Dr. Antero Coelho Neto - Médico e Membro da Sobrames-CE |
O GESTO ADIADO
Publicado no Jornal O POVO, hoje, 05/02/2014.
Como
sempre acontece, e aqui temos referido, no começo de um novo ano muito se fala,
lê e escreve, sobre planos, sonhos e projetos futuros.
A
época de renovações e anseios nos faz refletir no que se passou e no que há de
vir. Pensamos, pesamos e comparamos as coisas boas que fizemos e outras tantas
que deixamos de fazer, ou erramos ao tentar fazê-las. Nem sempre é fácil.
Agora,
na maturidade de tantos começos, sinto, mais forte, uma necessidade de avaliar
o que deixei de fazer. E o por que deixei de fazer e, assim, adiar. Tenho
certeza que muitos, jovens e idosos, sentem as mesmas coisas.
Não
deliberadamente, mas sempre deixamos escapar tantas atitudes, tantas
gentilezas, tantas provas de carinho, de afetos ou, simplesmente, de amizade,
de gratidão.
E
aí está a grande perda: o GESTO ADIADO. Ele passa, se esvai, parece fugir de
nós e perder-se no tempo. Mas ele não sai de nossa lembrança e também de muitos
a quem ficamos devendo. E destaco, mais uma vez, o valor de nossa Memória. Ao
pensar nas causas desses efeitos tão importantes, lembramos as raízes primárias
daquela educação repressora dos pais (sobretudo o pai) cuidadosos e vigilantes,
traumatizando os filhos homens para que se tornem futuros “machos”.
Nós,
pobres meninos, não deveríamos chorar, sorrir demais, vestir cores alegres,
gostar de flores, de jardins. Éramos sérios, tímidos e até antipáticos. Meninos
não podiam ser afetuosos, carinhosos, gentis. Éramos sisudos; os alegres e
conversadores eram “incheridos”... Tínhamos de ser
“machos”. E mais, tínhamos de ser forte, o provedor, o exemplo, o
chefe. E isso não incluía as emoções, as lágrimas, a delicadeza, o afago, o
carinho.
Pois
agora estamos em novo começar. Estamos adultos ou idosos. Vamos resgatar os
gestos que adiamos? Sempre cabe um pedido de desculpas, um telefonema, uma
gentileza, um tocar, um abraçar, um beijar, um afago, um obrigado!
Ainda
é tempo. Vamos aprender e aplicar as lições que nos dão - de graça – as
Mulheres. Aqui, já destaquei, muitas vezes, o tanto que aprendi com as
mulheres. Maravilhosos seres que estão sempre à nossa volta, lindas, coloridas,
álacres, risonhas e, tão encantadoramente conversadoras e prolixas. E por que
são assim? Por que não carregam em seus lindos ombros – mesmo quando
chefes de famílias - aquela árdua e penosa missão de ser um MACHO.
E
foi assim, com carinho e muito amor, que aprendi com minha mulher, alunas,
amigas ou namoradas, esses ensinamentos que nos tirou da vida rotineira e
melancólica que tinham reservado para muitos de nós homens. E o melhor Tempo
passou a ter cada vez mais importância para a nossa vida futura e, conseqüentemente,
para a nossa Memória.
Pensa
nisso ao planejar tua vida para 2014. Minha mulher sempre disse que tenho de
relembrar e confessar, publicamente, que Ela foi minha maior e melhor
Professora. E ela sabe cobrar...
Antero Coelho Neto
Médico e Professor
Dr Antero, o senhor escreveu sobre coisas que eu vi acontecer e vi desacontecer. Sim, há poucas décadas o filho homem ainda era criado de modo a "não demonstrar fraqueza", porque demonstrar sentimentos de afeto, carinho, tristeza, eram considerados fraquezas e sinal que o menino podia ficar "maricas" como se dizia antigamente. Ainda bem que os tempos mudam, que os homens mudam, que mudamos nós mulheres. Obrigada por compartilhar essa sua análise do GESTO ADIADO com seus leitores. Gostei muito.
ResponderExcluirFátima Azevêdo