Diário de uma quarentena (42º dia)
Por mais longa e tenebrosa que seja a noite, o sol sempre volta a brilhar.
Por Arruda Bastos
Neste sábado, 02 de maio de 2020, o dia amanheceu com muitos raios de sol e canto de pássaros como nunca tinha visto da varanda do meu quarto. Não sei bem o motivo de tanta emoção, pois resido no mesmo lugar há muito tempo e nunca tinha ficado assim bobo de ver a beleza do nosso mundo criado por Deus.
Depois de olhar o céu, o verde das arvores, a dança dos passarinhos e novamente de escutar a música que entoavam, passei a sentir uma brisa e a maresia que tocavam suavemente meu rosto. Antes de voltar para o quarto, pensei novamente em Deus, no dom da vida e no insondável mistério da nossa existência.
Chegando de volta, peguei o celular e, como sempre faço, primeiro olhei as mensagens postadas para atualizar as informações de saúde de parentes e amigos que, no momento, tem diagnóstico da Covid-19 ou ainda estão com suspeita. Fiquei alegre com notícias de algumas melhoras e de recuperação de outros.
Infelizmente, encontrei a informação de que meu amigo, padrinho de casamento e primo da minha querida Marcilia, que estava internado em uma UTI da cidade, tinha falecido. Foi um grande choque, pois, embora estivesse grave há alguns dias, a nossa esperança era da sua completa recuperação.
Flávio Cordeiro era nascido em Itapipoca, não tinha problemas conhecidos de saúde e estava no auge dos seus bem vividos 73 anos. Ele era aquele cara descontraído, alegre, brincalhão, popular e amigo de todos. Era também um sujeito reconhecido como bonitão e, muitas vezes, confundido com artista de televisão. Vai deixar muita saudade na família e no seio do seu grande grupo de amigos.
Conheci sua primeira esposa, Nina Carvalho, pessoa também maravilhosa e que faleceu no início do ano. Foi no seu velório que encontrei com Flávio pela última vez. Na oportunidade, trocamos um forte abraço e conversamos por algum tempo. Ele deixou quatro filhos e Sandra, sua esposa, que me informou do início da doença, da evolução e com a qual mantive contatos frequentes.
Agora já no fim do dia, depois de muitas orações pela alma do Flávio, fui à varanda olhar o pôr do sol e, da mesma forma da alvorada no crepúsculo, fiquei emocionado pensando no ciclo do astro rei. Digo que o sol é semelhante aos seres humanos, pois nasce e morre todos os dias e que o importante mesmo é deixar, durante nossa existência, a luz como Flávio deixou.
Para concluir, digo que por mais escura, longa e tenebrosa que seja a noite, o sol sempre volta a brilhar. Com essa assertiva, transmito à família e aos amigos de Flávio os mais sinceros votos de pesar e a certeza que ele encontra-se agora na sua morada definitiva ao lado dos justos.
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 42. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
Por mais longa e tenebrosa que seja a noite, o sol sempre volta a brilhar.
Por Arruda Bastos
Neste sábado, 02 de maio de 2020, o dia amanheceu com muitos raios de sol e canto de pássaros como nunca tinha visto da varanda do meu quarto. Não sei bem o motivo de tanta emoção, pois resido no mesmo lugar há muito tempo e nunca tinha ficado assim bobo de ver a beleza do nosso mundo criado por Deus.
Depois de olhar o céu, o verde das arvores, a dança dos passarinhos e novamente de escutar a música que entoavam, passei a sentir uma brisa e a maresia que tocavam suavemente meu rosto. Antes de voltar para o quarto, pensei novamente em Deus, no dom da vida e no insondável mistério da nossa existência.
Chegando de volta, peguei o celular e, como sempre faço, primeiro olhei as mensagens postadas para atualizar as informações de saúde de parentes e amigos que, no momento, tem diagnóstico da Covid-19 ou ainda estão com suspeita. Fiquei alegre com notícias de algumas melhoras e de recuperação de outros.
Infelizmente, encontrei a informação de que meu amigo, padrinho de casamento e primo da minha querida Marcilia, que estava internado em uma UTI da cidade, tinha falecido. Foi um grande choque, pois, embora estivesse grave há alguns dias, a nossa esperança era da sua completa recuperação.
Flávio Cordeiro era nascido em Itapipoca, não tinha problemas conhecidos de saúde e estava no auge dos seus bem vividos 73 anos. Ele era aquele cara descontraído, alegre, brincalhão, popular e amigo de todos. Era também um sujeito reconhecido como bonitão e, muitas vezes, confundido com artista de televisão. Vai deixar muita saudade na família e no seio do seu grande grupo de amigos.
Conheci sua primeira esposa, Nina Carvalho, pessoa também maravilhosa e que faleceu no início do ano. Foi no seu velório que encontrei com Flávio pela última vez. Na oportunidade, trocamos um forte abraço e conversamos por algum tempo. Ele deixou quatro filhos e Sandra, sua esposa, que me informou do início da doença, da evolução e com a qual mantive contatos frequentes.
Agora já no fim do dia, depois de muitas orações pela alma do Flávio, fui à varanda olhar o pôr do sol e, da mesma forma da alvorada no crepúsculo, fiquei emocionado pensando no ciclo do astro rei. Digo que o sol é semelhante aos seres humanos, pois nasce e morre todos os dias e que o importante mesmo é deixar, durante nossa existência, a luz como Flávio deixou.
Para concluir, digo que por mais escura, longa e tenebrosa que seja a noite, o sol sempre volta a brilhar. Com essa assertiva, transmito à família e aos amigos de Flávio os mais sinceros votos de pesar e a certeza que ele encontra-se agora na sua morada definitiva ao lado dos justos.
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 42. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
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