Diário de uma quarentena (45ª dia)
Duas vezes 300
Por Arruda Bastos
Cheguei ao meu 45º dia de quarentena nesse dia 5 de maio de 2020. Durante esse período, falei de tudo: filmes, coisas antigas, netos, como conviver com o isolamento e muito mais. Hoje, digo que com as últimas notícias de lockdown, com o recorde em número de casos e de óbitos, fiquei batendo pino e sem muito ânimo para tocar para frente o meu diário de uma quarentena.
Como os temas do dia não me agradavam e o sono chegou cedo, resolvi dormir e só agora pela manhã concluir minha crônica. Ao acordar, fiquei pensando na justificativa para o sono precoce e a melancolia. Depois de algum tempo, resolvi a charada e acredito que além das notícias nada alentadoras, acho que as novas tarefas domésticas introduzidas na minha rotina também teriam culpa no cartório.
Agora, além das atividades já listadas, como exercícios, banho de sol, manutenção no apartamento, ministrar aulas virtuais, preparar o programa de rádio e as lives, introduzi de comum acordo com minha querida Marcilia, tarefas domésticas que não tinha costume. Digo que as novas atividades valem por muitas horas de academia e serão em breve tema de outra crônica.
A noite não foi nada reconfortante e os sonhos, dignos de um crítico de cinema, pois, os gêneros se sucederam: terror, policial, suspense e até comédia. Entretanto, o que mais lembro foi o de ação, fantasia e guerra, intitulado “300”. O filme americano é de 2006 e, na época, recebeu 300 indicações e conquistou nove prêmios.
O enredo gira em torno do Rei Leónidas, que lidera 300 espartanos na batalha contra o "deus-rei" Xerxes da Pérsia, protagonizado pelo brasileiro Rodrigo Santoro, e o seu exército invasor com mais de 30 mil soldados. A história é contada por um narrador, o guerreiro espartano Dilios, o único dos 300 espartanos a sobreviver à batalha.
Os sonhos são sempre enigmáticos e a justificativa para eles não tem uma explicação única e aceita por todos. No meu caso, acredito que ela surgiu devido ao número divulgado de mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas. A cifra de 600 óbitos me deixou bastante impactado e, embora o filme tenha o título de 300, acredito que o valor dobrado tenha relação com o sonho.
Digo que mesmo que minha explicação pareça um verso de “pé-quebrado”, a inspiração de hoje veio realmente do número alarmante de óbitos e da minha indignação de ainda encontrar quem minimize e considere a pandemia como uma simples gripezinha. O número 300 multiplicado por dois é realmente muito sério e demonstra o grau de dificuldade do momento.
Vou terminando por aqui, pois como estou escrevendo só agora pela manhã, Marcilia já me convocou para minha primeira tarefa doméstica que tenho que cumprir até as 9 horas do dia e como ainda não sou tão bom no manusear das flanelas, espanador, panos, baldes e vassouras, vou ficando por aqui.
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 45. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
Duas vezes 300
Por Arruda Bastos
Cheguei ao meu 45º dia de quarentena nesse dia 5 de maio de 2020. Durante esse período, falei de tudo: filmes, coisas antigas, netos, como conviver com o isolamento e muito mais. Hoje, digo que com as últimas notícias de lockdown, com o recorde em número de casos e de óbitos, fiquei batendo pino e sem muito ânimo para tocar para frente o meu diário de uma quarentena.
Como os temas do dia não me agradavam e o sono chegou cedo, resolvi dormir e só agora pela manhã concluir minha crônica. Ao acordar, fiquei pensando na justificativa para o sono precoce e a melancolia. Depois de algum tempo, resolvi a charada e acredito que além das notícias nada alentadoras, acho que as novas tarefas domésticas introduzidas na minha rotina também teriam culpa no cartório.
Agora, além das atividades já listadas, como exercícios, banho de sol, manutenção no apartamento, ministrar aulas virtuais, preparar o programa de rádio e as lives, introduzi de comum acordo com minha querida Marcilia, tarefas domésticas que não tinha costume. Digo que as novas atividades valem por muitas horas de academia e serão em breve tema de outra crônica.
A noite não foi nada reconfortante e os sonhos, dignos de um crítico de cinema, pois, os gêneros se sucederam: terror, policial, suspense e até comédia. Entretanto, o que mais lembro foi o de ação, fantasia e guerra, intitulado “300”. O filme americano é de 2006 e, na época, recebeu 300 indicações e conquistou nove prêmios.
O enredo gira em torno do Rei Leónidas, que lidera 300 espartanos na batalha contra o "deus-rei" Xerxes da Pérsia, protagonizado pelo brasileiro Rodrigo Santoro, e o seu exército invasor com mais de 30 mil soldados. A história é contada por um narrador, o guerreiro espartano Dilios, o único dos 300 espartanos a sobreviver à batalha.
Os sonhos são sempre enigmáticos e a justificativa para eles não tem uma explicação única e aceita por todos. No meu caso, acredito que ela surgiu devido ao número divulgado de mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas. A cifra de 600 óbitos me deixou bastante impactado e, embora o filme tenha o título de 300, acredito que o valor dobrado tenha relação com o sonho.
Digo que mesmo que minha explicação pareça um verso de “pé-quebrado”, a inspiração de hoje veio realmente do número alarmante de óbitos e da minha indignação de ainda encontrar quem minimize e considere a pandemia como uma simples gripezinha. O número 300 multiplicado por dois é realmente muito sério e demonstra o grau de dificuldade do momento.
Vou terminando por aqui, pois como estou escrevendo só agora pela manhã, Marcilia já me convocou para minha primeira tarefa doméstica que tenho que cumprir até as 9 horas do dia e como ainda não sou tão bom no manusear das flanelas, espanador, panos, baldes e vassouras, vou ficando por aqui.
Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 45. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
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