Total de visualizações de página

segunda-feira, 4 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena ( 44º dia )

Diário de uma quarentena ( 44º dia )
Beatles, recordar é viver
Por Arruda Bastos

Acordei pensando em escrever, nesse 04 de maio de 2020, acerca de um tema inusitado, quando recebi uma ligação da minha querida filha Lilia sugerindo que eu e Marcilia assistíssemos a um filme denominado “Yesterday”, que estava para iniciar no Telecine Premium. Ela informava que já tinha assistido e era muito bom.

Como sou fã dos Beatles, não tive dúvida e saltei do Jornal Nacional para assistir. Digo que fiquei vidrado, inebriando-me com as músicas e a linda história. Não vou dar spoiler e quem quiser saber do fim e assistir, que procure na Netflix ou noutras plataformas. O filme terminou tarde e me fez recordar de uma crônica que escrevi em 2016. Como recordar é viver, vou postar abaixo nesse meu quadragésimo quarto dia de quarentena.

Tem uma frase clichê que diz “recordar é viver”. Se algumas recordações tristes nos fazem sofrer, algumas lembranças obscurecem o brilho dos nossos olhos, por outro lado, memórias de momentos felizes fazem o brilho dos olhos ficar mais claro do que o sol, a lua, ou qualquer outro astro brilhante. Na maioria das vezes, as lágrimas também teimam em cair. De todas as formas, recordar é tão bom, tão bom.

Na última semana, tive a oportunidade de confirmar, mais uma vez, a força das recordações. Com minha querida esposa, Marcilia, e os amigos Evalto e Maria, Silveira e Mila, lindos e queridos casais, comparecemos ao show do grupo Abbey Road, conhecido como um dos melhores covers dos Beatles do mundo.

Entramos no túnel do tempo, fomos transportados para a nossa adolescência e juventude. Durante mais de duas horas, recordamos todas as fases do lendário quarteto inglês. O repertório, apresentado em ordem cronológica dos discos lançados pelos Beatles, fez fluir todos os belos e inesquecíveis momentos da época.

Clássicos como "Love me do" (1962); "She loves you" e "I want to hold your hand" (1963); "Can't buy me love" e "A hard day's night" (1964); "Help" e "Yesterday" (1965);  "Yellow Submarine" (1966); "Hey Jude" (1968), "Let It Be" (1970); “The Long and Winding Road" (1970) e muitos outros nos encantaram. Músicas que fizeram parte da trilha sonora que marcou indelevelmente o nosso passado e de muitas outras gerações.

Como uma contribuição para os mais jovens e uma recordação para os mais vividos, lembro que a banda The Beatles surgiu na cidade de Liverpool (Inglaterra) em 1956 e que faziam parte do grupo os músicos John Lennon (vocalista, guitarrista e compositor), George Harrison (guitarrista e vocalista), Paul McCartney (baixista, compositor e vocal) e Ringo Star (baterista). O nome inicial da banda era Silver Beatles, lembrando de besouros. Depois, por sugestão de Lennon, passou para The Beatles, haja vista que a palavra inglesa "beat" significa ritmo ou batida, que era o forte do grupo.

A história dos Beatles é incrível: eles criaram algumas das mais populares músicas da história do rock'n'roll, e quando a revista Rolling Stone fez sua lista das quinhentas maiores músicas de todos os tempos, os Beatles derrotaram todos os outros artistas com a impressionante marca de vinte e três músicas listadas. Por uma semana em 1964, tiveram doze músicas no Hot 100 da Billboard, incluindo as músicas número um, dois, três, quatro e cinco. Ninguém conseguiu este feito antes ou depois disso.  A banda começou a entrar em crise, em função de divergências, no final dos anos 60, terminando em 1970.

Fiz toda essa ilustração para chegar ao cerne desse meu artigo nostálgico de hoje. O ponto principal é o do provérbio "recordar é viver novamente". Existem pessoas que procuram esquecer o seu passado, para apagar as suas cicatrizes, como se elas pudessem deixar de existir. Tem o receio de sofrer novamente com as recordações de tristeza e, mesmo quando são de alegria, não desejam recordar, pois raciocinam que os momentos felizes não voltam mais.

