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terça-feira, 27 de agosto de 2013

POR: GERALDO BEZERRA - MAIS UMA VEZ, NÃO MORRI



Dr. Geraldo Bezerra - Médico e Membro da SOBRAMES-CE

MAIS UMA VEZ, NÃO MORRI

         Outra vez, a Maldita quis, tentou bravamente, levar-me. Testou-me, porém, com a graça de Deus e da Irmã Dulce – que tomei para minha madrinha, mesmo sem saber se ela aceitou – eu, mais uma vez, fui reprovado no teste de morrer.

         Em várias outras ocasiões, a Inimiga quis brincar de me matar, mas nos exames que fiz para morrer, não passei em nenhum. Se fosse como fazer vestibular para Medicina ou Letras, este GB tinha se lascado da primeira vez, mas morrer ainda não aprendi, com a graça de Deus.


         A primeira vez em que não morri foi de AVC isquêmico. Bicho bruto aquele. Uma dor de cabeça de estourar miolos me atacou e eu conheci que era a Megera a me visitar. Fiquei meio no desespero, mas dei ainda umas últimas instruções à esposa e filhos, que me acataram as ideias e assim fui salvo no Instituto Dr. José Frota. Fosse um desses GBs metidos a besta, talvez tivesse conseguido morrer em hospital de luxo, mas no Frotão, emergência é emergência mesmo e, pela primeira vez, não passei no teste de morrer. Não me arrependo, podem crer.

         Depois de mais de uma semana, esse amigo de vocês estava outra vez no conforto do seu lar, um pouco vivente, um pouco sobrevivente. Tinha mais duas semanas para ficar deitado e fui pensando na vida. Concluí que morrer é fácil demais. Eu é que fui um morredor incompetente. Bem, já que o contrário de morrer é viver, decidi viver bem feliz. Garanti, palavra de GB, que no primeiro dia em que pudesse sair de casa, ia diretinho comprar um relógio de algibeira, aqueles com correntinha, dos tempos que não voltam mais. Era um sonho de consumo nunca realizado. Nunca, até o dia em que pisei calçada de rua. Com a firme decisão de um homem que passou pela morte e não morreu, fui direto ao comércio principal da cidade e comprei um bonito relógio como eu queria. Pronto, já não morreria sem ser proprietário de um relógio de algibeira. Hoje, olho o bichão ali na minha gaveta, não para me inteirar das horas, mas para namorar o trofeu que conquistei por não ter sabido morrer.


         A segunda vez em que não morri, estava em Senador Pompeu, casa dos filhos Michelle e George. Amanheci dizendo besteiras, conversa de doido e Michelle entrou em pânico porque presenciara o primeiro episódio. Enfiaram o candidato a defunto no automóvel da família e “voaram” para Fortaleza. E vinham numa velocidade tão desesperada que a Inimiga não teve pernas para acompanhá-los. Também pudera! O carro novo e a Danada cortando cabeças desde o episódio Caim e Abel, não é?

         Levaram-me para o Frotão e depois HGF. Outra semana internado, mais uma vez, reprovado no vestibular de falecer.

         O terceiro momento de não morrer, foi numa festa de Revellion. Era o final do ano e quase coincide com o final deste GB. Saí de casa para o plantão das treze horas do HGF. Retornaria ao lar depois das dezenove e iria curtir a entrada do ano com a família. Retornei, sim, mas no dia 16 de janeiro. Saí de casa quase bom. Um certo mal-estar que não haveria de impedir um GB deste de tirar seis horas de sala de parto. Pois sim! Fui retirar uns trocados no caixa do banco, já no hospital e, segundo Dulce, uma auxiliar de enfermagem que colaborava conosco no serviço de botar meninos no mundo, viu-me cai-não-cai, agarrado com o caixa eletrônico. De imediato, colocou-me na cadeira de rodas e arrastou-me para o socorro. Fui salvo e olha o nome da ajuda, Dulce, o mesmo da madrinha que tenho no Céu, Irmã Dulce. Passei a noite em condições que não recomendo. Na manhã seguinte, a família me transferiu para um hospital particular, onde poderiam me assistir na vida e na morte, conforme fosse a vontade de Deus.

         Durante duas semanas, a peleja do GB contra a morte conheceu existência, promoveu lágrimas, risos, esperanças, desesperos, exigiu rezas, simpatias... Mais uma vez, não passei no teste e recusei morrer. Venci a tal peleja e aqui estou contando a história.


