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terça-feira, 7 de abril de 2020

POR ALCINET ROCHA: DIAS SANTOS


DIAS SANTOS

Não existe maior desalento
Que o vazio do ninho desfeito
Aferrolha as portas por dentro
E abotoa saudades no peito

Como era alvissareira
A viagem em Santos Dias!
-Vai ser quinta ou sexta-feira?
Bradavam os filhos, com euforia

-Vai ser Quinta-feira Santa
E à noite, tem Visitação
Pois a Madre Igreja manda
Ao Santíssimo, adoração

Depois, era o cuidar das bagagens
Em arrumações sem cansaços
Pra desfrutar das vantagens
De tão aconchegantes abraços

Os lençóis, bem como as redes
Cheiravam a puro carinho
E o Crespo doce de leite
Já era marca do ninho

Café quente, nunca em falta
Pães, com nata fresquinha
No domingo – Ovos de Páscoa
Não são lembranças só minhas

Tudo na casa era afago
Das velhas fotos em família
Ao piso de verdes mosaicos
Com gasta e escura mobília

Solícitos, meus pais deslizavam
Num vaivém de passos falhos
Levando a crer que duvidavam
Da existência do assoalho

Eram sempre corriqueiras
Chuvas com raios, trovoada
Reativando as goteiras
E descartando a boa calçada

Mas não havia sobressaltos
Ou medos... Por nem um segundo!
Pois ali, se estava a salvo
De todos os riscos do mundo

Agora sofremos as dores
De tantas lembranças vividas
Perdidas nos corredores
Da casa, jamais esquecida.

Fonte:  35º Antologia LAPSO TEMPORAL 2018 SOBRAMES – CEARÁ.
Sobrames-CE/Expressão Gráfica, 2018. p.50/51.




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