Afirmo que recordar, por mais triste que seja o passado, é uma forma de exorcizar as agruras das atribulações vividas e, com isso, encarar o presente e o futuro como dádivas de Deus. É o primeiro passo para enfrentarmos os novos desafios e escrevermos uma nova história. Não importa o quão difícil foi seu passado, você pode sempre começar novamente. Mesmo que ontem a vida tenha lhe dado um “não”, lembre-se que há sempre um amanhã e, com ele, a certeza de que novos caminhos podem ser trilhados ao lado de quem nos ama, com amor, paz, e confiança. Felicidade não existe; o que existe na vida são momentos felizes.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 44. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

domingo, 3 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (43º dia)

Diário de uma quarentena (43º dia)
Meus netinhos, a quarentena e o coronavírus
Por Arruda Bastos

Nesse domingo, 03 de maio de 2020, cheguei ao quadragésimo terceiro dia de quarentena. O isolamento meu e da Marcilia é total e a forma de interagirmos com a família e amigos é através da internet, utilizando as redes sociais, os aplicativos de mensagens e via chamadas de vídeo.

Hoje, acordei com o celular rançoso, lento e até travando. Como tive um pouquinho mais de tempo e o sintoma é de falta de espaço, resolvi, então, fazer uma manutenção e buscar na galeria de fotos e vídeos alguns para deletar e depois chegar aos aplicativos e grupos de mensagem.

Depois de rever por mais de duas horas os diversos arquivos, resolvi dedicar a minha crônica de hoje às crianças. A doçura e a inocência desse tempo que não voltam mais. A motivação para escrever também surgiu da certeza de que a experiência que elas estão passando nenhuma outra geração vai vivenciar novamente.

Encontrei o vídeo que fiz dos primeiros minutos de vida da minha primeira netinha, a Letícia, que nasceu na maternidade Pro Mater, em São Paulo, e que completa, em agosto, oito anos. Passando as postagens, olhei as primeiras fotos e vídeos do Levi, que completou agora na quarentena seus seis aninhos.

Com todas essas lembranças e com os olhos marejados, deparei-me com os vídeos e as fotos do meu netinho Lucca, com a documentação do nascimento da Larinha, que completou um aninho também no isolamento social, e até com o registro da ultrassonagrafia da Lina, minha netinha que nascerá em agosto.

Meu celular é uma verdadeira enciclopédia familiar e documentação dos netinhos tenho de ruma. São vídeos e fotos das primeiras palavras, dos primeiros passos, das quedas e das primeiras peripécias. Tudo que a maioria dos avós guardam como carinho.

Digo que a emoção foi maior quando cheguei nos registros recentes desse tempo cruel, mas necessário, de distanciamento. Encontrei obras primas na arte da fotografia e do vídeo produzidas por minhas queridas filhas. Aliás, sem dúvida, puxaram ao papai que é um exímio documentarista.

Encontrei vídeos maravilhosos que demonstram a alegria dos meus netinhos, que sem dúvida são presentas de Deus para nossa vida: Levi aprendendo a andar de patins; o Lucca ligando para os avós; a Lara acordando os pais e a Letícia comandando as lives da família.

Depois de fazer meu trabalho no rolo de câmera, fui também vasculhar os links, documentos e textos, agora nos grupos do whatsapp. Não vou dizer quais, mas fiz uma limpa geral, pois uma boa parte era daqueles sem noção ou de raivosas seitas de ódio político, o que não coaduna com minha forma de ser.

Quando estava quase terminando, resolvi olhar o grupo da nossa família intitulado “LelêLeviLuccaLaraLina”. Muitas vezes, devido às tarefas do dia a dia, não acompanho em tempo real e acabo só vendo depois de vários dias quando as coisas já não são tanta novidade. Marcilia é quem comanda o grupo com questionamentos, estímulos e orações.

