Entrei no internato da faculdade de medicina da UFC, há 33 anos. Era um rito de passagem, pois iríamos vestir branco, que era o traje habitual de todos os médicos na época, simbolizando pureza e conhecimento aos que o usavam, assim como também passaríamos a usar o estetoscópio, instrumento milenar de ausculta e fundamental na semiologia do exame físico dos pacientes e detecção dos vários sons emanados dos órgãos humanos, como coração, pulmão, intestinos e seus significados clínicos.
Passaríamos também por cada serviço médico do internato como cardiologia, clínica médica, doenças infecciosas e parasitárias, endocrinologia, hematologia; estágio em interiores estaduais que eram os Crutac. Nestes serviços entraríamos em contato direto com os pacientes, que prescreveríamos diariamente, evoluiríamos diariamente, acompanharíamos os exames clínicos, assim como os levaríamos até em outros nosocômios para realizar avaliação propedêutica mais especializada, alheia ao serviço de origem.
Éramos supervisionados pelos chefes de serviço e professores, assim como os médicos residentes do primeiro ano, R1, segundo ano, R2, terceiro ano, R3 de clínica médica, que eram os que se especializariam na rainha das especialidades e mãe da medicina baseada em evidências, a medicina interna. Confesso que me apaixonei pela cardiologia no internato, a clínica cardiológica, o exame físico, a propedêutica, as sessões conjuntas da cardiologia/ cirurgia cardíaca e hemodinâmica, tornavam o ambiente mágico e estimulante.
Naquela época o serviço que mais despertava receio e ansiedade, ela alta complexidade dos pacientes, pelo intenso trabalho diário, pelo drama humano que suscitava, ela grande cobrança tutelada pelos professores e residentes do serviço era a Hematologia. Quando avistávamos no final do longo corredor do velho hospital Walter Cantídio, um professor para a realização da visita diária, nosso coração estremecia, o sistema nervoso simpático predominava através de palpitações, sudorese das mãos e uma quase taquipneia. Notadamente na visita do Dr. Murilo Martins, para nós internos, um deus, para a comunidade médica um" Schollar",livre docente, dono de sua cátedra, com especialização nos Estados Unidos da América, e na época dono do estado da arte na hematologia, conhecendo-a em profundidade e amplidão.
Ele sabia que éramos neófitos na arte médica, mas nos cobrava o cuidado com os pacientes de sua enfermaria de maneira exemplar, nos perguntava sobre os fármacos usados nas quimioterapias, da história e evolução dos pacientes, dos resultados de seus exames recentes e das últimas alterações, assim como traçava as novas condutas diariamente. Lembro-me perfeitamente dele naquela época, com seu longo jaleco branco(que nem se usava ainda nos anos 90) um estetoscópio de tubo amarelo, cabeleira lisa e grisalha indefectível, óculos escuros e cenho sério, personalidade marcante, homem de poucos sorrisos, elegante e competentíssimo e de vasto saber médico.
O serviço também abrigava uma jovem professora Dra. chegada da França, a Dra. Clara Bastos, extremamente gentil, qualificadíssima e competente e nosso querido Dr. Sílvio Furtado, que também ostentava grande conhecimento hematológico foi um dos diretores do HUWC, além de nosso professor querido. Prescrevíamos e evoluíamos nossos doentes avistando nos televisores preto e branco do posto de enfermagem, a guerra do Golfo Pérsico, a primeira beligerância humana transmitida ao vivo, com os mísseis Tomahawk americanos e sua grande coalizão varrendo as linhas inimigas de Sadan Hussein do Kwait. Em 1998, em Washington DC, veria ao vivo esse míssil assim como todas as armas da guerra fria no Museu Aeroespacial.
Na mesma época do internato em hematologia, minha avó amada materna, começou a apresentar estranhas manchas escuras na pele, fez um hemograma e este revelou uma contagem leucocitária exorbitante de 200.000 leucócitos, assim como células anormais denominadas blastos, o que configurava uma possível "reação" leucemóide e uma neoplasia sanguínea de nome leucemia. Foi orientada então a realizar uma punção medular chamada mielograma para distinguir o tipo de patologia leucêmica envolvida e sua respectiva classificação e estratégia de tratamento. O resultado foi uma leucemia mieloide aguda mielomonocítica -M4.
Nessa época minha avó contava 72 anos e não possuía nenhuma comorbidade. Foi rapidamente transferida ao HUWC e ficou sob os cuidados da Dra. Clara Bastos, que a conduziu da melhor maneira possível, com competência indescritível a acolheu com sua humanidade característica, traçando sua estratégia quimioterapia de tratamento. Nós internos começávamos a nos familiarizar com termos como: indução da remissão, consolidação da remissão e finalmente remissão.
O último significava a vitória, nem que temporária sobre o desastre celular incoordenado, a multiplicação patológica e ineficiente das células neoplásicas e do intenso metabolismo energético consumptivo, além das infecções oportunistas provocadas pela própria doença ou até pelo regime quimioterápico. O tratamento tentava varrer de suas medulas e sangue as células leucêmicas, aplasiando a medula óssea que daria lugar às células saudáveis. Essa fase era de grande vulnerabilidade e o paciente era monitorado continuamente, principalmente quanto à febre, sangramentos ou instabilidade cardiocirculatória.
O prognóstico de minha avó que tanto amei e que era uma criatura santa que passou pela terra, por seu coração amoroso e gentileza e carinho com todos, era reservado por sua idade e a classificação de sua leucemia (LMA M4) que era extremamente agressiva e de difícil condução. Ela feneceu 50 dias após o diagnóstico, hoje sei ,de disfunção múltipla de órgãos e sistemas. Sofri a perda duplamente pois a amava profundamente e estava passando pelo serviço de hematologia, o que me provocou imenso peso emocional.
