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domingo, 19 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (31º dia).

Diário de uma quarentena (31º dia).
O “gatoso”, a quarentena e o mesversário
Por Arruda Bastos

A minha quarentena completou mesversário. Não realizei festa, passou batido, não teve bolo nem cantei parabéns. Só comemorei a certeza de que estou do lado da ciência, da Organização Mundial da Saúde e de todo o mundo civilizado que adotou o isolamento social e agora colhe os primeiros frutos com a diminuição dos casos da Covid-19. Espero que aqui também possamos ter o mesmo resultado.

O mesversário é a repetição do dia a cada mês em que se deu determinado acontecimento. Num sentido mais geral, refere-se à comemoração da periodicidade mensal de algum evento importante, como o nascimento de alguém. No meu caso, o dia em que comemoro trinta dias de isolamento social.

Com já pertenço ao grupo dos “gatosos”, ou seja, um gato idoso, não posso mesmo facilitar e nem dar canja para o coronavírus. Por isso, estou cumprindo religiosamente esse período em casa e trabalhando mais do que o habitual. Ministrei dezenas de aulas virtuais, elaborei projetos, formatei uma nova turma do MBA de Gestão em Saúde da Unichristus e até dei continuidade ao meu Mestrado em ensino na Saúde e Tecnologias Educacionais.

Não esqueci meu compromisso literário de escrever o “Diário de uma quarentena”, que são crônicas que diariamente são publicadas no Blog da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE) e que também posto nas minhas redes sociais. Mesmo com pouco tempo e muitas vezes abalado com as notícias da pandemia, para mim é uma questão de honra dar vazão ao que meu coração sente.

Hoje, 19 de abril de 2020, acordei pensando no tempo e no que já escrevi anteriormente em uma outra crônica que publiquei quando do meu último aniversário. Na época, falei que o tempo é muito curto para aqueles que não sabem amar. Para os que vivem a se lamentar, todavia, o tempo é longo; e para os que vivem a amar, como eu, mesmo no tempo de pandemia, o tempo é eterno.

Não existe nada mais precioso do que o tempo. Não temos o direito de desperdiçá-lo. Portanto, vamos viver intensamente esse momento e aproveitar ao máximo. A vida não nos dá oportunidades de replay. Não deixe o seu tempo voar pela janela, mesmo durante a quarentena, pois ele não vai voltar.

É com esse sentimento de aproveitar o tempo que chego ao mesversário e, aí sim, comemoro os primeiros trinta dias transcrevendo o título de todas as crônicas escritas nesse contexto e o link do Blog da Sobrames. Falei de tudo que me deu na telha, não censurei as minhas inspirações. Escrevi desde a besteira da “A quarentena da caneta Azul” até “Uma odisseia na terra dos vírus gigantes”, da “Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol nascer” a “Depois da tempestade vem a bonança”.

Considero minhas crônicas como filhas e, como tal, não tenho predileção por nenhuma. Todas elas e cada uma foi escrita com muito amor e do fundo do meu coração. Espero sinceramente que todos gostem e que nós possamos sair dessa incólumes para, no futuro, que espero não seja distante, comemorarmos juntos lendo essa crônica no lançamento do meu livro “Diário de uma quarentena”. Tenho fé!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Esta foi a do dia 31. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

Projeto “Quarentena Literária” - 30 primeiras crônicas de minha autoria - “Diário de uma quarentena”: Leiam aqui, nos links da Sobrames e em outras redes sociais.