         A quarta vez em que não morri, teria sido uma morte mais bonita. Iria chegar a Fortaleza no bagageiro de um avião, gente esperando com roupas pretas, óculos escuros nas caras, coisa bem pomposa. Pois aconteceu de encontrar-me em terras pernambucanas. Ensaiei morrer no Recife, mas, outra vez, Deus teve a generosidade de me considerar reprovado. Um bruto edema agudo de pulmão proporcionou-me mudar de cor, tornando-me roxo e me fez compreender o verdadeiro significado da expressão popular “mais ruim do que falta de fôlego”. Mas já cheguei ao pronto socorro deitando ordens médicas: e que me enfiassem na veia duas ampolas de Furosemida de 40 mg; e que metessem um tubo de oxigênio nas minhas ventas e corressem a chamar o plantonista. Acertei na conduta terapêutica; a mocinha errou ao medicar sem ordem médica oficial – eu me identifiquei como médico, mas não estava ali médico e sim paciente – porém, a soma do meu acerto e seu erro evitou que o GB conhecesse o Paraíso. Ainda sou um habitante deste planeta, graças a Deus.

         Logo que saí da dispnéia terrível, quando puxei o fôlego e vi que era, outra vez, um homem que respirava, agradeci a Deus não ter passado de mais um ensaio, ainda sem estreia prevista. Foi aí que uma doutora, muito jovem e competente, cometeu a incoerência de me anunciar transferido para a UTI. Quando ela falou UTI, sem saber, estava me dando alta hospitalar. Como eu não tinha morrido, tinha a obrigação de viver e fui viver, sim, fazer compras no Recife, andando entre feirantes. Dia seguinte, peguei um avião para Fortaleza e – aí, sim – fui ao cardiologista. Meu amigo, grande poeta, Sérgio Macedo, deu-me a notícia de que eu tinha tido era um enfarte. Mandou-me ao cateterismo e aí, de verdade, eu temi pela estreia de tantos ensaios de morte.

         Foi tudo muito tranquilo e o Dr. Aluísio Cruz, meu dileto colega no curso de Italiano, garantiu-me que meu coração estava ainda capaz. E eu acrescento: capaz de amar tudo e tantos que me faz ir sendo reprovado nestas insistentes tentativas da Maldita. Mas eu tenho um Deus maior que a Morte e tenha a minha madrinha Irmã Dulce, capaz de me fazer sempre incapaz no ofício de morrer.     

         Depois de tantas tentativas da Megera, depois de tantas resistências minhas, pensei que a Maldita haveria de desistir. Passarem-se alguns tempos de calmaria. Dei de frequentar consultório do endocrinologista Dr. Iran Barros. Segui suas instruções, tomei os remédios, mas o demônio da Gula queria mesmo era fazer o gol contra. Não perdi peso.

         Em abril de 2013, ouvindo mais uma vez os rogos da família pedindo-me cuidados comigo mesmo, resolvi atendê-los. Creio que os meus anseios, finalmente, entraram em sintonia com os seus. Comecei uma radical mudança no comportamento alimentar e passei a fazer caminhadas. Certo é que, em apenas quatro meses, encontrei-me no meu melhor estado, desde que deixei de ter saúde. Perdi quinze quilos, trouxe a glicemia de mais de 300 para menos de 120; a pressão arterial chegou aos louváveis dez por seis, índices somente atingidos quando eu corria atrás de bola; deixei de tomar metade dos medicamentos, isto por decisão do médico; estava caminhando três quilômetros por dia. Pensei que tinha, enfim, escapado. Qual o quê?    

         Na manhã do Dia dos Pais, talvez para ser maior o drama, eis que me surge, não se sabe de onde, a Violenta. E foi logo pulando na minha frente, como a dizer “É hoje!” Botou foi para acabar com os ensaios. Aquele seria o dia da estreia. Comecei a tremner, fiquei preto e “desliguei”. A família me levou, às carreiras, ao hospital mais próximo, pois escolher tem as horas.

         Dei entrada quase morto, um bruto choque séptico, originado de uma pielonefrite que se fez septicemia. Enfiaram-me na UTI – e desta vez, não pude ser contra – e hoje, quarto dia da ocorrência, estou meio zonzo ainda, mas contando a história.

         Já me considero um veterano na arte de brincar com a morte. De hoje em diante, eu vou é brigar e, se a Maldita der sopa, eu é que vou matá-la qualquer dia, com a graça de Deus e da minha madrinha Irmã Dulce.



