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sábado, 30 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (62º dia)

Diário de uma quarentena (62º dia)
Sentimental demais
Por Arruda Bastos

Nesse sábado, dia 30 de maio de 2020, acordei meio atordoado depois de uma noite conturbada, com muitos pesadelos. A causa de tanta apreensão é o sentimento de que a flexibilização divulgada pelo governo para segunda-feira é um erro e que não foi a melhor decisão, pois considero precipitada, como escrevi na crônica “Devagar com o andor, que o santo é de barro”.

Logo depois de abrir os olhos e me espreguiçar, escutei baixinho os acordes da música “Sentimental Demais” na voz inconfundível Altemar Dutra. O som do celular da minha querida Marcilia aguçou ainda mais meus sentidos fazendo eu escutar o que ela sussurrava: “O Brasil perdeu, vítima da Covid-19, um de seus grandes artistas: o cearense Evaldo Gouveia”.

Confesso que, como fã das suas composições, de início não acreditei. Os grandes clássicos do artista como “Sentimental Demais”, “Brigas”, “O Trovador”, “Que queres tu de mim” e tantos outros, embalaram momentos de grande sentimento na minha vida, principalmente quando muito jovem.

A triste notícia abalou meu coração e me fez procurar nas inspiradas letras das suas músicas a solução para a minha falta de ânimo nos últimos dias. A Covid também não tem dado trégua, afetando muitos amigos e levando a óbito um alvinegro de quatro costados, o que me abalou muito.

Depois do café, fui ao computador para escutar as músicas de maior sucesso de Evaldo Gouveia. Lembrei-me do seu principal parceiro, Jair Amorim, também falecido, e acessei sites dos saudosos cantores Altemar Dutra e Nelson Gonçalves, dois dos grandes intérpretes do protagonista de hoje.

Resolvi, então, depois de me emocionar escutando várias músicas, fazer essa homenagem e trazer para os mais jovens as composições que, agora, eternizam-se. Para os da terceira idade, é a oportunidade de recordar de alguns momentos inesquecíveis, de um passado distante e que não volta mais.
Vou iniciar com “Sentimental demais”: Sentimental eu sou, eu sou demais. Eu sei que sou assim, porque assim ela me faz. As músicas que eu vivo a cantar tem o sabor igual. Por isso é que se diz, como ele é sentimental. Romântico é sonhar. E eu sonho assim, cantando estas canções. Para quem ama igual a mim e quem achar alguém como eu achei, verá que é natural ficar como eu fiquei, cada vez mais sentimental.

Agora vamos cantar “Brigas”, outro grande sucesso: Veja só, que tolice nós dois brigarmos tanto assim. Se depois vamos nós a sorrir, ficar de bem no fim. Para que maltratarmos o amor. O amor não se maltrata, não. Para que, se essa gente o que quer é ver nossa separação. Brigo eu, você briga também, por coisas tão banais. E o amor em momentos assim, morre um pouquinho mais. E ao morrer, então, é que se vê, que quem morreu fui e foi você, pois sem amor, estamos sós, morremos nós.

“Alguém me disse” bate forte na lembrança de muita gente: Alguém me disse que tu andas novamente de novo amor nova paixão toda contente. Conheço bem tuas promessas, outras ouvi iguais a essas. Este teu jeito de enganar, conheço bem. Pouco me importa que te vejam tantas vezes e que tu mudes de paixão todos os meses; Se vais beijar, como eu bem sei fazer sonhar, como eu sonhei, mas sem ter nunca amor igual ao que eu lhe dei.

Finalizando e imaginando a voz de Altemar Dutra, “O trovador”: Sonhei que eu era um dia um trovador dos velhos tempos que não voltam mais. Cantava, assim, a toda hora as mais lindas modinhas de meu tempo de outrora. Sinhá mocinha de olhar fugaz se encantava com meus versos de rapaz. Qual seresteiro ou menestrel do amor a suspirar sob os balcões em flor na noite antiga do meu Rio. Pelas ruas do Rio eu passava a cantar novas trovas em provas de amor ao luar e via então de um lampião de gás, na janela a flor mais bela em tristes ais.

Para concluir, deixo o meu sentimento para a família e para os fãs do Evaldo Gouveia e, em seu nome, vai a minha solidariedade para os familiares e amigos das mais de 26 mil vítimas e as mais de 400 mil pessoas infectadas pelo Coronavírus em todo o Brasil. Que Deus proteja e conforte a todos.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 62. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

POR SEBASTIÃO DIÓGENES: Saga de uma família em extinção


                                                     
                                                 Saga de uma família em extinção

Encontrava-me no gabinete de estudos lendo a “Servidão humana”, de Somerset Maugham, quando uma conversinha na prateleira da estante começou a me retirar a concentração. Corri a vista onde estavam os dicionários. Nada parecia de anormal. Voltei à leitura, e o diálogo entre duas pessoas me tornou a perturbar. Olhei novamente as prateleiras. Desta vez, flagrei o amigão Aurélio aberto, com suas páginas agitadas por algum fenômeno que não compreendia. Logo depois, constatei que se tratava de uma reunião de família, e que havia desgosto na fala de alguns de seus membros. Chamou-me atenção a elegância de uma senhora bem velhinha, vestida com o rigor que a sua época impusera. Apresentou-se a mim como “Senhora de idade secular”. Frente a frente a esta, encontrava-se um adolescente esperto, comunicativo, cheio de intimidades. Eles haviam trocado algumas palavras, aquela conversinha que me incomodara. De repente, vi lágrimas banhando o rosto da Senhora de idade secular.
-  Por que cê está chorando? – perguntou o adolescente esperto.
 Ela não respondeu, dobrou o pranto. Havia uma profunda amargura no seu semblante. Julguei desaforo o modo de o rapazinho tratar a Senhora de idade secular. Ele havia usado o pronome de tratamento “cê”, que lhe era desconhecido e, ao mesmo tempo, inadequado para gente da categoria dela.
- Qual é o seu nome, garoto? – perguntou a anciã, ainda em choro convulso.
-  Meu  nome é Cê – respondeu o garoto.
- Por que a sua mãe escolheu esse nome monossilábico? – perguntou com curiosidade, a elegante senhora.
- Minha mãe diz que é a forma de tratamento que o povo, de pouca escola, gosta de usar. Não gasta tempo para pronunciar. “A voz do povo é a voz de Deus”, é o ditado popular que minha mãe gosta de usar para se defender das zombarias que algumas pessoas intolerantes fazem por causa do meu  nome.
- Com perdão da pequena palavra, Cê é filho de quem?
- Sou filho de Ocê – respondeu Cê. – A minha mãe é da mesma forma de tratamento que a minha pequena pessoa.
- Cê, me faça o favor de trazer sua mãe aqui! Tenho muita vontade de conhecê-la – pediu a Senhora de idade secular. 
- É pra já! A senhora vai já conhecer Ocê, minha mãe. Ela tem idade de ser sua trineta – completou Cê. Ele grita a todo pulmão.  - Mãe venha aqui, tem uma senhora que quer conhecer ocê!
- Então, Ocê é a mãe de Cê? – perguntou a Senhora de idade secular.
- Sou eu mesma – respondeu Ocê.
- Tão nova, e já tem um rapazinho! – admirou-se a Senhora de idade secular. – Como é o nome da sua mãe?
- O nome da mamãe é Você – respondeu Ocê.
- Ocê, eu quero conhecer sua mãe. Faça-me o favor de trazê-la até aqui! – pediu a Senhora de idade secular.
- Cê, meu filho, vá chamar sua avó!  – ordenou Ocê, filha de Você. Cê sai correndo e logo depois retornou com a vovó Você.
- Você, que prazer conhecer você! Sua filha Ocê e seu neto Cê são pessoas dadas, tratam-me com intimidade, o que me deixam meio sem jeito – observou a Senhora de idade secular.  – E sua mãe como se chama, Você? – indagou a misteriosa senhora.
- Vosmecê, é o nome de minha mãe – respondeu Você. – A senhora deseja conhecê-la? –  indagou Você.
- Seria uma honra para esta esquecida velha conhecer Vosmecê, a sua mãe – respondeu a Senhora de idade secular.
Você mandou sua filha Ocê chamar a sua mãe, Vosmecê, que é naturalmente a avó de Ocê.
- Senhora, aqui está a minha mãe, Vosmecê – apresentou Você. Ela é avó de minha filha Ocê e bisavó de meu neto Cê, que lhe foram apresentados – completou Você.  
- Encantada! – disse sorrindo. – Vosmecê, por favor, de quem  vosmecê é filha? – indagou a Senhora de idade secular.
- Sou filha de Vossemecê. Infelizmente, convivi pouco com a minha mãe – respondeu Vosmecê. – Ah! Como gostaria de conhecer Vossemecê! – exclamou a Senhora de idade secular. – Pois, providenciarei para satisfazer o desejo de vosmecê  – tranquilizou Vosmecê.
Vosmecê mandou Você chamar a sua mãe, Vossemecê, que naturalmente é a avó de Você. Vossemecê ao ver a Senhora de idade secular teve uma forte emoção, lágrimas correram pela face, e com a voz embargada, exclamou:
- Mamãe! Mamãe! Sou eu, sua filha, Vossemecê! Vossa Mercê não se lembra de mim? – indagou a filha em prantos.
- Tenho uma vaga lembrança de Vossemecê, minha filha, mas o tempo me tem estragado a memória – falou Vossa Mercê, e continuou. - Ademais, vivo em estado de dicionário há anos e anos. Uma espécie de asilo para idosos. Tornei-me inútil. Tudo começou quando Vossemecê nasceu, e aos poucos vossemecê foi ocupando o meu lugar. O tempo é impiedoso, e a sua vez não tardou chegar. Quando a filha de vossemecê nasceu, a menina Vosmecê, foi também aos poucos nos ocupando os  lugares nas gramáticas, na literatura, na boca do povo.  E assim, a cada nascimento de um novo rebento da nossa linhagem, seus ancestrais vão perdendo a utilidade e os descendentes vão ficando mais pobres de fonemas.  Veja o caso de meu bisneto Você, filho de Vosmecê. No momento, ele está bem, goza do prestígio dos gramáticos, classificam-no como pronome de segunda pessoa, não obstante, na harmonia verbal, comporte-se como se fosse gente de terceira. Você é bastante utilizado na linguagem escrita e falada, mas, temo pela sorte dele ao longo do tempo. Basta observar a evolução histórica da família, e o que está ocorrendo com a lastimável descendência de Você: a filha é Ocê e o neto, Cê. São nomes abonados pelo Aurélio, mas não o são pelo VOLP. Portanto, nada nos garante que a nossa dinastia alcance mais um século de existência. Eu, Vossa Mercê, da qual a árvore genealógica se originou, sofro a perda dos meus ramos nas gerações sucessivas. E para este infeliz neto de Você, restou um mísero fonema: Cê. Declaro  encerrada a reunião. Com licença, vou me recolher aos aposentos. Cê, tome a bênção à sua tataravó – recomendou Vossa Mercê. 
- Tchau, Vossa Mercê!
Sebastião Diógenes
27-05-2020

