Dr. Sebastião Diógenes - Médico e Tesoureiro da Sobrames-CE |
O encanto de Bonasorte
Na época que namoravam não havia as
precocidades de hoje, e foi na noite de núpcias que os sexos se conheceram na gostosa
intimidade de pele e mucosa.
- Se eu
morresse agora, morreria sem queixa! – disse Bonasorte, com a convicção do homem
satisfeito.
A mulher ficou surpresa e aflita com essa
manifestação verbal do comedido marido, que se lhe tornaria a marca registrada
da idealização conjugal.
- Se eu morresse agora, morreria sem
queixa! – repetia sempre, dessa maneira, a mesma frase após o ato sexual.
A mulher ficava
transtornada, não se conformava com a vulgaridade do marido. Argumentava-lhe com
a hipótese do pecado, que era uma blasfêmia, que o bom cristão não deveria proceder
assim, e que havia coisas mais importantes na vida que o efêmero orgasmo. “Aí mente”, dizia Bonasorte, cinicamente,
consigo mesmo. Todavia, com o passar do tempo, a compreensiva mulher foi se
acostumando com a proclamação do êxtase do comedido marido, e por fim, ficava feliz
em fazer parte do que já considerava uma simples brincadeira.
Para o
encerramento das comemorações do quadragésimo aniversário de casamento, o
apaixonado Bonasorte contava com as oferendas da cama. Passara uma semana se
resguardando pra não falhar na data. O diabo é que falhou, e lhe feriu de morte
o orgulho masculino. “Passar vergonha em casa, não justifica suicídio”, racionalizava
com tanta amargura, enquanto a mulher, por sua vez, imaginava o que ele iria
dizer desta feita.
- Se eu
morresse agora, morreria com queixa! – disse com a melancolia do homem
derrotado no tálamo.
- Não fique
triste, meu velho! - falou a esposa, já com o telefone à mão, ligando para a
farmácia. – Mande aquele comprimido azulzinho, o mais forte – solicitou a
encomenda com prescrição de urgência, porque não suportava ver o amor da sua
vida infeliz.
Bonasorte
tomou o comprimido azulzinho, o mais forte, e meia hora depois figurava na cama
feito o noivo da lua de mel de há quarenta anos. Ficou surpreso e encantado com
os poderes da pílula, e dessa forma a operação foi realizada com sucesso. No
entanto, logo após a função do órgão, o protagonista rolou o corpo com
dificuldades para o lado esquerdo da mulher, foi ficando cada vez mais pálido e
os ânimos desfaleceram.
- Já vai Bona?!
– perguntou a fiel companheira, com serenidade e resignação.
- Sem queixa!
Sebastião Diógenes.
13 de janeiro de 2016.
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