Essa mortalidade que a vitimou mudava a conformação de nossa enfermaria todos os dias e semanas, com óbitos ceifando vidas de todas as idades e sexo, de forma abrupta e por todas as consequências tanto da doença, quanto do tratamento em si. Esse drama humano em sua finitude e sofrimento, conhecendo os pacientes em seus anseios e esperanças, nunca esquecerei. São lições que nos remetem à nossa limitação e pequenez, e nos fazem crer na misericórdia divina espraiada em nossas existências. A Cardio-oncologia, por definição é a especialidade que diagnostica, monitoriza o tratamento oncológico durante e após o mesmo, assim como suas complicações, além de oferecer estratégias preventivas para evitar tais complicações.
A Oncologia avançou de maneira vertical e abrangente nestes últimos anos, há um arsenal terapêutico bem estabelecido para as neoplasias sanguíneas e sólidas, mas há uma preocupação pertinente com as complicações cardiovasculares inerentes a cada tipo de tratamento escolhido. Hoje a doença neoplásica está em segundo lugar no mundo como causa de mortalidade. Em nosso meio os cânceres em primeiro lugar são os prostáticos, pulmonar e intestinal nos homens e o de mama no sexo feminino.
As Antraclinas (doxirrubicina, daunorrubicina, epirrubicina) podem provocar dano cardíaco irreversível, classificado com tipo1,os compostos imunobiológicos como o Trastuzimab, podem provocar dano temporal e reversível, chamado tipo 2. O mecanismo fisiopatológico do primeiro grupo, passa pelo estresse oxidativo, peroxidação lisossomica, sarcopenia cardíaca, necrose e apoptose celulares e redução de células estaminais cardíacas, no segundo grupo, dos imunobiológicos, citotoxicidade e diminuição da expressão do receptor HER cardíaco.
A dose cumulativa das antraciclinas é o principal fator preditor da cardiotoxicidade e seu diagnóstico se faz pela detecção de disfunção ventricular esquerda verificada como diminuição da fração de ejeção do VE e sintomas e sinais clínicos associados com galope ventricular esquerdo e o cotejo sintomático da síndrome. Podem também sobrevir hipertensão arterial sistêmica, coronariopatia, arritmias cardíacas, doenças do pericárdio e fenômenos tromboembólicos, com as mais variadas classes de quimioterápicos e sua diversidade de aplicações sejam em neoplasias sólidas e hematológicas.
Os principais fatores de risco para a cardiotoxicidade são: Idade (pacientes jovens) sexo feminino, infusão parenteral, dose cumulativa, irradiação mediastinica, doenças prévias como hipertensão e coronariopatia, e distúrbios eletrolíticos do cálcio e magnésio. A avaliação propedêutica é realizada através de ECG, ecodopllercardiograma, ressonância magnética cardíaca e angioressonancia, tomografia e biópsia endomiocárdica.
Hoje dispõe- se de estratégias tanto oncológicas como cardiológicas para minimizar o dano cardíaco. Da parte oncológica o uso dos análogos das drogas naturais das antraciclinas como a EPIrrubicina ou a IDArrubicina que podem ser usadas em titulações mais altas e por maior período sem os colaterais temidos das originais, A " embalagem" lisossomica das antraciclinas que diminuem sua toxicidade, permitem maior permanência no organismo e sua ação direta nos vasos de nutrição neoplásica, assim como as pró-drogas das antraciclinas associadas às mais variadas substancias como peptideos, polímeros ou anticorpos dirigidos ao alvo neoplásico.
O uso dos imunobiológicos por seu potencial de dano menor e transitório, o os imunobiológicos associados à toxinas fúngicas, regimes mais curtos e exclusivos e tantos outros.Os ensaios in vitro com modelos de tratamento também são preciosos e fazem os tratamentos mais seguros e efetivos.
Da parte cardiológica a identificação do paciente susceptível à cardiotoxicidade deve ser cuidadosa e minuciosa, a prevenção, diagnóstico e tratamento de qualquer afecção que possa aumentar o risco de nossos pacientes deve ser implementada, como meta pressórica alvo, tratamento e controle das arritmias cardíacas, tratamento da insuficiência coronariana, correção de distúrbios eletrolíticos, resgate da função ventricular esquerda e acompanhamento tanto de manifestações agudas quanto tardias do tratamento quimioterápico, uma vez que podem se dar em fases remotas pós tratamento.
Existem estratégias antioxidantes preventivas como os hipolipemiantes,os compostos quelantes do ferro,antoxidantes,mas só uma droga oficialmente aprovada com essa finalidade que é o daxrarozane,que tem uso controverso pela provável interferência na eficiência das antraciclinas. Assim como as doenças cardiovasculares, as oncológicas também têm bastante relação com nossos hábitos e estilo de vida e alimentação. O sedentarismo é responsável por muitas patologias, dentre elas a obesidade que é a mãe da inflamação e seus desdobramentos, dentre eles os mais variados cânceres.
O tabagismo responde por 95% dos cânceres de pulmão, o álcool responde por canceres em todo o aparelho digestivo, a dieta desequilibrada rica em carne ,vermelha, defumados, embutidos, sem fibras facilitam os cânceres de cólon, a exposição ao sol inapropriada leva ao câncer de pele, o consumo de alimentos repletos de pesticidas e defensivos agrícolas ( contra esses é difícil lutarmos) pode nos levar à cânceres hematológicos, a fumaça e Co2 dos grandes centros ao câncer de pulmão, Dietas inadequadas perpetuam a bactéria Helicobacter Pylori em nossos estômagos que nos levará ao câncer, se não tratada efetivamente, o uso indiscriminado dos antibióticos vai desorganizar nossa microflora intestinal e pode ocasionar câncer de intestino.
Infelizmente a lista é imensa assim como seu dano temporário ou permanente que levará o indivíduo a um sofrimento curto ou lento e demorado, com tratamento efetivo pela moderna onco-hematologia e sua vida restabelecida ou infelizmente um mau desfecho e seu decesso irreversível. Repensemos nossas vidas, reorganizemo-la no sentido dos bons hábitos, da dieta saudável, do exercício e entreguemo-la a Deus todos os dias.
