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sábado, 30 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (62º dia)

Diário de uma quarentena (62º dia)
Sentimental demais
Por Arruda Bastos

Nesse sábado, dia 30 de maio de 2020, acordei meio atordoado depois de uma noite conturbada, com muitos pesadelos. A causa de tanta apreensão é o sentimento de que a flexibilização divulgada pelo governo para segunda-feira é um erro e que não foi a melhor decisão, pois considero precipitada, como escrevi na crônica “Devagar com o andor, que o santo é de barro”.

Logo depois de abrir os olhos e me espreguiçar, escutei baixinho os acordes da música “Sentimental Demais” na voz inconfundível Altemar Dutra. O som do celular da minha querida Marcilia aguçou ainda mais meus sentidos fazendo eu escutar o que ela sussurrava: “O Brasil perdeu, vítima da Covid-19, um de seus grandes artistas: o cearense Evaldo Gouveia”.

Confesso que, como fã das suas composições, de início não acreditei. Os grandes clássicos do artista como “Sentimental Demais”, “Brigas”, “O Trovador”, “Que queres tu de mim” e tantos outros, embalaram momentos de grande sentimento na minha vida, principalmente quando muito jovem.

A triste notícia abalou meu coração e me fez procurar nas inspiradas letras das suas músicas a solução para a minha falta de ânimo nos últimos dias. A Covid também não tem dado trégua, afetando muitos amigos e levando a óbito um alvinegro de quatro costados, o que me abalou muito.

Depois do café, fui ao computador para escutar as músicas de maior sucesso de Evaldo Gouveia. Lembrei-me do seu principal parceiro, Jair Amorim, também falecido, e acessei sites dos saudosos cantores Altemar Dutra e Nelson Gonçalves, dois dos grandes intérpretes do protagonista de hoje.

Resolvi, então, depois de me emocionar escutando várias músicas, fazer essa homenagem e trazer para os mais jovens as composições que, agora, eternizam-se. Para os da terceira idade, é a oportunidade de recordar de alguns momentos inesquecíveis, de um passado distante e que não volta mais.
Vou iniciar com “Sentimental demais”: Sentimental eu sou, eu sou demais. Eu sei que sou assim, porque assim ela me faz. As músicas que eu vivo a cantar tem o sabor igual. Por isso é que se diz, como ele é sentimental. Romântico é sonhar. E eu sonho assim, cantando estas canções. Para quem ama igual a mim e quem achar alguém como eu achei, verá que é natural ficar como eu fiquei, cada vez mais sentimental.

Agora vamos cantar “Brigas”, outro grande sucesso: Veja só, que tolice nós dois brigarmos tanto assim. Se depois vamos nós a sorrir, ficar de bem no fim. Para que maltratarmos o amor. O amor não se maltrata, não. Para que, se essa gente o que quer é ver nossa separação. Brigo eu, você briga também, por coisas tão banais. E o amor em momentos assim, morre um pouquinho mais. E ao morrer, então, é que se vê, que quem morreu fui e foi você, pois sem amor, estamos sós, morremos nós.

“Alguém me disse” bate forte na lembrança de muita gente: Alguém me disse que tu andas novamente de novo amor nova paixão toda contente. Conheço bem tuas promessas, outras ouvi iguais a essas. Este teu jeito de enganar, conheço bem. Pouco me importa que te vejam tantas vezes e que tu mudes de paixão todos os meses; Se vais beijar, como eu bem sei fazer sonhar, como eu sonhei, mas sem ter nunca amor igual ao que eu lhe dei.

Finalizando e imaginando a voz de Altemar Dutra, “O trovador”: Sonhei que eu era um dia um trovador dos velhos tempos que não voltam mais. Cantava, assim, a toda hora as mais lindas modinhas de meu tempo de outrora. Sinhá mocinha de olhar fugaz se encantava com meus versos de rapaz. Qual seresteiro ou menestrel do amor a suspirar sob os balcões em flor na noite antiga do meu Rio. Pelas ruas do Rio eu passava a cantar novas trovas em provas de amor ao luar e via então de um lampião de gás, na janela a flor mais bela em tristes ais.

