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sábado, 11 de abril de 2020

POR MANOEL FONSECA: Lave as mãos e use máscara.

Lave as mãos e use máscara

Durante a tal pandemia
Que afeta o mundo inteiro,
Se livre da agonia,
Se cuide, fique cabreiro.

Deixe de ter teimosia,
Querendo flanar faceiro,
Vá se intocar com alegria,
De todos, seja o primeiro.

Se aquiete, baixe a asa,
Limpe o quintal bem ligeiro,
Se comporte, fique em casa,
Ajude a mulher, sem berreiro.

Mas se precisa ir à rua,
Mantenha sempre a distância,
Alerta, fique na sua,
Nada de beijo, lambança.

Máscara é a primeira
Providência a ser tomada,
Lave as mãos, não dê bobeira, 
Na saída e na entrada!

Ao proteger sua vida,
Você protege também
Sua família querida
De quem você quer o bem.

Manoel Fonseca - médico
Movimento Poetas del Mundo

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (23º dia)


Diário de uma quarentena (23º dia)
O testamento de Judas e o “Cachorro Magro”
Por Arruda Bastos

Hoje, 11 de abril, é sábado de aleluia, o meu vigésimo terceiro dia de quarentena. Lamento comunicar aos meus amigos e à família que, infelizmente, não vai ser possível realizar a tradicional malhação do Judas na fazenda “Cachorro magro”. Devido ao isolamento social do coronavírus, não vou sair de Fortaleza.

Tem um ditado que diz que “recordar é viver” e, no dia de hoje, vou fazer exatamente isso. Fechando os olhos, retornei no tempo e pousei em Itapipoca, terra abençoada e berço da minha amada Marcilia. Lá, durante anos a fio, na fazenda do meu sogro, que os filhos herdaram, o boneco de Judas pendurado no poste na entrada do terreiro era uma atração aguardada por toda a região.
A festança atraía público que vinha das fazendas vizinhas: Beba Mais Leite, do Recamonde, e da Gangorra. Tinha quem viesse até de povoados mais distantes, descendo o rio Sororó. As atrações eram duas: o boneco confeccionado pelo meu concunhado Almir com a ajuda de muitos outros familiares e o testamento que era de uma inspiração ímpar.

O dito cujo era escrito a muitas mãos e sempre dirigido aos presentes, principalmente àqueles mais conhecidos na região. O testamento era cumprido e, na maioria das vezes, trazia estrofes sem um só verso de pé-quebrado. A irreverência e o atrevimento não poupava ninguém, nem mesmo eu que ocupava a função de mestre de cerimônia.

Digo que, depois da leitura pública e da queima do Judas, tudo era só alegria, o cuidado mesmo era com meus filhos, ainda pequenos, os sobrinhos menores e com uma reca de crianças que teimavam em brincar no terreiro perto do boneco em chamas.

O Judas era de primeira, tinha o meu tamanho, chapéu, sempre vestia terno, às vezes de linho, e era aplumado de tudo até na gravata. As doações para sua confecção eram arrecadadas na família, que premeditadamente levava de Fortaleza. Dava até pena de queimar.

Lembro-me de uma vez que ”a porca quase torce o rabo". Não vou dizer o nome do ilustre convidado que tinha sido prefeito, mas o certo é que depois de ouvir a leitura do testamento, que falava de dinheiro de uma prefeitura, o mesmo tomou as dores e vestiu a carapuça. Quase que o “caldo entorna”, a sorte é que um parente, que era amigo dele, acalmou a fera.

Quando o ano era de um bom inverno a coisa melhorava. A fartura era grande, tinha espiga de milho, canjica e muito mais. A dificuldade era chegar na localidade, pois a estrada de barro e com muitos buracos tinha muito atoleiro. O Fiat 147 da Marcilia e o meu Del Rey de quatro portas que o digam.

