Dra. Alcinet Rocha Soares |
Eis que hoje,
vinte e cinco de março de dois mil e vinte, em meados da segunda semana de
reclusão domiciliar, eu e minha filha Natália - companheira e testemunha
dos meus correntes dias, menos e mais afortunados - despertamos imbuídas da
missão gastronômica de providenciarmos o almoço, tão enfadadas que estávamos
das repetitivas opções do iFood.
Daí,
literalmente, colocamos a mão na massa, já tendo, previamente, deliberado o
descomplicado menu: Filé de Frango, acompanhado de Fettuccine Tradicional.
Destituídas
que somos dos pendores culinários, sentimos a necessidade de que minha
secretária para assuntos domésticos, afastada e em home-office, fosse convocada
para o fornecimento das devidas e especializadas informações:
- "Sim, este
é o escorredor certo para o macarrão, aquele outro é do arroz”;
- "Cuidado, não vá
usar alho picado no frango - pode queimar - melhor o alho em pasta";
- "Primeiro
tempere, e reserve um pouquinho de tempo pra pegar gosto, antes de botar na
caçarola";
- "Não, os filezinhos
devem ser descongelados ao vento, no peitoril da janela da cozinha".
Mas o tempo
urgia e, indiferentes ao dito "que o apressado come cru", o que não
foi bem o caso, mas vamos lá! - optamos por lançar mão do micro-ondas para a
função do descongelamento, o que pouparia tempo.
Enquanto
isto, providenciávamos, com êxito, a massa para o acompanhamento.
Tudo fluía
bem, até passarmos a sentir um cheiro estranho na cozinha, o que, no entanto,
não nos impediu de deixar cumprir o tempo programado no micro-ondas, para o
procedimento. E qual não foi à surpresa, ao nos depararmos com a esdrúxula
aparência do produto resultante do pós-congelamento, cujas porções
apresentavam-se revestidas de uma capa completamente branca e aparentemente
espessa, nos abstendo, obviamente, de explorar a gororoba.
Decepcionadas
e com algum assombro, a primeira reação esboçada, foi a de descartarmos a tal
"mistura" e desistirmos da empreitada, mas, antes, decidimos
solicitar assessoramento.
E
sucederam-se as fotos, em todos os ângulos da "coisa", seguidas do
envio, para os inúmeros conhecidos consultores, gastrônomos sem formação,
porém, suficientemente familiarizados com a prática, os quais, entre extrema
perplexidade, gargalhadas e muita pilhéria, esclareceram que, simplesmente,
havíamos errado feio no acionamento do tempo e da potência utilizada, fazendo
com que a iguaria já saísse cozidinha da silva, do forno.
Estupefatas e
algo envergonhadas, ainda tivemos que escutar à acusação, por parte de
alguns sabichões, de que andávamos bem longe de estarmos preparadas para os
truques de sobrevivência, quando do "Apocalipse Zumbi".. que
horror!!!!
Fomos então
aconselhadas a apelar mesmo para o iFood... Com o amor-próprio amarrotado, não
nos demos por vencidas. Famintas e de mangas arregaçadas, retomamos a missão,
temperando com esmero as tirinhas alimentares, já cozinhadas, que foram
posteriormente fritadas, uma a uma, pacientemente, de modo que às 15h30min,
finalmente a refeição ficou pronta e nós duas, de autoestima restaurada, nos
demos conta de que tínhamos descortinado uma especial e saborosa receita, nunca
antes degustada: "Filé de Frango Pré- Cozido, Suculento e Dourado a Quatro
Mãos".
A fome, felizmente,
foi vitoriosamente abatida e já estamos flertando com a ideia de elaborar um
tutorial do prato experimental e, subsequentemente, patenteá-lo quando a
hecatombe passar.
Por que, sim, ela vai passar!!!
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