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quarta-feira, 5 de março de 2014

POR: ANTERO COELHO NETO - PALAVRAS E MOMENTOS

 
Dr. Antero Coelho Neto - Médico e Membro da Sobrames-CE
PALAVRAS E MOMENTOS
                       Publicado no Jornal "O POVO" 05/03/2014

Ao se analisar os diferentes aspectos das relações humanas, facilmente  constatamos que dois são os elementos fundamentais: as “Palavras” e os “Momentos”.
As palavras, para expressarem os vários elementos da vida, o que queremos informar, realizar, solicitar e tudo o mais que se pretende comunicar. Através delas podemos até alcançar o inusitado e o êxito de nossa vida. Considero dois tipos de palavras escritas e faladas: as “que valeram a pena” e as “que usamos sempre na vida diária e são comuns na comunicação”.
Para mim, as que valem a pena são aquelas que valorizei e escrevi em artigos, crônicas e livros, onde destaco a saúde, a educação do brasileiro, o desenvolvimento do Brasil e do Mundo de um modo geral e meus 15 anos de programas no Rádio, com palavras faladas e gravadas, sobre Promoção da Saúde, Qualidade de Vida e Longevidade. 
Como maneira de comunicar, temos diferentes tipos: dos sentimentos, da vida, as religiosas, dos versos e poemas, ditas de amor, etc.
Vários e importantes personalidades do Brasil e do mundo, são maestros da palavra e com elas conquistam o êxito, o sucesso e o elogio durante a vida, ou mesmo após morrerem. 
O Momento deve ser mais entendido como instante diferente, ocasião própria, episódio de mutação ou situação característica, do que como um período de tempo. São de momentos que o homem se desenvolve e se transforma na sua evolução biológica, fisiológica, psicológica, comportamental e também energética.
O Momento é muito importante na nossa vida. Claro que o momento guarda algum tipo de relação com o tempo linear (milênio, século, ano, mês, etc.), mas é um relacionamento vinculado, fundamentalmente, à  transformação, ao que é importante, ao que permanece em matéria ou no pensamento das pessoas e não a uma seqüência de atos e fatos que não valeram a pena.
 Ninguém se  lembra dos períodos de tempos que não estão em relação com transformações. Que valem se não ficam na lembrança e não se materializam de alguma maneira?
O corpo e a energia que possuímos se desenvolvem em função das forças dos momentos e não linearmente com a força do  tempo cronológico.
O momento, portanto, significa também a interiorização e a exteriorização de emoções, enquanto a palavra transformação indica  a materialização, do fato e das situações.  Seria como que  um lado e outro da  própria personalidade humana, ora um, ora outro. Num momento o sentimental e logo a seguir o indivíduo objetivo que deseja realizar, mudar, transformar. Principalmente se é um ser geminiano puro como eu. E o Signo, vale mesmo?
Transformações são, portanto, as mudanças permanentes ou duradouras. São sentidas, comentadas e evidenciadas pelas pessoas, pelos nossos amigos, pelo povo. O que não for assim é apenas um fato, um ato, ou situação sem maior significado.   Transformar, portanto, é que  deve ser o grande desafio de todos nós. Vamos transformar algumas  situações atuais de nosso Brasil ?
Por isso torna-se muito importante que os Momentos sejam gravados, através de livros, jornais, revistas, fotos, gravações, pinturas, esculturas etc. Digo sempre: se assim não for, existiram, mas passaram, não existem mais. Que fiquem pelo menos na memória de cada pessoa. Pelo menos até... quando?
E você, amigo carnavalesco, como se foi? Muitas palavras cantadas e momentos alegres e felizes? Você gravou esses momentos? Não?  

Antero Coelho Neto
Médico e Professor






sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

POR: ANA MARGARIDA ROSEMBERG - PASSAGENS POR PARIS, NO MASP.

