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terça-feira, 11 de julho de 2017

POR: SEBASTIÃO DIÓGENES - O prêmio que valeu dois


Dr. Sebastião Diógenes - Tesoureiro da Sobrames-CE
O prêmio que valeu dois



                Esta história é antiga, é do tempo do Caravele, o avião. Então, comecemos!

            Quando Dionísio chegou do trabalho o jantar já estava servido. Com um largo sorriso, típicos dos afortunados, Dió, como os colegas chamavam-no, dirigiu-se à mulher, que se encontrava em estado belicoso.

            - Tenho uma novidade pra lhe contar, que você não vai acreditar! – disse Dionísio com o entusiasmo daqueles que se acham.

            - Então, não conte! – respondeu a mulher com indisfarçável grosseria. – Trate logo de jantar senão a comida esfria.

            Dionísio dirigiu-se à mesa e fez a refeição, calado, moendo os alimentos e remoendo as palavras da esposa. Pensou na vida, nas pedras do caminho, os desgostos do cotidiano doméstico.

            O protagonista desta história antiga era caixeiro viajante, e a cada mês passava alguns dias trabalhando em cidades vizinhas. Algumas semanas depois da fatídica noite que o feliz Dió queria contar a “novidade que a esposa não iria acreditar”, realizou mais uma viagem. Aliás, não foi mais uma viagem. Foi uma viagem diferente, porque mais demorada que as habituais.

            A mulher, preocupada com a demora do retorno do marido, dirigiu-se à firma para pedir explicações sobre o seu paradeiro. Julgava que ele era vítima de exploração pela empresa, e iria reclamar os direitos dele.

            - A senhora por aqui! Já retornaram da viagem? Quede o Dió? – perguntou surpreso, o chefe da seção.

            - Quede o Dió? Eu é que pergunto, onde está o meu marido? – indagou a mulher, com indícios de rancor na fala.

            - Então, ele não lhe falou sobre o prêmio que havia ganhado da firma? –retrucou o chefe da seção.

            - Que prêmio? Não sei do que está falando! – respondeu a esposa de Dió.

            - Pois dona Ingrácia, o Dió é muito sortudo! Ganhou uma viagem para o Rio de Janeiro com tudo pago, hospedagem no Copacabana, e mais seis mil cruzeiros pra gastar, com direito a uma acompanhante – explicou o chefe da seção, intrigado com o alheamento da mulher.

            Por fim, dona Ingrácia lembrou-se da “novidade que o marido queria lhe contar”. Formou-se um silêncio constrangedor. Ela de vista baixa, despediu-se, sem maiores assombros. No entanto, no caminho de volta para casa, ocorreu-lhe o pior na imaginação. Esclarecia-se o sumiço da desquitada, a recém-chegada filha da vizinha.

Sebastião Diógenes.

01-01-2017.

             

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