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quinta-feira, 17 de abril de 2014

POR: SEBASTIÃO DIÓGENES - CAUSO DE CONSULTÓRIO -2



 
Dr. Sebastião Diógenes - Médico e Tesoureiro da Sobrames-CE

Causo de consultório – 2

            Algumas pessoas têm o mau costume de falar mal do médico que lhes vem prestando assistência. Seria uma desastrada maneira de fazer média com o assistente da vez? Ou, quem sabe, seria uma tentativa de endividá-lo e obter maior dedicação ao seu estado nosológico? Não sei. Fato é que procuro não dar ouvidos a esse tipo de intrigas. Quase sempre desconverso. Às vezes, dependendo do caso, procuro defender o injustiçado facultativo. Há situações que o melhor é permanecer calado, dar o escutado pelo não escutado.
            Feito esse preâmbulo, passemos ao causo. Em um ambulatório público, chega- -nos um jovem seminarista da diocese de Quixadá com febre, tosse e dores nas costas. Vinha acompanhado de uma irmã de caridade, ainda jovem, usava o hábito da congregação e o pesado crucifixo pendurado ao pescoço. Acompanhado de alunos de medicina, examinamos o paciente, solicitamos radiografias e exames laboratoriais de rotina. Enquanto preenchíamos os papéis, a religiosa começou a elogiar o nosso atendimento. Logo pensei: “aí vem coisa”! E não tardou. A freira passou a falar mal do médico que atendera o paciente em outro serviço público de Fortaleza. Havia mágoa na sua queixa. A situação era constrangedora, principalmente devido à presença dos acadêmicos. Eu procurava aliviar a barra, fazia intervenções de defesa, mas a freirinha comportava-se irredutível, sempre refutava com veemência as minhas ponderações. Por fim, veio o xeque-mate:
            - Doutor, o médico nem olhou prá gente! – Disse a freira com rancor na fala.
            - Ele deve ter olhado, irmã. É que a senhora não percebeu. – Procurei mais uma vez advogar a difícil causa, que não sabia que seria a última tentativa.
            - Não olhou de jeito nenhum, doutor! Ele me perguntou se o rapaz era meu filho!
            Os alunos esboçaram um riso contido, porque o ambiente era de constrangimento. Na mesma manhã o paciente foi internado. Estava com pneumonia dupla. Tempo depois ordenou-se. Hoje é padre no Rio Grande do Sul, sua terra natal.
Sebastião Diógenes.
Em 13-04-2014.

3 comentários:

  1. Gostei muito, Sebastião, deu-me saudades do meu consultório há 25 anos atrás. Parabens, William - Campinas-SP

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  2. Kkkkkkkkkk.... É isso aí, amigo!!! Os pacientes observam! E nao adianta "tapar o sol com a peneira"...

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