 
Dra. Ana Margarida Rosemberg - Médica e Secretária da Sobrames-CE


Rosa e Azul ou As Meninas Cahen d'Anvers
Renoir - 1881 - 119x74cm - MASP-SP-Brasil


Damas em Giverny (óleo sobre tela - 47x59cm - 2005)
Quadro pintado por Washington Maguetas, imaginando como estariam estas duas irmãs de rosa e azul
após alguns anos, visitando os jardins da casa de Monet na cidade de Giverny, na França.

http://clientes.insite.com.br/maguetas/impressionismo/rosa-e-azul/
Magali e Mônica de Rosa e Azul
Versão pintada por Maurício de Souza em 1989, após ver pessoas tentando
copiar o quadro original durante uma exposição no MASP.
Após esta idéia, Maurício de Souza fez uma exposição e um livro chamado
"História em Quadrões", com paródia da obra de diversos artistas utilizando
seus personagens.

http://clientes.insite.com.br/maguetas/impressionismo/rosa-e-azul/

              PASSAGENS POR PARIS, NO MASP

Estive no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubrieant (MASP), na terça-feira, 25/02/2014, e visitei a Mostra PASSAGENS POR PARIS. 
O título  inspira-se em uma citação de Walter Benjamin em seu ensaio “Paris, capital do século XIX”.  A exposição interage com “A arte do detalhe (e depois, nada)”, em cartaz desde o inicio de novembro. 
Passagens por Paris propõe um passeio pela arte moderna, com obras feitas entre 1866 e 1948 por artistas icônicos do período: Manet, Degas, Monet, Cézanne, Gauguin, Van Gogh, Matisse, Renoir, Toulouse-Lautrec, Picasso, Modigliani, Portinari, Rego Monteiro e outros. 
Várias obras de arte me causaram profunda impressão, mas, para homenagear Assis Chateaubriand e Pietro Maria Bardi idealizadores do MASP,  vou me deter na obra “Rosa e Azul” de Renoir. Esta obra foi adquirida pelo MASP, em 7 de julho de 1952, no dia do meu segundo aniversário de nascimento, com recursos doados por Assis Chateaubriand. 
Rosa e Azul, também intitulada “As Meninas Cahen d’Anvers”, é uma célebre pintura a óleo sobre tela, 119 cm x 74 cm, do artista impressionista francês Pierre-Auguste Renoir. 
A pintura, que foi produzida em 1881, em Paris, retrata as irmãs Alice e Elisabeth, filhas do banqueiro judeu Louis Raphael Cahen d’Anvers e é considerada um dos mais populares ícones da coleção do MASP. 
Elisabeth é a menina loira, de seis anos, nascida em dezembro de 1874, e Alice, de cinco anos, nascida em fevereiro de 1876.  Alice viveu até os 89 anos e morreu em Nice, em 1965. Elisabeth teve um destino trágico. Divorciada do primeiro marido, o diplomata e conde Jean de Forceville, casou-se com Alfred Émile Denfert Rochereau, de quem também se divorciou. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ela foi enviada para Auschwitz, devido à sua origem judaica, e morreu a caminho do campo de concentração, em março de 1944, aos 69 anos.
O retrato das meninas Cahen d’Anvers angariou a simpatia dos visitantes do MASP, tornando-se uma das mais populares e apreciadas obras do museu e uma fonte de inspiração para outros pintores. Artistas contemporâneos como Washington Maguetas e Cirton Genaro, entre outros, produziram trabalhos baseados na obra. Em 1989, o quadrinista Maurício de Sousa também fez uma reinterpretação de "As Meninas Cahen d’Anvers", intitulada Magali e Mônica de Rosa e Azul, onde as populares personagens dos quadrinhos infantis aparecem ocupando o lugar de Alice e Elisabeth na pintura. 

Fontes:   http://masp.art.br/2013/masp_visite
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Rosa_e_Azul_%28Renoir%29



sábado, 22 de fevereiro de 2014

POR: WILLIAM MOFFITT HARRIS - DO QUE TÊM MEDO OS ANÔNIMOS?


                             
 

DO QUE TÊM MEDO OS ANÔNIMOS?

William Moffitt Harris, Membro Titular, Sobrames-CE

Médico Pediatra Sanitarista (aposentado) – Campinas-SP

e-mail: mmclbilly@gmail.com

 

É bastante comum observar-se em alguns artigos publicados em jornais, revistas e blogs a falta dos nomes de seus autores.  A Lei da Imprensa é clara e pesa a responsabilidade de seu conteúdo nos ombros dos responsáveis das publicações, como o é no caso dos editoriais anônimos, por exemplo.

Aproximam-se as eleições para a nova Diretoria e Conselho Fiscal da Sobrames-CE e, em aditamento às diversas manifestações de minha autoria, em comentários a postagens do nosso Blog e no “quase prefácio” da “Antologia” da Sobrames-CE de 2013, além de várias correspondências com amigos da entidade, é meu desejo, neste momento, tecer alguns comentários tangentes ao assunto em epígrafe.

Não me foi revelada a composição da Comissão Eleitoral, responsável pela elaboração do Edital, mas certamente o será por pessoas idôneas interessadas em manter o alto nível produtivo e preclaro da nossa atual Presidente. Não permitirão qualquer deslize que viria a conspurcar o bom nome de nossa agremiação ou desfazer coisas já consolidadas ou mesmo deixar com que se apresentem candidatos incompetentes, mais interessados em se autopromover e capazes de se coroar com os louros daquilo que já foi feito.

Filas e horários sem tumulto, com fiscalização contínua, listas de presença e outras medidas, como se faz nas eleições brasileiras em todos os níveis, uma clara definição quanto à validade de votos de enfermos e viajantes ou residentes, de membros titulares, por carta ou procuração válida escrita ou verbal testemunhada, são praticamente imprescindíveis no caso de haver mais de uma chapa. Deverão somente votar membros titulares há mais de um ano e  em dia com suas anuidades. Não poderão votar familiares não membros titulares, menores de idade, amigos e visitantes.

Na minha concepção democrática a lista de votantes deverá ser tornada pública, incluindo qual chapa foi escolhida. SOU RADICALMENTE CONTRA O VOTO SECRETO EM QUALQUER INSTÂNCIA. Excluo deste contexto, evidentemente, o desapreço de eleitores por algum componente da chapa, a fim de evitar constrangimentos. Em caso de votação oral, como já vi em reuniões acadêmicas, mesmo não havendo aclamação, são altamente prestigiadas as “declarações de voto” que, muitas vezes, mudam a orientação dos eleitores que poderão, em segundo turno, alterar seu voto.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

ENTREGA DE DOCUMENTOS DA SOBRAMES-CE

Dra. Celina Côrte Pinheiro - Atual Presidente da Sobrames-CE

Dr. Emanuel Carvalho - Primeiro Presidente da Sobrames-CE

 

Prezado(a) sobramista,

                Comunicamos que na próxima segunda-feira, 24/02/2014, às 16h, nosso colega sobramista e primeiro Presidente da Sobrames-CE, Dr. Emanuel Carvalho, procederá à entrega oficial dos documentos relativos à fundação da Sobrames.
                Você está convidado a participar desse importante momento na história de nossa entidade. Teremos prazer em recebê-lo em nossa sede, na Rua Bárbara de Alencar, 1329-B - Aldeota. Por gentileza, confirme sua presença pelos telefones (85) 3244 3807 ou 8616 8781, com Srta. Luana.

Atenciosamente,
Celina Côrte Pinheiro
Presidente da Sobrames-CE

sábado, 15 de fevereiro de 2014

POR: SEBASTIÃO DIÓGENES - O DIVINO E O DIABÓLICO NA BEIRA-MAR

                                 


Dr. Sebastião Diógenes- Médico e Tesoureiro da Sobrames-CE

 
                           O divino e o diabólico na Beira-mar

            Osório foi atropelado por um esqueite no calçadão da Praia de Iracema. A aguda proa do perigoso veículo rasgou a pele do tornozelo e lhe fraturou o perôneo, melhor dizendo, a fíbula, conforme a nomenclatura moderna. Passou dois meses sem as caminhadas. Como dói o perôneo! Recuperou-se do trauma físico à custa de placas e parafusos de titânio. Quanto sofrimento por causa de um esqueite! Ora, ora, que besteira! Isso não é nada, em  cidade onde não há civilidade!
            Ontem foi um dia especial. Osório vence o trauma psicológico e retorna à Beira- -mar. No início da noite ele chega ao lugar onde há menos veículos circulando no calçadão, bem ali, perto do Náutico.
            No calçadão, como que o esperando para uma saudação especial, há um animado forró pé de serra puxado por um trio familiar. Eles são do Rio Grande do Norte, vivem perto de Parnamirim. Dona Neide, a mãe, no triângulo; o menino Francisco, no zabumba; e a mocinha de 19 anos, na sanfona e nas cordas vocais. Uma graça!
            Valbeane usa um chapeuzinho de couro no alto da cabeça, quase sem abas, um pouco maior que o solidéu dos eclesiásticos. Toca e canta com alegria e charme. Nos intervalos, faz propaganda do DVD, cinco reais um disco, que aproveitassem a promoção. Osório se empolga e compra a mercadoria. A menina capricha tanto mais: “Minha vida é andar por esse país...” e espicha a sanfona branca de 80 baixos contra o peito jovem. Osório incomoda-se com a falta de pudor da sanfona, porque não lhe é função fazer arte de mamógrafo. Não se conforma com a impetuosidade do acordeão, não é coisa que se faça com busto de cardinal beleza e rijo de tão puro. No seu entendimento, isso é ofício das boas mãos.
            Bem diz a sentença popular: “o que é bom, dura pouco.” O trio encerra o espetáculo porque o espaço vai ser ocupado por dois comediantes. Osório reinicia a caminhada em direção ao mercado dos peixes com a esperança de se dar bem. Mais tarde, estará na casa dele a ouvir as músicas de Valbeane, que, para isso, comprou o disco. E ela, em carne e osso, muito especialmente em carne, cansada, porém dengosa, a receber os afagos do namorado.
            - Cuidado, Paixão!...  Estão magoados, da sanfona!
Sebastião Diógenes.
15-02-2014.