segunda-feira, 25 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (60º dias)


Diário de uma quarentena (60º dias)
Devagar com o andor, que o santo é de barro
Por Arruda Bastos

No último dia 25 de maio de 2020, completei o meu sexagésimo dia de quarentena e as últimas notícias são de leve melhoria dos indicadores de casos novos e de procura de atendimento em hospitais das Operadoras de Plano de Saúde e em alguns equipamentos da saúde pública em nossa Fortaleza.

O governador Camilo Santana tem falado na possibilidade de, a partir de segunda-feira, dia 1° de junho, iniciar um gradativo programa da reabertura da economia no Ceará. O detalhe do plano de flexibilização deve ser divulgado nos próximos dias.

Com essas informações, lembrei-me do ditado popular que diz “devagar com o andor, que o santo é de barro”. O ditado, sem dúvida, cabe como uma luva no momento atual. Para lembrar, destaco: em muitas procissões, as imagens dos santos são carregadas em andores, que são tablados de madeira com duas barras e paralelas, que servem para apoiar nos ombros dos que carregam as imagens.

O ditado tem como moral que tudo na vida precisa ser feito com cuidado e calma, senão o santo pode escorregar, cair e quebrar, pois é feito de barro (louça ou cerâmica). Assim, a expressão "devagar com o andor, que o santo é de barro" passou a ser usada para significar "Calma! Não se apresse, pois a precipitação pode causar problemas." No caso da pandemia, esse cuidado é fundamental.

Continuando no mote de hoje, digo que no início da semana recebi do meu colega e grande amigo Manoel Fonseca uma minuta de uma carta aberta para ser encaminhada ao Governador Camilo Santana. O documento alertava para a necessidade da continuidade do isolamento social por mais algum tempo, pois os números ainda preocupam.

Depois de ler o texto, trocar algumas mensagens e ligar para o Fonseca, resolvi fazer, durante a noite, algumas pequenas mudanças no documento e depois publicar nas redes sociais da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia do Ceará. Com o alerta do colega, editamos o documento e divulgamos com mais intensidade. A parceria, mais uma vez, deu certo, apesar de parecer no início um pouco capenga.

Para resumir a crônica de hoje, vou copiar e colar a Carta aberta ao Governador com nossas reflexões. Espero que o texto sirva de alerta, pois, como falei anteriormente, “devagar com o andor, pois o santo é de barro”.

“Carta aberta ao Governador Camilo Santana

Sabemos das pressões do setor produtivo sobre nosso governador, Camilo Santana, para a retomada das atividades e término do isolamento social.
Compreendemos a apreensão dos trabalhadores, desempregados e dos que vivem de pequenos negócios, em conseguir recursos para suas famílias, principalmente porque o Governo Bolsonaro põe mil e uma dificuldades para liberar o auxílio emergencial de R$ 600,00 e o crédito para pequenas e médias empresas, aprovados pelo Congresso Nacional.

Entendemos que a epidemia em Fortaleza chegou ao ponto mais alto e parece começar a estabilizar, lentamente, o número de casos e óbitos, chegando-se a um platô. Mas o Ceará, com 35.595 confirmados até este domingo, é o terceiro Estado em letalidade (6,5%), superando a média do Brasil (6,2%), só sobrepujado por Rio de Janeiro, com letalidade de 10,52% e Pernambuco, com letalidade de 7,9%.

Fortaleza, que se apresenta como epicentro da epidemia no Ceará, tem uma letalidade da mesma magnitude de Pernambuco e a expansão de casos e óbitos está ainda acelerada nos bairros da periferia.

O Sistema de Saúde, público e privado, está operando próximo ao limite de sua capacidade de oferta de leitos de UTI e de respiradores mecânicos.

Será preciso manter o isolamento social rígido por mais tempo, até que a curva de crescimento da epidemia comece a cair, permitindo avaliar a oportunidade de abertura programada das atividades econômicas e redução do isolamento social, persistindo os cuidados de proteção, para evitar uma nova onda de casos e óbitos.

Esperamos, sinceramente, que o Sr. Governador análise com sabedoria este quadro preocupante.

Será que não seria uma temeridade, no início da tendência de estabilização de casos e óbitos, afrouxar as medidas de isolamento social?

Fazemos um apelo ao Governador Camilo Santana, para que resista, por um pouco mais de tempo, às pressões e esperamos que a sociedade mantenha seu espirito de solidariedade, compreensão e generosidade, no sentido de salvar mais vidas, particularmente da população de bairros da periferia, onde a epidemia está concentrada agora e em expansão ainda acelerada.

Sr. Governador Camilo Santana, amplie por mais tempo o isolamento social rígido e proteja mais vidas de nosso povo. Que o povo possa, então, se reencontrar, após a quarentena, mais livre, de forma mais segura e sempre com cuidado e proteção.

Nosso apoio e confiança, Sr. Governador Camilo Santana, e que V. Sia. se ilumine para tomar a decisão mais sábia e correta.

Fortaleza, 25 de maio de 2020

Manoel Fonseca é Médico Sanitarista, Especialista em Epidemiologia, Mestre em Saúde Pública, Ex-Secretário de Saúde de Fortaleza

Arruda Bastos é Médico Sanitarista, Oncologista, Gestor em Saúde, Prof. Universitário e Ex-Secretário de Saúde do Estado do Ceará

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 60. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (57º dia)

Diário de uma quarentena (57º dia)
O Bonner que se cuide
Por Arruda Bastos

Chegamos a 22 de maio de 2020, meu quinquagésimo sétimo dia de quarentena. O governador prolongou o lockdown em Fortaleza até o final do mês. Os números de casos e de óbitos só crescem e a situação continua muito grave. Com isso, reformulei minha agenda para dar vazão às inúmeras tarefas que tenho que cumprir nos próximos dias.

Dentre todas as atribuições, minha especial fascinação é para aquelas que realizo de forma virtual, pela internet, com uso do meu notebook Dell Inspiron. Entre essas atividades estão principalmente as aulas, os meus programas no Facebook, os vídeos no YouTube e as lives no instagram.

A semana foi intensa, e já na segunda, transmiti o meu programa “Encontro Marcado” pelo Facebook com o amigo José Maria Philomeno. Na terça, participei da live do professor Samuel, meu camarada do Crato; na quarta, do programa “Dialogando”, com meu querido vereador Prof. Evaldo Lima, pelo Facebook e Instagram.

Depois, no outro dia, eu e o colega Manuel Fonseca recebemos no “Quinta com Saúde e Democracia”, transmitido pelo Facebook, o Secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Inácio Arruda, e a psicóloga Renata Giaxa. O tema foi psicologia, ciência e covid-19. Todos os programas tiveram grande audiência e participação.

Pensei que na sexta-feira fosse descansar e não marquei nenhuma atividade extra além das três aulas virtuais da Unichristus, entretanto, meu querido primo e Prefeito de Baturité, Assis Arruda, convidou-me para participar de uma videoconferência com os prefeitos do Maciço a fim de discutir o posicionamento frente às dificuldades de viabilizar leitos para o enfrentamento da Covid na região.