Para concluir, deixo o meu sentimento para a família e para os fãs do Evaldo Gouveia e, em seu nome, vai a minha solidariedade para os familiares e amigos das mais de 26 mil vítimas e as mais de 400 mil pessoas infectadas pelo Coronavírus em todo o Brasil. Que Deus proteja e conforte a todos.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 62. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

POR SEBASTIÃO DIÓGENES: Saga de uma família em extinção


                                                     
                                                 Saga de uma família em extinção

Encontrava-me no gabinete de estudos lendo a “Servidão humana”, de Somerset Maugham, quando uma conversinha na prateleira da estante começou a me retirar a concentração. Corri a vista onde estavam os dicionários. Nada parecia de anormal. Voltei à leitura, e o diálogo entre duas pessoas me tornou a perturbar. Olhei novamente as prateleiras. Desta vez, flagrei o amigão Aurélio aberto, com suas páginas agitadas por algum fenômeno que não compreendia. Logo depois, constatei que se tratava de uma reunião de família, e que havia desgosto na fala de alguns de seus membros. Chamou-me atenção a elegância de uma senhora bem velhinha, vestida com o rigor que a sua época impusera. Apresentou-se a mim como “Senhora de idade secular”. Frente a frente a esta, encontrava-se um adolescente esperto, comunicativo, cheio de intimidades. Eles haviam trocado algumas palavras, aquela conversinha que me incomodara. De repente, vi lágrimas banhando o rosto da Senhora de idade secular.
-  Por que cê está chorando? – perguntou o adolescente esperto.
 Ela não respondeu, dobrou o pranto. Havia uma profunda amargura no seu semblante. Julguei desaforo o modo de o rapazinho tratar a Senhora de idade secular. Ele havia usado o pronome de tratamento “cê”, que lhe era desconhecido e, ao mesmo tempo, inadequado para gente da categoria dela.
- Qual é o seu nome, garoto? – perguntou a anciã, ainda em choro convulso.
-  Meu  nome é Cê – respondeu o garoto.
- Por que a sua mãe escolheu esse nome monossilábico? – perguntou com curiosidade, a elegante senhora.
- Minha mãe diz que é a forma de tratamento que o povo, de pouca escola, gosta de usar. Não gasta tempo para pronunciar. “A voz do povo é a voz de Deus”, é o ditado popular que minha mãe gosta de usar para se defender das zombarias que algumas pessoas intolerantes fazem por causa do meu  nome.
- Com perdão da pequena palavra, Cê é filho de quem?
- Sou filho de Ocê – respondeu Cê. – A minha mãe é da mesma forma de tratamento que a minha pequena pessoa.
- Cê, me faça o favor de trazer sua mãe aqui! Tenho muita vontade de conhecê-la – pediu a Senhora de idade secular. 
- É pra já! A senhora vai já conhecer Ocê, minha mãe. Ela tem idade de ser sua trineta – completou Cê. Ele grita a todo pulmão.  - Mãe venha aqui, tem uma senhora que quer conhecer ocê!
- Então, Ocê é a mãe de Cê? – perguntou a Senhora de idade secular.
- Sou eu mesma – respondeu Ocê.
- Tão nova, e já tem um rapazinho! – admirou-se a Senhora de idade secular. – Como é o nome da sua mãe?
- O nome da mamãe é Você – respondeu Ocê.
- Ocê, eu quero conhecer sua mãe. Faça-me o favor de trazê-la até aqui! – pediu a Senhora de idade secular.
