Diário de uma quarentena (30º dia)
A dor de uma partida
Por Arruda Bastos
Hoje, 18 de abril, completo trinta dias de isolamento social. Seria uma boa oportunidade para fazer uma retrospectiva de todo esse período de quarentena. Falar das dificuldades, da rotina, das atividades, dos encontros virtuais, dos altos e baixos, das angústias e da esperança, apesar das notícias cada vez mais desalentadoras da evolução da Covid-19 na nossa querida cidade de Fortaleza.
Entretanto, os insondáveis desígnios de Deus me levam a escrever uma crônica chorosa com a dor de uma partida sem despedida de um grande amigo. A notícia chegou pela madrugada, pois, como faço todos os dias no período de isolamento, fui ler os grupos de whatsapp, principalmente à procura de respostas às minhas indagações postadas na noite anterior.
Duas pessoas em particular eram alvo da minha apreensão. Um amigo e primo da minha querida Marcilia, que se encontra internado na UTI do IJF vitimado pelo coronavírus e um camarada muito gente boa, que é meu vizinho há aproximadamente vinte e cinco anos, e que há poucos dias sofreu um AVC e se encontrava internado em estado grave na UTI do Hospital Prontocardio.
Com relação ao meu primeiro amigo, a esposa respondeu que ele estava na mesma. No que concerne ao meu vizinho, a mensagem causou-me uma grande comoção e tristeza, pois comunicava o seu falecimento. Adauto era um homem de fibra, de uma capacidade de trabalho invejável e uma dignidade a toda prova. Muitas vezes, por ser muito franco, deixava transparecer certa antipatia, o que era só de fachada, pois tinha um grande coração.
Partilhamos juntos muitas ações e gestões no nosso condomínio. Formamos durante muitos anos uma dupla inseparável. Ora eu era o síndico e ele o sub e muitas outras vezes o contrário. Sempre que o encontrava era aquele papo descontraído e, muitas vezes, com seriedade devido às dificuldades comuns no dia a dia.
Tinha por ele uma grande amizade e respeito e minha maior frustração e tristeza é de não ter tido a oportunidade de me despedir como ele merecia. A pandemia tem acarretado sofrimento e muita dor a todos nós. Para Adauto, como homem justo, agora é gozar da paz do Senhor.
Que Deus e Nossa Senhora possam confortar toda a família e os amigos.
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Esta foi a do dia 30. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).
A dor de uma partida
Por Arruda Bastos
Hoje, 18 de abril, completo trinta dias de isolamento social. Seria uma boa oportunidade para fazer uma retrospectiva de todo esse período de quarentena. Falar das dificuldades, da rotina, das atividades, dos encontros virtuais, dos altos e baixos, das angústias e da esperança, apesar das notícias cada vez mais desalentadoras da evolução da Covid-19 na nossa querida cidade de Fortaleza.
Entretanto, os insondáveis desígnios de Deus me levam a escrever uma crônica chorosa com a dor de uma partida sem despedida de um grande amigo. A notícia chegou pela madrugada, pois, como faço todos os dias no período de isolamento, fui ler os grupos de whatsapp, principalmente à procura de respostas às minhas indagações postadas na noite anterior.
Duas pessoas em particular eram alvo da minha apreensão. Um amigo e primo da minha querida Marcilia, que se encontra internado na UTI do IJF vitimado pelo coronavírus e um camarada muito gente boa, que é meu vizinho há aproximadamente vinte e cinco anos, e que há poucos dias sofreu um AVC e se encontrava internado em estado grave na UTI do Hospital Prontocardio.
Com relação ao meu primeiro amigo, a esposa respondeu que ele estava na mesma. No que concerne ao meu vizinho, a mensagem causou-me uma grande comoção e tristeza, pois comunicava o seu falecimento. Adauto era um homem de fibra, de uma capacidade de trabalho invejável e uma dignidade a toda prova. Muitas vezes, por ser muito franco, deixava transparecer certa antipatia, o que era só de fachada, pois tinha um grande coração.
Partilhamos juntos muitas ações e gestões no nosso condomínio. Formamos durante muitos anos uma dupla inseparável. Ora eu era o síndico e ele o sub e muitas outras vezes o contrário. Sempre que o encontrava era aquele papo descontraído e, muitas vezes, com seriedade devido às dificuldades comuns no dia a dia.
Tinha por ele uma grande amizade e respeito e minha maior frustração e tristeza é de não ter tido a oportunidade de me despedir como ele merecia. A pandemia tem acarretado sofrimento e muita dor a todos nós. Para Adauto, como homem justo, agora é gozar da paz do Senhor.
Que Deus e Nossa Senhora possam confortar toda a família e os amigos.
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Esta foi a do dia 30. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).
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