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segunda-feira, 23 de janeiro de 2023
CARDIO-ONCOLOGIA - Por: Ronald Teles
quarta-feira, 11 de janeiro de 2023
BULLYNG - Por: Ronald Teles
Dr. Ronald Teles- Cardiologista
Bullying
Minha infância e
adolescência foram em um bairro suburbano de Fortaleza; era uma nova assentação
humana que albergava inúmeras famílias de bem com jovens famílias que buscavam
um local seguro, dotado de uma infraestrutura básica para seu pleno
desenvolvimento.
Brincávamos alegremente pelas
ruas, com corridas, pega-pega, carimba, adivinhações, jogos iniciais de
inocência, mas com intuitos velados amorosos como pera, maçã, uva e "
salada mista" que orientava à osculação ruborizada na boca do contemplado
ou contemplada. Jogos em campinhos de várzeas que eram cuidados pelos times que
lá pelejavam, e tinham seus campeonatos e troféus pagos como tubaínas em bares locais.
Visitávamos amigos e
parentes em bairros circunvizinhos sem sobressaltos ou medos de violência, que
era embrionária, amadora e sem a deslealdade e crueldade de hoje; naquele tempo
a " bandidagem" era mais " romântica" e os meliantes eram
conhecidos pelo nome e por sua fama, assim como " especialidade”. A cada
temporada uma comemoração; os jogos de Copa do mundo, com ruas enfeitadas de
verde amarelo e ufanismo declarado, com famílias inteiras defronte de
televisores de tubo, ainda sem controle remoto, mas com emoção desbragada e
fogos mis a cada tento do esquadrão canarinho.
No São João buscávamos
comprar fogos de artifício e as ruas estalavam com sons variados e o cheiro
gostoso da fumaça sinuosa da pólvora. Na adolescência a busca pelos "
sons" e tertúlias, para dançarmos " soltos " ou as "
músicas lentas”, onde colávamos nossos rostos, corações e corpos aos de moças
que consentiam nosso pedido para uma dança.
Era um momento de grande
emoção, pois poderíamos ter uma negativa da dança ou até como resultado um
beijo roubado de nosso par. O estudo era assunto seríssimo! Os mais abastados
estudavam em colégios da aldeota como o Cearense, Santo Inácio, Colégio Militar,
Imaculada Conceição ou um novo colégio sito à avenida Barão de Studart que
agregava alto nível de ensino e valores cristãos em seu cabedal de conhecimentos,
assim como também, era extremamente elitizado e dos " ricos" de
Fortaleza; era o Colégio Christus. Inglês, aprendíamos no IBEU, ou cultura Britânica.
Os demais moradores do bairro frequentavam o Colégio Redentorista,
O Ginásio Julia Jorge, o
colégio Santa Isabel, e tantos outros. Vale dizer que do meu bairro e de todas
essas instituições citadas, são egressos grandes médicos cearenses, engenheiros
do ITA, militares conceituados, engenheiros de todas as especialidades e
formações, advogados renomados, funcionários públicos de grande relevância, Magistrados,
Professores respeitáveis, Assistentes Sociais muito qualificados, odontólogos
também de excelência, administradores e economistas, enfim nosso torrão periférico,
se é que posso assim chamá-lo, deu à nossa sociedade uma contribuição fenomenal
com cidadãos de bem e de mente saudável, produtiva e sã.
Quando eu cheguei ao
colégio Christus ao início dos anos 80, proveniente do meu bairro ,alheio aos
limites da Aldeota e sua elite, fui tratado como um verdadeiro "ET";
a brincadeira começou quando ao recreio me servi de um lanche preparado por
minha mãe em casa! Era um verdadeiro ultraje comer um pão com ovo e um suco,
pois os alunos do colégio adquiriam fichas, iam na cantina e comiam seus "
hot dog" com coca- cola. Era constantemente inquirido se onde eu morava
havia índios ou outra civilização, meus" Ki- chute" eram comparados
aos tênis trazidos dos EUA pelos pais deles; era um verdadeiro confronto entre
subúrbio e Aldeota.
Rapidamente ganhei vários
apelidos e os assimilei sem raiva ou mágoa, e tb entrei no clima da brincadeira.
Fiz muitas amizades, por minha espontaneidade e leveza, ela alma tranquila e
também por ser parente de grandes humoristas cearenses, rebatia as brincadeiras
com brincadeiras. Fizemos vários grupos de estudo, nos finais de semana ia para
casa de colegas tentar assimilar matérias sempre espinhosas para mim, como
matemática, principalmente.
Sempre fui bem colocado
na turma, a despeito da bagunça que tb fazia, inclusive com várias idas à
" lista negra" de expulsão do colégio ao fim do ano. Como era
estudioso e promissor nunca se concretizou tal expulsão. Me distinguia na turma
na bagunça, e nos livros, assim como no esporte pois jogava basquete muito bem
e pertencia à seleção do colégio.
Ao terceiro cientifico,
quando disse que faria o vestibular para Medicina, não fui levado a sério, mas
passei na UFC, e muitos dos que me achincalhavam com as variadas brincadeiras,
às vezes até insultos, infelizmente não tiveram muito sucesso futuro, se
perderam na soberba e em seu universo preconceituoso sem objetivos.
Tudo que passei no
Christus, se chama atualmente de "Bullying ", esse neologismo
incorporado ao século 21,e à corruptela de nosso idioma português, devassado
com tantos outros termos ora em voga, que verdadeiramente " insultam"
nossos ouvidos, paciência e inteligência, assim como se fazem vazios de
conotação verdadeira, como " fake news", " Bugou", e tantos
outros, que nos impedem dizer: Um insulto, uma inverdade, uma mentira, quebrou,
houve um problema...