*1º dia: O início de uma longa travessia
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/diario-de-uma-qua…
*2º dia: O tédio, o vento e a rede na varanda
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/diario-de-uma-qua…
*3º dia: Depois da tempestade vem a bonança
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/diario-de-uma-qua…
*4º dia: Vão-se as barbas e ficam os dedos
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/pdiario-de-uma-qu…
*5º dia: Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol nascer
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*6º dia: Cabeça oca, vazia de tudo, sem pensamento
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*7º dia: Crianças são presentes de Deus
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*8º dia: Por favor, fiquem em casa
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*9º dia: Uma odisseia na terra dos vírus gigantes
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*10° dia: Mãezinha, que falta a senhora me faz
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*11° dia: Meu amigo de fé e um irmão camarada: o celular
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*12° dia: Armagedom > http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*13° dia: Dia da mentira em tempo de coronavírus
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*14° dia: Se a gente colocar a nossa fé em ação, vai dar tudo certo
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*15º dia: Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*16º dia: Farinha pouca, meu pirão primeiro
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*17º dia: O domingo, a Lei de Chico de Brito e a dor no mucumbu
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*18º dia: Aniversário virtual e o amor são formas de destronar o coronavírus
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*19º dia: A inspiração de Roberto Carlos na rotina de uma quarentena
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*20° dia: Há luz no fim do túnel?
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*21° dia: Do barbeiro amador ao isolado sim, sozinho jamais
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*22° dia: Macambúzio e sorumbático com as lembranças da Semana Santa
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*23° dia: O testamento do Judas e o “Cachorro Magro”
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*24° dia: Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim?
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*25° dia: Fortaleza, a “arretada” loira desposada do sol
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*26° dia: A quarentena da caneta Azul
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*27° dia: Naquela mesa tá faltando ele
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*28° dia: O inoxidável e futuro pai do ano
> http://blogdasobramesceara.blogspot.com/…/por-arruda-bastos…
*29° dia: O Mestrado virtual >
http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_18.html
*30° dia: A dor de uma partida >
http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2020/04/por-arruda-bastos-diario-de-uma_83.html

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sábado, 18 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (30º dia)

Diário de uma quarentena (30º dia)
A dor de uma partida
Por Arruda Bastos

Hoje, 18 de abril, completo trinta dias de isolamento social. Seria uma boa oportunidade para fazer uma retrospectiva de todo esse período de quarentena. Falar das dificuldades, da rotina, das atividades, dos encontros virtuais, dos altos e baixos, das angústias e da esperança, apesar das notícias cada vez mais desalentadoras da evolução da Covid-19 na nossa querida cidade de Fortaleza.

Entretanto, os insondáveis desígnios de Deus me levam a escrever uma crônica chorosa com a dor de uma partida sem despedida de um grande amigo. A notícia chegou pela madrugada, pois, como faço todos os dias no período de isolamento, fui ler os grupos de whatsapp, principalmente à procura de respostas às minhas indagações postadas na noite anterior.

Duas pessoas em particular eram alvo da minha apreensão. Um amigo e primo da minha querida Marcilia, que se encontra internado na UTI do IJF vitimado pelo coronavírus e um camarada muito gente boa, que é meu vizinho há aproximadamente vinte e cinco anos, e que há poucos dias sofreu um AVC e se encontrava internado em estado grave na UTI do Hospital Prontocardio.

Com relação ao meu primeiro amigo, a esposa respondeu que ele estava na mesma. No que concerne ao meu vizinho, a mensagem causou-me uma grande comoção e tristeza, pois comunicava o seu falecimento.  Adauto era um homem de fibra, de uma capacidade de trabalho invejável e uma dignidade a toda prova.  Muitas vezes, por ser muito franco, deixava transparecer certa antipatia, o que era só de fachada, pois tinha um grande coração.

Partilhamos juntos muitas ações e gestões no nosso condomínio. Formamos durante muitos anos uma dupla inseparável. Ora eu era o síndico e ele o sub e muitas outras vezes o contrário. Sempre que o encontrava era aquele papo descontraído e, muitas vezes, com seriedade devido às dificuldades comuns no dia a dia.

Tinha por ele uma grande amizade e respeito e minha maior frustração e tristeza é de não ter tido a oportunidade de me despedir como ele merecia. A pandemia tem acarretado sofrimento e muita dor a todos nós. Para Adauto, como homem justo, agora é gozar da paz do Senhor.

Que Deus e Nossa Senhora possam confortar toda a família e os amigos.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Esta foi a do dia 30. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

sexta-feira, 17 de abril de 2020

POR ALCINET ROCHA SOARES: SOM DE QUARENTENA


SOM  DE QUARENTENA

Silêncio sempre me foi benvindo
E em quarentena ainda mais que dantes
Eu doendo ou de alegria sorrindo
Expõe-se revelador e instigante

Faz-me entender o linguajar da terra
Plantas, bichos...os pródromos da chuva
Dos já idos, som de amor que reverbera
E que na vida a reta é às vezes curva

Embebe-me as páginas do existir
Pra diuturnamente eu consumir
Os mil quilos de cores e coragem

Faz-me a sede de esperança avançar
Em Deus achar meu ponto de ancoragem
E com Sua frequência harmonizar

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (29º dia).