Voltando ao grupo, encontrei uma postagem recente da minha querida filha Lia que dizia: “compartilho com vocês um diálogo que tive agorinha com Lelê, ‘mamãe esse coronavírus tem causado muita coisa ruim, não é?’ ‘Sim, filha, muita, infelizmente’ ‘mamãe, mas também tem o seu lado bom. Se não fosse por ele, eu teria que estar com meus amigos, vendo aula’. ‘E isso seria ruim, filha?’ ‘Não, mamãe, eu adoro o colégio, e sinto saudade.. mas o que eu gosto, gosto mesmo, é de ficar em casa, em família, com vocês!’”.

Minha filha completou: “chorei de emoção... o lado bom do coronavírus... o lado ruim... só como a gente vê o processo... o tal do copo meio cheio ou meio vazio...”. Digo que chorei hoje também ao reler a mensagem e quando escrevia essa crônica, que nesse momento de tamanha incerteza, dedico às inocentes crianças de todas as famílias.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 43. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

sábado, 2 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (42º dia)

Diário de uma quarentena (42º dia)
Por mais longa e tenebrosa que seja a noite, o sol sempre volta a brilhar.
Por Arruda Bastos

Neste sábado, 02 de maio de 2020, o dia amanheceu com muitos raios de sol e canto de pássaros como nunca tinha visto da varanda do meu quarto. Não sei bem o motivo de tanta emoção, pois resido no mesmo lugar há muito tempo e nunca tinha ficado assim bobo de ver a beleza do nosso mundo criado por Deus.

Depois de olhar o céu, o verde das arvores, a dança dos passarinhos e novamente de escutar a música que entoavam, passei a sentir uma brisa e a maresia que tocavam suavemente meu rosto. Antes de voltar para o quarto, pensei novamente em Deus, no dom da vida e no insondável mistério da nossa existência.

Chegando de volta, peguei o celular e, como sempre faço, primeiro olhei as mensagens postadas para atualizar as informações de saúde de parentes e amigos que, no momento, tem diagnóstico da Covid-19 ou ainda estão com suspeita. Fiquei alegre com notícias de algumas melhoras e de recuperação de outros.

Infelizmente, encontrei a informação de que meu amigo, padrinho de casamento e primo da minha querida Marcilia, que estava internado em uma UTI da cidade, tinha falecido. Foi um grande choque, pois, embora estivesse grave há alguns dias, a nossa esperança era da sua completa recuperação.

Flávio Cordeiro era nascido em Itapipoca, não tinha problemas conhecidos de saúde e estava no auge dos seus bem vividos 73 anos. Ele era aquele cara descontraído, alegre, brincalhão, popular e amigo de todos. Era também um sujeito reconhecido como bonitão e, muitas vezes, confundido com artista de televisão. Vai deixar muita saudade na família e no seio do seu grande grupo de amigos.

Conheci sua primeira esposa, Nina Carvalho, pessoa também maravilhosa e que faleceu no início do ano. Foi no seu velório que encontrei com Flávio pela última vez. Na oportunidade, trocamos um forte abraço e conversamos por algum tempo. Ele deixou quatro filhos e Sandra, sua esposa, que me informou do início da doença, da evolução e com a qual mantive contatos frequentes. 

Agora já no fim do dia, depois de muitas orações pela alma do Flávio, fui à varanda olhar o pôr do sol e, da mesma forma da alvorada no crepúsculo, fiquei emocionado pensando no ciclo do astro rei. Digo que o sol é semelhante aos seres humanos, pois nasce e morre todos os dias e que o importante mesmo é deixar, durante nossa existência, a luz como Flávio deixou.

Para concluir, digo que por mais escura, longa e tenebrosa que seja a noite, o sol sempre volta a brilhar. Com essa assertiva, transmito à família e aos amigos de Flávio os mais sinceros votos de pesar e a certeza que ele encontra-se agora na sua morada definitiva ao lado dos justos.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.

