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sábado, 4 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (15º dia)


Diário de uma quarentena (15º dia)
Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia
Por Arruda Bastos

Hoje, pela manhã bem cedinho, não sei se já acordado ou se ainda sonhando, chegou aos meus ouvidos, bem baixinho, os acordes da música “Como uma onda” de Lulu Santos e Nelson Motta. Depois de algum tempo, já com os olhos bem abertos, peguei o meu celular que dormia ao meu lado e procurei na internet o grande sucesso gravado em 1983, na voz de Lulu Santos.

A letra é de grande inspiração e a música embala os nossos corações. Recordo de ter dançado muitas vezes com minha querida Marcilia ao som da melodia nas festas que frequentávamos nos primeiros anos de casados. Como a música “Gatinha Manhosa” de Erasmo e Roberto Carlos, que é a nossa canção.

Entretanto, digo que nunca tinha me detido a analisar o espírito e a profundidade da letra. Acho que faltava um momento como esse para introjetar o espírito de Lulu e Nelson Motta. Encontrei na “Como uma onda” o sentimento que domina minha alma angustiada.

Conheço pessoalmente Lulu Santos. Meu contato com ele aconteceu em Juazeiro do Note quando da inauguração do Hospital Regional do Cariri, na época em que eu era Secretário da Saúde do Ceará e ele foi o artista contratado para cantar na festa em praça pública. Depois da sua apresentação, tivemos a oportunidade de conversarmos por um bom tempo. Grande pessoa.

Voltando para a letra, quando encontramos “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia” parece até que os autores estavam muitos anos na frente e vaticinando os dias atuais. Em outra parte “Tudo passa, tudo sempre passará” que é exatamente o que digo todos os dias para quem vem de forma tristonha e deprimida atrás de uma palavra de alento.

Ainda bem que “A vida vem em ondas como um mar, num indo e vindo infinito”, já pensou se não fosse assim, se tudo ficasse para sempre de forma constante? Continuando a escutar e cantar, digo como Lulu Santos “Tudo que se vê não é Igual ao que a gente viu há um segundo. Tudo muda o tempo todo” e sem duvida é assim que vamos sair da quarentena.

“No mundo não adianta fugir nem mentir pra si mesmo”, não podemos ficar enganados de que a situação não é grave e que é uma gripezinha qualquer, que não é mesmo. Não devemos esquecer que depois “Há tanta vida lá fora, aqui dentro, sempre, como uma onda no mar”.

Para concluir, transcrevo na íntegra a letra da música personagem da minha crônica de hoje. “Como uma onda” representa muito bem o psicológico de todos nós. Espero que meu assíduo leitor reflita bem sobre isso.

Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará

A vida vem em ondas, como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo o que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo

Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro, sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no

Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará

A vida vem em ondas, como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo o que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo

Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 15. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE).

sexta-feira, 3 de abril de 2020

POR MANOEL FONSECA: QUE LIÇÕES A PANDEMIA DA COVID-19 NOS ENSINA?


QUE LIÇÕES A PANDEMIA DA COVID-19 NOS ENSINA?


1. A sociedade reconhece que, em momentos de grande dificuldade e ameaça à vida de milhares de pessoas,  a única saída é a solidariedade humana.

2. Compreende que o conhecimento científico é fundamental para salvar vidas e preservar o planeta e que investir em educação, pesquisa. ciência e inovação tecnológica é o caminho para as nações alcançarem autonomia e soberania.

3. Entende que os países precisam libertar-se do domínio e dependência de
superpotências hegemônicas, o que aponta para a necessidade de diálogo e concertação entre nações soberanas.

4. Acolhe a Organização Mundial de Saúde como autoridade mundial de defesa e proteção da vida. E percebe que o fortalecimento de sistemas de saúde públicos, gratuitos e  de boa capilaridade territorial, como o SUS no Brasil, é fundamental para proteger a vida das pessoas e reduzir o numero de óbitos.

5. Admira os profissionais de saúde, que tem demonstrado exemplos  de extrema dedicação, solidariedade e compromisso ético com a vida, expondo a própria saúde ao cuidar das pessoas infectadas e doentes. E entende a importância do pessoal da produção de insumos e equipamentos de saúde, da limpeza hospitalar, da limpeza urbana e da cadeia de transporte, alimentação e segurança, o que demonstra a necessidade da integração das ações de solidariedade social.

6. Percebe que as pessoas idosas e as mais vulneráveis socialmente precisam receber uma atenção diferenciada, para que possam suportar o isolamento social necessário durante a epidemia.

7. Raciocina que a riqueza, os bens matérias, o luxo e ostentação nada valem, pois a Covid19 e seu poder de causar doença ou morte não distingue cor, religião ou status social.

8. Deseja e espera que, diante da tragédia  humanitária desta epidemia de grande poder de letalidade, o ser humano e, particularmente, os governantes, superem atitudes de intolerância, agressividade e desrespeito à dignidade da pessoa humana e cultuem a solidariedade, a fraternidade e a proteção às pessoas mais vulneráveis.