Com todas essas atividades e com o meu programa de sábado, “Saúde em Dia”, com o radialista Sérgio Cunha, pelo Facebook, só mesmo com um bom suporte tecnológico para comportar tanta atividade. Somado à digitação das minhas crônicas do “Diário de uma Quarentena” e ao meu programa pela rádio Assunção, de segunda a sexta, meu computador no final de tudo vai ter mais horas de trabalho do que piloto internacional de Boeing tem de voo.

Para todas essas atividades, nos primeiros dias de quarentena, montei um estúdio no meu escritório. Digo que Marcilia, nos primeiros dias, não gostou muito, pois confesso que fiz uma bagunça danada. Foi um tal de troca troca de posição de livros, troféus, quadros, objetos de decoração e até um cabide de roupas que deveria usar diariamente tive que entulhar dentro do quarto.

Com o tempo, e depois dessa bagunça, ela não achava mais nada que procurava e chegou a se queixar de tanta mudança e até mesmo do excesso de programas. Acho que tudo só da boca para fora, pois não perde nenhum e até chega a me orientar quando constata alguma imperfeição. Sei que ela tem orgulho do trabalho que faço nesse momento importante, de fornecer informações verdadeiras para a nossa sociedade.

Meus filhos também são grandes incentivadores e sempre comentam, participam e divulgam os programas. Como prova disso, no dia de ontem recebi alguns equipamentos encaminhados pela minha filha Lilia. Ao desembrulhar, fiquei muito feliz, pois eram voltados para melhorar minha performance de comunicador via internet.

Vou terminando por aqui, vez que logo cedo vou montar os mimos que recebi. Primeiro o suporte para notebook com cooler embutido de cinco níveis e o teclado e mouse sem fio, e depois, instalar o microfone e fone de ouvido. Com todo esse novo arsenal, posso agora até me preparar para as ofertas de contrato na Globo. O Bonner que se cuide.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 57. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (56° dia)

Diário de uma quarentena (56° dia)
Sansão, Dalila e Marcilia
Por Arruda Bastos

Hoje, 20 de maio de 2020, no meu quinquagésimo sexto dia de quarentena, logo ao acordar, observei ao olhar no espelho que minha cabeleira estava parecida com a do Doc Brown personagem interpretado pelo ator Christopher Lloyd que no filme da trilogia de ficção científica “De volta para o Futuro”   era o inventor do DeLorean DMC-12 que viajava no tempo.

Não sei o motivo da lembrança do personagem mas acredito ter sido pelo aspecto desarrumado e assanhado como acordei. O fato é que como o espelho Marcilia também notou minha aparência de cientista louco e como não tenho condição de marcar com o meu cabeleireiro Juracy ela mesmo resolveu fazer essa caridade.

Marcilia durante muitos anos cortou o meu cabelo e se a memória não me falta desde que ficamos noivos ela sempre zelosa do visual do seu amado não deixava crescer muito. Depois que conheci o salão do Juracy e com as muitas atribuições da minha amada passei a cortar fora de casa.

Com o trato no cabelo completei a minha sina pois no início do isolamento tirei a barba que mantinha por mais de quarenta anos e agora fiz um verdadeiro desmonte na cabeleira. Até meu projeto de rabo de cavalo foi para o brejo. Só escapou mesmo o bigode que como escrevi na crônica “Vão-se as barbas e ficam os dedos” não tem quem me faça tirar.

Depois do corte do cabelo passei a espirar e a sentir uma certa moleza. Como qualquer alteração a gente pensa logo em covid-19 fiquei ressabiado e para tirar a dúvida resolvi tomar um alegra pois é comum sentir rinite alérgica. O certo é que depois de algumas horas o sintoma melhorou ficando ainda um pouco de desanimo.

Das minhas atividades normais pulei o cooper pelo apartamento e resolvi antecipar minha leitura na rede da varanda. Passei o dia sem muita energia a ponto de dispensar outras atividades da minha rotina. Cheguei até a dormir a tarde coisa que normalmente não faço. Fiquei ativo só mesmo na prova para meus alunos da unichristus já por volta das 18 horas e no programa Dialogando que fiz a convite do meu amigo vereador professor Evaldo Lima.

Depois da live comentando com Marcilia da minha indisposição ela lembrou brincando da história de Sansão e Dalila. Resolvi então fazer uma pesquisa para recordar alguns detalhes dos personagens bíblicos. Encontrei que Sansão significava "homem do sol", que ele era um nazareno dotado de extraordinária força e um dos juízes bíblicos cuja história está descrita no Livro dos Juízes (13-16) e no Novo Testamento (Hebreus 11,32).

Conta-se também que Deus chamou Sansão para libertar o povo de Israel que vivia dominado pelo Filisteus. Eles tinham um medo enorme da força do nazareno e tentavam sem sucesso frequentemente prende-lo. Os governantes filisteus, sabendo da paixão de Sansão pela finisteia Dalila, aliciaram a jovem, com 1100 moedas de prata, a descobrir a origem da força invencível de Sansão.

Dalila conseguiu descobrir o segredo. Este disse-lhe que, se os seus cabelos fossem cortados, a sua força abandoná-lo-ia e ficaria fraco como uma criança. Então quando ele adormeceu teve os seus cabelos cortados. Acordado pela chegada dos Filisteus, Sansão acreditava ainda ter força, mas foi rapidamente dominado pelos soldados, que lhe perfuraram os olhos e o prenderam com algemas de bronze.

A força de Sansão não estava nos cabelos. O fato de Sansão revelar o segredo a Dalila foi o momento para Deus o abandonar. Sansão desperdiçou a sua última chance de realizar um ministério digno do seu chamado. Por isso, Deus retirou a sua bênção, e ele se tornou um homem comum.

Não vou me comparar com Sansão mais com essa lembrança e como seguro morreu de velho eu só volto a cortar o meu cabelo quando tudo passar, o salão do Juracy for reaberto e depois que minhas madeixas crescerem bastante.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 56. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (55º dia)


Diário de uma quarentena (55º dia)
Ensinando o Pai Nosso a vigário
Por Arruda Bastos

Nesse meu quinquagésimo quinto dia de quarentena, depois de muitos dias escutando e rezando, sempre às 15 horas, com Marcilia, pelo instagram, o terço da misericórdia com a Ticiana de Paula da comunidade um Novo Caminho, resolvi como, diz o ditado, ensinar Pai Nosso a vigário e escrever minha crônica de hoje falando da importância da oração e da fé.

No meu isolamento, além das atividades de todos os dias, não pode faltar a mensagem do bispo Fernando às 06 horas da manhã pelo rádio, a missa do Shalom às 07 horas e 15 minutos, a missa do padre Geovane à noite na TV Diário, a missa do Padre Marcelo nos domingos e os terços rezados durante o cooper pelo apartamento de todos os dias.

Sou de uma família católica e cresci dentro das suas normas tradicionais. Minhas irmãs, meus irmãos e eu sempre estudamos em colégios de congregações religiosas. As primeiras sextas-feiras do mês eram sagradas com a confissão na igreja dos Remédios e, a missa nos domingos bem cedinho na Capela do Colégio Juvenal de Carvalho, nunca esqueci.

Digo que a minha formação religiosa tem ajudado muito nesse momento de tamanha dificuldade. A fé em Deus é um importante substrato para acreditarmos na solução de tudo e como diz a música “Vai dar tudo certo”: Se a gente colocar a nossa fé em ação / E confiarmos e orarmos a Deus / Deus ouve e responde, e dá tudo certo.

Para colaborar com aqueles que não são afeitos aos terços, vou ensinar o passo a passo do terço da misericórdia. Experimente. Sei que você e sua família vão gostar. De início, faça o sinal da Santa Cruz: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém! Depois reze um Pai Nosso, uma Ave Maria e o Credo.

Nas contas do Pai Nosso, reze: Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e Sangue, a Alma e Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro.

Nas contas das Ave Marias, reze: Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10 vezes).