Essa foi a do dia 42. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

quarta-feira, 29 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (41º dia)

Diário de uma quarentena (41º dia)
Obrigado, Senhor!
Por Arruda Bastos

Na segunda, dia 27 de abril de 2020, fiquei preocupado com uma febre repentina que uma das minhas filhas passou a apresentar. A informação chegou aos meus ouvidos através da ligação telefônica de outra filha, que é médica, já que a caçula, de início, quis poupar minha querida Marcilia de sobressaltos. Como surgiu também dor de garganta e persistia a febre, ela resolveu me comunicar.

Em tempo de pandemia, é sempre preocupante o sintoma febre, pois demonstra um quadro infeccioso que pode ser bacteriano, mas também virótico, com especial tendência no momento ao coronavírus. No caso da minha filha, ainda maior a tendência, devido ter tido contato com pessoa que testou positivo.

Aqui em casa, temos seis médicos: eu, um filho, duas filhas e dois genros. Os outros membros da família, embora não tenham diploma, por osmose, e pela convivência, também são afeitos, em casos simples, a emitirem suas orientações, afinal, como diz a expressão idiomática: “de médico e louco todo mundo tem um pouco”.

Voltando para os sintomas da minha lindinha, na terça a dor de garganta piorou e a febre também, apesar da medicação prescrita no pôr do sol no dia anterior, após confabulações entre os médicos da família. A orientação, então, foi de realizar alguns exames, o que motivou o acréscimo de novo medicamento. Um dos meus genros, médico com experiência na área, comandou a mudança no tratamento.

Nesses momentos de dificuldade e de apreensão, não podemos deixar de rezar e pedir a intercessão de Deus e de Nossa Senhora. Aqui, minha querida Marcilia comandou as preces, o que foi acompanhada por toda a família. É confortador também sentirmos a solidariedade tão necessária para encontrarmos a força e o equilíbrio para enfrentarmos os momentos de incerteza.

Como já escrevi em crônicas anteriores, tenho uma fé muito grande na providência divina e, com toda certeza, nos últimos dias, renovei ainda mais a minha crença. O que posso dizer é que minha filha teve uma recuperação extraordinária com o tratamento, que inclusive não foi composto por drogas em uso na atual pandemia. Afinal, ela ainda vai realizar o teste para Covid-19 e, pela evolução, o quadro parece ser de outra etiologia.

Foi uma semana de muita emoção, que termina com a felicidade de ler a mensagem: “Gente, estou me sentindo muito bem, graças a Deus. A garganta só arranha um pouco agora e o pus já foi todo embora. Agradeço imensamente a todos pela atenção e pela rápida conduta e tratamento proposto para minha recuperação, especialmente ao Gerardo. Amo vocês de paixão. Agora vou seguir o tratamento até o final e repousar um pouco mais. Fiquem com Deus e se cuidem”.

Para concluir, com sentimento, transcrevo a oração dos médicos e profissionais de saúde, como forma se agradecer às graças recebidas:

Ó Mestre, eu te agradeço porque me entregaste a missão de exercer a Medicina, restituir a alegria de viver às pessoas que me são confiadas a qualquer hora, momento e lugar.

Ofereço-te a minha vocação de servir a sociedade como instrumento de tua providência.

Grandes são os avanços da ciência, mas também são inúmeros os desafios à limitação humana que exige de mim seriedade, equilíbrio, sabedoria e fidelidade ao juramento que fiz.

Ó Deus da vida! Ilumina-me e faça de mim um mensageiro de misericórdia e esperança.

Que no final de cada jornada eu possa celebrar o renascer da vida, fruto do trabalho e entregar-te às situações da minha limitação quando não tiver êxito.
Senhor, que vieste trazer vida e vida em abundância, tornar-me um instrumento de tua misericórdia.

Amém.
Obrigado, Senhor!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 41. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

terça-feira, 28 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (40º dia)




Diário de uma quarentena (40º dia)
O bíblico, o profano e a Mulher de quarenta
Por Arruda Bastos

Hoje, 28 de abril de 2020, completo meus 40 dias de quarentena. O isolamento foi total desde o início e a única vez que saí foi por uma boa causa, afinal, pertencendo ao grupo de risco, tinha que tomar a vacina da gripe, como já relatei na crônica “Uma odisseia na terra dos vírus gigantes”.