- Cê, meu filho, vá chamar sua avó!  – ordenou Ocê, filha de Você. Cê sai correndo e logo depois retornou com a vovó Você.
- Você, que prazer conhecer você! Sua filha Ocê e seu neto Cê são pessoas dadas, tratam-me com intimidade, o que me deixam meio sem jeito – observou a Senhora de idade secular.  – E sua mãe como se chama, Você? – indagou a misteriosa senhora.
- Vosmecê, é o nome de minha mãe – respondeu Você. – A senhora deseja conhecê-la? –  indagou Você.
- Seria uma honra para esta esquecida velha conhecer Vosmecê, a sua mãe – respondeu a Senhora de idade secular.
Você mandou sua filha Ocê chamar a sua mãe, Vosmecê, que é naturalmente a avó de Ocê.
- Senhora, aqui está a minha mãe, Vosmecê – apresentou Você. Ela é avó de minha filha Ocê e bisavó de meu neto Cê, que lhe foram apresentados – completou Você.  
- Encantada! – disse sorrindo. – Vosmecê, por favor, de quem  vosmecê é filha? – indagou a Senhora de idade secular.
- Sou filha de Vossemecê. Infelizmente, convivi pouco com a minha mãe – respondeu Vosmecê. – Ah! Como gostaria de conhecer Vossemecê! – exclamou a Senhora de idade secular. – Pois, providenciarei para satisfazer o desejo de vosmecê  – tranquilizou Vosmecê.
Vosmecê mandou Você chamar a sua mãe, Vossemecê, que naturalmente é a avó de Você. Vossemecê ao ver a Senhora de idade secular teve uma forte emoção, lágrimas correram pela face, e com a voz embargada, exclamou:
- Mamãe! Mamãe! Sou eu, sua filha, Vossemecê! Vossa Mercê não se lembra de mim? – indagou a filha em prantos.
- Tenho uma vaga lembrança de Vossemecê, minha filha, mas o tempo me tem estragado a memória – falou Vossa Mercê, e continuou. - Ademais, vivo em estado de dicionário há anos e anos. Uma espécie de asilo para idosos. Tornei-me inútil. Tudo começou quando Vossemecê nasceu, e aos poucos vossemecê foi ocupando o meu lugar. O tempo é impiedoso, e a sua vez não tardou chegar. Quando a filha de vossemecê nasceu, a menina Vosmecê, foi também aos poucos nos ocupando os  lugares nas gramáticas, na literatura, na boca do povo.  E assim, a cada nascimento de um novo rebento da nossa linhagem, seus ancestrais vão perdendo a utilidade e os descendentes vão ficando mais pobres de fonemas.  Veja o caso de meu bisneto Você, filho de Vosmecê. No momento, ele está bem, goza do prestígio dos gramáticos, classificam-no como pronome de segunda pessoa, não obstante, na harmonia verbal, comporte-se como se fosse gente de terceira. Você é bastante utilizado na linguagem escrita e falada, mas, temo pela sorte dele ao longo do tempo. Basta observar a evolução histórica da família, e o que está ocorrendo com a lastimável descendência de Você: a filha é Ocê e o neto, Cê. São nomes abonados pelo Aurélio, mas não o são pelo VOLP. Portanto, nada nos garante que a nossa dinastia alcance mais um século de existência. Eu, Vossa Mercê, da qual a árvore genealógica se originou, sofro a perda dos meus ramos nas gerações sucessivas. E para este infeliz neto de Você, restou um mísero fonema: Cê. Declaro  encerrada a reunião. Com licença, vou me recolher aos aposentos. Cê, tome a bênção à sua tataravó – recomendou Vossa Mercê. 
- Tchau, Vossa Mercê!
Sebastião Diógenes
27-05-2020