Na verdade não se pode criar um ser humano em
uma bolha. A família que é a nossa primeira igreja, através de seus pais, seus
irmãos e até parentes, enfim, têm que ministrar uma educação de inclusão e não
de exclusão. O mundo cobra dos seus habitantes novas posturas e novos paradigmas,
devemos equipar nossos filhos com tudo que possam sorver para ter um pensamento
digno, retilíneo, mas com flexibilidade e resiliência, para não se vitimarem
por qualquer fato em suas vidas, para não se acharem " cotistas" do
preconceito que não resvala em nenhum preconceito, de uma simples brincadeira
coloquial.
Não cultivemos mentes doentias,
escravas de modismos, afetadas por neologismos, por " parêntesis" e
exclamações por fatos banais do dia a dia. Não façamos nossas crianças mais
doentes do que já estão, se suicidando, porque foram " canceladas" em
mídias estúpidas de grupos.
Nossos costumes, nossa sociedade,
nossos pensamentos e conceitos estão passando por uma crise que precisa e deve
ser cuidada e também combatida com o bom combate. Diz Jesus, na Epístola de
Paulo aos romanos:" A minha graça te basta, minha força se aprimora nas
tuas fraquezas" Que maravilha diz nosso Salvador! Em nossas fraquezas, em
nossos sofrimentos, em nossa nudez espiritual Ele chega e nos resgata e mostra
o caminho certo! Façamos da dor nossa força para nossa salvação e esqueçamos
tantas coisas sem importância e que levam à destruição da mente e do corpo.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2023
FINITUDE - Por: Ronald Teles
Dr. Ronald Teles-Cardiologista
Finitude
O destino de toda criatura viva que habita a
face terrestre, seja de sua fauna ou flora é o mesmo, através do tempo, que na
verdade é uma invenção humana, pois o intervalo da vida, não existe, posto que
é um continuum, e esse parâmetro pré-determinado, simplesmente reflete o nascer
e o morrer.
Na verdade, quando nascemos,
já está definida uma contagem regressiva ao nosso decesso, que reflete tão
somente o envelhecimento celular e a incapacidade de renovação e multiplicação
dessas mesmas células e tecidos, determinando o que chamamos de velhice ou senescência,
que leva à perda gradual da função, à decrepitude e, por fim, ao suspiro final
da vida, e o término da jornada humana sobre a terra.
A morte celular pode
acontecer através de dois mecanismos bem distintos, que são a necrose e a apoptose.
A primeira tem como exemplo clássico e fisiopatológico isquemia miocárdica, que
priva o tecido muscular cardíaco de seu suporte energético básico, que são o
oxigênio e a glicose, poderíamos dizer que essa modalidade de morte celular
equivaleria à uma morte súbita, assim como também a repercussão imediata sobre
o hospedeiro que pode provocar a falência aguda da bomba cardíaca, que padece
de uma obstrução crítica de uma grande coronária epicárdica; falamos aqui
classicamente do infarto agudo do miocárdio que aniquila 1/3 dos indivíduos em
sua primeira hora e é a principal causa de morte no mundo desenvolvido e subdesenvolvido.
Nós homens somos mais
acometidos pela moléstia por vários fatores incluindo o genético, mas o sexo
feminino fica em condição paritária quando perde a proteção estrogênica na
menopausa. A segunda modalidade de morte celular, dita apoptótica, equivaleria
a um " suicídio " celular, mas esse seria" programado”, em uma
verdadeira implosão de todas as organelas celulares, como mitocôndrias,
reticulo sarcoplasmático, lisossomas e tantas outras, que regulam a intimidade celular.
Essa auto aniquilação tem
como exemplo clássico a morte celular na insuficiência cardíaca, que reflete
uma síndrome caracterizada por agressão continua e atroz ,sob a bomba cardíaca,
através de doença isquêmica aguda ou crônica, orovalvopatias, doenças de
depósito e infiltravas musculares, taquicardiomiopatias, enfim, uma gama de
enfermidades que em última análise vão levar o órgão à uma descompensação que
redunda em baixa de sua eficiência, perda de conformidade anatômica e
exacerbação neuro-humoral e simpática, que perpetuam a terceira causa de
internamento cardíaco e geral em nossos hospitais, principalmente na população
mais idosa, tendo como resultado mortalidade de 50%,daqueles que evoluem para a
classe funcional 4 da NYHA( New York Heart Association); escala clínica de
gravidade desta relevante e cada vez mais prevalente síndrome tão presente em
nosso século.
É bem verdade que o
arsenal terapêutico clínico atual, realiza verdadeiros milagres na recuperação
destes pacientes, devolvendo-os a função cardíaca normal, através do que se
chama remodelamento reverso. É importante pontuar que a causa base pode e deve
ser tratada através de procedimentos percutâneos, cirúrgicos, eletrofisiológicos,
uso de dispositivos de estimulação artificial e em última análise o TX cardíaco
que também ja foi muito aprimorado e caminha para o xenoenxerto com coração porcino,
geneticamente modificado e menos suscetível à temida rejeição. Na verdade,
ainda discorrendo sobre a finitude celular e tecidual, quando morremos, nosso
pool de carbono que é o principal constituinte orgânico, vai sendo doado à
natureza, se "incorpora "novamente à vida e pode estar presente em vegetais,
animais e até em novos seres humanos, que incrivelmente podem ter traços
ancestrais.
Classicamente o Carbono
14 é utilizado para avaliar a idade de vestígios da história, dada sua meia
vida de mais de 5.000 anos, possibilitando auxílio fundamental na arqueologia e
ciência moderna e elucidando mistérios sobre várias peças até mesmo sagradas
como o" Santo Sudário “, que envolveu Cristo Jesus após sua paixão e morte,
deixando marcas indeléveis do Criador, custodiada como uma das mais valorosas
relíquias da igreja católica, e objeto de inúmeros estudos científicos.
É sabido que o Carbono
que nos constitui também está presente no espaço, nos astros, estrelas e planetas,
que sem sombra de dúvidas transparece a assinatura do Criador sobre todo o
universo e sobre nós criados à sua imagem e semelhança. O cosmos e big bang são
"sopros" divinos resultantes de uma vontade superior. Nada no
universo é um caos, tudo orbita segundo leis físicas e quânticas, há uma organização,
uma primazia, mesmo nas milhões de galáxias.