9. Defende que a mídia e os meios de comunicação social devem ser um instrumento de orientação sobre cuidados de proteção e de informação fidedigna vinda das autoridades de saúde, baseadas em evidências cientificas e jamais ser fonte de fake news disseminadores do pânico, da discriminação e informação tendenciosa que ponham em risco a saúde da população.

10. Chega à conclusão que a prevenção e o amor salvam vidas. Separados fisicamente, mas cada vez mais unidos espiritualmente. Não apertar as mãos, não se tocar são sinais de amor, neste tempo de quarentena, em que devemos manter sempre as mãos limpas, a mente alerta e o coração solidário.

Manoel Fonseca - médico
Iracema Serra Azul - bióloga

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (14º dia)


Diário de uma quarentena (14º dia)
Se a gente colocar a nossa fé em ação, vai dar tudo certo.
Por Arruda Bastos

Completamos o décimo quarto dia da quarentena e, como já era de se esperar, os casos continuam a subir de forma vertiginosa. Com essas notícias e a falta de tempo, digo até que pensei em não escrever no dia de hoje, mas depois que dei uma olhadela nas minhas redes sociais e observei alguns comentários de preocupação, fiquei novamente estimulado.

No facebook.com/arrudabastos encontrei mensagens perguntando se eu estava bem de saúde e questionando a falta da crônica do dia. Já no instagram.com/arrudabastos, leitores diários postaram posts semelhantes. Depois da leitura, fiquei inicialmente sensibilizado e, após responder, passei a escrever, como nos outros dias.

O dia de hoje foi muito puxado. Além de cumprir todas as tarefas da nova rotina como caminhada, banho de sol, consertos em casa, ler e deitar na rede na varanda, como professor, tive que preparar aulas de gestão em saúde para minhas turmas da Unichristus. O trabalho foi tanto que só consegui iniciar minha crônica por volta das 21 horas, quando ainda participava de uma reunião virtual com meu coordenador, Dr. Marcus Kubrusly, e outros tutores de Medicina.

Aliás, tudo é virtual. Só durante o dia de hoje, participei de várias reuniões, da pós-graduação, da graduação, da Enfermagem e da Medicina. Estou com a cabeça torrando com a tensão das últimas notícias e com as dificuldades em trocar o presencial pelo uso maciço da internet e a grande quantidade de aplicativos e sistemas.

Digo que até o final da quarentena vou sair bamba em Zoom, Hangouts, Moodle, Google Meet e outros menos votados. Como os médicos e os profissionais de saúde de uma forma geral, os professores têm um papel fundamental no momento atual. São eles que seguram o tranco ministrando aulas virtuais, participando de chats e recebendo dos alunos os mais diversos desabafos.

Estou me sentindo, além de médico e professor, um verdadeiro psicólogo e acredito que todos que possam e tenham um pouco mais de cabeça fria devem fazer o mesmo. Sei que depois de tudo passar o mundo não será o mesmo e, como falei em crônica anterior, muitos devem sair melhores do que entraram, mas infelizmente alguns, que espero que sejam poucos, pelo contrário, devem sair piores.

Agora, já chegamos às 22 horas e como sei que meus leitores já estão inquietos, vou parar por aqui, pois além de cansado, não tenho mais neurônios para pensar melhor e ainda vou ter que encontrar um meio de encaminhar minha última aula que teima em não ser aceita por e-mail, devido o seu tamanho.

No dia de amanhã, tenho três aulas: duas pela manha e outra a noite. Todas elas dependem do encaminhamento dos arquivos. Assim, fico por aqui, senão vou receber também mensagens dos meus alunos e aí vai ser um caos de todos os lados.

Para terminar o dia, vamos refletir e relaxar cantando a música: “Vai dar tudo certo” que diz:

Se a gente colocar
Nossa fé em ação
E confiarmos, e orarmos a Deus
Deus ouve e responde e dá tudo certo
Vai dar tudo certo, Vai dar tudo certo

Se a gente colocar a nossa fé em ação vai dar tudo certo
Sei que a vida não e, só de momentos bons
E há tempos difíceis a vida e mesmo assim

Mas se a gente colocar a nossa fé em ação
Vai dar tudo certo
Já deu tudo certo, já deu tudo certo
Porque a gente colocou a nossa fé em ação e deu tudo certo.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 14. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE).

quinta-feira, 2 de abril de 2020

POR TIAGO STUDART SINDEAUX: Enrascada de uma quarentena


Enrascada de uma quarentena

João Artur, meu amado filho de 6 anos, antes de ontem, olha pra mim e dispara, com ar de zomba e um sorriso irresistível, apontando para a capa dum livro de cabeceira:

"Papai! duvido o senhor  desenhar aquele velhinho!" 