No final tudo era só festa e a programação para o ano seguinte já ficava acertada. Espero que em 2021 possamos estar todos juntos para queimarmos o Judas e para agradecer o seu testamento de hoje que diz: Pro meu amigo Arruda, cabra da melhor qualidade, autarquia e esticado, deixo minha assinatura no seu Diário da quarentena, minhas roupas de marca, muita saúde, perseverança e paz. Obrigado e que assim seja!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 23. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE)

sexta-feira, 10 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (22º dia)


Diário de uma quarentena (22º dia)
Macambúzio e sorumbático com as lembranças da Sexta-feira Santa
Por Arruda Bastos

Chegamos à Sexta-feira Santa e as notícias da pandemia continuam a preocupar. Fortaleza agora ocupa a primeira posição entre as cidades brasileiras com maior incidência da doença por 100.00 mil habitantes. A minha esperança continua sendo nos efeitos benéficos do isolamento social e o achatamento da curva com o retardo do pico da doença.

Durante o dia, tentei manter a rotina, mas confesso que não consegui.  A Sexta-feira Santa, desde que eu me entendo por gente,  sempre me deixou macambúzio e sorumbático. Quando criança, principalmente à tarde, não dispensava ficar isolado, deitado no banco da Kombi do meu pai, trancado e com um radinho de pilha a escutar pela rádio Uirapuru a exibição da radionovela “A Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Só depois de escutar toda a gravação, saía e, ainda emocionado, meditava sobre a vida de Cristo. Hoje, senti falta do banco aconchegante da Kombi de seis portas, da rádio Uirapuru e da sua programação voltada para o dia da Paixão. A tristeza ainda foi maior por, vasculhando o dial do meu rádio, não encontrar quase nada alusivo à data.

Fui, então, pesquisar na internet e, para a minha alegria, descobri que a Rádio Nacional do Rio de Janeiro reapresenta "A Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo" nesta Sexta-feira Santa, a partir das 19h em 1130 kHz AM e no site das Rádios EBC. Vou terminar logo a crônica para me emocionar durante a noite.

A radionovela foi ao ar em primeira edição no dia 27 de março de 1959, pela mesma emissora e anualmente era reproduzida durante a Semana Santa por um grande numero de prefixos.  Radiofonizada por Giuseppe Ghiaroni, “A Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo” foi um marco e reuniu quase uma centena de artistas para interpretarem as vozes dos personagens bíblicos.

Quem já teve a oportunidade de escutar, não esquece a belíssima sonoplastia, as músicas e a voz inconfundível de César Ladeira na narração e a locução de Aurélio Andrade e Reinaldo Costa. A radionovela também é pontuada por “Marcellus returns to Capri” da trilha sonora de O Manto Sagrado (The Robe, 1953) de Alfred Newman.

A Sexta-feira Santa continua sendo, para mim, o dia do silêncio e da adoração, dia no qual se medita com a Via-Sacra a Paixão de Cristo e se repercorre com Jesus o caminho da dor que leva à sua morte, uma morte que, sabemos, não é para sempre.

Na liturgia não há canto, não há música e não se celebra a Eucaristia, porque todo o espaço é dedicado à Paixão e à morte de Jesus. Ajoelhamo-nos, para simbolizar a humilhação do homem terreno e a coparticipação no sofrimento do Senhor. Porém, não é um dia de luto, mas um dia de contemplação do amor de Deus que chega a sacrificar o próprio Filho, verdadeiro Cordeiro pascal, para a salvação da humanidade.

Para terminar, digo que mesmo sem a Kombi e a radionovela, no momento em que estou terminando de escrever, uma paz muito grande toma conta do meu ser. Acho que as lembranças e as orações do dia com minha querida Marcilia me fizeram crer que Deus, na sua infinita bondade, está a nos proteger e que, no final, tudo vai dar certo. Tenham fé!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 22. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE)

quinta-feira, 9 de abril de 2020

POR: ANA MARGARIDA ROSEMBERG - Reflexão sobre a pandemia causada pela covid-19


REFLEXÃO SOBRE A PANDEMIA CAUSADA PELA COVID-19

De repente... 
o vírus que estava tão longínquo, do outro lado do mundo, chegou ao Brasil modificando radicalmente a vida das pessoas.

Vindo de diversos países em aeronaves, albergado nos corpos de nossa elite endinheirada e viajada, o vírus SARS-CoV-2 (coronavírus) desembarcou no Brasil, causando uma crise sanitária sem precedentes.  

Ao penetrar em um país debilitado pelas crises: econômica e política, o vírus mostrou à sociedade brasileira, já tão fraturada, machucada e dividida pelos embates na política, que o problema maior do Brasil é a profunda e cruel desigualdade social.

