Por Arruda Bastos
Meu amigo de fé e um irmão camarada: o celular.
Nessa segunda-feira com cara de sexta, cheguei à conclusão que não posso me queixar da minha imaginação. A quarentena tem sido fértil em lembranças do passado, motes inesperados e, mesmo faltando o cotidiano das ruas, que é o que mais me inspira, mesmo no dia que estava com a cabeça oca, sem pensamento e vazia de tudo, saiu alguma coisa na crônica do 5º dia.
Hoje, lembrei de um bordão que ficou famoso na novela “O Clone” da Rede Globo, exibida no ano 2000. A personagem era a Odete, protagonizada pela atriz Mara Manzan. Na trama, ela adorava holofotes e tinha como “point” preferencial o Piscinão de Ramos. Odete utilizava a frase “cada mergulho é um flash” para se referir ao assédio dos “paparazzi” que frequentavam o local.
Como na nossa quarentena as piscinas e praias não são permitidas, só me resta dizer que “cada dia é um flash”. E, no dia de hoje, o flash vai para o meu amigo e companheiro, o celular. Sei que ele não é mais um garoto, pois chegou ao Brasil em 1990 e a tecnologia para desenvolver o primeiro data de 1956, e o telefone móvel, de 1973. Ele, portanto, já pertence até ao grupo de risco.
Recordo do meu primeiro celular, um Motorola tijolão. De tão grande que era fiquei até com uma pequena escoliose. A bateria era um problema e durava pouco tempo. Depois veio um Nokia e outros menos charmosos. O certo mesmo é que ele era sinal de status e, mesmo sem usar muito, pois não tinha dinheiro para pagar a conta, era um sucesso na época.
Fui fazer as contas e já são trinta anos de união com meus celulares, que podem até ter mudado de cara e incorporado novas tecnologias, mas continuam os mesmos de sempre, juntinho ao corpo, companheiro e me acompanhando em todos os momentos de alegria, de preocupação e até de tristezas.
Digo que nunca tinha pensado com carinho do meu celular e até antes do isolamento social sua importância era só para a comunicação. Hoje, depois de onze dias, sinto que ele é muito mais do que isso e se vier a me faltar agora, não sei como vai ser. O que será do meu whatsapp, das minhas redes sociais, das minhas aulas virtuais, das conferências pelo aplicativo Zoom.
O celular deixou de ser nessa quarentena um objeto ou ferramenta tecnológica para ser um sujeito que tem vida. São 24 horas acariciando, admirando, abraçando, andando, comendo e conversando com alguém inseparável. Acho até que ganhei mais um amigo de fé e um irmão camarada, como na música “Amigo” de Roberto Carlos.
É importante ter carinho pelo seu celular e, se a lavagem das mãos e a higienização com álcool em gel são de extrema importância para conter o avanço do novo coronavírus, a limpeza dos celulares (que são tocados aproximadamente 2.600 vezes por dia), também merece sua atenção redobrada em tempos de pandemia.
Não devemos deixar de limpar o celular com carinho. Primeiro, desligue o bichinho e desconecte fios e cabos, retire a capa protetora (que deve ser higienizada separadamente), pegue um pano macio como flanelas ou iguais aos usados para limpar óculos, umedeça o tecido em álcool isopropílico 70% (específico para produtos eletrônicos) e, por fim, passe com carinho no seu amigo.
Não sabemos bem quanto tempo ainda vamos passar isolados, o certo é que sem um amigo celular não dá.
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 11. #FiquemEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE).
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