Diário de uma quarentena (38º dia)
Domingo de precúndia e preguiça
Por Arruda Bastos
Nesse domingo, 26 de abril de 2020, acordei disposto como quase sempre durante os já trinta e oito dias de quarentena. Levantei cedo, assisti à missa do padre Marcelo, cumpri toda a agenda matinal: caminhar, levar sol, fazer alguma manutenção no apartamento, troquei até lâmpada queimada, partir para um banho e depois para o almoço. Hoje, para variar um pouco, foi um filé com fritas que Marcilia pediu por delivery.
Em outras oportunidades, nunca tinha pensado na simplicidade do prato solicitado. Digo até que não fazia parte do meu cardápio preferido. O isolamento tem acarretado muitas mudanças na minha vida. O certo é que exagerei e comi mais do que o normal. Depois veio a consequência: aquela preguiça e até mesmo uma precúndia.
Depois de uma soneca, pois ninguém é de ferro, chegou a hora de escrever. Entretanto, o cérebro não funcionava e era um bocejar atrás do outro. Pensava em falar dos carecas, pois logo cedinho no instagram vi uma postagem do meu amigo Gabriel Seffair que dizia “visual pandemia, invejosos dirão que estou ficando careca”. Desse tema vou tratar em outro dia, uma vez que vou necessitar de tempo para discorrer sobre o assunto, já que é dos carecas que elas gostam mais.
Fiquei a pensar no que escrever quando lembrei que, no dia de ontem, recebi uma carinhosa ligação solicitando permissão para publicar minha crônica “No tempo da brilhantina” em um livro escrito por idosos que também escrevem seu diário de uma quarentena. Fiquei sensibilizado com o pedido, visto que fui informado que os da melhor idade ficaram emocionados com as lembranças do tempo do ronca e as recordações do passado, da crônica.
Mas a preguiça e a precúndia não me estimulam a enveredar por essa linha. Preferi, então, para incentivar que mais leitores tenham acesso às minhas crônicas, fazer um release dos temas abordados durante a última semana. Muitas vezes, depois de escrever, fico pensando se realmente estou conseguindo o meu objetivo: entreter aqueles em isolamento e documentar o momento inédito que vivemos.
Decidi, assim, trilhar esse caminho e até mesmo por estar precisando recordar alguma das minhas crônicas, fui em frente. No domingo, iniciei com “O ‘gatoso’, a quarentena e o mesversário”; na segunda, o desabafo com o “É de lascar”; na terça, cheguei ao “Obnubilado de ‘A’ a ‘Z’”; na quarta, foi a vez da emoção com “O aniversário da netinha Larinha e o drible no coronavírus”; já na quinta, a nostalgia do “No tempo da brilhantina”; na sexta, o posicionamento com “ As lives das panelas” e no sábado aquele chororô com “ Os aniversários da Lilia e do Levi deixam o coronavírus doidim”.
Se meu leitor diário pensava que eu ia fazer um resumo de todas elas, digo que hoje não vai ser possível, pois a precúndia continua. O meu desejo é estimular quem não leu nas redes sociais a aproveitar agora para dar uma espiada no que escrevi. Se você está lendo no meu livro, já depois que tudo passou, e quando tudo agora é história, que tal voltar algumas páginas e reler algumas das crônicas que escrevi com as cordas do meu coração?
Concluindo, deixo o meu incentivo para todos e até para aqueles que, como eu, na tarde de hoje sentiram certa precúndia e muita preguiça. Vamos sacudir a poeira e continuar nossa cruzada de fé e orações na busca de força e conforto espiritual para enfrentarmos o que ainda há de vir nos próximos dias e semanas.
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 38. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
Nenhum comentário:
Postar um comentário