segunda-feira, 25 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (60º dias)


Diário de uma quarentena (60º dias)
Devagar com o andor, que o santo é de barro
Por Arruda Bastos

No último dia 25 de maio de 2020, completei o meu sexagésimo dia de quarentena e as últimas notícias são de leve melhoria dos indicadores de casos novos e de procura de atendimento em hospitais das Operadoras de Plano de Saúde e em alguns equipamentos da saúde pública em nossa Fortaleza.

O governador Camilo Santana tem falado na possibilidade de, a partir de segunda-feira, dia 1° de junho, iniciar um gradativo programa da reabertura da economia no Ceará. O detalhe do plano de flexibilização deve ser divulgado nos próximos dias.

Com essas informações, lembrei-me do ditado popular que diz “devagar com o andor, que o santo é de barro”. O ditado, sem dúvida, cabe como uma luva no momento atual. Para lembrar, destaco: em muitas procissões, as imagens dos santos são carregadas em andores, que são tablados de madeira com duas barras e paralelas, que servem para apoiar nos ombros dos que carregam as imagens.

O ditado tem como moral que tudo na vida precisa ser feito com cuidado e calma, senão o santo pode escorregar, cair e quebrar, pois é feito de barro (louça ou cerâmica). Assim, a expressão "devagar com o andor, que o santo é de barro" passou a ser usada para significar "Calma! Não se apresse, pois a precipitação pode causar problemas." No caso da pandemia, esse cuidado é fundamental.

Continuando no mote de hoje, digo que no início da semana recebi do meu colega e grande amigo Manoel Fonseca uma minuta de uma carta aberta para ser encaminhada ao Governador Camilo Santana. O documento alertava para a necessidade da continuidade do isolamento social por mais algum tempo, pois os números ainda preocupam.

Depois de ler o texto, trocar algumas mensagens e ligar para o Fonseca, resolvi fazer, durante a noite, algumas pequenas mudanças no documento e depois publicar nas redes sociais da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia do Ceará. Com o alerta do colega, editamos o documento e divulgamos com mais intensidade. A parceria, mais uma vez, deu certo, apesar de parecer no início um pouco capenga.

Para resumir a crônica de hoje, vou copiar e colar a Carta aberta ao Governador com nossas reflexões. Espero que o texto sirva de alerta, pois, como falei anteriormente, “devagar com o andor, pois o santo é de barro”.

“Carta aberta ao Governador Camilo Santana

Sabemos das pressões do setor produtivo sobre nosso governador, Camilo Santana, para a retomada das atividades e término do isolamento social.
Compreendemos a apreensão dos trabalhadores, desempregados e dos que vivem de pequenos negócios, em conseguir recursos para suas famílias, principalmente porque o Governo Bolsonaro põe mil e uma dificuldades para liberar o auxílio emergencial de R$ 600,00 e o crédito para pequenas e médias empresas, aprovados pelo Congresso Nacional.

Entendemos que a epidemia em Fortaleza chegou ao ponto mais alto e parece começar a estabilizar, lentamente, o número de casos e óbitos, chegando-se a um platô. Mas o Ceará, com 35.595 confirmados até este domingo, é o terceiro Estado em letalidade (6,5%), superando a média do Brasil (6,2%), só sobrepujado por Rio de Janeiro, com letalidade de 10,52% e Pernambuco, com letalidade de 7,9%.

Fortaleza, que se apresenta como epicentro da epidemia no Ceará, tem uma letalidade da mesma magnitude de Pernambuco e a expansão de casos e óbitos está ainda acelerada nos bairros da periferia.

O Sistema de Saúde, público e privado, está operando próximo ao limite de sua capacidade de oferta de leitos de UTI e de respiradores mecânicos.

Será preciso manter o isolamento social rígido por mais tempo, até que a curva de crescimento da epidemia comece a cair, permitindo avaliar a oportunidade de abertura programada das atividades econômicas e redução do isolamento social, persistindo os cuidados de proteção, para evitar uma nova onda de casos e óbitos.

Esperamos, sinceramente, que o Sr. Governador análise com sabedoria este quadro preocupante.

Será que não seria uma temeridade, no início da tendência de estabilização de casos e óbitos, afrouxar as medidas de isolamento social?

Fazemos um apelo ao Governador Camilo Santana, para que resista, por um pouco mais de tempo, às pressões e esperamos que a sociedade mantenha seu espirito de solidariedade, compreensão e generosidade, no sentido de salvar mais vidas, particularmente da população de bairros da periferia, onde a epidemia está concentrada agora e em expansão ainda acelerada.

Sr. Governador Camilo Santana, amplie por mais tempo o isolamento social rígido e proteja mais vidas de nosso povo. Que o povo possa, então, se reencontrar, após a quarentena, mais livre, de forma mais segura e sempre com cuidado e proteção.

Nosso apoio e confiança, Sr. Governador Camilo Santana, e que V. Sia. se ilumine para tomar a decisão mais sábia e correta.