Ao final do terço, reze: Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro. (03 vezes)

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 55. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Por: Fátima Azevêdo - PARA UMA QUERIDA E GRANDE AMIGA - Thereza Lúcia Prata de Almeida


PARA UMA QUERIDA E GRANDE AMIGA - Thereza Lúcia Prata de Almeida

Minha querida amiga Celma, meus mais profundos e sinceros sentimentos pela partida de sua irmã Thereza.
Hoje à tarde, dia 17 de maio de 2020, fui tomada de uma tristeza avassaladora e ainda não consegui parar de chorar desde que recebi a notícia que a minha, a nossa querida Tê não poderia mais voltar pra nós. Muito, muito triste. Não tenho palavras. A Tê foi a pessoa mais doce, meiga e delicada que eu conheci em toda a minha vida. Lamento imensamente que a vida corrida de todos nós tenha nos limitado os encontros. Não fosse nossos encontros nos corredores da Faculdade de Medicina da UFC, nosso local de trabalho, ambas docentes e minhas consultas esporádicas com ela, eu a teria encontrado menos ainda. Não me conformo que amigos se encontrem tão pouco nessa dimensão. Não me conformo ter que chorar as perdas e a perda do tempo perdido por não termos nos encontrado como gostaríamos. Vivíamos prometendo nos encontrar. Vivíamos ensaiando nos visitar. Vivíamos combinando um café que nunca virou realidade. Não consigo me conformar por não ter sido mais insistente, mais chata com meus pedidos de encontros com vocês duas. Não me conformo. Deveria ter insistido mais. A última vez que vi a Tê foi qdo peguei uma dermatomicose no dedo, após fazer jardinagem. Fiz fotos da lesão, enviei pra ela, prontamente ela deu o diagnóstico, era uma dermatologista excepcional, mas pediu que eu fosse ao ambulatório para me examinar e fazer a microscopia. Deu positivo e me tratou. Depois perguntou: Fá, era assim que me tratava carinhosamente, eu posso usar suas fotos do dedo, para dar aula, pois estão mostrando a lesão dermatológica com perfeição. E eu respondi: claro que pode, Tê e pode dizer aos nossos alunos, que o dedo é meu. As duas rimos e nos despedimos com um grande e apertado abraço. Prometemos uma à outra, marcar o tal café. Foi essa a última vez que vi minha querida e inesquecível amiga. Tê você ficou me devendo o café. 😢😢😢❤️


Fátima Azevêdo
Médica Geneticista
Prof da FAMED-UFC


domingo, 17 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (54º dia)


Diário de uma quarentena (54º dia)
O presente que salvou meu dia
Por Arruda Bastos

Hoje, acordei com disposição de fazer uma crônica falando novamente das minhas atividades diárias, uma volta ao passado, pois, no início do isolamento, cheguei a escrever por várias vezes orientando a melhor forma de manter uma agenda diária com muitas atividades.

O check list desse domingo, 17 de maio de 2020, começou cedo com minha caminhada pelo apartamento e rápido banho de sol na varanda. O café da manhã foi antecipado porque logo às 08 horas eu teria uma aula virtual do Mestrado em Ensino na Saúde da Unichristus, que duraria até o meio dia.

Com essas atividades pela manhã, já sabia que no turno da tarde a coisa ia pegar, vez que as outras atividades não poderiam ficar para segunda feira. Depois do almoço, passei a cumprir a parte que me cabe nas tarefas domésticas de todos os dias.

A minha quarentena é muito rígida e aqui em casa, desde 18 de março, não entra ninguém. Eu só saí uma vez para tomar a vacina da gripe, como escrevi na crônica “Uma odisseia na terra dos vírus gigantes”. Estou só com minha amada Marcilia e dividimos todas as obrigações diárias.

Voltando para minhas tarefas, depois de ajudar a lavar os pratos, ler um pouco e preparar uma prova para meus alunos da Medicina, chegou a hora de pegar no pesado com minha obrigação de passar um pano no apartamento, pois limpeza é fundamental nesses dias de pandemia.

Quando já me preparava física e psicologicamente para a academia diária da faxina, Marcilia chegou com um presente bem grande e embalado em papel chamativo. Fiquei surpreso, visto que meu aniversário é em janeiro, o dela em fevereiro e não me lembrava de ter encomendado nada e nem feito compra na internet.

Antes de abrir o pacote, fiquei tentando adivinhar do que se tratava. O que seria aquilo, o que caberia em uma caixa de aproximadamente um metro por quarenta centímetros. Seria alguma peça para ajudar nas minhas lives? Quem sabe uma iluminação ou uma mesa de som?

Para solucionar o dilema, perguntei quem tinha encaminhado e ela falou que foi nossa filha Lilia. Aí foi que fiquei sem saber mesmo o que era, embora minha caçula seja o nosso contato para compras, mercantil e tudo mais que pode ser adquirido de forma virtual.

O jeito mesmo era abrir de uma vez o presente para resolver a ansiedade que já tomava conta do meu ser. Olhei pela fresta do papel e descobri que se tratava de um “Mop Spray”. Digo que, como a maioria de vocês, continuei sem saber o que era aquilo.
Para ajudar, rasguei mais um pouco do papel e vi que era um objeto 3 em 1, com reservatório e que borrifa, limpa e seca, de uso ideal para porcelanato, cerâmicas em geral. As fotos na caixa, para quem não é do ramo, não ajudaram muito.

A solução foi abrir a caixa para retirar a geringonça que ela continha. Foi só assim que descobri se tratar de um objeto com gatilho pulverizador, spray frontal, tudo em microfibra e um recipiente de 460 ml para água ou qualquer produto de limpeza.

Devido a minha ignorância, só depois de montar foi que descobri que se tratava de uma moderna “Vassoura Mop Spray com reservatório”, que nada mais é do que uma moderna forma de limpar a casa e uma verdadeira carta de alforria do rodo, balde e pano. Melhor presente não poderia existir e, embora não esteja recebendo nada por isso, indico para todos vocês.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 54. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

sábado, 16 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (53º dia)

Diário de uma quarentena (53º dia)
De médico e louco todo mundo tem um pouco
Por Arruda Bastos

Hoje, sábado, dia 16 de maio de 2020, parei um pouco e percebi que estou chegando aos meus dois meses de quarentena. Infelizmente os números da pandemia continuam subindo apesar de todos os esforços para o cumprimento do lockdown. Nas últimas 24 horas, os casos dispararam e os serviços de saúde estão chegando à exaustão.

Digo que a insistência do presidente de liberar geral o medicamento cloroquina, mesmo com os recentes trabalhos demonstrando sua ineficácia, foi o mote para inspirar minha crônica de hoje, pois lembrei de um ditado popular que diz: de médico e louco todo mundo tem um pouco.

Como os ditos populares normalmente transmitem conhecimentos sobre a vida, que passam de geração em geração na forma de conselhos e advertências, resolvi puxar ainda mais pela memória e escrever sobre eles, que tratam tratando deles que são do cotidiano, do folclore, e até de amor.

Depois do almoço, agora com a colaboração da minha querida Marcilia, comecei a lembrar-me de vários provérbios e ditos populares. Os primeiros que recordei são do meu tempo de infância: “quem tem boca vai a Roma”, “saco vazio não se põe em pé” e “o comer e o coçar a questão é começar”.

Marcilia, lembrando-se do seu tempo de criança, citou: “quando um não quer, dois não brigam”; “um é pouco, dois é bom e três é demais”; “em terra de cego, quem tem um olho é rei; “água mole e pedra dura, tanto bate até que fura” e “quando a esmola é grande o santo desconfia”.

Ainda com Marcilia, listamos outras fiz uma relação que consta: “um exemplo vale mais que mil palavras”; “para um bom entendedor, meia palavra basta”; “de grão em grão, a galinha enche o papo”; “cada macaco no seu galho”; “casa de ferreiro, espeto de pau” e “Deus ajuda quem cedo madruga”.

A sequência da próxima lista é totalmente aleatória e qualquer semelhança com a vida ou fatos reais é mera coincidência: “mente vazia, oficina do diabo”; “o que os olhos não veem, o coração não sente”; “cavalo dado não se olha os dentes”; “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”; “o seguro morreu de velho” e “quem canta seus males espanta”.

Quando já estava encerrando, Marcilia lembrou-se de outras: “uma andorinha só não faz verão”; “mentira tem perna curta”; “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”; “não adianta chorar o leite derramado”; “águas passadas não movem moinho” e “devagar se chega ao longe”.

A origem desses e de muitos outros ditos populares e provérbios estão presentes no dia a dia dos brasileiros. A permanência dessas expressões, principalmente na linguagem coloquial, revela como uma tradição oral é fundamental para nós, não só como uma forma de se expressar, mas também como matéria de criação, inclusive na literatura.

Para concluir, é melhor eu ficar por aqui, já que pois hoje Marcilia está muito afiada e é capaz de lembrar de muitos outros ditos populares e provérbios e não posso continuar, pois meu tempo já esgotou e tenho que correr para mais uma live.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 53. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (52º dia)

Diário de uma quarentena (52º dia)
O país das fake news
Por Arruda Bastos

Hoje, 14 de maio de 2020, acordei preocupado com mais um sonho que tive durante a última noite. Ele me deixou bastante pensativo, pois mostrava que o Brasil tinha se transformado no país das Fake News, no paraíso dos mentirosos contumazes e que a verdade era coisa muito rara de se ver.

Fiquei, então, preocupado e a meditar, vez que, de início, não entendia o porquê do sonho. Depois de algum tempo, lembrei-me da Fake News do momento, divulgada por um Deputado Estadual do Ceará. A postagem dizia que “O Secretário da Saúde do Ceará, Dr. Cabeto, anda pressionando os profissionais da saúde para colocarem Covid-19 nos atestados de óbito, mesmo a causa dos óbitos sendo coisas nada a ver com coronavírus”.

A postagem estapafúrdia e desprovida de fundamento revoltou a grande maioria dos médicos do estado do Ceará, o que motivou, inclusive, a confecção de documento externando essa revolta e exigindo providências enérgicas. O post não tem pé nem cabeça, não tem sentido e nem justificativa, pois os casos de Covid-19 só são confirmados com o resultado do exame positivo do paciente em investigação e o Secretário é um cidadão de conduta ilibada.

