser chato e vai por mim. O Reitor me deu carta branca para escolher o outro professor que comporia a banca (eram dois professores por banca).
Usando de uma certa intimidade, Livino Jr. argumentou:
– Cara, se você acha que está tudo bem, está tudo bem, o problema é teu.
No mesmo dia, era elaborada a prova de matemática também por dois professores. Por exigência da UECE, quem participasse da feitura de prova, tinham que passar 24 (vinte e quatro horas) isolado para não haver possibilidade de "vazamento" de questões. Na hora do almoço, aconteceu o inesperado.
Eilson era muito introspectivo e quando ele e Livino Jr. chegaram à mesa do almoço, esse último se aproximou dos professores que estavam elaborando a prova de matemática, e falou:
Vocês devem ser os professores que estão fazendo a prova de matemática; somos nós que estamos elaborando a de física; este aqui,apontou para o mestre Eilson é o professor Eilson Goes de Oliveira, e eu sou Livino Júnior.
Nessa altura dos acontecimentos, os professores de matemática já sabiam que a prova de física estava sendo feita por dois professores, ambos médicos e patologistas (por que não físicos?); a modesta conversa, orquestrada pelo Livino Jr., começava a pesar, já que o ambiente não era muito leve.
No final do almoço, um dos professores de matemática falou:
– Olhem colegas, nós temos um problema na prova que estamos elaborando. Será que vocês, com o conhecimento de física que possuem, e que devem também conhecer matemática, poderiam nos ajudar?
Expôs o problema e com o giz na mão dirigiu-se ao Livino Jr. O Eilson entrou então na história e falou para o colega:
– Rapaz, não faça isso, porque iremos perder muito tempo; deixe que eu resolvo.
Pegou o giz e, seguidamente, resolveu o problema de três maneiras diferentes. Os dois professores ficaram com ar espantado e, em vez de olhar para o Eilson, que era menos jovem, olharam de pronto para o "jovem prodígio", no caso ele, Livino, pois se o mais experiente respondia daquela maneira, certamente o mais novo iria complicar demais pelos seus conhecimentos; os matemáticos não conseguiram, durante uns cinco minutos, retirar os olhos do Livininho, médico patologista e “doublé” de professor de física
Talvez tenha sido essa a única vez que ele se sentiu um gênio (mesmo que fabricado pelo Eilson).
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames - Ceará
* Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p. 19-20.
Fonte: SILVA, M.G.C. da. Fabricante de gênios. In: SOBRAMES – CEARÁ. Pontos de vista. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2019. 352p. p.233-5.

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