Nosso maior anseio e medo
humanos, sem sombra de dúvidas é a morte. Somos programados psiquicamente e
neurologicamente a não pensar nela, pois se essa ideia nos acompanhasse diariamente,
nossa vida não teria sentido, seríamos reféns de séria patologia mental, e
abduzidos de nossos ideais, projetos, e da esperança. Nossa pulsão pela vida
está calcada na esperança e ela remete ao futuro. Precisamos de uma programação
mental positiva para alcançar nossas realizações humanas, que clamam pela
felicidade sentimental, profissional, intelectual, religiosa e tantas outras
necessidades até básicas mas que trazem contento e conforto, como matar a sede,
a fome e um teto digno para habitar.
Na verdade, tudo que nos
referimos até agora passa pela química, ela biologia, ela física quântica, ela
ciência médica, enfim por nossa perspectiva enquanto seres vivos, pensantes,
dotados de inteligência e de uma capacidade inerente à raça humana que é a
abstração. Nos voltando a Deus, podemos vislumbrar uma recompensa inenarrável,
assombrosa e lindamente possível que Ele nos ofereceu através de sua vinda à
terra dois mil anos atrás.
O maior presente e
auspicioso fulcro de esperança para nossa carne que "secará" como a
erva do campo ao fim de nossa existência terrena: "A vida eterna de nossas
almas ". Esta vida eterna e a maneira de alcançá-la foi revelada por
Cristo Jesus através de seu batismo no rio Jordão, onde Ele humildemente veio
após sua viagem de Nazaré e recebeu a unção do Espírito Santo em forma de uma
pomba branca, e da voz de seu Pai que bradou dos céus que Ele era seu filho
muito amado, enquanto João Batista o submergia na água e diria antes que não
era digno nem de desatar suas sandálias.
Não há como romancear,
questionar ou falsear a história bíblica, ela está assentada pelas mãos de
Abraão, Isac e Jacó, pelos profetas do antigo testamento, pelos apóstolos e
evangelistas e ratificada através do ministério curto, mas salvador para toda a
humanidade de Cristo Jesus. Esse ministério foi puro amor e cura, os milagres
ou sinais, estão presentes onde passou, e a doença curada não era só do corpo
que sempre perecerá, inclusive do próprio Lázaro, ressuscitado ao quarto dia de
sua morte física, já em decomposição; o verdadeiro resgate era do espírito,
pois todos por Ele tocados, passaram a segui-Lo e professar sua fé e
mandamentos. Essa palavra abre os corações mais duros, os transforma-os de
pedra para carne, e é perpassante como a mais afiada lâmina, que atinge a alma
dos incrédulos e os faz experimentar a delícia e libertação do amor divino. A
morte não existe para as almas crentes em Deus. A finitude contempla toda a
obra humana, mas não alcança os corações cativos do Senhor dos exércitos, do
Leão de Judá, de Emmanuel.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2022
NATAL - Por: Ronald Teles
Dr. Ronald Teles - Cardiologista
Natal
Chegamos
ao final de mais um ano; época de revisões, de julgamento, de interrogações a
respeito de ganhos e perdas a respeito da prosperidade de nossas ações, e do
que pensamos ter construído de bom ao curso dos 365 dias do calendário gregoriano,
que definiu esse espaço de tempo, que circunscreve nossas vidas, ações e
pensamentos.
Essa
época por ter em seu âmago um caráter revisivo nos volta às nossas consciências
e à arquitetura de nossos pensamentos pode sofrer com nossas cobranças mais íntimas,
e a sensação de que algo não foi construído ou até desconstruído por nossos
atos.
Incrivelmente as festas de final de ano
aceleram e acarretam índices elevados de suicídio, que representam uma ruptura
total do querer, do pertencimento ao mundo, e da autoaceitação, assim da
cobrança suprema de nossos atos e pensamentos; sendo ditada uma ordem da corte
suprema do desespero para a auto aniquilação.
Nossos
jovens perderam a capacidade de sonhar e já não dormem, pois estão em constante
companhia de seus "devices" intitulados celulares ou computadores, e
as máquinas "sonham" por eles,
em noites de verdadeira "fissura”, liberando uma dopamina, que lhes dá prazer,
mas também outro dia sem sono e repouso, sem a ação de células neurológicas
batizadas de micróglia, que são os verdadeiros lixeiros celulares, limpando
seus encéfalos e mentes dos maus pensamentos e das doenças degenerativas que
tem caráter também genético, mas que também fazem parte do estresse oxidativo vascular,
provocado nas preciosas artérias cerebrais, que irrigam bilhões de neurônios,
que necessitam de oxigênio, glicose e paz espiritual.
Temos
um final de ano alvissareiro para a humanidade; nos preparamos para um ano com
uma nova perspectiva de saúde e progresso. Nossa pulsão por viver é calcada na
esperança; São Paulo em várias passagens de suas epístolas, encontrava-se faminto,
degradado, espancado, amedrontado, abandonado pela caridade humana, mas dizia:
"Alegrai-vos na esperança!".
Essa
alegria vem do Espírito Santo, e ninguém e nenhum fato pode nem deve nos tirá-la,
pois ela é perene, assim como seu manancial é inesgotável pois provém de nossa
adoção como filhos de Deus, e do seu amor infindável por nós, para que passemos
pelo mundo experimentando as delícias de amar e ser amado em sua dimensão
divina.
O
Natal, o presépio, o " papai Noel”, têm caráter sagrado, aqueles, e pagão
o último. Há 2 mil anos, em uma estrebaria de Belém de Judá, nascia o cordeiro
de Deus, o que tira o pecado do mundo, cercado de sua santíssima mãe Maria e
seu casto esposo da tribo de Davi, São José, dos bichinhos que presenciaram o nascimento,
de um coro angelical que O louvavam com " Hosana nas alturas, nasceu o
Salvador da humanidade, paz na terra aos homens de boa vontade ".