            

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

POR: CELINA CÔRTE PINHEIRO - FAIXA ETÁRIA

Dra. Celina Côrte Pinheiro -  Médica e Presidente da Sobrames-CE


FAIXA ETÁRIA

                                          Celina Côrte Pinheiro

            Ele aprendeu e adorava a expressão. Useiro e vezeiro, em qualquer oportunidade, utilizava-a orgulhosamente, na certeza do sucesso, fosse diante de quem fosse. No restaurante onde trabalhava, quando o cliente lhe perguntava se o pedido feito iria demorar, ele estufava orgulhosamente o peito, balançava a mão de um lado para o outro e respondia raciocinando: “Huumm... Pela hora do seu pedido, acredito que demore na faixa etária de meia hora...”. O sorriso de um ou outro cliente mais erudito aumentava-lhe a confiança para continuar se utilizando da expressão “faixa etária” na certeza de sucesso. Os menos aquinhoados no vernáculo se impressionavam com aquele palavreado elegante e comentavam entre si sobre a inteligência daquele moço, tão simples, trabalhando como garçom. Deveria tentar outra profissão na área do Direito ou da Medicina... Jesuíno ficava feliz com a ideia. Quem sabe!!!
            O futuro parecia lhe sorrir quando conheceu Marilena. O pai, dono de uma farmácia no vilarejo e, além disso, vernaculista e escritor, poderia ser a alavanca de que necessitava para sair daquele futuro sem emoções como intermediário entre o cliente e o cozinheiro. Se não fosse pelas gorjetas... Quem sabe a Medicina ou o Direito poderiam se tornar realidade em sua vida. Até mesmo a Faculdade de Farmácia, com a garantia de um futuro ainda mais concreto. A paixão foi mútua e ele, entusiasmado, convidou-a para um cinema e depois um sorvete. Prometeu que antes de nove e meia da noite, ela estaria de volta à sua casa. Jesuíno não queria dar ao futuro sogro (já o via assim) nenhum motivo de desagrado. A mocinha sorriu confiante e fez a pergunta fatídica:
            - A que horas você passará em minha casa? - ela falava tão bem quanto o pai e herdara seus dotes de escriba. Redação primorosa e elogiada no colégio.
            O moço, caprichando na voz e na fala para impressionar Marilene, respondeu: "Na faixa etária de umas seis..."
            Nem teve tempo para completar a frase. A moça se desenxabiu na hora. Desconversou e disse:
            - Não, não! Lembrei-me agora... Um compromisso inadiável. Fica para outra vez...
            Ele ainda quis dizer alguma coisa mais, contudo Marilena saiu apressada e já quase dobrava a esquina. O moço ficou cismando, cismando, preocupado. Talvez ela tivesse achado cedo demais ou a timidez da moça a tivesse feito recuar diante do convite... Quem sabe, na faixa etária de uma semana, seria o tempo ideal para voltar a convidá-la.



