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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

POR JOSÉ VALDIVINO - RECUERDO



Dr. José Valdivino de Carvalho - Ex - membro da Academia Cearense de Letras

                                 RECUERDO
                                                                                                                      Publicado no Livro "Tardes sem Sol" - EDIÇÃO FAC-SIMILAR COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO AUTOR - 1911 / 25 de fevereiro / 2011

                                                            
Guardo-lhe a voz, o rosto, a cor, os olhos,
Olhos serenos, de mistério e sonho!
Lembro-lhe as mãos, o andar, o talhe grego
E aquela linda boca de criança...


Deusa e menina, nobre flor morena...
Ninguém a via, que a não quisesse.
Fartos cabelos negros sobre os ombros
E o fio fino do coral dos dentes.


Hoje ela é minha, a minha dama augusta,
Rainha absoluta do meu lar.
Mas sempre o coração me diz, ansioso,


Numa palavra apreensiva e rouca:
- Ai de ti! ai de ti! não fossem teus
Estas mãos, estes olhos, esta boca!...

                                                           José Valdivino

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

POR SERGIO MACEDO - A BARRA DE VENTO

Dr. Sergio Macedo - Médico e Membro da SOBRAMES-CE
A BARRA DE VENTO
                   
A barra do vento
Levou os ouvidos que restavam,
Mas os poetas continuaram
Escrevendo suas ficções mórbidas,
Falando do tempo,
Da morte, do senso,
Do corpo da mulher desejada
E da amada também.

Os poetas assentaram-se
Em torno da fogueira mantida,
Mantida com o pacto de falar de sentimentos.
Olharam-se sem sorrisos em seus rostos.

Continuaram falando em tom maior ou menor
Do que tanto já se cantara.

Vagaram pelo deserto como indomados loucos,
Pacatos, porém loucos,
De idéias e delírios coloridos,
Marcadores de libelos, às vezes.

Os poetas não tiveram tronos
E, somente reinaram sobre poucas cabeças,
Sem impingir a força e o domínio
Sem forçar a absorção de nenhum pensamento.

Seus pergaminhos foram, no máximo,
Apresentados a quem tivesse olhos.

 Sergio Macedo

     

POR ANA MARGARIDA - NUNCA MAIS


José Rosemberg &Ana Margarida


NUNCA MAIS

Nunca mais teu corpo belo e quente
A aquecer-me nas longas noites frias.
Nunca mais aquele amor ardente
Cheio de encanto, paixão e poesia.

Nunca mais teus sábios ensinamentos
De tuberculose, tabagismo e biologia molecular,
A saciar minha sede de conhecimentos,
Além, querido, de tua cultura invulgar.

Nunca mais as viagens ao velho mundo,
Nossos passeios, unidos, de braços dados.
Nunca mais contemplaremos juntos,
Felizes, aqueles museus encantados.

Nunca mais as nymphéas de Monet
Inundando de cores nosso olhar.
Festa para os olhos, como gostavas de dizer,
Matisse, Lautrec, Van Gogh e Renoir.

Nunca mais poder te oferecer
O meu mais puro, meigo e transparente olhar.
Nunca mais nas madrugadas te embalar
Com as melodias que eu gostava de cantar.

Nunca mais tua voz, tua presença,
Teus doces beijos, tuas declarações de amor,
Somente a dor atroz de tua ausência
E o vazio sideral que me restou...

Ana Margarida               
São Paulo, 08 de setembro de 2006.

POR CELINA CÔRTE - ILUSÃO



Dra. Celina Côrte - Médica e Presidente da SOBRAMES-CE


ILUSÃO 


Na solidão do quarto,

A poesia

E a gente pensa

Que o poeta

Naquela hora

Pensava na gente...


                                                       Celina Côrte Pinheiro



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

POR JOSÉ WILSON DE SOUZA - O BALAFONE



Dr. José Wilson de Souza - Médico e Membro da SOBRAMES-CE

                                                                       O BALAFONE                                                   (O MISTÉRIO DO TELHADO QUEBRADO)

 

Era um acampamento de operários trabalhando na construção de um grande açude público.