Na outra ponta, a postagem ofende os médicos do Ceará que, pelo seu alto conceito e independência, não seriam capazes de se curvar à pressão de autoridade nenhuma, por mais graduada que seja, nem para fraudar atestados de óbito, nem para protagonizar qualquer outro ato criminoso ou antiético. É o caso de se dizer: a afirmação desagradou a gregos e troianos.

O Deputado é useiro e vezeiro em espalhar fake news sobre diversos temas e, infelizmente, não parou durante a epidemia da COVID19. Ele precisa ser processado por praticar, reiteradamente, crimes de injúria, difamação e calúnia contra autoridades do Estado e, especificamente, agora contra o Secretário de Saúde.

Este deputado já tem uma condenação, sentenciada pelo Juiz Hevilásio Moreira, por divulgar uma fake news e causar dano moral a outro parlamentar; e também um processo em curso na Assembleia Legislativa pelo mesmo motivo. O belicoso produtor de fake news, ao atacar o Dr. Carlos Roberto, e imputar-lhe um crime doloso, previsto no Art. 117 da Lei 8.112/90, deve ser instado a provar.

Por outro lado, a postura do Sindicato dos Médicos do Ceará de não se posicionar com a brevidade necessária também foi revoltante e a emenda saiu pior do que o soneto: ao misturar questões de ordem ideológica e, no lugar de se solidarizar com a categoria e com a pessoa física do Secretário, reforçar a denúncia, sem sequer inquerir os envolvidos, levar o caso ao MP, atuou o Sindicato dos Médicos em total desfavor dos seus assistidos.

Com todos esses fatos, não tenho outra explicação para o meu sonho (ou será melhor chamar de pesadelo?), pois estamos mesmo no país das fake news e o Ceará pode até concorrer a sediar a sua capital, vez que já tem até um Rei, que é deputado protagonista da minha crônica. Além disso, descobrimos, agora, que existe também no nosso território um sindicato no mesmo caminho. Tudo ficou bem claro. Os sonhos nunca acontecem por acaso. Agora é ficar com os olhos bem abertos, afinal, outras fake news devem chegar a qualquer momento.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 52. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAME -CE

terça-feira, 12 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (51º dia)

Diário de uma quarentena (51º dia)
Papa Francisco, Florence Nightingale e Ana Néri no dia da enfermagem
Por Arruda Bastos

Hoje, dia 12 de maio de 2020, é o quinquagésimo primeiro dia de isolamento social. Durante todo esse tempo, presenciamos lamentáveis discussões políticas, ideológicas, críticas de parte a parte e muita fake news. Unanimidade mesmo só na importância dos profissionais de saúde na assistência e na gestão contra o coronavírus.

Dentre todos os aplausos aos profissionais de saúde, destacamos aqueles destinados aos da enfermagem. O grande reconhecimento louvado em prosa e verso se deve à atuação desses profissionais, à sua dedicação e até ao heroísmo. Foi preciso passar por esses momentos de pandemia para que muitos governos e até mesmo a população introjetasse a valorização desse grupo profissional.

Tenho uma relação de longa data com a enfermagem e, durante quase quarenta anos de atividade profissional, sempre reconheci o valor inestimável e o papel fundamental da enfermagem em todas as áreas da saúde. Quando Secretário da Saúde do Ceará, pude confirmar o excelente trabalho na gestão desenvolvida pelos meus assessores, profissionais de enfermagem.

Depois que deixei a SESA, no Centro Universitário Christus – Unichristus, introduzi a disciplina de Gestão em Saúde nos cursos de Medicina e de Enfermagem. Mais uma vez, a convivência com profissionais da enfermagem, agora na academia, ampliou o meu conceito, pois só encontrei competência e dedicação. Dos alunos do curso também tenho um excelente conceito e as turmas são formadas por estudantes comprometidos e vocacionados, o que garante a qualidade de novas gerações de profissionais.

Voltando à data de hoje, ela homenageia a britânica Florence Nightingale, pioneira da Enfermagem, que nasceu em 12 de maio de 1820. Ela destacou-se por chefiar uma equipe de enfermeiras voluntárias na Guerra da Crimeia (1853-1856), na qual atendia aos soldados feridos. Depois, quando voltou ao seu país, desenvolveu grandes esforços para melhorar as condições de formação e os tratamentos de saúde destinados aos pobres e indigentes.

No Brasil, entre 12 e 20 de maio, comemora-se a Semana da Enfermagem, que relembra outra mulher pioneira da mesma profissão. Em nossa terra, a baiana Ana Justina Ferreira Néri, que nasceu em 13 de dezembro de 1814 e morreu em 20 de maio de 1880, foi enfermeira voluntária na Guerra do Paraguai (1865-1870), quando cuidou dos soldados brasileiros na frente de batalha. Depois, ela prestou inúmeros serviços à saúde brasileira.

Para concluir essa crônica do dia da Enfermagem, transcrevo a saudação do Papa Francisco, divulgada no Vaticano no dia de hoje: “Queridos enfermeiros, queridas enfermeiras, que esta ocorrência coloque no centro a dignidade do vosso trabalho, em benefício da saúde da sociedade inteira. Por vós, pelas vossas famílias e por quantos assistis e cuidais, asseguro a minha oração e, de coração, concedo a Bênção Apostólica”.

Parabéns a todos os profissionais de enfermagem.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 51. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

POR MANOEL FONSECA: Florence Nightingale

Florence Nightingale

A enfermagem é arte e ciência,
Ajuda manter processos vitais,
Criando condições ambientais
Do enfermo recompor sua eficiência.

São oito os princípios de Florence,
Ar puro, luz suave e aquecimento,
A limpeza, silêncio e alimento,
Ventilação e o afeto que convence.

Ao ser reformulada a Lei dos Pobres,
Ampliada por sua intervenção,
Dispensou-lhes cuidado bem mais nobre.

Vigilância contínua e compaixão, 
Nos seus doentes ela redescobre
O amor à vida em sua profissão. 

     Manoel Fonseca


Nossa homenagem às Enfermeiras e Enfermeiros e, em especial, àquelas/es que estão no front de batalha contra a Covid19, expondo suas vidas para ajudar a salvar outras vidas.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (50º dia)

Diário de uma quarentena (50º dia)
Cinquenta dias e as surpreendentes mudanças em tempo de pandemia
Por Arruda Bastos

Cheguei no dia de hoje, 11 de maio de 2020, aos meus 50 dias de quarentena. Quando do início do isolamento, não tínhamos a menor ideia do tempo que duraria, da gravidade que íamos vivenciar e muito menos das mudanças que ele acarretaria na nossa vida.

Decretada no Estado do Ceará no final de março, e renovada sucessivamente, ganhou, agora, contornos de dramaticidade com o lockdown imposto em toda Fortaleza. A medida radical é a única forma de combatermos a proliferação desenfreada da pandemia do novo coronavírus na nossa capital.

Com as restrições impostas pelo governo, todos tiveram a rotina, os hábitos e até o convívio familiar alterado. No meu caso, não foi diferente, entretanto, sinto que tive uma adaptação rápida à nova condição de vida adotando uma rotina rígida desde os primeiros dias.

Meus leitores são testemunhas, durante todos esses dias, da dureza que foi implementar os exercícios, o banho de sol, os consertos no apartamento, as leituras, o programa de rádio, as lives, as aulas virtuais e ainda escrever minhas crônicas do Diário de Uma Quarentena.

Como orientação, posso dizer que ter método foi a melhor coisa que fiz. A rotina e as obrigações do dia a dia têm preenchido o meu tempo, e nos últimos dias, a introdução de tarefas domésticas completou o combo, este que espero levar até o final.

Não devo me esquecer das belíssimas e emocionantes comemorações familiares, os aniversários, o dia das mães, as vídeo chamadas no início da noite, sem falar nas interações nos grupos e na ajuda mútua entre todos. Acredito que, sem dúvida, vamos sair dessa muito melhor do que entramos.

O aconchego tem ajudado a superar as dificuldades do isolamento. Tenho notícias de muitas reconciliações, mães com filhos, casais, parentes e amigos que estavam longe dos olhos e distantes de coração e agora se aproximaram. Infelizmente, temos as notícias de dificuldades entre casais e aí digo que, se isso aconteceu nesse momento, é porque a relação realimente não tinha mesmo futuro.

Nesses 50 dias, escrevi uma crônica por dia e digo que não foi fácil encontrar inspiração em dias de tanta dificuldade. Foram relatos de sintomas em familiares, casos positivos e suspeitos, falecimento de amigos, de padrinho de casamento e primo da minha amada Marcilia, a incerteza no futuro econômico e tudo mais.

