Por Arruda Bastos
Depois da tempestade vem a bonança
Não é mesmo fácil levar esses dias de quarentena. Qualquer espirro ou tosse já é uma preocupação. As notícias também não ajudam muito e a preocupação só aumenta dia a dia. Mesmo assim, temos que levantar a poeira e dar a volta por cima e levar a cabo nossas tarefas diárias, pois, assim, conservamos um pouco de saúde física e mental.
Aqui em casa, a preocupação é dobrada. São seis médicos, contando comigo, duas filhas, um filho e dois genros. Uma parte deles envolvida diretamente na guerra conta o Coronavírus. Eu, por outro lado, e por pertencer ao grupo de risco, estou de quarentena, tentando fazer a minha parte que é continuar a orientar o maior número de pessoas.
Minha filha caçula e seu esposo, ambos advogados, também estão de quarentena em home office. Minha nora, tratando de entreter minha netinha mais nova, também está na paz do seu lar. Seu marido, meu filho mais velho, tem dado sua contribuição como médico contra a pandemia. Ainda, tenho uma filha grávida que também se ocupa de distrair meu netinho, que agora começou a falar, fazendo o seu papel de isolamento social. Seu marido, também médico, tem se doado muito nessa luta. Há ainda meus dois netos um pouco mais velhos, de 7 e 5 anos, com minha outra filha, que faz de tudo para entretê-los enquanto o marido, meu genro, vai corajosamente para o plantão.
Digo que tenho duas preocupações: uma com a Covid-19 e a outra com o cuidado com o psicológico nesse momento de tamanha dificuldade. Temos que ser fortes para enfrentar juntos tudo que ainda há por vir. Não podemos nos deixar abater pela tristeza e desesperança. Desde pequeno, tenho na memória um chavão antigo que minha saudosa mãe dizia “depois da tempestade vem a bonança”.
Como sei que muitos nesse momento não estão interessados em ler textos que não dizem respeito ao Coronavírus, resolvi no dia de hoje gravar um vídeo de orientação de como passar pelo isolamento social mantendo o corpo e a mente em atividade. A produção e o astro principal, como não poderia deixar de ser, foi este escritor. Para minha surpresa, Marcilia se revelou uma exímia diretora e camerawoman.
No que avancei também, e aconselho a todos, foi na definição de um horário para as chamadas de vídeo para grupos de familiares ou amigos. O resultado é muito bom quando olhamos nos rostos das pessoas que amamos e não só ficamos nas letras frias das mensagens e na voz sem calor dos olhos e lábios a falar. Experimente você também!
Continuo recebendo muitas mensagens pelas redes sociais sugerindo novas atividades. Hoje, com minha performance de Hollywood, não vai ser possível avançar. Nos próximos dias, prometo que vou incrementar e realizar a excursão proposta para fazer pelo apartamento a oficina de organizar as roupas dos armários e gavetas.
Gostaria de ter ficado na linha de frente, como sempre estive na minha vida, mas, infelizmente, como faço parte do grupo de risco com 65 anos e algumas comorbidades, não foi possível. Estou contribuindo na retaguarda e na medida das minhas possibilidades. Se for convocado, não tenha dúvida que entrarei na guerra. Enquanto isso, nossos jovens guerreiros estão na trincheira por nós, e nós estamos em casa por eles.
Fico agora aguardando os comentários do vídeo que vou postar conjuntamente com a crônica de hoje.
Vídeo no facebook: https://www.facebook.com/arrudabastos1/videos/1063288850713393/
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 3.
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE).
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