Fortaleza, 25 de maio de 2020

Manoel Fonseca é Médico Sanitarista, Especialista em Epidemiologia, Mestre em Saúde Pública, Ex-Secretário de Saúde de Fortaleza

Arruda Bastos é Médico Sanitarista, Oncologista, Gestor em Saúde, Prof. Universitário e Ex-Secretário de Saúde do Estado do Ceará

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 60. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (57º dia)

Diário de uma quarentena (57º dia)
O Bonner que se cuide
Por Arruda Bastos

Chegamos a 22 de maio de 2020, meu quinquagésimo sétimo dia de quarentena. O governador prolongou o lockdown em Fortaleza até o final do mês. Os números de casos e de óbitos só crescem e a situação continua muito grave. Com isso, reformulei minha agenda para dar vazão às inúmeras tarefas que tenho que cumprir nos próximos dias.

Dentre todas as atribuições, minha especial fascinação é para aquelas que realizo de forma virtual, pela internet, com uso do meu notebook Dell Inspiron. Entre essas atividades estão principalmente as aulas, os meus programas no Facebook, os vídeos no YouTube e as lives no instagram.

A semana foi intensa, e já na segunda, transmiti o meu programa “Encontro Marcado” pelo Facebook com o amigo José Maria Philomeno. Na terça, participei da live do professor Samuel, meu camarada do Crato; na quarta, do programa “Dialogando”, com meu querido vereador Prof. Evaldo Lima, pelo Facebook e Instagram.

Depois, no outro dia, eu e o colega Manuel Fonseca recebemos no “Quinta com Saúde e Democracia”, transmitido pelo Facebook, o Secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Inácio Arruda, e a psicóloga Renata Giaxa. O tema foi psicologia, ciência e covid-19. Todos os programas tiveram grande audiência e participação.

Pensei que na sexta-feira fosse descansar e não marquei nenhuma atividade extra além das três aulas virtuais da Unichristus, entretanto, meu querido primo e Prefeito de Baturité, Assis Arruda, convidou-me para participar de uma videoconferência com os prefeitos do Maciço a fim de discutir o posicionamento frente às dificuldades de viabilizar leitos para o enfrentamento da Covid na região.

Com todas essas atividades e com o meu programa de sábado, “Saúde em Dia”, com o radialista Sérgio Cunha, pelo Facebook, só mesmo com um bom suporte tecnológico para comportar tanta atividade. Somado à digitação das minhas crônicas do “Diário de uma Quarentena” e ao meu programa pela rádio Assunção, de segunda a sexta, meu computador no final de tudo vai ter mais horas de trabalho do que piloto internacional de Boeing tem de voo.

Para todas essas atividades, nos primeiros dias de quarentena, montei um estúdio no meu escritório. Digo que Marcilia, nos primeiros dias, não gostou muito, pois confesso que fiz uma bagunça danada. Foi um tal de troca troca de posição de livros, troféus, quadros, objetos de decoração e até um cabide de roupas que deveria usar diariamente tive que entulhar dentro do quarto.

Com o tempo, e depois dessa bagunça, ela não achava mais nada que procurava e chegou a se queixar de tanta mudança e até mesmo do excesso de programas. Acho que tudo só da boca para fora, pois não perde nenhum e até chega a me orientar quando constata alguma imperfeição. Sei que ela tem orgulho do trabalho que faço nesse momento importante, de fornecer informações verdadeiras para a nossa sociedade.

Meus filhos também são grandes incentivadores e sempre comentam, participam e divulgam os programas. Como prova disso, no dia de ontem recebi alguns equipamentos encaminhados pela minha filha Lilia. Ao desembrulhar, fiquei muito feliz, pois eram voltados para melhorar minha performance de comunicador via internet.

Vou terminando por aqui, vez que logo cedo vou montar os mimos que recebi. Primeiro o suporte para notebook com cooler embutido de cinco níveis e o teclado e mouse sem fio, e depois, instalar o microfone e fone de ouvido. Com todo esse novo arsenal, posso agora até me preparar para as ofertas de contrato na Globo. O Bonner que se cuide.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 57. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (56° dia)

Diário de uma quarentena (56° dia)
Sansão, Dalila e Marcilia
Por Arruda Bastos

Hoje, 20 de maio de 2020, no meu quinquagésimo sexto dia de quarentena, logo ao acordar, observei ao olhar no espelho que minha cabeleira estava parecida com a do Doc Brown personagem interpretado pelo ator Christopher Lloyd que no filme da trilogia de ficção científica “De volta para o Futuro”   era o inventor do DeLorean DMC-12 que viajava no tempo.

