Porque manter o isolamento social ampliado no Ceará.
A situação epidemiológica do Ceará, em relação à COVID-19, até o dia 06/04, é ainda muito preocupante. Em termos de incidência (casos/100.000 hab.), nós temos a terceira maior do país (11/100.000), só superada por Brasilia (15,5) e Amazonas (12,6). Em número de óbitos (29) somos o quarto do país, superados por S. Paulo (304), Rio de Janeiro (71) e Pernambuco (30), este com situação paradoxal de ter a maior letalidade (13,45 óbitos/casos confirmados), com apenas 223 casos confirmados. A letalidade do Ceará de 2,9 está abaixo da média nacional (4,67).
O isolamento social ampliado é uma medida correta, em situações de expansão da curva epidêmica de casos e óbitos, de uma doença infecciosa nova e visa reduzir a velocidade de crescimento desta curva, para dar um tempo mínimo de preparação do sistema de saúde para o enfrentamento do pico de casos moderados e graves desta epidemia. Isto significa disponibilizar leitos e respiradores suficientes, adquirir Equipamentos de Proteção Individual (EPI) em quantidade e qualidade, que protejam a saúde e a vida dos profissionais de saúde, contratação e capacitação de novas equipes para o manejo correto frente à COVID-19 e oferta de testes de laboratório suficientes, que permitam identificar, testar, isolar e tratar a maioria dos casos, além de investigar a rede de transmissão. O Ceará ainda precisa de um tempo para alcançar este estágio. A requisição do Hospital Leonardo da Vinci foi correta, mas este é de acesso restrito e precisa de ajustes. O Hospital de Campanha da Prefeitura de Fortaleza só deverá estar em pleno funcionamento no final de abril. A suspensão de cirurgias eletivas, que deve causar incômodo aos pacientes cadastrados, foi uma medida justa, baseada no princípio da equidade, de ofertar leitos para quem está em maior risco. Há a necessidade de adquirir uma maior quantidade de EPIs, respiradores e testes de diagnósticos, pois estes, agora, só são ofertados para casos moderados e graves dos que acessam hospitais.
Por estas razões e por mais boa vontade e determinação por parte das autoridades públicas de saúde e dos setores de saúde conveniados, o Ceará e, em particular, Fortaleza, precisam de um maior tempo de isolamento social ampliado, para expandir nossa capacidade de resposta, poupando vidas de nossa gente.
A determinação de decretar o isolamento social ampliado, por parte do Governo do Estado, deve ampliar-se, no mínimo, até final de abril, quando nossa capacidade de resposta estiver mais equilibrada. Só assim poderemos salvar mais vida e iniciar, mais precocemente, o retorno às atividades produtivas, persistindo ainda o isolamento vertical de pessoas idosas e as mais vulneráveis, que têm doenças crônicas ou estão imunodeprimidas.
Destacamos, finalmente, a necessidade urgente do governo federal transferir uma renda minima para as populações vulneráveis, para que possam manter o isolamento social com dignidade. Devemos, portanto, ter uma mente aberta e o coração solidário neste tempo de tormenta.
Manoel Fonseca - médico
Especialista em Epidemiologia
Mestre em Saúde Pública
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