Diário de uma quarentena (29º dia).
O mestrado virtual
Por Arruda Bastos

Estamos mesmo fazendo história. Durante o nosso isolamento social, no dia de hoje, participei de mais um encontro do mestrado em educação em saúde da Unichristus. Foi tudo de forma virtual pelo sistema Google Meet, com a coordenação dos competentes professores Karla Nascimento e Arnaldo.

Tudo começou por volta das 14 horas e na programação constava a apresentação dos projetos de pesquisa de todos os mestrandos. Nesse final de semana, a parte do corpo que vai ficar mais dolorida será o bumbum de tanto ficar sentado olhando para o computador. Entretanto, é por uma boa causa, pois, assim, não vamos atrasar o nosso cronograma.

O bom mesmo foi presenciar minha querida filha Lia, que é minha colega de turma no mestrado, dar uma aula bem dada quando apresentava a sua pesquisa de criar um aplicativo voltado para a nefrologia pediátrica, esta sua especialidade. O certo é que todos apresentaram com muita competência seus projetos.

O Mestrado Profissional em Ensino na Saúde e Tecnologias Educacionais é um curso de Pós-Graduação Stricto Sensu, recomendado pela CAPES e homologado pelo Ministério da Educação. O curso tem como objetivo geral formar recursos humanos qualificados, capazes de oferecer subsídios andragógicos, científicos e teórico-conceituais para o ensino em saúde, visando contribuir para o desenvolvimento de atividades de educação e práticas de atuação nos diferentes níveis de atenção na saúde.

Como já está tarde, pois a aula só terminou no início da noite, e consequentemente não tive condição de escrever a crônica antes, colei e copiei o parágrafo anterior quase na totalidade da página da nossa instituição de ensino. Outros detalhes do mestrado quem quiser saber que entre no site da pós-graduação da Unichristus.

A minha apresentação ficou para a manhã desse sábado, quando vou expor o meu projeto de desenvolvimento de aplicativo móvel para incentivo da produção literária de estudantes de medicina. A tecnologia vem trazendo um bem para a literatura. Pouco a pouco, os livros vão incorporando ferramentas tecnológicas e as novidades da informática amplificam o universo da leitura e da produção literária. Por isso, é salutar que exista muitos aplicativos destinados a quem deseja ler e escrever.

Sabemos também que a decisão de escrever nos dias atuais esbarra quase sempre na falta do hábito, de tempo e de inspiração. Para os estudantes universitários, envolvidos no dia a dia de sua formação, isso é preocupante, pois os não afeitos à leitura podem sofrer de diversos distúrbios e perdem a chance de introjetar virtudes fundamentais para o profissional, principalmente a empatia, o humanismo e a visão holística do mundo.

A literatura, quando sorvida e incentivada, pode produzir mudanças consideráveis no comportamento dos seres humanos. Para aqueles afeitos à leitura, um incentivo a mais pode levar ao despertar de novas capacidades e à descoberta de talentos ainda latentes; para os noviços na arte literária, pode representar o desabrochar de enrustidos.

O descarrego das tensões do dia a dia em uma arte é fundamental para suplantar as dificuldades. Os estudos demonstram que o envolvimento nas artes durante o curso de Medicina é valioso no desenvolvimento de habilidades fundamentais para os futuros profissionais, como o pensamento crítico, a observação, a comunicação e a prevenção de algumas doenças.

Vou terminando por aqui, pois tenho que acordar cedo para minha apresentação. Quem quiser mais detalhes do meu projeto de pesquisa que espere até o final do curso, quando da defesa da minha dissertação de mestrado. Espero mesmo é que tudo termine logo para que possamos nos encontrar novamente com os colegas e os professores na sala 201 do campus Parque Ecológico da Unichristus

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Esta foi a do dia 29. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

quinta-feira, 16 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena 28º dia


Diário de uma quarentena 28º dia
O inoxidável e próximo papai do ano
Por Arruda Bastos

Muitas pessoas perguntam porque na maioria das minhas cônicas eu coloco a data. Eu costumo responder afirmando que o momento que estamos vivendo é de tamanha magnitude que devemos identificar todas as informações possíveis, pois estamos fazendo história e, sem dúvida, vamos ser lembrados durante muitos séculos como os sobreviventes de 2020.