Lá
estavam também Belchior, Baltazar e Gaspar, os reis magos, vindos do oriente,
para adorar o menino Deus e presenteá-lo com ouro, incenso e mirra. Esse
nascimento marcou o reinício da esperança de que falávamos ao início, pois
colocou na terra o único Deus e homem que habitou entre nós, e através de sua
vida e ministério, sua paixão, morte e ressureição, nos mostrou a salvação por
sua palavra e nos redimiu do pecado original, com o sangue que pintou na cruz a
maior obra de arte até hoje realizada e nunca copiada por nenhuma mão humana,
pois o autor dessa obra foi Deus, assim como quem padeceu nela foi o próprio
Cristo por amor a todos nós. Voltando ao presépio foi obra e ideia de São
Francisco de Assis, que o idealizou como lembrança para a humanidade da singela
humildade e majestade de Deus ao seu nascimento.
Já
nosso papai Noel, em da Lapônia, terra fria e nevada, onde usava um trenó,
tracionado por renas. Essa estória foi transferida ao imaginário infantil como
um velhinho rechonchudo voando nos céus em um trenó magico, distribuindo
presentes ao redor do mundo na noite de Natal.
Grandes
multinacionais se apoderaram da ideia e colocam suas marcas como se fora o real
sentido do Natal, em um espetáculo de luzes e consumismo tão pertinente aos
dias atuais, materializando a data de 25 de dezembro em festas regadas aos seus
produtos, em uma alegria efêmera de um momento.
A
infância passa, a inocência dá lugar à maturidade e nos tornamos adultos desconfiados,
pragmáticos e objetivos, somos então apresentados aos verdadeiros " papais
noeis”: Nossos pais. A verdade é que nosso grande presente natalino, é nossa vida,
nossa saúde, nossa família, nossas profissões, que nos dão nosso sustento, o
teto que habitamos, quando tantos enfrentam as intempéries do abandono ao ar livre.
Temos
tudo e há uma sensação de não termos nada, pois a felicidade não é só um estado
de espírito ou algo material conquistado. A plenitude vem de nossa fé, essa
plenitude não é palpável nem é contada como o dinheiro que corrompe a tantos.
Ela vem do encontro sincero com o amor do Criador por nossas vidas e atos.
terça-feira, 13 de dezembro de 2022
CONFRATERNIZAÇAO NATALINA SOBRAMES-CE - 2022
Aconteceu, ontem, dia 12.12.2022 (segunda-feira), às 19h, no Auditório da Unichristus (2° andar) - Campus Parque Ecológico, Fortaleza-CE, a Confraternização Natalina da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Capítulo Ceará, SOBRAMES-CE.
A programação contou com a solenidade de posse de novos membros, homenagem ao Jornal do Médico e ex-presidentes da Sobrames. O Coral da Unimed de Fortaleza deu um brilho especial ao evento. Empossados: Sócios Titulares: Dra. Adriana Pinheiro Bezerra Pires, Dr. Felipe Oliveira Neves, Dr. Félix Campos de Barros, Dr. José Lima de Carvalho Rocha, Dra. Maria Sidneuma Melo Ventura. Sócio Acadêmico: Marília Carolina Paiva Florênciodomingo, 27 de novembro de 2022
AMAR - Por: Ronald Teles
Dr. Ronald Teles - Cardiologista
Amar
Esse verbo de fácil
pronúncia e difícil prática é o mister de Deus para todas as criaturas humanas.
Quando amamos, esse sentimento resplandece em tudo o que fazemos, almejamos, temos,
alcançamos, queremos e ofertamos.
Essa prática é uma caminhada dificílima ao nosso interior, às zonas mais profundas de nossas almas, tantas vezes imiscuídas de outros sentimentos que abafam fragorosamente essa capacidade latente, linda e celestial que todos nós temos e devemos cultivar, buscar e almejar todos os dias para construção de uma vida mais intensa em todos os sentidos, livre da superficialidade do mundo que nos envolve com doutrinas descartáveis, ditas por muitas vezes com o que queremos ouvir e não o que devemos ouvir.
Esse convite é diário, assim como seu valor supérfluo, assim como seu conteúdo vazio, assim como seu tempo inválido e sem valor construtivo para nossas vidas e pessoas. Nossos olhos, as janelas de nossas almas, devem estar conectados com nossos corações, que são a sede dos nossos sentimentos mais profundos, como o amor, a compaixão, o perdão, a benevolência, a caridade e a piedade.
Quando somos movidos pela luz, nossos passos, e nossas mãos, acompanharão nossos pensamentos, que fugirão do universo caótico do mundo que gira em torno da vaidade, do conflito e do desamor. Para que tudo isso aconteça temos que buscar uma reflexão profunda de nossas atitudes e atos e viajar ao âmago de nossas consciências, buscando humildemente uma perscrutação de nossos excessos e de velhos vícios que nos amarram ao passado ou nos movem no presente, prejudicando nossa total entrega, embora difícil de amar ao próximo.
Falar do amor é um desafio imenso, ele já foi dissertado por grandes escritores, foi obra de filósofos, escultores, pintores, teatrólogos, a música é puro amor, já se travaram até guerras em seu nome como a de Tróia, pelo amor de Helena; mas a verdade é que quando somos realisticamente invadidos por ele, nosso olhar ao mundo se reveste de emoções que brotam do amor do Criador por nós!
Nossa prudência em não ferir se aguça, nossos passos são brandos e nossos atos pensados, nosso olhar se reveste de paz e carinho e prima pelo bem, nosso abraço é sincero e carinhoso, vemos o mundo como um presente para nossa edificação e crescimento, como um bom desafio para crescermos de maneira saudável física e espiritualmente.
O homem admira a belicosidade, a agressividade, a guerra acirra seus instintos primordiais e territorialistas; é bem certo que alguns conflitos da humanidade foram do bem contra o mal e Deus foi providencial, dando a vitória a aqueles que deram suas vidas para a construção de um mundo melhor, como todos sabemos, na segunda grande guerra mundial onde o Eixo, queria engolir o mundo como um dragão de fogo e fazer reinar a treva sobre a humanidade.