Após a OMS, no dia 11/3/2020, declarar que a covid-19, nome da doença causada pelo coronavírus, tornara-se uma pandemia, o mundo parou. O prepotente e poderoso Trump, que no início desdenhou da epidemia, fez uma genuflexão diante do vírus, cuja virulência era tamanha que feria de morte os sistemas de saúde e econômico do mundo. As bolsas despencaram e o planeta entrou em pânico e em guerra contra um inimigo invisível e mortal.

A PESTE BATE À PORTA DE TODOS

Segundo o historiador Yuval Noah Harari, construir muros, restringir viagens, reduzir o comércio, embora necessário nesse momento para deter a pandemia da covid-19, não vai proteger a humanidade contra as doenças infecciosas. O verdadeiro antídoto para as epidemias não é a segregação, mas a cooperação, frisa Harari.

Bem antes da globalização, as epidemias matavam milhões de pessoas. No século XIV, antes do avião e dos cruzeiros, a peste negra disseminou-se da Ásia Oriental à Europa Ocidental em pouco mais de uma década, matando entre 75 a 200 milhões de pessoas (mais de ¼ da população da Eurásia).  Na Inglaterra, quase metade da população morreu. Em Florença, 50 mil de seus 100 mil habitantes foram dizimados pela peste negra.

Em 1520, um único hospedeiro de varíola que desembarcou no México, em março, disseminou a doença e, em dezembro, uma epidemia de varíola devastou a América Central.

Em 1918, uma cepa de gripe virulenta (gripe espanhola) se propagou por todos os cantos do planeta, infectando meio bilhão de pessoas e matando 100 milhões delas, em menos de 1 ano.

Hoje, com o crescimento populacional e a eficácia dos meios de transportes, os microorganismos se espalham com maior facilidade, mas, por outro lado, temos uma arma poderosa para vencê-los, a INFORMAÇÃO, diz Harari. Cientistas compartilham informações e compreendem os mecanismos por trás das epidemias e o modo de combatê-las. Enquanto os medievos nunca puderam saber a causa da peste negra, os cientistas, em poucos dias, identificaram o genoma do coranavírus e já estudam o desenvolvimento de uma vacina e medicamentos para cura da doença que nos assola.

 COOPERAÇÃO E SOLIDARIEDADE NOS SALVA

A covid-19 nos atinge independente de classe social, raça, gênero e crença religiosa. Porém os desvalidos são mais vulneráveis e pagarão preço mais alto. Por outro lado, a solidariedade aflora forte, mostrando que faz bem a psique humana a compaixão com os que sofrem. Criativas formas de ajuda foram colocadas em prática e as pessoas passaram a valorizar as empregadas domésticas, as babás, os porteiros, os entregadores, os lixeiros, enfim, toda uma classe social até então invisível e, muitas vezes, menosprezada. Os médicos e os demais profissionais de saúde, que estão na linha de frente dessa guerra, são os grandes heróis.

Não é a primeira e nem será a última vez que uma peste atinge o mundo. Mas certamente é a primeira vez que chega ao mundo globalizado e escancara as fragilidades do sistema. A crise do liberalismo, que já estava posta por desencadear o crescimento da desigualdade social no mundo, se acentua com a evidencia de que quanto mais pobre é uma população pior é o efeito da epidemia. Ficou clara a necessidade de fortalecer o Estado de bem-estar social. O neoliberalismo mais extremado, que entrega a saúde e a previdência ao MERCADO, certamente será questionado, pois em um momento de grande emergência é o ESTADO e não o MERCADO que pode resolver as ameaças ao nosso bem maior, a vida.

Talvez a humanidade compreenda que não podemos ter um sistema econômico baseado apenas na lógica do custo, do lucro e da competição. Esse é o sistema atual do neoliberalismo clássico que espero seja mitigado com outros valores. Acredito que o Estado de bem-estar social sairá fortalecido dessa pandemia.

A finalidade de um SISTEMA deve ser sempre o aumento do número de pessoas felizes e não a produção desenfreada de objetos de consumo e uma renda per capita gigantesca que aprofunda as desigualdades.  Um país realizado não é o país mais próspero, mas aquele em que o maior número de pessoas tem acesso a saúde, educação, previdência, saneamento, cultura e lazer. Um país realizado não é o mais eficaz economicamente, porque a competição desenfreada produz eficácia a custo humano grande. Para cada vencedor há dezenas de perdedores. Isso é desumano.

