Por Arruda Bastos
O início de uma longa travessia.
O início de uma longa travessia.
Estamos no dia 19 de março de 2020 e, pela primeira vez na minha vida, e sem dúvida na da grande maioria da população mundial, vivemos momentos de tamanha gravidade. A pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, tem assustado o mundo, ceifando muitas vidas e infectando aproximadamente 200 mil pessoas, distribuídos em todas as partes do planeta.
O isolamento social é fundamental para retardarmos a transmissão da doença e suavizar o pico da epidemia no nosso país. Conjuntamente com o isolamento, devemos difundir a importância da lavagem das mãos com água e sabão ou, quando não possível, com a utilização de álcool em gel.
A Covid-19 tem como característica tornar extremamente grave a doença em pessoas com mais de 60 anos e portadoras de alguma comorbidade. Como me incluo no grupo, por ter atualmente 6.5 de idade, estou de molho em casa ao lado da minha querida esposa, Marcilia.
Fiz todo esse preâmbulo para chegar ao ponto principal das minhas crônicas que, a partir de hoje, passo a escrever. Vou transmitir a minha experiência de viver todo o tempo do dia entre quatro paredes e, de alguma forma, tentar, com meus escritos, orientar e entreter as pessoas que se encontram na mesma situação. Portanto, não vou falar da doença, e sim de como aproveitar o período de quarentena.
Acordei, como sempre, muito cedo, por volta das 4 horas e 30 minutos da madrugada, e quando ia automaticamente levantar, lembrei que, por muitos dias, teria todo o tempo do mundo para ficar em casa. Fiquei, então, a meditar como utilizar bem o dia e evitar o tédio que se avizinhava.
Resolvi, assim, de chofre, listar uma série de atividades a serem vencidas durante todo o dia. Primeiramente, realizaria um pouquinho de exercício andando pelo apartamento como se estivesse numa praça; depois do café, com mais calma, improvisaria uma praia na varanda para levar sol.
Como até agora tudo era só lazer e sabendo que ninguém vive sem trabalho, resolvi também que montaria um kit de ferramentas para realizar um verdadeiro mutirão de consertos e manutenções em tudo que já há muito tempo clama por isso. Trocar lâmpadas queimadas, regular as portas dos armários, colocar óleo nas dobradiças e muito mais. Sei que minha luta principal vai ser, sem dúvida, combater alguns focos de cupim que teimam em voltar.
Depois do almoço viria a hora do “relax” em uma rede tipicamente cearense na varanda com uma merecida sesta e depois, voltaria à luta de forma lúdica, agora lendo um bom livro e, em seguida, iniciaria meu novo projeto: o de escrever as crônicas “Diário de uma quarentena”.
Não esqueci também de anotar a necessidade de ligar para a família, saber como estão os filhos, genros, nora e netos e de postar no grupo do condomínio e nas redes sociais palavras de estímulo, pois do coronavírus eu já não aguento mais. O excesso de informação e de notícias chega a ser tóxico e devemos ter cuidado com a nossa saúde mental.
Minha querida esposa, Marcilia, tem sido uma parceira e tanto. Digo que há muito tempo não tinha oportunidade de ficar tanto com ela e de sentir que é nesses momentos que constatamos a importância do amor e da família. Procure fazer o mesmo na sua casa, rezem juntos e, apesar de tudo, guardem momentos felizes no meio da tempestade.
Sejam responsáveis, fiquem em casa, aproveitem as minhas dicas, façam as suas, roguem a Deus para que, com a interseção de Nossa Senhora, possamos sair dessa pandemia com o menor numero de vítimas e de sofrimento.
Amanhã eu volto com uma nova crônica. Este foi o dia n° 1.
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE).
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