         Fortaleza, 14 de agosto de 2013, 14,55 horas, Hospital Otoclínica.   

domingo, 25 de agosto de 2013

POR: EDGARD STEFFEN - MAIS MÉDICOS PARA ESVAZIAR AS RUAS

 
Dr. Edgard Steffen - médico e escritor

Mais médicos para esvaziar as ruas

Não adianta acenar com dez ou trinta mil reais, por mês. A comunidade precisará oferecer um mínimo de condições socio-culturais para atrair profissionais de nível universitário

Ou, "Pour épater le bourgeois" (Para maravilhar o burguês)
A expressão, na verdade, quer dizer "tapear" o cidadão.

* Edgard Steffen
No primeiro movimento da geração internética, o povo saiu às ruas para protestar contra o aumento das passagens de ônibus. Alguns cartazes diziam "Não é só pelos 20 centavos". Estavam certos. O protesto era pela falta de retorno consubstanciado em saúde, educação, segurança, justiça daquilo que se paga em taxas e impostos. Era revolta contra a corrupção que, no Legislativo, emperra projetos de interesse nacional com a mesma determinação com que rapidamente aprova benesses e aumentos dos próprios salários.

Num país totalitário, a resposta seria a prisão dos líderes e repressão violenta escamoteada pela cumplicidade dos pravdas, granmas e da mídia chapa branca. Por incrível que pareça, ainda existe gente que clama por regime forte, sem a presença de congressistas multipartidários. Para nossa sorte, a era das ditaduras ocidentais passou. Mas a democracia liberal corre sérios riscos enquanto aspirações maiores do povo não forem atendidas. Periclita enquanto elegermos políticos, não por suas ideias e confissões político-partidárias, mas pelo trabalho de marqueteiros bem (muito bem, por sinal) remunerados, a nos impingirem governantes e legisladores como quem vende sabonetes e margarinas.

Na reunião com prefeitos de todo País, Dilma saiu-se com esta: "Vocês estão cansados de saber que não existem milagres!". Não é preciso queimar neurônios para sentir que nossa vaiada presidenta tinha razão. Governa-se com o possível, esquecidas as campanhas onde se promete o impossível.
O SUS pressupõe base de atenção primária onde um médico generalista, bem preparado e atencioso, cuide desde recém-nascidos até avós de provecta idade. Resolveria, sem grandes necessidades de exames subsidiários, 80% dos casos. Os 20% restantes ele os encaminharia aos especialistas ou/e hospitais mais próximos da sede de trabalho. Acontece que generalistas são escassos em nossa realidade. Nossas escolas médicas privilegiam a medicina especializada e de alta tecnologia. Em grande parte delas o alunato encara os seis anos como simples preparação para a residência. Chegam a fazer "cursinho" para passar nos exames de residência.

O governo acena com acréscimo de dois anos ao curso de Medicina. Esse acréscimo obrigaria o estudante a cumprir estágio remunerado no SUS.
Nasci e passei minha infância numa cidade pequena teria cerca de dez mil habitantes que nunca teve carências em assistência médica. Fazendeiro benemérito doou recursos para construção de belíssimo hospital dotado de duas salas de cirurgia, aparelho de raios-x, laboratório de análises, clausura para freiras e casa moderna e confortável para o médico diretor clínico. Nenhum incentivo oficial foi necessário para, desde os anos 30, fixar médicos no município.

Não é o que acontece por esses rincões do Brasil. Não adianta acenar com dez ou trinta mil reais, por mês. A comunidade precisará oferecer um mínimo de condições socio-culturais para atrair profissionais de nível universitário. Importar médicos é a solução? Difícil acreditar. Propostas jogadas no afogadilho do clamor das ruas assim como o impossível plebiscito parecem mais factoides "pour épater le bourgeois".