Não sabemos ainda por quanto tempo vamos passar em quarentena, mas, independentemente disso, sei que quando tudo acabar o mundo não vai ser mais o mesmo. No meu caso, vou sair melhor, mais empático, humano, com novas habilidades, mestre em novos métodos de comunicação, em redes sociais e com uma fé inabalável em Deus. Espero que meu leitor também tenha, apesar de todo o sofrimento, algum ganho no final de tudo.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 50. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

Para facilitar a leitura vou postar os títulos e os links de todas as 50 escritas até aqui:

*1º dia: O início de uma longa travessia
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/diario-de-uma-qua…
*2º dia: O tédio, o vento e a rede na varanda
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/diario-de-uma-qua…
*3º dia: Depois da tempestade vem a bonança
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/diario-de-uma-qua…
*4º dia: Vão-se as barbas e ficam os dedos
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/pdiario-de-uma-qu…
*5º dia: Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol nascer
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*6º dia: Cabeça oca, vazia de tudo, sem pensamento
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*7º dia: Crianças são presentes de Deus
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*8º dia: Por favor, fiquem em casa
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*9º dia: Uma odisseia na terra dos vírus gigantes
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*10° dia: Mãezinha, que falta a senhora me faz
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*11° dia: Meu amigo de fé e um irmão camarada: o celular
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*12° dia: Armagedom > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*13° dia: Dia da mentira em tempo de coronavírus
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*14° dia: Se a gente colocar a nossa fé em ação, vai dar tudo certo
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*15º dia: Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*16º dia: Farinha pouca, meu pirão primeiro
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*17º dia: O domingo, a Lei de Chico de Brito e a dor no mucumbu
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*18º dia: Aniversário virtual e o amor são formas de destronar o coronavírus
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*19º dia: A inspiração de Roberto Carlos na rotina de uma quarentena
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*20° dia: Há luz no fim do túnel?
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*21° dia: Do barbeiro amador ao isolado sim, sozinho jamais
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*22° dia: Macambúzio e sorumbático com as lembranças da Semana Santa
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*23° dia: O testamento do Judas e o “Cachorro Magro”
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*24° dia: Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim?
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*25° dia: Fortaleza, a “arretada” loira desposada do sol
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*26° dia: A quarentena da caneta Azul
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*27° dia: Naquela mesa tá faltando ele
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*28° dia: O inoxidável e futuro pai do ano
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*29° dia: O Mestrado virtual > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_18.html?m=1
*30° dia: A dor de uma partida > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_83.html?m=1
*31° dia: O “gatoso” a quarentena e o mesversário > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-o-gatoso-quarentena-e.html?m=1
*32° dia: É de lascar > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_20.html?m=1
*33° dia: Obnubilado de “A” a “Z” >
http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_21.html?m=1
*34° dia: O aniversário da netinha Larinha e o drible no coronavírus > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_22.html?m=1
*35° dia: No tempo da brilhantina  > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_27.html?m=1
*36° dia: As lives das panelas > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_24.html?m=1
*37° dia: Os aniversários da Lilia e do Levi deixam o coronavírus doidim > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_25.html?m=1
*38° dia:  Domingo de precúndia e preguiça > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastosdiario-de-uma_26.html?m=1
*39º dia: Só chamando a Feiticeira e a Jennie é um gênio > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_38.html?m=1
*40° dia: O bíblico, o profano e a mulher de quarentena >
*41º dia: Obrigado, Senhor! > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_81.html?m=1
*42° dia: Por mais longa e tenebrosa que seja a noite, o sol sempre volta a brilhar > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/05/por-arruda-bastos-diario-de-uma.html?m=1
*43° dia: Meus netinho, a quarentena e o coronavírus > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/05/por-arruda-bastos-diario-de-uma_3.html?m=1
*44° dia: Beatles, recordar é viver > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/05/por-arruda-bastos-diario-de-uma_4.html?m=1
*45º dia: Duas vezes 300 > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/05/por-arruda-bastos-diario-de-uma_5.html?m=1
*46º dia: Crônia do L - Logo Lina Leva Love à Lívia e ao Lucca > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/05/por-arruda-bastos-diario-de-uma_7.html?m=1
*47º dia: Sou médico, a minha responsabilidade é valvar vidas. Hoje, a sua também é. > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/05/por-arruda-bastos-diario-de-uma_8.html?m=1
*48º dia: Boas lembrança chegam de véspera (Dia das mães) > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/05/por-arruda-bastos-diario-de-uma_9.html?m=1
*49º dia: Mães, longe dos olhos e perto do coração > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/05/por-arruda-bastos-diario-de-uma_10.html?m=1
*50° dia: http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/05/por-arruda-bastos-diario-de-uma_11.html 

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Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 50. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

domingo, 10 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (49º dia)

Diário de uma quarentena (49º dia)
Mãe, longe dos olhos e perto do coração 
Por Arruda Bastos

Hoje, 10 de maio de 2020, é o meu quadragésimo nono dia de quarentena, e mais uma data importante será comemorada de forma virtual. Como já escrevi a pandemia não tem impedido que as festas familiares passem com algazarra e a emoção dos tempos pretéritos. O domingo do dia das mães não vai ser triste nem frio, ele será cheio de calor, amor, lembranças, carinho e muita alegria.

A idéia de distância como um obstáculo intransponível pertence ao passado. Nesse lockdown o longe é perto, os olhos da tecnologia nos aproxima e muitas vezes de forma verdadeira e não superficial com indiferença de muitos relacionamentos. Como nos lembra o ditado popular, “longe dos olhos, perto do coração”.

Foi com essa disposição que acordei e pretendo passar o dia de hoje, cheio de saúde para comemorar, escrever e me emocionar. Mesmo para aqueles que ainda tem a sua mãe a forma de amar vai ser o distanciamento que é o cuidado com a saúde é a maneira correta de agir. Mesmo distante do calor físico, dos abraços e beijos digo que vai ser muito bom.

Quando estava escrevendo minha querida Marcilia recebeu um lindo vídeo encaminhado pelos nossos quatro filhos. Era a homenagem da família para essa mãe maravilhosa e sem igual. Marcilia é tudo que uma mãe deve ser, carinhosa, presente, responsável e de um amor infinito. Os depoimentos todos comoventes nos levou as lagrimas e as fotos abriram as portas do passado e do presente de felicidade e união.

Com tanta emoção poderia até parar por aqui e só postar o vídeo como homenagem a todas as mães, mas vou preferir ariscar e continuar abrindo meu coração de filho, esposo e pai. Para os que tem a graça de contar com sua mãe nessa dimensão aproveitem as ligações e vídeos chamadas. Para confortar a saudade daqueles que tem sua mãe agora como santa recordar e rezar faz muito bem.

Vou aproveitar agora provérbios e ditos populares que espelham bem nossas mães “Em coração de mãe, sempre cabe mais um”, “Deus não pode estar em todos os lugares e por isso fez as mães”, “mãe é padecer no paraíso” e aqui eu explico que o paraíso são os filhos, e como as mamães sofrem por eles e com eles, as noites mal dormidas, o cansaço, as preocupações não importam muito.

Quando estava para terminar escutei baixinho pela janela a música “Mamãe” interpretada por Ângela Maria e Agnaldo Timóteo. Parei de escrever e com os acordes voltei ao passado lembrando ainda criança da figura da minha querida  saudosa mãe, Maria de Lourdes. Nós contávamos a música todos os anos e ela só não gostava da estrofe que fala do avental todo sujo de ovo, pois, não tinha dotes culinários. Nossa segunda mãe Atá atualmente com 97 anos que homenageio também nessa crônica é que tomava conta de tudo.

Para concluir e não perder o mote vou transcrever a letra da música e assim contar junto com vocês: Ela é a dona de tudo, Ela é a rainha do lar, Ela vale mais para mim, Que o céu, que a terra, que o mar, Ela é a palavra mais linda, Que um dia o poeta escreveu, Ela é o tesouro que o pobre, Das mãos do Senhor recebeu,

Continuando: Mamãe, mamãe, mamãe, Tu és a razão dos meus dias, Tu és feita de amor e esperança, Ai, ai, ai, mamãe, Eu cresci o caminho perdi volto a ti e me sinto criança, mamãe, mamãe, mamãe, Eu te lembro chinelo na mão, O avental todo sujo de ovo, Se eu pudesse, Eu queria outra vez mamãe, Começar tudo, tudo de novo.

Finalizando digo que: Mãe, são apenas três letras e céu também e só nele cabe seu infinito amor. O amor de mãe reflete o amor puro e verdadeiro que vem de Deus. Que Deus abençoe todas as mães!
Feliz Dia das Mães!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 49. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

sábado, 9 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (48º dia)

Diário de uma quarentena (48º dia)
Boas lembranças chegam de véspera
Por Arruda Bastos

Hoje, dia 09 de maio de 2020, completo meu quadragésimo oitavo dia de quarentena, agora reforçado pelo lockdown em Fortaleza, única medida plausível para reduzir a rápida curva de crescimento de óbitos e casos da Covid-19 na nossa cidade. A doença só aumenta e, infelizmente, batemos os mil óbitos e chegamos aos mais de quinze mil casos confirmados.

Amanhã é o domingo mais esperado do ano e aquele que tenho as melhores recordações. O dia das mães é mágico e todos têm uma lembrança que guarda no fundo do coração. Sempre nesse dia, já há muitos anos, escrevo crônicas alusivas à data. Algumas ainda hoje me fazem chorar e outras causam enorme saudade de um tempo que não volta mais.