Graças a Deus sabemos o final! E respiramos aliviados, pois o bem sempre vencerá o mal, como afirmou São Paulo em uma de suas 7 epístolas. Voltando mais ao tempo, indo ao velho testamento, temos o cerco à Jericó, onde o exército israelita arrodeou a cidade várias vezes com a arca da aliança e as muralhas desaba
ram por ordem divina, dando grande vitória ao povo de Deus. Voltando ao século 21,esses tempos de grande turbulência e inquietação da humanidade, onde estamos assistindo tanta desconstrução dos verdadeiros valores ditos cristãos, que estão caindo em frente aos nossos olhos, como se fora " esse novo normal " que na verdade é escatológico!
As relações humanas estão deturpadas com uma agressividade jamais Vista, nada é meritório, pois temos " cotas " para tudo e todos, como se não houvesse mais necessidade da boa luta para a consecução dos objetivos maiores.
A libertinagem, a luxúria campeiam as televisões e net oferece um " cardápio" de ultrajes morais e até " manual" de suicídio para os jovens, a cortesia, a nobreza e os bons costumes estão solapados pela aspereza de tratamento, os idosos que são as verdadeiras joias e nossas bibliotecas vivas dos conhecimentos da vida são relegados em asilos de luxo, ou de lixo, pois são considerados " ultrapassados" e não úteis à velocidade nefasta do mundo ocidental.
As relações humanas estão superficiais e desinteressantes, nos atemos aos nossos computadores de mão intitulados celulares e quase não nos olhamos nos olhos de nossos interlocutores, caracterizando um desrespeito e fragilização de nossa vida em sociedade. É bem verdade que cada geração tem suas inovações, suas conquistas, seu novo modo de vida e suas aspirações para o presente e futuro.
Essa marcha tem que ser avaliada passo a passo, a ciência e a fé são como duas asas de um passar o, que o fazem voar em busca da felicidade e de um destino construído na rocha da esperança. Não podemos abrir mão do amor, ele deve permear nossas conquistas e nossas vidas, nossos relacionamentos, nossas profissões, nosso zelo pessoal, nossa saúde e nossos pensamentos; pois se assim o fizermos tudo será e terá como consequência a perfeição do bom pensamento, da atitude limpa de escrutínios de arrependimento; a luz estará presente em nossos atos ,pois como diz o sagrado Evangelho "Vós Sois o sal da terra e a luz do mundo".
Então façamos essa diferença que pregou Jesus Cristo em sua imensa, divina e onipotente sabedoria; Ele deixou todo seu amor para nós ! Entreguemo-lo de volta aos nossos irmãos e vivamos em paz e concórdia construindo uma vida melhor, voltada para um presente de felicidade e um futuro que acalente as novas gerações com pensamentos, aprendizados e uma herança de paz amor e cuidado com o próximo e com o mundo, preservando e cultivando a paz e a boa vontade na raça humana, que a olhos vistos marcha para o Armagedon!
A geopolítica é confusa, sinistra e ditada por atores mestres do terror, das bombas atômicas, de nêutrons, dos foguetes atmosféricos e de todo um discurso maléfico, além de nossa capacidade de controle, pois se julgam os donos do mundo e senhores dos nossos destinos, esse equilíbrio é frágil e capilar, pois qualquer exercício de guerra mal elaborado pode desencadear o terceiro conflito mundial, desta vez atômico e irreversível para a raça humana.
Pelo outro lado vemos os pseudo-dirigentes, com seus ternos, gravatas e discursos impecáveis decidindo os destinos de nossos climas e das matrizes energéticas em um recente encontro em território árabe com a seguinte conclusão: Nada! Apenas apelo visual, discursos vazios e rebuscados em um desfile de vaidades e incertezas.
No
entanto é certo que por um sentimento de autopreservação nos inventamos e reinventamos,
quase sempre, quando nossa existência vai escapando por entre os dedos e nos
volta irremediavelmente ao pó e destruição total. Incrivelmente nosso livre
arbítrio determina essas escolhas, que muitas vezes alegamos como os
"castigos" a que somos presenteados pela vida. A esperança de um novo
sol a brilhar, da voz de uma criança e do choro de um recém nato, nos movem
todos os dias ao nosso novo amanhã, na paz do Criador.
quarta-feira, 23 de novembro de 2022
A POBREZA - Por: Dr. Ronald Teles
A POBREZA
De quatro em quatro anos, um sentimento uníssono se apodera do coração dos brasileiros. Desde nossos primeiros passos, quando crianças, que começamos a ter entendimento, somos capturados pela magia de uma camisa amarela, que é a única campeã do mundo 5 vezes, a única que participou de todas as copas do mundo, a única que teve em seu time Pelé e Garrincha, inclusive jogando os dois juntos, dois deuses do esporte bretão, que nos apoderamos magistralmente através de virtuoses da bola de pé em pé, suscitando uma paixão, uma magia, uma catarse de sentimentos ,manifestada em cada drible, gol e vitória, e chorada como se fora a perda de um ente querido nas nossas derrotas.
Sabemos perfeitamente os anos que fomos campeões, ansiamos inebriadamente pelo hexa, e por mais estrelas no peito dos que vestem o manto sagrado amarelo, de nossa seleção brasileira. De quatro em quatro anos nossa vida avança e passa, nossos problemas se avolumam e carpimos nossos destinos que vêm implacavelmente, em resposta ao tempo e o galardão que merecemos e buscamos. Nesse ínterim também vem a Copa do mundo de futebol, essa solene guerra no campo, com cada país exibindo o que de melhor tem na arte do football.