Gelei!!!

Mas não podia decepcioná-lo, afinal o "desafio" era para o seu herói.

Hoje, com 100kg a menos nas costas, entrego o resultado em mãos, que olha para cima e arremata:

"Papai, você é o melhor de todos!"

Sorrisos e abraços de amor!

BLOG DO MARCELO GURGEL - LEITOS PARA A PANDEMIA POR CORONAVÍRUS


 POR: MARCELO GURGEL -

LEITOS PARA A PANDEMIA POR CORONAVÍRUS 

Clicar no link abaixo


https://blogdomarcelogurgel.blogspot.com/2020/04/leitos-para-pandemia-por-coronavirus.html?m=1

quarta-feira, 1 de abril de 2020

POR ALCINET ROCHA: DORA E O PRANTO DE DEUS


*A chuva num véu
de choro, escorre do céu
     E doa vida ao chão*

DORA E O PRANTO DE DEUS

O som da chuva ontem a tilintar
Por minha janela de risonha abertura
Deixou-me a alma em névoa esvoaçar
E o coração gotejante de alvura

Fiel, a cadelinha macia e doce
-DORA- da cor de veludo dourado
Em matutino hábito me trouxe
Seu sempre puro amor silenciado

Ergueu-me o olhar astuto, reluzente
Reclamando do regaço, acolhimento
E, juntas, sorvendo a água bendizente
Gratulamos Deus!!
-Pelo gosto do seu pranto ser de alento.

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (13º dia)


Diário de uma quarentena (13º dia)
Dia da mentira em tempo de coronavírus
Por Arruda Bastos

Acho que estou mesmo ficando bipolar. No dia de ontem, o mantra era Armagedom, mote tenebroso que remete à última batalha do final dos tempos. Acho até que, pelos comentários dos meus leitores, deixei muita gente preocupada. No dia de hoje, para compensar e provar que a quarentena está me deixando meio “tam tam”, vou tratar do dia da mentira.

Quando criança, recordo de mirabolantes mentiras sem pé nem cabeça que eram contadas e acreditadas por muitos incautos. Era comum, na época, pregarmos peças nos irmãos e amigos. A data não passava em branco e era levada a sério pelos pequenos. Atualmente, infelizmente, vejo mais adultos do que crianças mentindo, e o tempo todo.

Pinóquio é um dos personagens mais conhecidos da literatura infantil. A história fala de um boneco de madeira que ganha vida. Ela foi escrita em meados do século XIX, por Carlo Collodi, e traduzida para o mundo inteiro ganhando uma série de adaptações.

Na história infantil, cada vez que Pinóquio mentia, o seu nariz crescia. A finalidade do autor era alertar as crianças, pois esse impulso de mentir acomete especialmente os pequeninos entre os quatro e cinco anos de idade.  Ao ler a narrativa, a criança percebe que a mentira tem perna curta e, mais cedo ou mais tarde, a verdade sempre aparece.

No humor brasileiro, encontramos um personagem de Chico Anísio que encarnava o mentiroso contumaz. Ele era o Pantaleão e aparecia nas cenas sempre sentado, conversando com um convidado, e contando lorota.  Ao lado dele, sua fiel mulher de nome Terta.  Pantaleão, depois de mentir, perguntava “é mentira, Terta?”, e ela respondia “verdade”.

No Ceará, de 1904 a 1920, na Praça do Ferreira, debaixo de um cajueiro, acontecia sempre uma tradicional festa popular intitulada “Festival de Mentiras”, realizada, é claro, no dia 1º de Abril. Da festa participavam intelectuais, artistas e até bebuns. Todo tipo de mentira era permitida, de preferência as mais provocantes à sociedade e ao poder constituído.

Tem um ditado que diz: A mentira tem perna curta, mas quem nunca contou uma historinha inventada quando criança que atire a primeira pedra. O problema acontece quando o camarada passa a desembestar uma mentira atrás da outra, fica viciado e não sabe mais parar.

Não tenho duvida que, em breve, o dia da mentira se transformará no da fakenews. E, embora meus escritos não tratem de política no Brasil, atualmente temos um alto mandatário que é hors concours. Não vou dizer quem é, mas para testar a aceitação das minhas crônicas da quarentena, peço que coloquem o nome dele nos comentários.

Como contribuição da minha querida filha Lilia, incorporo à minha crônica as seguintes observações: Outra possibilidade para o futuro é ser instituído o dia da verdade, que será um dia excepcional em que não veremos as famigeradas fakenews na quantidade que são dissipadas atualmente. Às vezes, tenho a impressão que “dia da mentira” tem sido todo dia, com tanta lorota que se compartilha sem a menor cerimônia.

Para terminar, nesse dia da mentira eu queria inventar uma para vocês, dizer que a pandemia acabou, mas, no momento, estou muito ocupado aqui em Dubai  polindo uma das minhas Ferraris.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 13. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE).