As
três mulheres.
Quando era menino, eu gostava de caçar na caatinga do Campo
Verde. O nome da fazenda de meu pai deve-se ao verdor dos juazeiros que, ainda
hoje, abundam a propriedade. Pois bem, foi por obra de uma dessas caçadas que conheci
pela primeira uma mulher nua. De vista, é claro, ainda não tinha idade de
conhecer mulheres.
Na
realidade, eram três mulheres. Tomavam banho no poço do riacho Quebra Pedra.
Cheguei ao local sem intenção maliciosa. Foi uma circunstância acidental. E
para não assombrá-las, me escondi atrás de uma frondosa moita de mofumbo. Visitou-me
o diabo da curiosidade. A esse momento, as forças contra o pecado já me haviam
abandonado. Encontrava-me, pois, sob o império da concupiscência precoce. Através
da folhagem, passei a espiar as três mulheres se banhando. Contemplava-as com o
encantamento antecipado nos anos. A imponência negra do púbis! A beleza
plástica que Deus fizera para garantir a espécie.
Ao
deixarem o poço, as três mulheres tinham de passar ao lado do arbusto, e me
flagraram no esconderijo. Disseram-me pragas, e que iriam contar a indecorosa ofensa
à minha mãe, sabidamente muito exigente com os bons costumes dos filhos. A pena
da infração moral custou-me uma dúzia de bolos. De palmatória, que eram os bolos
que mais queimavam as mãos dos sentenciados.
Quando aprecio as Três Graças de Rubens, por exemplo, é das
três mulheres do poço do riacho Quebra Pedra que me lembro. Sem remorsos!
Sebastião
Diógenes.
23-03-2020