O sistema econômico, como o sistema político, é uma construção cultural. Os valores que a gente escolhe podem ser de um tipo ou de outro. A coisa mais importante que devemos entender sobre a natureza das epidemias é que sua propagação em qualquer país põe em risco toda a espécie humana.

Os vírus sofrem mutações e precisamos proteger todas as pessoas em todos os países, diz Harari. Há centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo sem acesso aos serviços mais básicos de saúde. Oferecer assistência médica aos povos dos países pobres protege os povos dos países ricos. 

A ROTINA DA QUARENTENA

As pessoas confinadas em suas casas com seus medos e angustias, retomados dos dramas históricos, tiveram que entrar em uma rotina jamais imaginada: ler livros, assistir filmes, ouvir músicas, cozinhar, faxinar, lavar roupa, cuidar dos filhos, meditar, exercitar o corpo e até refletir sobre a vida, a morte e a finitude. Aliás, meditar sobre a morte e a finitude é um dos exercícios filosóficos antigos que está presente em Sócrates e Plutarco, entre outros.

            Esse momento de quarentena nos oferece alternativas de recriação de práticas, como a mudança de trocas econômicas, sociais e psíquicas e nos mostra que a grave crise requer um governo forte para nos salvar. A reflexão sobre como estávamos vivendo nos faz questionar os nossos valores. Diante de uma tragédia dessa dimensão, a solidariedade e a cooperação que afloram nas pessoas mostram a importância de domesticar laços simbólicos para nos amparar e nos ajudar. Os economistas dizem que todos nós sairemos mais pobres dessa pandemia. Os ricos perdem quando as bolsas despencam, mas os pobres perdem muito mais. Na fase de recuperação é importante tratar desigualmente os desiguais.

COMO SERÁ O MUNDO PÓS CORONAVÍRUS

O vírus desestruturou o sistema de saúde e econômico de todo o planeta, alterando o eixo do mundo que está se movendo rapidamente do Atlântico Norte, entre EEUU e Europa, em direção ao Pacífico, na Ásia, onde estão: China, Japão, Coreia do Sul, Singapura, Hong Kong, Malásia, Índia e Indonésia.

A história nos ensina que o eixo do mundo não é fixo.  Como a terra e os astros do cosmos, ele se move. Na Antiguidade, estava no Crescente Fértil (Egito, Mesopotâmia, Palestina e Fenícia). Depois, deslocou-se para o Mediterrâneo em torno das cidades mercantis como: Veneza, Gênova e Florença. Com as grandes navegações e a descoberta do Novo Mundo, o eixo começou a subir passando pela Espanha, Portugal e Holanda, indo se fixar no Atlântico Norte entre os Estados Unidos e Europa.  

É difícil fazer uma previsão de como será o mundo pós pandemia do coronavírus, pois estamos atravessando uma nebulosa. Certamente o mundo vai mudar. Depois da 2ª Guerra Mundial houve mudanças importantes que ficaram evidentes com a Guerra Fria, a criação da ONU, OIT, OMS. Isso vai ocorrer novamente. A saúde vai estar no centro das atenções. Quando surgiu o Ebola, houve discussões sobre a importância do financiamento de sistemas de saúde nacionais e internacionais e sobre a capacidade da OMS de enfrentar as pandemias. Infelizmente a OMS perdeu recursos. Nesse novo mundo há que se ter uma visão que leve em conta as condições de trabalho e da saúde das populações. O coronavírus vai marcar o fim do “FIM DA HISTÓRIA” de Fukuyama. As pessoas serão medidas não por suas visões ideológicas, mas pela capacidade de enfrentar as crises que afetam a vida, o emprego e a renda mínima.

Segundo Daniel Cohen, professor da Escola de Economia da França e Diretor do Departamento de Economia da Escola Normal Superior, estamos entrando em uma nova forma de capitalismo: o capitalismo digital. O mesmo está sendo acelerado pelas tecnologias que estão em funcionamento hoje e que permitem viver e trabalhar à distância. A vida feita “on-line” vai aumentar, cada vez mais, pós pandemia do coronavírus.