Nelson Rodrigues, fanático por futebol e cronista ácido desse esporte dizia que através dele nos despíamos do nosso " complexo de vira-latas”, e o Brasil assumia toda sua fortaleza e majestade de grande país, como um grande vencedor que foi e é nesse esporte desde sua criação. A arte da bola em campo e a riqueza e perfeição de nossos atletas, grandes especialistas em cada posição, suplantando todos os rivais passo a passo é a verdadeira catarse de um povo sofrido, que esquece por algumas horas a fome, a miséria, o abandono, a saúde precária, a falta de teto, a falta de qualquer consideração social que os façam cidadão dignos.
Donos de sorrisos banguelos, desidratados e famintos se postam defronte de televisões contemplado seu circo, pois eles não têm o pão da dignidade. Os romanos ofereciam pão e circo aos seus cidadãos. O pão pelas facilidades, e benefícios distribuídos ao povo romano pelos Césares, que eram " deuses" vivos, e o circo era o espetáculo horrendo, dos cristãos trucidados por feras, crucificados e queimados vivos, além de batalhas de gladiadores finalizadas com a morte autorizada pelo imperador em um aceno final em um banho de sangue, que ensandecia a turba em um frenesi macabro.
O palco principal dessas atrocidades está de pé em Roma, que é o Coliseu romano. Lá ecoam os gritos e a morte na paz de Cristo, daqueles que tiveram sua vida ceifada brutalmente por serem seguidores do mestre do amor, assim como dizem os evangelhos. Essa sina ainda é presente hoje e muitos ainda são mortos e perseguidos por seres cristãos, mas estes encontrarão a paz eterna ao lado do Pai, conforme a sagrada palavra bíblica. De forma surpreendente o imperador Teodósio, adotou o cristianismo como religião oficial do império romano, pois o grito dos que morreram massacrados nas arenas chegou aos ouvidos de Deus e Ele que tudo sabe, vê e ouve, fez o Espírito Santo converter o coração dos algozes em seguidores da justiça de Cristo.
Assim veio nossa igreja católica apostólica romana. De novo, os novos gladiadores do século 21 estão nas arenas de um emirado árabe, em uma batalha que passo a passo comoverá a nação brasileira, quiçá com um desfecho glorioso que todos almejamos, que é mais um campeonato do mundo. Esse pensamento, essa atitude, esse campeonato que despende milhões de dólares em caprichos de estádios climatizados, em um copo de cerveja a 70 reais, à construção de uma infra- estrutura que mais matou operários no mundo, pelo calor e insalubridade, que trabalham, por esses mesmos 70 reais a diária.
Deveriam ser pensados e repensados. Será justo morrer de fome e sede!? Ser jogado na sarjeta invisível aos olhos daqueles que passam apressados em seus carros importados, rumo ao trabalho, já havendo tomado um bom café matinal? A negação aos que pedem é um ato de muitas repercussões; eles nas ruas, nas favelas, becos, aterros sanitários, em suas condições sub humanas, pedem socorro e são ignorados pela sociedade Esse 1% detêm todas as riquezas e as concentram, não importando os outros, pois seus maiores horizontes são seus próprios umbigos, são narcisistas e egocêntricos por natureza, suas fortunas são para ostentação, baluartes que alimentam suas almas mundanas, materialistas e mesquinhas. Só há um detalhe: Esse desprezo está se transformando em violência, e o que não é oferecido pelos mais ricos e pelo estado, está se travestindo de assaltos, sequestros, latrocínios, homicídios e delinquências mil.
Vivemos uma convulsão social banhada de sangue e violência e há uma demência geral que faz indivíduo interrogar o que está acontecendo...? Está acontecendo uma concentração de renda estúpida e falência do poder público em alcançar aos cidadãos em seus anseios mais legítimos e dignos. Nosso Brasil é imenso e rico, assim como o são o continente africano, o asiático, o americano do norte e a velha Europa. No entanto a solidariedade e a justiça social não são infelizmente novos paradigmas para nenhum deles. Em todos os citados encontramos os seres humanos como se fossem de outra raça.
No nosso gigante adormecido dispensamos comentários, na África subsaariana, falta da água, às vestes e comida, não há vacinas, e as novas variantes virais se albergam por lá em combinações explosivas, no continente asiático o desastre populacional desmonta qualquer política de bem estar aos cidadãos e a fome campeia, assim como uma economia escravagista, na América do Norte não existe saúde pública, e com toda a pompa e fleuma de " grande," os pobres morrem congelados em Manhattan e as " favelas" americanas se aglomeram em grandes centros como Detroit, e outras cidades famosas como " comunidades desassistidas " e alternativas.
Na Europa o fenômeno se repete, mas pelo menos no Reino Unido existe um sistema público de saúde, mas lá também a fome, o frio e a falta de teto vitimizam muitos. O Evangelho de Cristo Jesus diz que: " Não há um só justo entre nós " Mas também prega que o amor ao próximo é nossa cura, libertação e restauração. Devemos rever todas as estruturas vigentes, políticas, sociais, culturais, religiosas, no sentido da justiça e do bem comum.
Não existe possibilidade de pacificação social com uma desigualdade avassaladora que ora vivemos e que se agravará se nada for feito. Isso passa pelos governos em todas as suas instâncias, mas também deve suscitar comoção aos ricos. Esses ricos e muito ricos, podem dispor de uma pequena parte de suas fortunas para promover o bem social. Será que o acúmulo de riqueza por si só, não configura uma estúpida e atávica mesquinhez? Essa pequena, mas plural contribuição em todo nosso país orquestrada como um amplo movimento, entrelaçada aos governos nos mais variados programas, iriam tornar nossa imensa e desigual nação, mais justa, mais alegre, mais segura, menos violenta.
E assim então cada conquista de nossos cidadãos seria uma grande vitória, e não precisaríamos esperar a cada quatro anos para gozarmos de uma felicidade efêmera de um campeonato mundial, pois as vitórias em Cristo seriam diárias e nossas expectativas alicerçadas no rochedo, e não no solo arenoso e pantanoso de promessas vãs, feitas em de quando em quando, calcadas em frases de efeito e consciências sórdidas, que só buscam a perpetuação da dominação de nosso povo sem nunca oferecer-lhes o real e digno sentido de suas vidas.