A história das quarentenas nasceu no século 14. Na época, a peste bubônica matou mais de um terço da população da Europa. O governo de Veneza, temendo que o mal viesse do mar, determinou que todas as embarcações ficassem isoladas durante 40 dias antes do desembarque dos passageiros. O fato inspirou outras quarentenas em todo o mundo, agora baseadas em dados científicos que comprovam sua eficácia.

Como no dia de hoje escrevo a minha quadragésima crônica do “Diário de uma quarentena”, vou falar do número 40 e dos segredos e mistérios por trás dele. Para iniciar, encontrei que, em geral, esse número poderoso representa mudanças, transformações, desafios e decisões, mas também, tempo e paciência necessários para que todas as coisas se resolvam. Exemplo maior não poderíamos encontrar atualmente, na pandemia do coronavírus.

Nas Sagradas Escrituras, há uma frequente relação entre o número 40 e períodos de preparação e mudança: Deus fez chover 40 dias e 40 noites nos tempos de Noé (Gênesis 7,4); Moisés passou 40 dias de jejum no Monte Sinai, a sós com Deus (Êxodo 24,18); O povo de Israel passou 40 anos em êxodo pelo deserto rumo à Terra Prometida (Números 14,33).

Encontramos também que duraram 40 anos os reinados de Saul (Atos 13,21), Davi (II Samuel 5,4-5) e Salomão (I Reis 11,42), os três primeiros reis de Israel; Jesus foi levado por Maria e José ao templo 40 dias após seu nascimento (Lucas 2,22); Jesus jejuou durante 40 dias no deserto, onde foi tentado pelo demônio (Mateus 4,1–2; Marcos 1,12–13; Lucas 4,1–2).

Existem, ainda, diversas outras citações bíblicas com o número 40, mas vou preferir agora passar para o próximo assunto, o profano e lembrar-vos da música “Mulher de quarenta”, de autoria de Roberto Carlos, que foi lançada no ano de 1996. Na inspirada letra, encontramos que a mulher de 40: “Por experiência, sabe a diferença de amor e paixão, o que é verdadeiro, caso passageiro ou pura ilusão” e que, para o Rei, a idade não interessava: “Não quero saber da sua vida, sua história, nem do seu passado. Mulher de quarenta, eu só quero ser o seu namorado”.

Agora que me lembrei da letra, vou continuar cantando: “Se ela se distrai, uma lágrima cai, ao lembrar do passado, seu olhar distante vai, por um instante, a um tempo dourado. Retoca a maquiagem, cheia de coragem, essa mulher bonita que já não é menina, mas a todos fascina e a mim me conquista. Não quero saber da sua vida, sua história, nem do seu passado. Mulher de quarenta, eu só quero ser o seu namorado”.

Para concluir, digo que o número 40 é mesmo mágico, pois com ele foi possível misturar o bíblico e o profano. Com isso, espero que a crônica de hoje estimule o isolamento social, visto que sabemos, não como no século 14, que é a única forma de reduzirmos a disseminação de uma pandemia e o número de óbitos.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 40. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

segunda-feira, 27 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (39º dia)

Diário de uma quarentena (39º dia)
Vou chamar a Feiticeira e Jeannie é um Gênio
Por Arruda Bastos

Nesta segunda-feira, 27 de abril de 2020, trigésimo nono dia de quarentena, fiquei realmente muito preocupado com as últimas notícias da pandemia no Ceará. O boletim da Secretária da Saúde do Estado, divulgado há pouco, demonstra um crescimento exponencial da covid-19.

Os canais de televisão, desde ontem e continuando nos telejornais de hoje, só demonstram números crescentes em todo Brasil, dificuldade de leitos, de atendimentos e ainda um grande percentual de pessoas sem noção que não atentaram ainda para o caos que estamos vivendo e continuam a burlar o isolamento social.

Como minhas crônicas buscam entreter as pessoas vou ficar por aqui, pois a verdade nua e crua da pandemia vou publicar como crônicas extras no meu livro “Diário de uma quarentena”. Elas serão apresentadas intercaladas com as de água com açúcar que posto todos os dias no site da SOBRAMES e nas redes sociais.