Não sei o motivo da lembrança do personagem mas acredito ter sido pelo aspecto desarrumado e assanhado como acordei. O fato é que como o espelho Marcilia também notou minha aparência de cientista louco e como não tenho condição de marcar com o meu cabeleireiro Juracy ela mesmo resolveu fazer essa caridade.

Marcilia durante muitos anos cortou o meu cabelo e se a memória não me falta desde que ficamos noivos ela sempre zelosa do visual do seu amado não deixava crescer muito. Depois que conheci o salão do Juracy e com as muitas atribuições da minha amada passei a cortar fora de casa.

Com o trato no cabelo completei a minha sina pois no início do isolamento tirei a barba que mantinha por mais de quarenta anos e agora fiz um verdadeiro desmonte na cabeleira. Até meu projeto de rabo de cavalo foi para o brejo. Só escapou mesmo o bigode que como escrevi na crônica “Vão-se as barbas e ficam os dedos” não tem quem me faça tirar.

Depois do corte do cabelo passei a espirar e a sentir uma certa moleza. Como qualquer alteração a gente pensa logo em covid-19 fiquei ressabiado e para tirar a dúvida resolvi tomar um alegra pois é comum sentir rinite alérgica. O certo é que depois de algumas horas o sintoma melhorou ficando ainda um pouco de desanimo.

Das minhas atividades normais pulei o cooper pelo apartamento e resolvi antecipar minha leitura na rede da varanda. Passei o dia sem muita energia a ponto de dispensar outras atividades da minha rotina. Cheguei até a dormir a tarde coisa que normalmente não faço. Fiquei ativo só mesmo na prova para meus alunos da unichristus já por volta das 18 horas e no programa Dialogando que fiz a convite do meu amigo vereador professor Evaldo Lima.

Depois da live comentando com Marcilia da minha indisposição ela lembrou brincando da história de Sansão e Dalila. Resolvi então fazer uma pesquisa para recordar alguns detalhes dos personagens bíblicos. Encontrei que Sansão significava "homem do sol", que ele era um nazareno dotado de extraordinária força e um dos juízes bíblicos cuja história está descrita no Livro dos Juízes (13-16) e no Novo Testamento (Hebreus 11,32).

Conta-se também que Deus chamou Sansão para libertar o povo de Israel que vivia dominado pelo Filisteus. Eles tinham um medo enorme da força do nazareno e tentavam sem sucesso frequentemente prende-lo. Os governantes filisteus, sabendo da paixão de Sansão pela finisteia Dalila, aliciaram a jovem, com 1100 moedas de prata, a descobrir a origem da força invencível de Sansão.

Dalila conseguiu descobrir o segredo. Este disse-lhe que, se os seus cabelos fossem cortados, a sua força abandoná-lo-ia e ficaria fraco como uma criança. Então quando ele adormeceu teve os seus cabelos cortados. Acordado pela chegada dos Filisteus, Sansão acreditava ainda ter força, mas foi rapidamente dominado pelos soldados, que lhe perfuraram os olhos e o prenderam com algemas de bronze.

A força de Sansão não estava nos cabelos. O fato de Sansão revelar o segredo a Dalila foi o momento para Deus o abandonar. Sansão desperdiçou a sua última chance de realizar um ministério digno do seu chamado. Por isso, Deus retirou a sua bênção, e ele se tornou um homem comum.

Não vou me comparar com Sansão mais com essa lembrança e como seguro morreu de velho eu só volto a cortar o meu cabelo quando tudo passar, o salão do Juracy for reaberto e depois que minhas madeixas crescerem bastante.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 56. #FiqueEmCasa
Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (55º dia)


Diário de uma quarentena (55º dia)
Ensinando o Pai Nosso a vigário
Por Arruda Bastos

Nesse meu quinquagésimo quinto dia de quarentena, depois de muitos dias escutando e rezando, sempre às 15 horas, com Marcilia, pelo instagram, o terço da misericórdia com a Ticiana de Paula da comunidade um Novo Caminho, resolvi como, diz o ditado, ensinar Pai Nosso a vigário e escrever minha crônica de hoje falando da importância da oração e da fé.