                                                                      *****

POR: WILLIAM MOFFITT HARRIS - MINHAS ESPIRRADEIRAS

Dr. William Moffitt Harris - Médico e Membro da Sobrames-CE
Minhas espirradeiras 1

William Moffitt Harris 2, Campinas

Desde pequenino, fui educado a admirar a Natureza e a cuidar dela. Herdei também dos meus pais um grande amor pelas plantas, flores e árvores em geral, e aprendi com eles a cuidar razoavelmente bem do jardim.
Há uns quinze anos, passeando pelo Parque José Affonso Junqueira, ao lado do Pálace Hotel em Poços de Caldas, deparei-me com três exemplares de espirradeiras (Nerium oleander), duas cor-de-rosa e uma branca. A branca, aliás, não era de um branco alvíssimo, mas de um leve tom de verde bem clarinho. Eram arbustos lindos!
Meu pai sempre me alertara para o fato de que esta planta era muito venenosa e que uma folha mastigada e deglutida poderia matar uma pessoa de setenta quilos. Anos mais tarde, confirmei este dado ao manusear livros de botânica e folhetos distribuídos pelo governo federal, alertando a população no tocante a plantas ornamentais venenosas. Cheguei a distribuir dezenas destes folhetos a amigos, parentes e sócios da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São PauloAFPESP, na Colônia de Férias de Poços de Caldas. Este arbusto realmente contém, principalmente em suas folhas e flores, um glicosídeo cardiotóxico perigosíssimo, comum a várias espécies da nossa flora nativa.
Chamou-me a atenção a presença de muitas crianças brincando pelo parque, algumas em bandos e outras acompanhadas pelas babás ou os pais. Algumas corriam pelo gramado que rodeia as inúmeras espécies vegetais, muitas inclusive identificadas com plaquinhas contendo seus nomes científicos e populares, além de informar sua procedência.
Percebi imediatamente o perigo e, como havia vários jardineiros podando a grama e os tufos de Chlorophyton, acabei abordando um velhinho de chapéu surrado que aparentemente supervisionava o grupo. Ele não tinha a menor idéia sobre o veneno. Identifiquei-me como médico e professor de saúde pública e sugeri que mandasse arrancar todos os galhos e todas as folhas do tronco abaixo de um metro e meio dos três arbustos. Daí a dois dias, voltei ao local e fiquei muito contente em averiguar que haviam seguido minha orientação de forma exata.
Como volta e meia ia a Poços para me submeter à crenoterapia nas águas termais sulfurosas devido a uma artrose que infernizava minha vida, nunca dispensei uma voltinha naquele parque maravilhoso. Por aproximadamente um ano e meio, percebi que seguiam ainda a orientação dada e, dentre outras árvores e arbustos, as três espirradeiras destacavam-se pelo seu porte majestoso e simetria na disposição dos galhos, folhas e flores.
Um dia, percebi que não mais sofriam a poda recomendada e procurei o velhinho de chapéu surrado. Não estava mais lá. Talvez tivesse se aposentado. Conversei com dois outros jardineiros que olharam para mim como se eu estivesse falando grego. Eram novatos no ofício e, pelo visto, eram mais varredores de gramados do que técnicos em jardinagem.
A uma das cartas que escrevi ao prefeito recém-empossado, Prof. Dr. Paulo Tadeu Silva D’Arcádia, médico veterinário, professor titular da Universidade Estadual de Minas Gerais, anexei alguns exemplares do folder e da prancha de um metro por sessenta centímetros que continha a mesma informação sobre plantas domésticas venenosas. Expliquei, em linhas gerais, o que estava acontecendo com relação às espirradeiras do Parque José Affonso Junqueira. Sugeri também que solicitasse, ao órgão federal responsável, exemplares daquele material para afixar e distribuir nas escolas do município.
Alguns meses depois, ao voltar ao local, fiquei com o coração compungido. Alguém da nova administração havia mandado “arrancar o mal pela raiz” e minhas lindas espirradeiras não estavam mais lá...



1 Apresentado ao ramal paulista da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES durante a 178a Pizza Literária (19/05/05), na III Jornada Nacional da SOBRAMES – CE em Fortaleza (11/08/05) e nas seguintes reuniões do Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL 5a (25/03/06 - 1a do Núcleo de Sorocaba), 16a (5/08/06 - 5a do Núcleo de Santos) e 31a (10/02/07 – 5a do Núcleo de S. Caetano do Sul)
2 Médico Pediatra Sanitarista, Professor Doutor aposentado da USP; Coordenador Estadual do MMCL.