Então, continuando, confirmo que hoje é 16 de abril, vigésimo oitavo dia de minha quarentena e, como escrevi em crônica anterior, não devemos nos entregar aos caprichos do coronavírus e ficar abatidos ou deprimidos. Muito pelo contrário, devemos manter nossa rotina e comemorarmos, mesmo fisicamente distantes, todas as datas importantes da nossa família.

Para isso, não nos faltam tecnologias, aplicativos e uma parafernália de opções. Aqui em casa todos combinamos uma festa surpresa para o meu genro Evalto, um dos mais estrogónoficos e inoxidáveis homens que conheço. Esposo da minha querida filha Lívia, pai do meu netinho Lucca e aguardando a Lina, que chega em agosto.

A descoberta do aço inoxidável foi um golpe de sorte do inglês Harry Brearley, em 1907. Ele trabalhava em seu laboratório para as companhias de aço. Os fabricantes de armas haviam pedido que ele criasse uma liga mais resistente ao desgaste, pois o interior dos canos das armas se esfarelava com as balas. Brearley misturou metais em diversas doses até notar que certa liga não sofria corrosão por oxigênio, não enferrujava, daí surgiu o aço inox.

Depois do inoxidável, lembrei-me do discurso que escutei há alguns anos e que fez muito sucesso no meio humorístico. Aproveitei, então, para rever o vídeo que me inspirou a saudar meu genro Evalto. A saudação aconteceu na cidade de Quixeramobim por parte de um popular com alcunha de “Carro Velho”, o Rei do Elogio. O programa era do apresentador Carlinho Eloi. A saudação foi assim: “você é uma pessoa mediocrática, uma pessoa retombante, uma pessoa cabriocárica, estrogónofico e inoxidável”.

Nesse tempo de pandemia, qualquer inspiração vale, e o importante mesmo é não nos deprimirmos. Se meu leitor não foi abençoado com genros semelhantes aos meus, tenha fé que você vai encontrar depois da pandemia. Finalizando, e retornando ao Evalto, desejamos nessa data tudo de bom, saúde, paz e felicidades. Sabemos que Deus tem um plano maravilhoso para sua vida, da Lívia, do Lucca e da Lina. Feliz aniversário!

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Esta foi a do dia 28. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

POR DIONE MOTA: O médico e o Covid

Poema : O médico e o Covid

Na beira do leito
A vontade de curar
Tudo é incerteza
Risco de se infectar
Os seus contaminar
Não pensa nisso agora
O importante é aquele paciente
À sua frente, aflito
Nos olhos o desespero...
Não pode ceder ao cansaço
Busca todas as pesquisas
Tem que manter a esperança 
Vai usar tudo o que já deu certo
Depois da tempestade vem a bonança 
E diz para o paciente
O que já disse pra si mesmo:
Tenha fé, Deus há de lhe curar.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (27º dia)

Diário de uma quarentena (27º dia)
Naquela mesa tá faltando ele
Por Arruda Bastos

Acordei saudoso no dia de hoje, 15 de abril de 2020, recordando do meu amado pai, que aniversaria nessa quarta-feira. Se não estivesse de quarentena, encontraria com toda a família no jazigo muito bem cuidado do Parque da Paz.  Minha amada mãe, enquanto viva, capitaneava e até exigia a presença de todos. Em sua homenagem, vou postar abaixo uma crônica que escrevi em 2017 quando do seu centenário de nascimento.

Para celebrarmos um século do seu nascimento, escrevo essa crônica em memória do meu querido pai, da falta que ele faz e do exemplo que deixou. Sua saga iniciou em Saboeiro, no interior do Ceará, em 15 de abril de 1917, e desde cedo vivenciou as agruras do sertão, da seca e de uma precoce orfandade paterna. Sua gênese representou o alvorecer do meu herói e uma vida de seriedade, coragem, honestidade, fé em Deus e amor. Euclides da Cunha escreveu que “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Assim era meu pai: um forte.

Em todas as famílias temos tradições e para que elas existam é necessário tempo e forte motivação. Uma delas, que participo desde criança, é o almoço dominical na casa dos meus pais. A família é numerosa, mamãe já tem bisnetos e mesmo assim a tradição se mantém. Meu pai foi o inspirador e era o grande motivador desse costume. A mesa de jantar sempre foi um dos destaques de nossas casas.

Com a passagem terrena de papai, poderia até se pensar no rompimento dessa tradição, mas felizmente ela persiste, a diferença é que naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim. Como forma de amenizar sua ausência e ter sempre por perto a lembrança do seu amado esposo, minha mãe tomou a iniciativa de colocar um quadro com sua foto próximo da cabeceira da mesa e de manter sua cadeira sempre vazia.

A emoção de ser meu pai o protagonista dessa crônica é indescritível; não é fácil falar de quem marcou nossa vida com lindas e indeléveis recordações. Quando criança, a sua figura austera e altiva era para mim como um gigante a me proteger; na juventude aquele provedor que trabalhava diuturnamente para dar à família a melhor condição de vida possível; na maturidade ganhei um amigo, parceiro, colaborador e mais que seu filho eu fiquei seu fã.

Na literatura encontro inspiração para expressar do fundo do meu coração o sentimento que tenho com relação à figura do meu pai. Ele era um esposo fiel e dedicado, um pai exemplar e ciente da responsabilidade de criar nove filhos em um período de grande dificuldade, um filho carinhoso e protetor da minha querida avó, um irmão e tio sempre aberto a acolher aqueles que necessitavam, uma qualidade atestada pelos muitos sobrinhos e irmãos que ajudou.

Meu pai tinha uma saúde de ferro, não recordo de nenhum grave problema, nunca se hospitalizou. Fumou durante um período de sua vida e, por insistência e amor à família, parou e nunca mais voltou. Era um motorista sem muita experiência, pois passou a dirigir já na meia idade. Teve várias Kombis, único veículo que comportava toda a família e que nos levava diariamente em algazarra ao colégio. Como servidor público federal, honrou todas as funções e cargos que ocupou, um exemplo de dedicação e compromisso com a sua repartição. São muitas lembranças!

Recordo da sua elegância, do terno de linho branco, do sapato sempre engraxado, do cabelo com brilhantina e barba sempre bem cortados, do charme do seu bigode, do tingimento que usava quando os cabelos brancos surgiram, do pijama de listras que vestia em casa, das festas e casamentos da família que, com muito esmero, promovia, do cuidado de não ser pego no flagra como Papai Noel e até das belas curvas da sua letra. Lembro também de pequenos gestos como os presentes e guloseimas que de vez em quando comprava e da sua impoluta figura abrindo o portão de casa todos os dias voltando do trabalho trazendo aquele gostoso pão da Padaria Ideal.

Ah! Que saudade dos sábados pela manhã quando papai chegava com mamãe em nossas casas com as frutas da semana. Digo que cada um dos nove filhos tem recordações próprias. O importante é que todas elas são sempre de um pai e homem maravilhoso, fato que nos faz agradecer diariamente a benção de termos nascido seus filhos. A minha santa mãe, que com dedicação, amor e devoção encaminhou nossa família para o bem, o nosso eterno reconhecimento. Ao Altíssimo, o agradecimento pela sua força e por permanecer entre nós com lucidez e saúde.

Meu pai era um homem de muita fé, um cristão convicto, um companheiro dos terços que minha mãe rezava todos os dias, principalmente durante a madrugada (no mínimo nove, um para cada filho). Sempre cumpridor das suas obrigações de católico, lembro do puxar dos dedos para nos acordar no domingo muito cedo para irmos à missa. Ele formava, com minha mãe, um santo casal e nessa área foi novamente um exemplo. Sempre dizia que não queria dar trabalho a ninguém e quando chegasse a sua hora, que ela fosse rápida. Seu pedido, infelizmente para nós, foi atendido em 01 de setembro de 2001.

Meu herói executou todas as missões que Deus lhe confiou com ações excepcionais, sempre com responsabilidade, dedicação, coragem e amor. Ultrapassou os momentos de dificuldades que viveu, tendo como base princípios morais e éticos. O seu exemplo é um farol que ilumina a todos que o conheceram. Sei que muitos dos meus leitores tem pais semelhantes ao meu e é a eles que também dedico essa crônica. O padre António Vieira escreveu que: “Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras”. Assim foi meu pai.

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Esta foi a do dia 27. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).