No meu isolamento, além das atividades de todos os dias, não pode faltar a mensagem do bispo Fernando às 06 horas da manhã pelo rádio, a missa do Shalom às 07 horas e 15 minutos, a missa do padre Geovane à noite na TV Diário, a missa do Padre Marcelo nos domingos e os terços rezados durante o cooper pelo apartamento de todos os dias.

Sou de uma família católica e cresci dentro das suas normas tradicionais. Minhas irmãs, meus irmãos e eu sempre estudamos em colégios de congregações religiosas. As primeiras sextas-feiras do mês eram sagradas com a confissão na igreja dos Remédios e, a missa nos domingos bem cedinho na Capela do Colégio Juvenal de Carvalho, nunca esqueci.

Digo que a minha formação religiosa tem ajudado muito nesse momento de tamanha dificuldade. A fé em Deus é um importante substrato para acreditarmos na solução de tudo e como diz a música “Vai dar tudo certo”: Se a gente colocar a nossa fé em ação / E confiarmos e orarmos a Deus / Deus ouve e responde, e dá tudo certo.

Para colaborar com aqueles que não são afeitos aos terços, vou ensinar o passo a passo do terço da misericórdia. Experimente. Sei que você e sua família vão gostar. De início, faça o sinal da Santa Cruz: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém! Depois reze um Pai Nosso, uma Ave Maria e o Credo.

Nas contas do Pai Nosso, reze: Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e Sangue, a Alma e Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro.

Nas contas das Ave Marias, reze: Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10 vezes).

Ao final do terço, reze: Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro. (03 vezes)

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Essa foi a do dia 55. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – CE.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Por: Fátima Azevêdo - PARA UMA QUERIDA E GRANDE AMIGA - Thereza Lúcia Prata de Almeida


PARA UMA QUERIDA E GRANDE AMIGA - Thereza Lúcia Prata de Almeida

Minha querida amiga Celma, meus mais profundos e sinceros sentimentos pela partida de sua irmã Thereza.
Hoje à tarde, dia 17 de maio de 2020, fui tomada de uma tristeza avassaladora e ainda não consegui parar de chorar desde que recebi a notícia que a minha, a nossa querida Tê não poderia mais voltar pra nós. Muito, muito triste. Não tenho palavras. A Tê foi a pessoa mais doce, meiga e delicada que eu conheci em toda a minha vida. Lamento imensamente que a vida corrida de todos nós tenha nos limitado os encontros. Não fosse nossos encontros nos corredores da Faculdade de Medicina da UFC, nosso local de trabalho, ambas docentes e minhas consultas esporádicas com ela, eu a teria encontrado menos ainda. Não me conformo que amigos se encontrem tão pouco nessa dimensão. Não me conformo ter que chorar as perdas e a perda do tempo perdido por não termos nos encontrado como gostaríamos. Vivíamos prometendo nos encontrar. Vivíamos ensaiando nos visitar. Vivíamos combinando um café que nunca virou realidade. Não consigo me conformar por não ter sido mais insistente, mais chata com meus pedidos de encontros com vocês duas. Não me conformo. Deveria ter insistido mais. A última vez que vi a Tê foi qdo peguei uma dermatomicose no dedo, após fazer jardinagem. Fiz fotos da lesão, enviei pra ela, prontamente ela deu o diagnóstico, era uma dermatologista excepcional, mas pediu que eu fosse ao ambulatório para me examinar e fazer a microscopia. Deu positivo e me tratou. Depois perguntou: Fá, era assim que me tratava carinhosamente, eu posso usar suas fotos do dedo, para dar aula, pois estão mostrando a lesão dermatológica com perfeição. E eu respondi: claro que pode, Tê e pode dizer aos nossos alunos, que o dedo é meu. As duas rimos e nos despedimos com um grande e apertado abraço. Prometemos uma à outra, marcar o tal café. Foi essa a última vez que vi minha querida e inesquecível amiga. Tê você ficou me devendo o café. 😢😢😢❤️


Fátima Azevêdo
Médica Geneticista
Prof da FAMED-UFC