A ESPERANÇA

Depois que a peste negra, no século XIV, golpeou a Europa sem dó e piedade, houve uma fase de recuperação com o Renascimento. O século XVII foi desastroso com a peste bubônica, as guerras religiosas e a guerra dos 30 anos, mas o século XVIII foi de superação.

Existe uma certa evidencia de que depois de grandes choques há sempre uma recuperação. Essa é a ESPERANÇA que devemos alimentar. A ESPERANÇA da superação da crise do coronavírus e do alvorecer de um mundo melhor, mais igualitário, humano e justo.

ana margarida arruda rosemberg

Fortaleza, 9 de abril de 2020




POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (21º dia)



Diário de uma quarentena (21º dia)
Do barbeiro amador ao isolado sim, sozinho jamais.
Por Arruda Bastos

Sempre quando possível, começo a escrever minhas crônicas no início da tarde, por volta das quinze horas. Hoje, como nos outros dias, depois do almoço, assisti o JH, telejornal apresentado pela Maju Coutinho. O Jornal já estava quase no fim quando uma reportagem que tratava das atividades desenvolvidas por muitas famílias nesse momento de isolamento social me chamou a atenção.

A matéria apresentava muitos idosos realizando atividades culturais e compartilhando as imagens com seus familiares e amigos. Achei muito interessante e a frase que fez com que eu me levantasse logo para escrever foi: “isolado sim, sozinho jamais”. Para não esquecer, corri para o computador e digitei a referida assertiva para ser parte do título da crônica de hoje.

Depois de alguns minutos, fiquei a matutar com meus botões que, se todos agissem da mesma forma, tiraríamos esse tempo de letra e ainda ganharíamos em admiração e, certamente, no psicológico. Digo que sigo religiosamente esse ensinamento e a cada dia incorporo outras atividades.

Na minha rotina, sempre dou uma pausa na escrita para, por alguns minutos, dar uma espiada de leve nos meus grupos de whatsapp e nas minhas redes sociais. Vá lá que alguém descobre a cura ou a vacina contra o coronavírus, que minha família esteja precisando de alguma coisa ou até se meu Coordenador da Unichristus marcou algum treinamento ou orientou uma nova forma de ministrar aulas virtuais.

Infelizmente, não encontrei nada de novo com relação ao tratamento da Covid-19, só mesmo a disputa infértil com relação a hidroxicloroquina. No que concerne à vacina, também nada de extraordinário. No grupo da família Cordeiro Bastos, intitulado “LelêLeviLuccaLaraLina”, nomes dos meus netos, deparei-me com um vídeo enviado por minha filha Lívia em que aparece seu esposo, Evalto, cortando o cabelo do meu netinho Lucca.

O vídeo me fez lembrar o tempo de criança, quando cortava o cabelo com o barbeiro Zé Gomes, próximo da minha casa. Na época, ele usava uma técnica sui generis e muito revolucionária que vou descrever passo a passo. Primeiro, ele quebrava no meio uma quenga de coco, depois colocava como um capacete na minha cabeça e, por fim, lascava a passar a máquina no que ficasse abaixo dela.

Minha querida mãe guardava de lembrança uma foto desse crime e aqui em casa, vasculhando um velho álbum, encontrei outra em uma carteira do meu primeiro ano primário de Colégio dos padres Salvatorianos. De tão assustadora que é a imagem, não tenho coragem de publicá-la no dia de hoje, mas, quem sabe, até o final da quarentena eu possa usar para espantar o mosquito da dengue.

Essa quarentena tem sido fértil na descoberta de novos talentos. Não é que o corte de cabelo do Lucca ficou uma gracinha? Acho que vou trocar o meu eterno cabeleireiro Juraci pelo Evalto, pois ele demonstrou muita destreza e uma técnica impecável. Posso também optar pela minha filha Lia, que no início do isolamento cortou o cabelo dos meus netinhos Levi e Letícia.

No caso da Lia, a única dificuldade foi necessitar de um segundo tempo para concluir o corte moderno que fez na cabeça do Levi. Ela justificou com o fato de ele ter dado muito trabalho e, só depois de vinte e quatro horas, cedeu aos apelos para um arremate final.