* Edgard Steffen é médico pediatra e escreve aos sábados neste espaço - edgard.steffen@gmail.com
Notícia publicada na edição de 13/07/13 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

sábado, 24 de agosto de 2013

LANÇAMENTO LIVRO "ESTÓRIAS ESCULAPIANAS" MARCELO GURGEL

A Unicred Fortaleza e a Academia Cearense de Medicina realizaram ontem, dia 23 de agosto de 2013, no Restaurante Dallas Grill, em Fortaleza, a noite de autógrafos de "Estórias Esculapianas". O livro, do médico e economista Marcelo Gurgel, foi apresentado pela Professora Giselda Medeiros, da Academia Cearense de Letras. A renda do mesmo será revertida para as ações beneficentes e evangelizadoras da Sociedade Médica São Lucas. Parabéns ao Dr. Marcelo Gurgel por mais de 70 livros publicados.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

POR: FRANCISCO RAMOS - NOITE DE CHUVA


Dr. Francisco Tomaz Ramos - Médico e Membro da SOBRAMES-CE


NOITE DE CHUVA

Acordo. São três da madrugada.
Faz calor. Levanto-me devagarzinho...
No meio da noite a trovoada
Assusta e tira a meninada do ninho.

Agora já não me encontro sozinho;
A gurizada faz uma zorra danada!
Falta energia; já vem chegando Raminho
Reclamando da cama ser apertada...

Logo eles dormem. O dia amanhece.
No futuro cena igual acontece:
É madrugada. Chuva forte caía.

No mesmo quarto ninguém aparece...
Só uma lágrima de um rosto desce,
Silente, na noite de chuva vazia.

sábado, 17 de agosto de 2013

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POR: DIONE MOTA RÔLA - UM PÔR DO SOL

 
Dra. Dione Mota Rôla-Médica e Membro da SOBRAMES-CE
UM PÔR DO SOL

O sol beijando às águas,
A luz se derrama em cores,
As nuvens se ornamentam
Em púrpura e veludo,
e vem-nos à lembrança tudo
saudade, luz, encanto, amores.
E na voragem do tempo,
a beleza do brilho passageiro
vai se fundindo
entre nuvens rendadas,
num esforço derradeiro
de manter a luz acesa
e se mirarem
no espelho azul do mar.
São como nossos sonhos,
Fugindo em tênues matizes
Deixando só as imagens
De instantes que não vão voltar.

POR: VICENTE ALENCAR - SONHOS

 
Jornalista Vicente Alencar - Diretor de Cultura e Divulgação da SOBRAMES-CE
SONHOS

Não deixe que os meus sonhos
desapareçam junto a palavras vãs.
Recolha retalhos  dos meus carinhos,
pedaços de minha alma,
e faça-me sentir que o mundo
existe para os enamorados.
Quando acreditei que o luar
é carinhoso com os amantes,
eu pensava no brilho dos teus olhos,
no sorriso aberto do teu rosto
e nos beijos ardentes
que fazem-me feliz!
Não deixe que os meus sonhos
desapareçam
pois assim
morrerei de dor,
de paixão,
de desamor.


POR: JOSÉ WILSON DE SOUZA - ENTREGA



Dr. José Wilson de Souza - Médico e Membro da SOBRAMES-CE

                                      ENTREGA


Inesquecível tarde, nós dois, lá fora a rua.

Ela nos meus braços manhosamente. 
Amantes ávidos de amor, nós dois, lá fora a rua.

Corações e respiração céleres, ofegantes

de corpos úmidos. 
Nós dois, la fora a rua.  

Nossos lábios solvendo beijos alucinantes

no  silencio do quarto.   
Lá fora a rua.

Nós dois, dádivas mutuas, corpos palpitantes.

Ela sussurrando ao meu ouvido, quero ser tua.  

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

POR: WILLIAM MOFFITT HARRIS - A PROPÓSITO DO VÍDEO "PARABÉNS, CELINA!"

Dr. William Moffitt Harris

Pediatra Sanitarista. Prof. Dr. (aposentado) da Faculdade de Saúde Pública – USP. Fundador (05/05/05) e Coordenador Estadual do Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL. Membro Titular ativo da Associação Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES desde 2003, nível central SOBRAMES-BR, níveis regionais SOBRAMES-PE, SOBRAMES-RS. Membro Honorário e Titular da SOBRAMES-CE. Dissidente e separatista da SOBRAMES-SP. Membro Correspondente da Academia Maceioense de Letras. Sócio Titular da Associação Paulista de Medicina e Associado da Associação dos Médicos de Santos. Membro Associado da Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” de S. Vicente – SP. “Padrinho” do MLSS - Movimento Literário Saberes e Sabores de S. Gonçalo do Sapucaí – MG.