Digo que nessa véspera as lembranças, como um filme, levaram-me ao tempo de criança quando a figura indelével da minha mãe chega forte a minha mente. Aquele olhar que falava, a voz que cantava, a figura radiante, a beleza do seu corpo e da sua alma, ainda hoje me embalam. Depois, já na maturidade, sua força, sua devoção a Deus e seu caráter conciliador faziam-me pensar que ela era eterna.

São muitas lembranças e algumas das minhas crônicas foram inspiradas nela: “Mãezinha querida”, para recordar da minha infância; para falar da sua religiosidade, escrevi “Minha mãe é uma santa”; quando mamãe foi para sua morada definitiva, falei que “Minha mãe agora é uma santa de fato e de direito”. Depois, que “No dia das mães ninguém deve se sentir órfão”. No ano passado, escrevi que “Só pode spoiler do dia das mães”.

Para aqueles que não têm mais sua mãe nessa dimensão, o dia é de recordar os bons momentos, de agradecer a Deus pela mãe que tivemos, pelos seus ensinamentos e por tudo que herdamos, fruto da sua dedicação e amor. É o momento também para nossas orações e até, para alguns, a oportunidade de penitenciarem-se por não terem tratado suas mães com o carinho e respeito que elas mereciam.

Nos lares onde as mães continuam a reinar, é o dia de presentear, agradecer, de dar abraços e beijos virtuais, de reconhecer sua importância, de zelar pela sua saúde e bem estar, para que elas possam viver muitos anos. É o momento de cantar: “minha mãezinha querida, mãezinha do coração, te adorarei toda vida, com grande devoção”.

No meu caso, o dia das mães é de muita recordação, pois há três anos ela foi chamada por Deus, aos seus 93 anos de vida. Aqui em casa, as orações serão muitas, pois, como já escrevi anteriormente, considero que minha mãe é uma santa e para viver no mundo de hoje só mesmo com a proteção dos santos.

Sei que vou chorar com as lembranças do tempo de criança, dos seus conselhos, do seu amor, do seu abraço, da sua proteção e do seu olhar. Vou recordar das missas aos domingos, das primeiras sextas-feiras do mês, das lições da escola, da sua religiosidade, da sua sempre presença e do casal 20 que formava com meu pai.

Se meu leitor foi tocado com minha crônica, aproveite o dia para melhorar a relação com a homenageada do dia. Diga agora a sua mãe que a ama, peça desculpas por algum desfeito; reconcilie-se, se for o caso. Se, por outro lado, você é uma mãe não tão presente, aproveite o espírito do dia para fazer um exame de consciência, mudar e passar a viver esse amor indescritível de mãe e filho.

Para concluir, digo que o dia das mães desse ano vai ser inesquecível. Enfim, em tempo de isolamento social, o amor será o mesmo, as recordações também e o carinho mais ainda. Só não pode existir os abraços e beijos presenciais. Para a saúde delas, tudo deve ser virtual.

Feliz dia das mães.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 48. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

sexta-feira, 8 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (47º dia)

Diário de uma quarentena (47º dia)
Sou médico, a minha responsabilidade é salvar. Hoje, a sua também é.
Por Arruda Bastos

Hoje, 08 de maio de 2020, quadragésimo sétimo dia de quarentena, começa a vigorar em Fortaleza o Decreto que institui o lockdown em toda a cidade. Medida necessária devido ao crescimento do número de pacientes e de óbitos em decorrência da Covid-19. No meu caso, e para muitos, não vai mudar nada, pois desde o início entendemos que esta é a única forma de afastar a doença e achatar a curva que ameaça o sistema de saúde.

Depois que acordei, fui dar uma olhada na varanda para ver o movimento nesse primeiro dia de regras mais rígidas de isolamento. Transcorridos alguns minutos, e até certo ponto satisfeito com o pouco movimento, voltei à rotina de sempre, iniciando pela leitura das mensagens do whatsapp. Graças a Deus não encontrei nada de preocupante. Passei, então, para a segunda etapa: entrar nas minhas redes sociais.

Na navegação só encontrei, de princípio, a repercussão da patética entrevista da atriz e atual Secretária de Cultura Regina Duarte na CNN. Para ficar registrado, foi a mais louca entrevista que nos meus 6.5 de idade tive oportunidade de assistir. A lastimável postura da até então namoradinha do Brasil, minimizando os óbitos da Covid-19, e sua resposta acerca da ditadura causou até náuseas.

Resolvi, mesmo triste, continuar na internet. Saí do facebook e passei para o instagram. Mesmo na nova rede, demorei a encontrar alguma coisa interessante. Depois de muito atualizar a página, uma campanha publicitária do governo de Pernambuco encheu meus olhos e vai servir como mote para minha crônica de hoje.

O vídeo postado trazia um texto narrado por um médico que dizia: “Para quem está todo dia dentro de um hospital, convivendo com a realidade dessa doença, a preocupação só aumenta, vendo gente na rua, se arriscando. O pior ainda nem chegou. Num momento assim tem que ter muita paciência e cuidado”.

Continuando, a mídia fazia um apelo final: “os números são assustadores e só crescem. E por traz de cada número tem um nome, uma vida. O trabalho não para e para conseguir atender quem precisa a gente precisa de você. Quem tá em casa tem muito menos possibilidade de vir parar aqui. Eu sou médico e minha responsabilidade é salvar vidas. Hoje a sua também é. Fique em casa. Salve vidas”!

Digo que foi a melhor produção que tive acesso, pois é simples, direta e com uma linguagem de fácil entendimento. Como diz o dito popular, “é nos pequenos frascos que encontramos as melhores essências”. Vou aproveitar esta mensagem e terminar também por aqui, direto e acessível como o vídeo institucional pernambucano.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.

Essa foi a do dia 47. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

quinta-feira, 7 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (46º dia)

Diário de uma quarentena (46º dia)
Crônica do “L” – Logo Lina leva love à Lívia e ao Lucca.
Por Arruda Bastos

No dia de hoje, ao observar alguns vídeos e fotos postadas no grupo familiar, observei que a barriguinha da minha querida filha Lívia já está bem grandinha. Nesse tempo de pandemia todo cuidado é pouco e o pré-natal tem sido bem conduzido para que a gestação transcorra normal e minha netinha Lina chegue em agosto com a maior tranquilidade possível para o momento.

Coma já escrevi em crônicas anteriores, a minha família tem uma tradição de nomes iniciados com a letra “L’. Só para exemplificar, tudo começou com minhas filhas Lia, Lívia e Lilia; depois continuamos com os netinhos, Letícia, Levi, Lucca e Lara; minha nora é a Lais e, agora, aguardamos a chegada da netinha Lina.

Hoje, para completar a minha inspiração, escutei uma chamada de vídeo da Letícia com a Marcilia. Lá pelas tantas, ela perguntou à Marcilia o motivo de seu padrinho, e meu primogênito, chamar-se Bruno. Como a pergunta fazia sentido, a resposta foi clara: o nome preferido seria Leo, entretanto, com o batismo de um primo com esse nome, escolhemos o lindo nome de Bruno.

A primeira crônica que escrevi tratando do tema foi em junho de 2018, depois do chá de baby do netinho Lucca. Na época, uma peça da decoração me chamou a atenção: uma grande letra “L” de cor branca, em caixa alta e iluminada com diversas luzes. Não sei bem qual o motivo, mas senti uma vontade de escrever acerca da mencionada consoante.

No dia de ontem, ao ver as fotos daquela festa, o “L” da minha inspiração continuava a me intrigar e a cobrar uma nova crônica. Passei, então, a matutar novamente o que escrever e o porquê de tantos “L”s (eles) na família.

Fui, então, rever a origem da letra e constatei ser ela a décima primeira do nosso alfabeto, a oitava consoante e que é utilizada em aproximadamente 2,78% das palavras portuguesas. A letra é proveniente do “Lamed” fenício, que significa “cajado” e era desenhada do hieróglifo egípcio.

Mesmo depois das informações da época, não encontrei resposta para o meu dilema. Então, para espairecer, vou repaginar e escrever parte desse parágrafo só com a letra “L” nesse tempo de pandemia. A linda Letícia levou lembranças; o lépido Levi lembrou-se do lápis e da lição; Lia ligou lembrando do lambedor; Lilia, lendo livro no laptop; Laís ligada na lasanha; e logo Lina leva love à Lívia e ao Lucca.

Ainda não encontrando respostas, fui novamente bisbilhotar o significado dos nomes iniciados por “L” na minha família: Letícia é menina alegre, aquela que transmite felicidade; Levi é o unido e ligado; Lucca é o iluminado; Lia, aquela que tem os olhos doces; Lívia significa clara, límpida, pura e vida; Lilia, a inocente, maternal; Lais é a mulher que tem popularidade e Lina é a portadora suavidade e de boas notícias. Muito importante no tempo de coronavírus.
Como em 2018 acho mesmo que a pesquisa não adiantou muito, pois o meu primeiro nome é Raimundo e significa sábio protetor ou aquele que protege com seus conselhos, o que é muito importante, como muitos outros nomes, e não tem nada a ver com “L”. Sabe o que isso significa? Nada!

