Meus netinhos, a quarentena e o coronavírus
Por Arruda Bastos
Nesse domingo, 03 de maio de 2020, cheguei ao quadragésimo terceiro dia de quarentena. O isolamento meu e da Marcilia é total e a forma de interagirmos com a família e amigos é através da internet, utilizando as redes sociais, os aplicativos de mensagens e via chamadas de vídeo.
Hoje, acordei com o celular rançoso, lento e até travando. Como tive um pouquinho mais de tempo e o sintoma é de falta de espaço, resolvi, então, fazer uma manutenção e buscar na galeria de fotos e vídeos alguns para deletar e depois chegar aos aplicativos e grupos de mensagem.
Depois de rever por mais de duas horas os diversos arquivos, resolvi dedicar a minha crônica de hoje às crianças. A doçura e a inocência desse tempo que não voltam mais. A motivação para escrever também surgiu da certeza de que a experiência que elas estão passando nenhuma outra geração vai vivenciar novamente.
Encontrei o vídeo que fiz dos primeiros minutos de vida da minha primeira netinha, a Letícia, que nasceu na maternidade Pro Mater, em São Paulo, e que completa, em agosto, oito anos. Passando as postagens, olhei as primeiras fotos e vídeos do Levi, que completou agora na quarentena seus seis aninhos.
Com todas essas lembranças e com os olhos marejados, deparei-me com os vídeos e as fotos do meu netinho Lucca, com a documentação do nascimento da Larinha, que completou um aninho também no isolamento social, e até com o registro da ultrassonagrafia da Lina, minha netinha que nascerá em agosto.
Meu celular é uma verdadeira enciclopédia familiar e documentação dos netinhos tenho de ruma. São vídeos e fotos das primeiras palavras, dos primeiros passos, das quedas e das primeiras peripécias. Tudo que a maioria dos avós guardam como carinho.
Digo que a emoção foi maior quando cheguei nos registros recentes desse tempo cruel, mas necessário, de distanciamento. Encontrei obras primas na arte da fotografia e do vídeo produzidas por minhas queridas filhas. Aliás, sem dúvida, puxaram ao papai que é um exímio documentarista.
Encontrei vídeos maravilhosos que demonstram a alegria dos meus netinhos, que sem dúvida são presentas de Deus para nossa vida: Levi aprendendo a andar de patins; o Lucca ligando para os avós; a Lara acordando os pais e a Letícia comandando as lives da família.
Depois de fazer meu trabalho no rolo de câmera, fui também vasculhar os links, documentos e textos, agora nos grupos do whatsapp. Não vou dizer quais, mas fiz uma limpa geral, pois uma boa parte era daqueles sem noção ou de raivosas seitas de ódio político, o que não coaduna com minha forma de ser.
Quando estava quase terminando, resolvi olhar o grupo da nossa família intitulado “LelêLeviLuccaLaraLina”. Muitas vezes, devido às tarefas do dia a dia, não acompanho em tempo real e acabo só vendo depois de vários dias quando as coisas já não são tanta novidade. Marcilia é quem comanda o grupo com questionamentos, estímulos e orações.
Voltando ao grupo, encontrei uma postagem recente da minha querida filha Lia que dizia: “compartilho com vocês um diálogo que tive agorinha com Lelê, ‘mamãe esse coronavírus tem causado muita coisa ruim, não é?’ ‘Sim, filha, muita, infelizmente’ ‘mamãe, mas também tem o seu lado bom. Se não fosse por ele, eu teria que estar com meus amigos, vendo aula’. ‘E isso seria ruim, filha?’ ‘Não, mamãe, eu adoro o colégio, e sinto saudade.. mas o que eu gosto, gosto mesmo, é de ficar em casa, em família, com vocês!’”.
Minha filha completou: “chorei de emoção... o lado bom do coronavírus... o lado ruim... só como a gente vê o processo... o tal do copo meio cheio ou meio vazio...”. Digo que chorei hoje também ao reler a mensagem e quando escrevia essa crônica, que nesse momento de tamanha incerteza, dedico às inocentes crianças de todas as famílias.
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 43. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
Nenhum comentário:
Postar um comentário