O importante mesmo é que todos estejam bem e que permaneçamos confiantes em Deus. Como na reportagem da TV, concluo dizendo: estamos isolados sim, mas sozinhos não.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 21. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE)

quarta-feira, 8 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (20º dia)


Diário de uma quarentena (20º dia)
Há luz no fim do túnel?
Por Arruda Bastos

Passei a manhã de hoje formatando um novo projeto de comunicação para esse tempo de quarentena. Resolvi que todos os dias, às 10 horas, vou postar um vídeo tratando da evolução da Covid-19 em Fortaleza, no Ceará, no Brasil e até apresentar dados internacionais, tudo de forma simples, junto e misturado.

A primeira providência foi fazer o roteiro das atividades, para o êxito do meu projeto. Escolher a ferramenta para gravação, o local da casa para transformar em estúdio, a pauta do dia e, ainda, a forma de transmitir os vídeos para as minhas redes sociais:
• instagram.com/arrudabastos,
• facebook.com/arrudabastos,
• twitter.com/arrudabastos
• youtube.com/raimundoarrudabastos e
• meu www.portalarrudabastos.com.br.

Depois de tudo definido, gravei o primeiro vídeo, tendo como estúdio a sala do meu apartamento devido à boa iluminação e à decoração, que daria um ar de informalidade. Utilizei os recursos do meu notebook, já que minha amada Marcilia não poderia, nesse projeto, ser minha camerawoman devido suas orações matinais.

O vídeo ficou muito bom, modéstia à parte. O difícil mesmo foi, depois de editar, postar nas redes sociais com a qualidade que eu desejava e ainda tendo que enfrentar como inimigo uma redução inesperada de velocidade na internet. O tema que inaugurou o meu canal “Saúde em Dia com Arruda Bastos” foi: A Covid-19 em Fortaleza.

O tema não poderia ser mais atual. O Ministério da Saúde, no dia de ontem, divulgou que Fortaleza possui a maior incidência do novo coronavírus entre as capitais do país. Segundo os dados divulgados, na capital cearense há 34,7 casos a cada 100 mil habitantes. O número assusta, causa grande preocupação e foi o estopim para resolver tirar do papel o projeto de divulgar vídeos expondo o meu pensamento e a minha experiência de ex-secretário da Saúde do Ceará.

Espero que gostem, comentem e compartilhem com seus amigos e seguidores. O meu compromisso vai ser com as informações técnicas, pautadas pela ciência, em informes oficiais do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde. Não vou adotar do achismo como muitas autoridades no tempo atual.

Depois desse sutil merchandising, vou me deter ao titulo da crônica de hoje. A inspiração veio de uma ligação da minha querida filha caçula, Lilia, que como nós, encontra-se de home office no seu apartamento com seu esposo, Raul. 

Na chamada de vídeo, ela perguntou se eu vislumbrava alguma luz no fim do túnel. Antes de responder, observei suas feições e encontrei um rastro de preocupação diferente dos outros dias, quando deixava transparecer mais alegria e otimismo. Acredito que os vinte dias de isolamento social e as últimas notícias da pandemia sejam as causas do seu desânimo.

Depois de alguns segundos, respondi que sim, existe uma luz no fim do túnel e os seus raios brilharão mais cedo se todos se conscientizarem da importância de uma postura responsável e colaborativa. Se o isolamento social for mantido e respeitado e se o governo socorrer, o mais rápido possível, a população vulnerável e as empresas em dificuldade, logo veremos tal luz.

Eu vejo uma luz no fim do túnel. Ela pode ainda estar distante, ser muito tênue, mas com fé em Deus, coragem, com a mente alerta e o coração solidário superaremos juntos esses momentos de dificuldade.

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 20. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE)

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (19º dia)

                      A imagem pode conter: 2 pessoas, pessoas em pé

Diário de uma quarentena (19º dia)
A inspiração de Roberto Carlos na rotina de uma quarentena
Por Arruda Bastos

Durante o dia de hoje, lembrei-me da música de Roberto Carlos intitulada “Rotina”. Como não recordava da letra por completo, resolvi procurar no YouTube e no canal do Rei o vídeo do grande sucesso de 1973. Digo que assisti por várias vezes, o que me fez, fechando os olhos, retornar ao tempo de rapaz e das tertúlias.