Parabéns Margarida por mais este feito que só pode ser altamente estimulante para nossa amiga comum Celina que amealhará mais energia material e espiritual com o objetivo de aprimorar mais ainda seu enfrentamento às dificuldades e agruras do seu dia a dia. Pelo seu filmete é fácil observar o carinho e alegria estampados em seu semblante nesta festa surpresa que seus amigos lhe prepararam e a dedicação e amor que lhe direcionaram. Envio forte abraço às duas, esperando conhecê-las pessoalmente no lançamento da "antologia" em outubro. É possível que minha esposa vá junto para este importante evento.
                                                             William Harris
 
 
 

 

POR: PEDRO HENRIQUE SARAIVA LEÃO - OS IMPOSTOS E A MORTE

Dr. Pedro Henrique Saraiva Leão - Médico e Secretário Geral da Academia Cearense de Letras

                            OS IMPOSTOS E A MORTE

 
Publicado no Jornal - O Povo, Opinião, de 17/07/2013.

Texto postado anteriormente no Blog do Marcelo Gurgel

http://blogdomarcelogurgel.blogspot.com.br/2013/08/os-impostos-e-morte.html
 

Seriam estas nossas únicas certezas. À medida que são celebradas novas maneiras para adiar a morte, cresce o interesse pelo seu estudo. Este criou foros de ciência e ganhou um nome grego: tanatologia (tanatos = morte), aplicado pela médica suíço-americana Elizabeth Kübler-Ross (Zurique, 1926 – Arizona, 2004), pioneira na assistência aos doentes terminais. Desde os Vedas, escritos 2000 anos a.C., até os pensadores modernos, a meta tem sido elucidar o sentido da morte. Sócrates, Platão e Montaigne enfatizaram ser a filosofia um mero estudo desta.
Assim, filosofando, superaríamos o medo que dela têm alguns. O cineasta americano Woody Allen declarou não temê-la, embora não querendo estar presente quando ela chegar! Thomas Mann (1875-1955), alemão, prêmio Nobel 1929, afirmou que, sem o passamento, não haveria poetas. Em verdade, este foi o tema do primeiro texto épico, e do poema lírico inicial da literatura mundial. Longo poema épico, o Gilgamesh data “circa” 700 a.C. E uma das famosas poetisas primevas (iniciais) foi Safo. Seus versos fúnebres ainda hoje ecoam universalmente.
As artes, desde seus primórdios, guardam vínculos e vincos com a morte, e foram funéreas as composições iniciais de Bach, Gluck, Mozart, Beethoven, Schubert, Liszt e Verdi. Contudo, o óbito até há pouco era um assunto interdito nas comunidades ocidentais, quedando escondido atrás das paredes dos hospitais, ou sob as máscaras cosméticas dos esquifes (caixões mortuários) nos velórios. Desde 1969, este assunto passou a ser abertamente debatido graças ao seminal (inspirador) livro Sobre a Morte e o Morrer, da Dra. Elizabeth Kübler-Ross que tivemos o prazer de conhecer em Fortaleza (Ed. Edart, Universidade de São Paulo, 1977).
Estranhamos a omissão do seu histórico nome em matéria dos psicólogos A. Escudeiro e F. Marinho publicada em jornal local (DN, 9/7/2013). Seus dois outros livros foram Questions and Answers on Death and Dying. Ed. Macmillan, New York, 1974, e Death: The Final Stage of Growth (“Morte: o Estágio Final do crescimento”). Ed. Prentice-Hall Inc., Londres. 1975, também traduzidos para o português.
Ano passado, o tema começou a ser encarado filosoficamente nos grupos (“café da morte”) confidenciais e não lucrativos, em 40 cidades norte-americanas. Tais agremiações surgiram há cerca de 10 anos na Suíça e na França (“Cafe mortel”) e estudam tanatologia, inclusive a eutanásia (morte induzida sem sofrimento), questionando as técnicas de reanimação em moribundos desenganados (New York Times, 24/6/2013).
Há muito, neste jornal, vimos visitando esta pauta: 25/6/2007, 13/5/2009, 13/11/2010, com em Qualidade de Morte (5/1/2011), e em 27/3/2013. A morte no Japão tem um verbete específico: “Shuukatsu” – preparar o próprio fim, tendo cuidado até do sepultamento, para não ocupar/onerar outros.
O novelista espanhol Vicente Blasco Ibañez (1867–1928) autor de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse e Sangue e Areia declarou serem o esquecimento e a esperança as duas forças que ajudam a viver. Talvez mercê da segunda, a última a morrer, os cientistas vêm procurando reverter ou deter o envelhecimento protelando a morte. O Criador ainda não completara Sua criação?