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segunda-feira, 23 de março de 2020

Diário de uma quarentena (2º dia)



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Por Arruda Bastos
O tédio, o vento e a rede na varanda.

Continuamos no nosso isolamento social e digo que a animação do primeiro ficou um pouco prejudicada com as últimas notícias da doença no Ceará: o crescimento do número de casos e a constatação da transmissão comunitária. Informações estas que reforçam ainda mais a importância de ficar em casa nesse momento.

Como no dia anterior, acordei cedo, mesmo após ter dormido muito pouco preocupado e tentando maquinar uma forma de manter toda a família, mesmo que em casas diferentes, no isolamento e com segurança. Acho que meu plano deu certo e a opinião desse velho marinheiro foi levada em conta.

Vocês que são pais, não podem se furtar de interferir quando necessário na vida dos filhos ou dos membros mais novos da família. Mas isso é tema para outra crônica, pois, como escrevi no dia de ontem, vou tratar aqui só de orientar a forma de vencer o tédio do confinamento.

Depois de sacudir a poeira, tratei de colocar os músculos em funcionamento com a tradicional caminhada do dia pelo apartamento. Por volta das 8 horas e 30 minutos, pela primeira vez, ministrei minha tutoria via aplicativo Hangouts. Foi uma alegria rever meus 09 alunos do curso de Medicina do 4º semestre da Unichristus, mesmo que por chamada de vídeo.

O Marcos e a Victória entraram depois, deixando transparecer um pouco de sono. A Liana foi a primeira, com muita disposição. Em seguida, chegaram Helena, Erika, Ana, Mariella, Thais e Lana. Ainda bem que todos compareceram demonstrando saúde e boa disposição para discutirmos os passos do PBL do caso do professor Ronado, fratura do idoso.

Nós, professores, temos uma responsabilidade muito grande e, nesse momento, devemos manter nos nossos alunos a esperança de que tudo vai terminar bem e de que, com o esforço de todos, eles não vão perder o semestre. Na terça, voltaremos à tutoria e, nas próximas noites de quarta e sexta-feira, vou iniciar as aulas para o 8º semestre do curso de Enfermagem.

Seguindo o roteiro, depois voltei à praia frequentando a varanda mais ensolarada do meu apartamento. Digo que o astro rei, com seus raios brilhantes, levantou de vez a minha moral. Experimente você também, pois é um santo remédio.

Revigorado, chegou a hora de outra novidade: fazer o meu programa “Saúde em Dia” na Rádio Assunção AM 620. Trinta minutos de muita informação. Meu gogó aguentou bem o novo esquema utilizando uma linha telefônica.

Depois do almoço, dei uma olhada na lista de atividades e descobri que não tinha continuado nenhuma tarefa de manutenção da casa, iniciada no dia anterior. Resolvi, então, que por absoluta falta de tempo, os consertos ficariam sobrestados para o dia seguinte.

Acho mesmo que as 24 horas do dia já não comportam as mesmas atividades todos os dias. Vou ter que revezar e fazer uma escala, dependendo do seu número.

Por volta das 15 horas, uma leve brisa me lembrou de olhar para a companheira que sei que vai me acompanhar durante todos esses dias, além da minha amada Marcilia, é claro. Ela estava a se balançar na varanda com os ventos oriundos do mar, como a me convidar para deitar. Não sei o que pensaram, mas estava me referindo apenas a minha rede da cor azul do céu.

A tarde sempre é mais difícil, pois o vento e a rede são um convite para a preguiça. Depois de aproximadamente uma hora, retomei as tarefas com a leitura diária e o tempo dedicado a escrever essa nova crônica. Ainda no início da noite, realizei a minha conferência com os filhos, genros e nora utilizando o mesmo aplicativo das minhas aulas.

Tenho recebido (e por elas sou grato ) muitas mensagens pelas redes sociais sugerindo novas atividades. Nos próximos dias, prometo que vou incrementar. Para começar, minha filha Lívia, de forma cronometrada, passou um roteiro de uma excursão pelo apartamento até com tempo livre para ouvir música, bater papo e realizar uma oficina para organizar as roupas dos armários e gavetas.

Aproveite a sua casa, esse isolamento ajuda a perceber como é bom estar na sua morada e apreciá-la com gratidão. Vamos aproveitar!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 2. 
#FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE).









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