Acredito que o tema surgiu devido aos dezenove dias de isolamento social e a rotina que sigo religiosamente desde o início. Só para relembrar: acordar cedo, realizar exercícios, tomar banho de sol na varanda, fazer manutenção em casa, ler um livro, ministrar aulas virtuais, escrever uma crônica e muito mais. A verdade é que nunca pensei que fosse sentir saudade da minha rotina antes da quarentena.

Na música, Roberto diz que “O sol ainda não chegou e o relógio há pouco despertou”, depois “A mesma condução, a mesma hora, os mesmos pensamentos chegam”, e mais adiante “Estou chegando para mais um dia de trabalho que começa”. Do meio para o fim encontramos: “O dia vai passando, a tarde vem e pela noite eu espero” e “Não posso controlar minha vontade de sair correndo agora”.

A letra descreve a rotina de um casal apaixonado. Tudo começa quando ele vai trabalhar bem cedinho e deixa sua amada ainda dormindo. Roberto fala da força de vontade para sair de casa e diz cantando “Eu olho outra vez seu corpo adormecido e mal coberto, quase não me deixa ir”; aí, em um impulso, “Fecho os olhos, viro as costas num esforço, eu tenho que sair”, e no caminho do trabalho sente que “Meu corpo está comigo, mas meu pensamento ainda está com ela”.

Durante todo o dia, ele só pensa em voltar para casa e a música confirma: “Vou contando as horas que me separam de tudo aquilo que mais quero” e o momento mais feliz é quando toca o fim do expediente, “Meu rosto se ilumina num sorriso no momento de ir embora” e, chegando em casa, a letra descreve o reencontro dos amantes: “A porta se abre e de repente eu me envolvo inteiro nos seus braços”.

Nos parágrafos anteriores, embaralhei de propósito alguns trechos da música, pois a mensagem de hoje é para frisarmos a importância de mantermos o isolamento social e salientar a difícil rotina que nos é imposta pelo coronavírus.

Finalizando, digo que sou fã de Roberto Carlos e que a mensagem da letra de “Rotina” deve ser valorizada. Para quem entrou na quarentena com sua amada, como eu e muitos de vocês, a noite é sempre como sugere o Rei “E o nosso amor começa e só termina quando nasce mais um dia, um dia de rotina, um dia de rotina”. Que o amor seja a melhor forma de começar e terminar o nosso dia!

Amanhã eu volto com uma nova crônica.
Este foi o dia nº 19. #FiquemEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-CE)

Rotina
Roberto Carlos

O sol ainda não chegou
E o relógio há pouco despertou
Da porta do quarto ainda na penumbra
Eu olho outra vez
Seu corpo adormecido e mal coberto
Quase não me deixa ir
Fecho os olhos, viro as costas
Num esforço eu tenho que sair
A mesma condução, a mesma hora
Os mesmos pensamentos chegam
Meu corpo está comigo mas meu pensamento
Ainda está com ela
Agora eu imagino suas mãos
Buscando em vão minha presença
Em nossa cama
Eu gostaria de saber o que ela pensa
Estou chegando para mais um dia
De trabalho que começa
Enquanto lá em casa ela desperta
Pra rotina do seu dia
Eu quase posso ver a água morna
A deslizar no corpo dela
Em gotas coloridas pela luz
Que vem do vidro da janela

Um jeito nos cabelos
Colocando seu perfume preferido
Diante do espelho aquilo tudo
Ela esconde num vestido
Depois de um café, o olhar distante
Ela se perde pensativa
Acende um cigarro
E olhando a fumaça pára e pensa em mim

O dia vai passando, a tarde vem
E pela noite eu espero
Vou contando as horas que me separam
De tudo aquilo que mais quero
Meu rosto se ilumina num sorriso
No momento de ir embora
Não posso controlar minha vontade
De sair correndo agora

O trânsito me faz perder a calma
E o pensamento continua
Pensando em minha volta muitas vezes
Ela vem olhar a rua
A porta se abre e de repente eu
Me envolvo inteiro nos seus braços
E o nosso amor começa
E só termina quando nasce mais um dia
Um dia de rotina, um dia de rotina

O sol ainda não chegou
Num dia de rotina
O nosso amor começa e termina
Quando nasce mais um dia
Um dia de rotina