Pensando assim, depois de fazer uma verificação da audiência dos meus textos, descobri que os que tratam de coisas antigas, do arco da velha, são os preferidos. Resolvi, então, dar mais uma canja aos meus leitores da melhor idade e no dia de hoje vou tratar das séries de televisão exibidas nos anos 1960 e 1970.

Digo que nesse período eu era vidrado nas séries que normalmente passavam à tarde ou depois da novela das oito. Lembro da “A Feiticeira” (1964 - 1972), que contava a história de Samantha, que, além de uma dona de casa, era também uma bruxa capaz de fazer mágicas com uma torcidinha no nariz. Que bom seria se a Feiticeira existisse para afastar esse pesadelo de todos nós.

Outra que não esqueço é a “Agente 86” (1965 - 1970), uma divertida série sobre o espião Maxwell, que de um jeito atrapalhado e engraçado resolvia os crimes praticados pela organização criminosa CHAOS. Ele contava com a ajuda da bela agente 99. Seria muito útil se nos dias de hoje o atrapalhado espião encontrasse a vacina para o coronavírus em algum país do mundo.

Tenho saudade também da “Jeannie é um Gênio” (1965 - 1970), que narrava o acidente do major Nelson, piloto da Força Aérea Americana, em uma ilha deserta. Depois de cair, ele encontra uma garrafa com um gênio. O piloto liberta o cativo e descobre que o gênio é uma linda mulher. Os dois se apaixonam e ela vai com ele morar nos EUA. Que tal se encontrássemos um gênio nesse momento de quarentena para satisfazer nossos desejos?

De todas elas, “O Túnel do Tempo”, de 1966, que mostrava as viagens do cientista Doug Phillips e de outro que não lembro o nome, que como cobaias usam a máquina do tempo e acabam ficando perdidos, era a que eu não perdia. Suas viagens eram monitoradas pelos cientistas da sala de comando. Se a máquina existisse eu pularia sem sombra de dúvida o ano de 2020 como um toque de mágica.

Como já está ficando tarde, as duas últimas que lembro são “Perdidos no Espaço” (1965 - 1968) e “Viagem ao Fundo do Mar” (1964 - 1968). A primeira, uma série futurista que conta a saga da família Robinson no espaço a bordo da nave Júpiter 2. A missão foi sabotada pelo doutor Zachary Smith, um agente de um governo inimigo. A família então acaba perdida no espaço e não encontra a rota de volta à Terra. O Dr. Smith, com seu jargão “oh, dor!...oh, dor” e suas trapalhadas, caso estivesse aqui, ia tirar a quarentena de letra.

Já o seriado “Viagem ao Fundo do Mar” (1964 - 1968) conta a história do submarino Seaview e as aventuras de sua tripulação em missões, em cenários próximos da Guerra Fria. Os personagens Almirante Nelson e o Capitão Ted Crane eram os mais queridos. Às vezes nessa quarentena penso que estou isolado em um submarino tipo o Seaview no fundo do mar.

Para terminar, digo que estou me sentindo nessa pandemia como o jovem Will Robinson e o Robô B9 da série “Perdidos no Espaço” e o tripulante Kowalski em “Viagem ao Fundo do Mar”, sempre esperando encontrar um rumo e um final feliz.

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Essa foi a do dia 39. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

POR ALCINET ROCHA: AURORA QUARENTENAL

AURORA QUARENTENAL

As sombras vão beirando com vagar
Noite alta que me gera comoção
O aconchego do silêncio a planar
O vento uivando em forma de canção
Convertem sutilmente sem cessar
Prata e breu na matizada amplidão

A noite-dia inicia o ardejar
No céu que irrompe rosa num rasgão
A paz logo meu corpo anestesia
E afrouxa o peso alçado ao coração

Refaço as trilhas do obsoleto dia
Anulo as árduas e a alvorada amplia
Meu olhar à vida com nova feição.

Alcinet Rocha é médica sanitarista e hematologista, primeira secretária da SOBRAMES/CE