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sexta-feira, 27 de março de 2020

POR ALCINET ROCHA SOARES: MILAGRES DE UMA QUARENTENA

Dra. Alcinet Rocha Soares
                                             MILAGRES DE UMA QUARENTENA

 Eis que hoje, vinte e cinco de março de dois mil e vinte, em meados da segunda semana de reclusão domiciliar, eu e minha filha Natália - companheira  e testemunha dos meus correntes dias, menos e mais afortunados - despertamos imbuídas da missão gastronômica de providenciarmos o almoço, tão enfadadas que estávamos das repetitivas opções do iFood.
  Daí, literalmente, colocamos a mão na massa, já tendo, previamente, deliberado o descomplicado menu: Filé de Frango, acompanhado de Fettuccine Tradicional.
  Destituídas que somos dos pendores culinários, sentimos a necessidade de que minha secretária para assuntos domésticos, afastada e em home-office, fosse convocada para o fornecimento das devidas e especializadas informações: 
- "Sim, este é o escorredor certo para o macarrão, aquele outro é do arroz”; 
"Cuidado, não vá usar alho picado no frango - pode queimar - melhor o alho em pasta";
- "Primeiro tempere, e reserve um pouquinho de tempo pra pegar gosto, antes de botar na caçarola";
- "Não, os filezinhos devem ser descongelados ao vento, no peitoril da janela da cozinha".
  Mas o tempo urgia e, indiferentes ao dito "que o apressado come cru", o que não foi bem o caso, mas vamos lá! - optamos por lançar mão do micro-ondas para a função do descongelamento, o que pouparia tempo.
  Enquanto isto, providenciávamos, com êxito, a massa para o acompanhamento.
 Tudo fluía bem, até passarmos a sentir um cheiro estranho na cozinha, o que, no entanto, não nos impediu de deixar cumprir o tempo programado no micro-ondas, para o procedimento. E qual não foi à surpresa, ao nos depararmos com a esdrúxula aparência do produto resultante do pós-congelamento, cujas porções apresentavam-se revestidas de uma capa completamente branca e aparentemente espessa, nos abstendo, obviamente, de explorar a gororoba.
 Decepcionadas e com algum assombro, a primeira reação esboçada, foi a de descartarmos a tal "mistura" e desistirmos da empreitada, mas, antes, decidimos solicitar assessoramento.
 E sucederam-se as fotos, em todos os ângulos da "coisa", seguidas do envio, para os inúmeros conhecidos consultores,  gastrônomos sem formação, porém, suficientemente familiarizados com a prática, os quais, entre extrema perplexidade, gargalhadas e muita pilhéria, esclareceram que, simplesmente, havíamos errado feio no acionamento do tempo e da potência utilizada, fazendo com que a iguaria já saísse cozidinha da silva, do forno.
 Estupefatas e algo envergonhadas, ainda tivemos que escutar à  acusação, por parte de alguns sabichões, de que andávamos bem longe de estarmos preparadas para os truques de sobrevivência, quando do "Apocalipse Zumbi".. que horror!!!!
  Fomos então aconselhadas a apelar mesmo para o iFood... Com o amor-próprio amarrotado, não nos demos por vencidas. Famintas e de mangas arregaçadas, retomamos a missão, temperando com esmero as tirinhas alimentares, já cozinhadas, que foram posteriormente fritadas, uma a uma, pacientemente, de modo que às 15h30min, finalmente a refeição ficou pronta e nós duas, de autoestima restaurada, nos demos conta de que tínhamos descortinado uma especial e saborosa receita, nunca antes degustada: "Filé de Frango Pré- Cozido, Suculento e Dourado a Quatro Mãos".
A fome, felizmente, foi vitoriosamente abatida e já estamos flertando com a ideia de elaborar um tutorial do prato experimental e, subsequentemente, patenteá-lo quando a hecatombe passar. 

Por que, sim, ela vai passar!!! 



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