Digo que, independente do nome e da pandemia, o importante mesmo é o amor e o carinho entre os familiares. Que venha a Lina com muita saúde para alegria de todos nós e que em breve a Larissa, o Leonardo, a Lígia, o Luan e muitos outros netinhos cheguem para preencher de luz ainda mais as nossas vidas e para alegrar o simpático e agora nosso amigo “L”.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 46. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

POR MANOEL FONSECA: Xô Coronavirus

Xô Coronavirus

O mundo vive agonia
De uma terrível doença,
Que provoca epidemia
E destrói a resistência,
Causa a morte a cada dia,
Sem escolher cor ou crença.

Este é um virus fecundo,
Agressor e competente, 
Contamina todo mundo, 
Rico, pobre ou indigente,
No pulmão penetra fundo,
Em ataque eficiente.

Agora é o  "tranca-rua",
Isolamento total,
A máscara na face sua,
É proteção bem legal,
Saia do mundo da lua,
E se livre deste mal.

Pra ter atitude certa
E vencer este calvário,
Quando a vida fica incerta
E o sofrimento é vário,
Fica em casa, mente alerta
E um coração solidário.

Manoel Fonseca-Ceará

terça-feira, 5 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (45ª dia)

Diário de uma quarentena (45ª dia)
Duas vezes 300
Por Arruda Bastos

Cheguei ao meu 45º dia de quarentena nesse dia 5 de maio de 2020.  Durante esse período, falei de tudo: filmes, coisas antigas, netos, como conviver com o isolamento e muito mais. Hoje, digo que com as últimas notícias de lockdown, com o recorde em número de casos e de óbitos, fiquei batendo pino e sem muito ânimo para tocar para frente o meu diário de uma quarentena.

Como os temas do dia não me agradavam e o sono chegou cedo, resolvi dormir e só agora pela manhã concluir minha crônica. Ao acordar, fiquei pensando na justificativa para o sono precoce e a melancolia. Depois de algum tempo, resolvi a charada e acredito que além das notícias nada alentadoras, acho que as novas tarefas domésticas introduzidas na minha rotina também teriam culpa no cartório.

Agora, além das atividades já listadas, como exercícios, banho de sol, manutenção no apartamento, ministrar aulas virtuais, preparar o programa de rádio e as lives, introduzi de comum acordo com minha querida Marcilia, tarefas domésticas que não tinha costume. Digo que as novas atividades valem por muitas horas de academia e serão em breve tema de outra crônica.

A noite não foi nada reconfortante e os sonhos, dignos de um crítico de cinema, pois, os gêneros se sucederam: terror, policial, suspense e até comédia. Entretanto, o que mais lembro foi o de ação, fantasia e guerra, intitulado “300”. O filme americano é de 2006 e, na época, recebeu 300 indicações e conquistou nove prêmios.

O enredo gira em torno do Rei Leónidas, que lidera 300 espartanos na batalha contra o "deus-rei" Xerxes da Pérsia, protagonizado pelo brasileiro Rodrigo Santoro, e o seu exército invasor com mais de 30 mil soldados. A história é contada por um narrador, o guerreiro espartano Dilios, o único dos 300 espartanos a sobreviver à batalha.

Os sonhos são sempre enigmáticos e a justificativa para eles não tem uma explicação única e aceita por todos. No meu caso, acredito que ela surgiu devido ao número divulgado de mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas. A cifra de 600 óbitos me deixou bastante impactado e, embora o filme tenha o título de 300, acredito que o valor dobrado tenha relação com o sonho.

Digo que mesmo que minha explicação pareça um verso de “pé-quebrado”, a inspiração de hoje veio realmente do número alarmante de óbitos e da minha indignação de ainda encontrar quem minimize e considere a pandemia como uma simples gripezinha. O número 300 multiplicado por dois é realmente muito sério e demonstra o grau de dificuldade do momento.

Vou terminando por aqui, pois como estou escrevendo só agora pela manhã, Marcilia já me convocou para minha primeira tarefa doméstica que tenho que cumprir até as 9 horas do dia e como ainda não sou tão bom no manusear das flanelas, espanador, panos, baldes e vassouras, vou ficando por aqui.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 45. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

segunda-feira, 4 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena ( 44º dia )

Diário de uma quarentena ( 44º dia )
Beatles, recordar é viver
Por Arruda Bastos

Acordei pensando em escrever, nesse 04 de maio de 2020, acerca de um tema inusitado, quando recebi uma ligação da minha querida filha Lilia sugerindo que eu e Marcilia assistíssemos a um filme denominado “Yesterday”, que estava para iniciar no Telecine Premium. Ela informava que já tinha assistido e era muito bom.

Como sou fã dos Beatles, não tive dúvida e saltei do Jornal Nacional para assistir. Digo que fiquei vidrado, inebriando-me com as músicas e a linda história. Não vou dar spoiler e quem quiser saber do fim e assistir, que procure na Netflix ou noutras plataformas. O filme terminou tarde e me fez recordar de uma crônica que escrevi em 2016. Como recordar é viver, vou postar abaixo nesse meu quadragésimo quarto dia de quarentena.

Tem uma frase clichê que diz “recordar é viver”. Se algumas recordações tristes nos fazem sofrer, algumas lembranças obscurecem o brilho dos nossos olhos, por outro lado, memórias de momentos felizes fazem o brilho dos olhos ficar mais claro do que o sol, a lua, ou qualquer outro astro brilhante. Na maioria das vezes, as lágrimas também teimam em cair. De todas as formas, recordar é tão bom, tão bom.

Na última semana, tive a oportunidade de confirmar, mais uma vez, a força das recordações. Com minha querida esposa, Marcilia, e os amigos Evalto e Maria, Silveira e Mila, lindos e queridos casais, comparecemos ao show do grupo Abbey Road, conhecido como um dos melhores covers dos Beatles do mundo.

Entramos no túnel do tempo, fomos transportados para a nossa adolescência e juventude. Durante mais de duas horas, recordamos todas as fases do lendário quarteto inglês. O repertório, apresentado em ordem cronológica dos discos lançados pelos Beatles, fez fluir todos os belos e inesquecíveis momentos da época.

Clássicos como "Love me do" (1962); "She loves you" e "I want to hold your hand" (1963); "Can't buy me love" e "A hard day's night" (1964); "Help" e "Yesterday" (1965);  "Yellow Submarine" (1966); "Hey Jude" (1968), "Let It Be" (1970); “The Long and Winding Road" (1970) e muitos outros nos encantaram. Músicas que fizeram parte da trilha sonora que marcou indelevelmente o nosso passado e de muitas outras gerações.

Como uma contribuição para os mais jovens e uma recordação para os mais vividos, lembro que a banda The Beatles surgiu na cidade de Liverpool (Inglaterra) em 1956 e que faziam parte do grupo os músicos John Lennon (vocalista, guitarrista e compositor), George Harrison (guitarrista e vocalista), Paul McCartney (baixista, compositor e vocal) e Ringo Star (baterista). O nome inicial da banda era Silver Beatles, lembrando de besouros. Depois, por sugestão de Lennon, passou para The Beatles, haja vista que a palavra inglesa "beat" significa ritmo ou batida, que era o forte do grupo.

A história dos Beatles é incrível: eles criaram algumas das mais populares músicas da história do rock'n'roll, e quando a revista Rolling Stone fez sua lista das quinhentas maiores músicas de todos os tempos, os Beatles derrotaram todos os outros artistas com a impressionante marca de vinte e três músicas listadas. Por uma semana em 1964, tiveram doze músicas no Hot 100 da Billboard, incluindo as músicas número um, dois, três, quatro e cinco. Ninguém conseguiu este feito antes ou depois disso.  A banda começou a entrar em crise, em função de divergências, no final dos anos 60, terminando em 1970.

Fiz toda essa ilustração para chegar ao cerne desse meu artigo nostálgico de hoje. O ponto principal é o do provérbio "recordar é viver novamente". Existem pessoas que procuram esquecer o seu passado, para apagar as suas cicatrizes, como se elas pudessem deixar de existir. Tem o receio de sofrer novamente com as recordações de tristeza e, mesmo quando são de alegria, não desejam recordar, pois raciocinam que os momentos felizes não voltam mais.

Afirmo que recordar, por mais triste que seja o passado, é uma forma de exorcizar as agruras das atribulações vividas e, com isso, encarar o presente e o futuro como dádivas de Deus. É o primeiro passo para enfrentarmos os novos desafios e escrevermos uma nova história. Não importa o quão difícil foi seu passado, você pode sempre começar novamente. Mesmo que ontem a vida tenha lhe dado um “não”, lembre-se que há sempre um amanhã e, com ele, a certeza de que novos caminhos podem ser trilhados ao lado de quem nos ama, com amor, paz, e confiança. Felicidade não existe; o que existe na vida são momentos felizes.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 44. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores