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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

GALERIA DE FOTOS DE EX-PRESIDENTES DA SOBRAMES-CE


                                                                CONVITE

No dia 30/10/2013, às 19 horas, inauguraremos nossa Galeria de Fotos de Ex-Presidentes, na sede da Sobrames-CE, na Rua Bárbara de Alencar 1331-B. 

Após esse importante acontecimento, prosseguiremos com a solenidade e coquetel na Av. Rui Barbosa nº 1880, esquina com Bárbara de Alencar, vizinho à nossa sede.

Contamos com sua presença e a de seus familiares, prezado sobramista, para que a festividade tenha mais brilho.

Dra. Celina Côrte Pinheiro
Presidente da Sobrames-CE

terça-feira, 8 de outubro de 2013

POR: CELINA CÔRTE PINHEIRO - PROGRAMA "MAIS MÉDICOS"



                                         
Dra. Celina Côrte Pinheiro - Médica e Presidente da Sobrames-CE
 Publicada no DN em 22/09/2013
              


            O Programa de Governo “Mais Médicos”, gerador de tantas polêmicas, fez-me voltar no tempo e recordar minha participação no Projeto Rondon, em 1972, quando já doutoranda. A meta daquele programa era inserir profissionais de diferentes áreas, sobretudo a médica, em cidades brasileiras desassistidas e de poucos recursos. Fui designada para Corguinho, no Mato Grosso. Prometeram-nos o deslocamento por avião. Exultei! Contudo, de Ribeirão Preto a São Paulo, conduziram-nos de trem, por horas a fio, em um percurso que seria feito confortavelmente, já àquela época, de ônibus, em apenas quatro horas. Não havia assentos disponíveis e viajei a noite toda sentada sobre minha mala. Apenas lá pelas cinco ou seis horas da manhã, consegui sentar-me em um dos bancos desocupados pelos passageiros. De São Paulo a Corguinho, fomos de ônibus. No total, quase dois dias de viagem desconfortável e exaustiva. Porém, nosso sonho de ajudar e colocar em prática o que havíamos aprendido, falava mais alto. Foram 45 dias de trabalho, quando pude perceber que, por trás do bem que fazíamos, havia, sobretudo, o desejo político de manutenção do poder. A população era carente de tudo e não possuía noções mínimas de educação sanitária. A cidade, por sua vez, destituída de saneamento básico. O experiente prefeito sugeria o acréscimo de complexo B ao nosso receituário onde predominavam os vermífugos. Nosso raciocínio se afunilava pela monotonia de diagnósticos. Tampouco havia condição de algo mais... Nossa presença se constituía uma bênção para a população extremamente carente e sem noção de que as medidas eram meramente paliativas. Satisfazia-se com pouco. Saímos dali, enaltecidos pelos moradores e felizes com nosso exercício de solidariedade. Eles, por sua vez, continuariam a ingerir água contaminada e a ter diarreia...

            No atual Programa, diferenças gritantes no transporte e no receptivo. No mais, talvez a mesma farsa e o mesmo viés eleitoreiro. Comprove-se sua efetividade através da comparação honesta, sem mascarar a realidade, entre os indicadores atuais e após dois ou três anos do programa. Sonhamos com a real melhoria da qualidade de vida da população!



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domingo, 6 de outubro de 2013

POR: SEBASTIÃO DIÓGENES - A ENFERMIDADE DO DR. SEVERO


Dr. Sebastião Diógenes - Médico e Tesoureiro da SOBRAMES-CE
 
A enfermidade do Dr. Severo

      A enfermidade do Dr. Severo começou tempos depois da morte da árvore do Morro do Calabar. Tratava-se de uma árvore enorme, de tronco excessivo, e ocupava o oitão do edifício onde a filha morava. Era um baobá de semente africana! Antigamente, antes da especulação imobiliária, havia um grande terreiro de candomblé e a árvore era considerada o santuário sagrado pelos frequentadores de várias gerações de afrodescendentes.

      Arlete, pediatra e naturalista, amava aquela árvore desde criança! Em um determinado dia observou que ela estava secando, morrendo aos poucos. Ficou muito triste e passou a fazer diligências. Indagava a um e a outro o que havia acontecido com o lenhoso vegetal. Ficou indignada quando soube a pavorosa verdade.

      Ao julgar que a árvore estava pondo em risco a estrutura do edifício da filha, Dr. Severo furou o lenho com a pua e injetou-lhe o veneno. Imediatamente, sobreveio ao pensamento de Arlete que o impiedoso arborecida iria, um dia, se dar mal. Na época, chegou a comentar o caso com o marido, bem antes da doença se instalar no parente. O companheiro não deu crédito ao mau presságio da devota dos fenômenos sobrenaturais, disse-lhe apenas que era bobagem.

      Dr. Severo era um profissional liberal bem sucedido, chefe de família exemplar e de agradável convivência social. Era um homem cordial e respeitava os códigos. Causou, portanto, surpresa geral o delito perpetrado.

      Os primeiros sintomas da moléstia se manifestaram na escrita. Arlete foi a primeira a observar-lhe a alteração, a letra miúda e tremida. Depois, as mãos começaram a entortar. Pensou em Parkinson. Logo em seguida, lembrou-se da árvore sagrada do candomblé que fora executada. Veio-lhe, novamente, ao pensamento a ideia do  presságio lúgubre, que algo ruim aconteceria ao desatinado dentista, um cirurgião que havia sido ávido na prática das extrações. Observadora obstinada, ela sempre tem associado o quadro clínico do paciente com as agonias de morte do venerável baobá.

      A despeito de exames médicos realizados nos centros mais avançados do país e do exterior, a doença tem cursado o seu itinerário sombrio. Até hoje os especialistas consultados não fecharam o diagnóstico. Apresentaram como hipótese mais provável a doença de “Parkinson like”. Arlete tem discordado, continua argumentando com veemência que somente ela sabe o misterioso diagnóstico: “a vingança do baobá”.

     Falta consistência à tese fantástica de Arlete. Na Amazônia milhares de árvores são ceifadas diariamente e os criminosos não vão para a cadeia nem ficam entrevados. Arlete defende-se. Ficam-nos impunes porque a justiça dos homens é falha nesta parte do planeta. E não contraem entrevação nas junturas porque, com fazer parte das florestas, tais árvores jamais atuaram em celebrações de candomblé. Não possuem, por conseguinte, a essência da punição.

      Arlete sempre tem advertido as pessoas sobre os malefícios advindos da destruição das coisas sagradas. Para ela o caso do Dr. Severo lhe parece muito claro, pois, cliente da superstição, acredita piamente nos enigmas da vida. E um deles ajuda a fechar o diagnóstico do enfermo, como se fora um exame de imagem de alta resolução: “O enigma da vingança da árvore sagrada do Morro do Calabar”.

      Esse é o diagnóstico definitivo do paciente, à luz das crenças de Arlete.

      E o pior desse enredo, é que ainda tem gente que acredita na mística!        


Sebastião Diógenes.

2010.

 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

POR: ANA MARGARIDA - O AMOR NO LOUVRE

Dra. Ana Margarida Rosemberg - Médica e Secretária da SOBRAMES-CE




O Louvre sempre me causou fascínio.
A primeira vez que o adentrei foi pela porta da frente, pois não havia a famosa pirâmide.
Era novembro de 1987, quando, após uma viagem que eu e minha irmã Clêide fizemos pelas terras onde Cristo pisou, passamos em Paris. O que me chamou mais atenção no Louvre, além da Mona Lisa e da Vênus de Milo, foi um quadro de Leonardo Da Vinte, "Virgem das Rochas". Sem falar do espanto que senti, quando, pela vez primeira, vi rapazes usando brincos de mulheres, na fila de entrada. Aquilo me chocou. Os tempos mudaram... Depois, voltei ao Louvre inúmeras vezes com o Rose e sem ele. Achava que o conhecia razoavelmente bem. Como pude me enganar tanto! Desde o dia primeiro deste mês de setembro tenho ido todos os dias ao Louvre para estudar arte. Só agora me dou conta de sua imensidão. Estou completamente fascinada com tudo. Porém, vou falar de duas obras de CANOVA que pude apreciar hoje. "Psyché ranimée par le baiser de L' Amour" e "L'Amour et Psyché" . Ambas estão na Ala Denon, sala 4, Galeria Michelângelo.  Canova eternizou no mármore as personagens mitológicas, Eros e Psiquê. A história dos dois é narrada no livro O Asno de Ouro  de Apuleio. Psiquê era uma bela mortal por quem Eros, o deus do amor, ficou perdidamente apaixonado. A paixão de Eros despertou a fúria de Afrodite, deusa da beleza e do amor, mãe de Eros.
Afrodite com inveja da beleza de Psiquê mandou seu filho atingi-lá com suas flechas, fazendo-a se apaixonar pelo ser mais monstruoso existente. Mas, ao contrário do esperado, Eros acaba se apaixonando por Psiquê.
Depois de perder a confiança de Eros, por ter seguido os conselhos de suas irmãs invejosas, Psiquê vai reconquistá-lo. Para  isto, ela enfrenta quatro dificílimos trabalhos  que Afrodite, mãe de Eros, lhe dá. Quando Psiquê está indo ao encontro de Afrodite mostrar que havia conseguido realizar os trabalhos, cai em sono profundo e Eros vai socorrê-la. Perdidamente apaixonado, Eros pede ajuda a Zeus que faz com que Afrodite concorde com o amor dos dois. Hermes  leva Psiquê à Assembleia celestial e ela é tornada imortal. Finalmente, Psiquê ficou unida a Eros e mais tarde tiveram uma filha, cujo nome foi Prazer.
Em grego "psiquê" significa tanto "borboleta" como "alma". A borboleta é uma alegoria à imortalidade da alma, que depois de uma vida rastejante como lagarta torna-se um belo aspecto da primavera.
Ana Margarida Arruda Rosemberg
Paris, 6 de setembro de 2013.
 




terça-feira, 27 de agosto de 2013

POR: GERALDO BEZERRA - MAIS UMA VEZ, NÃO MORRI



Dr. Geraldo Bezerra - Médico e Membro da SOBRAMES-CE

MAIS UMA VEZ, NÃO MORRI

         Outra vez, a Maldita quis, tentou bravamente, levar-me. Testou-me, porém, com a graça de Deus e da Irmã Dulce – que tomei para minha madrinha, mesmo sem saber se ela aceitou – eu, mais uma vez, fui reprovado no teste de morrer.

         Em várias outras ocasiões, a Inimiga quis brincar de me matar, mas nos exames que fiz para morrer, não passei em nenhum. Se fosse como fazer vestibular para Medicina ou Letras, este GB tinha se lascado da primeira vez, mas morrer ainda não aprendi, com a graça de Deus.


         A primeira vez em que não morri foi de AVC isquêmico. Bicho bruto aquele. Uma dor de cabeça de estourar miolos me atacou e eu conheci que era a Megera a me visitar. Fiquei meio no desespero, mas dei ainda umas últimas instruções à esposa e filhos, que me acataram as ideias e assim fui salvo no Instituto Dr. José Frota. Fosse um desses GBs metidos a besta, talvez tivesse conseguido morrer em hospital de luxo, mas no Frotão, emergência é emergência mesmo e, pela primeira vez, não passei no teste de morrer. Não me arrependo, podem crer.

         Depois de mais de uma semana, esse amigo de vocês estava outra vez no conforto do seu lar, um pouco vivente, um pouco sobrevivente. Tinha mais duas semanas para ficar deitado e fui pensando na vida. Concluí que morrer é fácil demais. Eu é que fui um morredor incompetente. Bem, já que o contrário de morrer é viver, decidi viver bem feliz. Garanti, palavra de GB, que no primeiro dia em que pudesse sair de casa, ia diretinho comprar um relógio de algibeira, aqueles com correntinha, dos tempos que não voltam mais. Era um sonho de consumo nunca realizado. Nunca, até o dia em que pisei calçada de rua. Com a firme decisão de um homem que passou pela morte e não morreu, fui direto ao comércio principal da cidade e comprei um bonito relógio como eu queria. Pronto, já não morreria sem ser proprietário de um relógio de algibeira. Hoje, olho o bichão ali na minha gaveta, não para me inteirar das horas, mas para namorar o trofeu que conquistei por não ter sabido morrer.


         A segunda vez em que não morri, estava em Senador Pompeu, casa dos filhos Michelle e George. Amanheci dizendo besteiras, conversa de doido e Michelle entrou em pânico porque presenciara o primeiro episódio. Enfiaram o candidato a defunto no automóvel da família e “voaram” para Fortaleza. E vinham numa velocidade tão desesperada que a Inimiga não teve pernas para acompanhá-los. Também pudera! O carro novo e a Danada cortando cabeças desde o episódio Caim e Abel, não é?

         Levaram-me para o Frotão e depois HGF. Outra semana internado, mais uma vez, reprovado no vestibular de falecer.

         O terceiro momento de não morrer, foi numa festa de Revellion. Era o final do ano e quase coincide com o final deste GB. Saí de casa para o plantão das treze horas do HGF. Retornaria ao lar depois das dezenove e iria curtir a entrada do ano com a família. Retornei, sim, mas no dia 16 de janeiro. Saí de casa quase bom. Um certo mal-estar que não haveria de impedir um GB deste de tirar seis horas de sala de parto. Pois sim! Fui retirar uns trocados no caixa do banco, já no hospital e, segundo Dulce, uma auxiliar de enfermagem que colaborava conosco no serviço de botar meninos no mundo, viu-me cai-não-cai, agarrado com o caixa eletrônico. De imediato, colocou-me na cadeira de rodas e arrastou-me para o socorro. Fui salvo e olha o nome da ajuda, Dulce, o mesmo da madrinha que tenho no Céu, Irmã Dulce. Passei a noite em condições que não recomendo. Na manhã seguinte, a família me transferiu para um hospital particular, onde poderiam me assistir na vida e na morte, conforme fosse a vontade de Deus.

         Durante duas semanas, a peleja do GB contra a morte conheceu existência, promoveu lágrimas, risos, esperanças, desesperos, exigiu rezas, simpatias... Mais uma vez, não passei no teste e recusei morrer. Venci a tal peleja e aqui estou contando a história.


         A quarta vez em que não morri, teria sido uma morte mais bonita. Iria chegar a Fortaleza no bagageiro de um avião, gente esperando com roupas pretas, óculos escuros nas caras, coisa bem pomposa. Pois aconteceu de encontrar-me em terras pernambucanas. Ensaiei morrer no Recife, mas, outra vez, Deus teve a generosidade de me considerar reprovado. Um bruto edema agudo de pulmão proporcionou-me mudar de cor, tornando-me roxo e me fez compreender o verdadeiro significado da expressão popular “mais ruim do que falta de fôlego”. Mas já cheguei ao pronto socorro deitando ordens médicas: e que me enfiassem na veia duas ampolas de Furosemida de 40 mg; e que metessem um tubo de oxigênio nas minhas ventas e corressem a chamar o plantonista. Acertei na conduta terapêutica; a mocinha errou ao medicar sem ordem médica oficial – eu me identifiquei como médico, mas não estava ali médico e sim paciente – porém, a soma do meu acerto e seu erro evitou que o GB conhecesse o Paraíso. Ainda sou um habitante deste planeta, graças a Deus.

         Logo que saí da dispnéia terrível, quando puxei o fôlego e vi que era, outra vez, um homem que respirava, agradeci a Deus não ter passado de mais um ensaio, ainda sem estreia prevista. Foi aí que uma doutora, muito jovem e competente, cometeu a incoerência de me anunciar transferido para a UTI. Quando ela falou UTI, sem saber, estava me dando alta hospitalar. Como eu não tinha morrido, tinha a obrigação de viver e fui viver, sim, fazer compras no Recife, andando entre feirantes. Dia seguinte, peguei um avião para Fortaleza e – aí, sim – fui ao cardiologista. Meu amigo, grande poeta, Sérgio Macedo, deu-me a notícia de que eu tinha tido era um enfarte. Mandou-me ao cateterismo e aí, de verdade, eu temi pela estreia de tantos ensaios de morte.

         Foi tudo muito tranquilo e o Dr. Aluísio Cruz, meu dileto colega no curso de Italiano, garantiu-me que meu coração estava ainda capaz. E eu acrescento: capaz de amar tudo e tantos que me faz ir sendo reprovado nestas insistentes tentativas da Maldita. Mas eu tenho um Deus maior que a Morte e tenha a minha madrinha Irmã Dulce, capaz de me fazer sempre incapaz no ofício de morrer.     

         Depois de tantas tentativas da Megera, depois de tantas resistências minhas, pensei que a Maldita haveria de desistir. Passarem-se alguns tempos de calmaria. Dei de frequentar consultório do endocrinologista Dr. Iran Barros. Segui suas instruções, tomei os remédios, mas o demônio da Gula queria mesmo era fazer o gol contra. Não perdi peso.

         Em abril de 2013, ouvindo mais uma vez os rogos da família pedindo-me cuidados comigo mesmo, resolvi atendê-los. Creio que os meus anseios, finalmente, entraram em sintonia com os seus. Comecei uma radical mudança no comportamento alimentar e passei a fazer caminhadas. Certo é que, em apenas quatro meses, encontrei-me no meu melhor estado, desde que deixei de ter saúde. Perdi quinze quilos, trouxe a glicemia de mais de 300 para menos de 120; a pressão arterial chegou aos louváveis dez por seis, índices somente atingidos quando eu corria atrás de bola; deixei de tomar metade dos medicamentos, isto por decisão do médico; estava caminhando três quilômetros por dia. Pensei que tinha, enfim, escapado. Qual o quê?    

         Na manhã do Dia dos Pais, talvez para ser maior o drama, eis que me surge, não se sabe de onde, a Violenta. E foi logo pulando na minha frente, como a dizer “É hoje!” Botou foi para acabar com os ensaios. Aquele seria o dia da estreia. Comecei a tremner, fiquei preto e “desliguei”. A família me levou, às carreiras, ao hospital mais próximo, pois escolher tem as horas.

         Dei entrada quase morto, um bruto choque séptico, originado de uma pielonefrite que se fez septicemia. Enfiaram-me na UTI – e desta vez, não pude ser contra – e hoje, quarto dia da ocorrência, estou meio zonzo ainda, mas contando a história.

         Já me considero um veterano na arte de brincar com a morte. De hoje em diante, eu vou é brigar e, se a Maldita der sopa, eu é que vou matá-la qualquer dia, com a graça de Deus e da minha madrinha Irmã Dulce.



         Fortaleza, 14 de agosto de 2013, 14,55 horas, Hospital Otoclínica.