Em 8.2.2022, profundamente abalado pela perda irreparável do inesquecível Pedro Olímpio Aguiar, um colega da Turma80, como carinhosamente nos referimos à nossa Turma Samuel Pessoa, ocorreu-me procurar um texto por mim elaborado havia mais de uma década para ilustrar nossa peculiar relação de fraterna amizade e companheirismo:
“Na Faculdade de Medicina, os últimos semestres de aula propriamente dita foram marcados pela tentativa incessante de todos os alunos em conseguir as cadeiras optativas mais interessantes, não só para o enriquecimento dos currículos individuais e direcionamento das especialidades que cada um tinha em mente, como também para preencher o número de créditos necessários ao ingresso no Internato.
Dessa fase, lembro com saudade das conversas filosóficas que mantinha regularmente com o Pedro Olímpio Aguiar. Na maior parte do tempo debatíamos temas existencialistas e procurávamos a todo custo desenvolver uma teoria que explicasse o comportamento humano. Tal teoria baseava-se na ideia da ativação de dispositivos inatos, comuns a todos os seres humanos, mas que apenas alguns os ativavam, determinando assim essa ou aquela conduta individual e sua consequente reação no meio ambiente e no meio social.
Era um verdadeiro papo cabeça, presenciado por muitos colegas, os quais, talvez desconfiados de nossa sanidade mental, mas bondosos, como ainda hoje permanecem, resolveram nos chamar não mais pelos nomes, mas apenas de mestres.
Mas era ‘messsstre’, assim prolongando o ‘s’ para dar uma imponência meio debochada e aquilo pegou, e tanto pegou que ainda hoje usamos esse tratamento carinhoso toda vez que nos encontramos.
E foi da profícua amizade entre Pedro Olímpio Aguiar e Walter Miranda que nasceu uma canção composta em parceria, cuja letra foi posteriormente publicada em 1989 na antologia ‘Letra de Médico’, da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, Regional do Ceará:
Renascer
E quando
a trajetória espatifou-se
e o pensâmetro enguiçou
sobrou um rastro de vozes e imagens
pateticamente ingeridas
que se antagonizam aos meus olhos e ouvidos.
Sobrou um riso chorado
com dentes de branco alvíssimo
e lágrimas discretas
como um prenúncio de que-me-importa.
Diante dos escombros
persistiu uma vontade
que debateu-se e bradou
embriagou-se e desatou nós
rompeu correntes
e admirou a morte de uma tarde
a lua sonolenta que dormiu o dia inteiro
o hálito do mar
com um ar de ainda-há-tempo”.
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