Dr. Fábio Santana |
Tenho um novo herói
Lembram-se dos heróis da infância? Habitualmente, nossos primeiros heróis são os nossos pais. Herói, heroína, exemplos a serem seguidos. Depois o professor, sabe tudo!
Ah! Tem também os heróis das histórias em quadrinhos, do cinema, da televisão e dos jogos de videogame. Afinal, o herói pode tudo! É forte, toma decisões acertadas, combate e vence os inimigos do mundo.
Nesses momentos atípicos, o terror com o que não podemos ver, nos impõem novos heróis. Os heróis de agora podem ser os médicos, no extenuante trabalho de tratar enfermos. Enfermeiros, auxiliares, fisioterapeutas, funcionários da limpeza, todos exercendo suas funções com afinco, mesmo se expondo à famigerada infecção.
O herói pode ser o papa que, mesmo aos de pouca fé, impressionou com seu caminhar solitário, parecendo carregar sobre os ombros o pesar do mundo.
Não, Bial, os heróis não são os confinados em um programa televisivo como cometeste o descalabro de sugerir em uma de suas interlocuções.
Existiram os heróis de guerra, embora guerras não devessem existir. Chamemos de herói somente bombeiros e gente da polícia que nos socorrem.
Eu tenho um novo herói. Um jovem que saiu de casa para realizar um sonho. Galgado com dificuldade, entre documentações, visto de estudante, prazos curtos e despedidas, chegou à Salamanca, na Espanha, para um intercâmbio acadêmico. A Universidade de Salamanca, a mais antiga da Espanha, foi fundada no século XII. Escuela Politécnica Superior de Zamora, o campus de ingeniería civil.
Nas fotos via-se a alegria estampada no rosto. Tudo ia bem, até viagem para as terras da rainha rolou. Na cidade, além das obrigações universitárias, aulas de espanhol. E, claro, muita interação com outros intercambistas. Sabemos dos agitos das cidades universitárias.
De repente, tudo mudou. Nos noticiários só se fala do avanço de um famigerado vírus. O vírus, com sua virulência, tem nome, sobrenome e apelido: SARS-CoV-2, Novo Coronavírus ou COVID-19. Veio lá da China, que antes nos parecia tão distante. Mas, hoje, está a poucas horas de distância. Nas manchetes, não mais sorrisos estampados.
Decisão de ficar. Enfrentar o momento, as adversidades. De quarentena, como o mundo inteiro, só que sozinho, longe, distante. Distância que se acentua, mais e mais, a cada fechamento de fronteira, a cada voo cancelado. Nas fotos, antes em animados encontros, sorridente, agora, ruas vazias e os poucos ângulos da janela.
Saiu daqui um jovem sonhador, inexperiente, ainda por descobrir as agruras do mundo. Sei que voltará um homem, formado pelas vicissitudes da vida.
Tenho um novo herói, meu filho Tiago.
José Fábio Bastos Santana
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