Este acampamento era formado de dezenas de casas que abrigavam os trabalhadores e suas famílias. Nesta comunidade ocorria tudo: noites bastante divertidas para os adultos que improvisavam festas. As crianças  se divertiam com brincadeiras próprias de sua idade e os adolescentes  aproveitavam a distração dos pais para ficarem de amores no escuro das vielas.

Havia também muitas brigas de vizinhos e também muitos amores proibidos. Participava daquela comunidade o casal Lorena e Laurentino. Lorena era uma jovem senhora, branca de cabelos castanhos, de um corpo escultural. Quando caminhava seus quadris bamboleavam em um ritmo frenético, o que era uma festa para os homens que assistiam esta cena de beleza e graça. As más línguas comentavam que ela tinha fama de esquecer o esposo de vez em quando. O esposo era um jovem homem triste, talvez porque tivesse consciência do peso que levava. Chegara ao acampamento, o Dr. Macário, um jovem engenheiro, para fazer parte da equipe técnica da construção. Um dia Laurentino foi ao canteiro de obras receber o pagamento semanal. Levou Lorena em sua companhia. Ao chegar no  barracão da construtora  ( escritório improvisado),  a mulher despertou a atenção de todos, mas ela dirigiu o olhar para o Dr. Macário que lhe lançou um olhar fulminante ao que ela respondeu com um maroto sorriso. O engenheiro conseguiu descobrir onde ficava a casa de Laurentino. Todas as tardes após o fim do expediente saía passeando de carro por falta de outro divertimento, e também para ver Lorena que já acostumada com o horário do passeio do doutor, ficava na janela de onde ela trocava olhares e sorrisos com o engenheiro. Assim foram passando os dias e aquele namoro a distancia continuava. Em uma daquelas tardes, como de costume Macário passou em frente à casa de Laurentino e não viu Lorena. Continuou o seu trajeto, decepcionado e ao mesmo tempo apreensivo. Depois de muito passear e ao mesmo tempo procurar, encontrou a jovem que havia saído para visitar um familiar que estava doente. O engenheiro parou o seu carro, e ofereceu carona, ao que ela respondeu: e se meu maridinho achar ruim?  Foi a senha. Ela não aceitou carona, mas informou que no dia seguinte Laurentino iria viajar e que tarde da noite ele fosse para casa dela, já que ela iria ficar sozinha e estaria a sua espera.  No dia seguinte conforme  combinado se encontraram. Foi uma bela noite. Desnecessário dizer que ficaram carentes de outros encontros. Filho do sertão, Dr. Macário nas horas vagas divertia-se caminhando pelo mato com uma baladeira ( arma artesanal) caçando passarinhos, lembranças do seu tempo de criança e das férias, quando vinha da capital no tempo da Universidade. Baladeira também chamada atiradeira ou estilingue, é um artefato feito de um cambito de madeira com duas pontas amarradas às extremidades de duas tiras de borracha flexível medindo entre 25 e 40 centímetros de comprimento. As outras extremidades das borrachas são presas em um pedaço de couro retangular. Neste couro é colocada uma pequena pedra que depois de esticadas e soltas as borrachas, é jogada à longa distancia atingindo um determinado alvo. É muito utilizada no sertão para caçar pequenos pássaros utilizados para o consumo humano. Inspirados na baladeira, o casal urdiu um plano: existia após os fundos do quintal uma grande propriedade agrícola com muitas árvores. Macário entrava na mata e atirava uma pedra no telhado da casa. Quando Lorena perguntasse em voz alta, quem era o moleque que estava jogando pedra em cima do telhado, o engenheiro se retirava para o seu alojamento, pois já sabia que Laurentino estava em casa. Ocorrendo o contrário, ou seja, se Lorena permanecesse calada, o marido não estava em casa. Os dois entravam no matagal e iam se encontrar em uma aconchegante gruta para mais uma tarde de amor.                                                                                                           Passaram-se os meses a construção terminou. O engenheiro Macário, triste, teve que partir. Lorena continuou com Laurentino. O tempo passou. O acampamento transformou-se em uma pequena cidade com as suas vantagens e também com os problemas socioeconômicos que não poderia deixar de existir. Agora o esposo Laurentino está mais descansado, pois não precisou mais consertar o telhado da casa.
                                                José Wilson de Souza