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quarta-feira, 17 de abril de 2013

POR: WILLIAM MOFFITT HARRIS - BANDEIRA VERMELHA: UMA OVA!



Dr. William Moffitt Harris - Médico e Membro da SOBRAMES-CE

BANDEIRA VERMELHA: UMA OVA!  1

                                           William Moffitt Harris 2
Quando ia a São Vicente e ficava lá alguns dias hospedado no apartamento de minha filha, costumava fazer uma caminhada, quase que diariamente, de uns três a quatro quilômetros ao longo da praia perto do mar onde a areia é mais firme. Uma pequena deficiência física na altura do joelho esquerdo em consequência de uma implantação de prótese total não muito bem sucedida, obriga-me a andar devagar e com cautela, ajudado pela bengala para não tropeçar em alguma anfractuosidade e cair. A bengala que usava tem como formidável dispositivo um quadrado de borracha, trazida da Argentina por um amigo meu, preso em sua extremidade que não a permite afundar na areia.
Em fins-de-semana e nas férias escolares são milhares de pessoas que aproveitam o bom tempo ensolarado para passar horas lagarteando e se banhando nas águas frescas e movimentadas do mar.
Faz alguns anos que observo que a CETESB, órgão estadual que cuida do saneamento básico, iça em alguns pontos da praia uma pequena bandeira vermelha de mais ou menos um terço de um metro quadrado onde está escrito: IMPRÓPRIA. CETESB. Não existe qualquer informação sobre sua origem, finalidade e utilidade. Ninguém está por lá para prestar qualquer tipo de esclarecimento. Quem teve a paciência, interesse e compreensão técnico-administrativa para acompanhar a entrevista da Secretária Estadual do Saneamento e Meio Ambiente Dilma Pena no programa Opinião da TV Tribuna em fevereiro, deve ter se sentido frustrado ao notar a grande preocupação do alto escalão governamental em traçar metas a médio e longo prazo sem definir e cuidar muito do planejamento a nível operacional na periferia do organograma.
Num mês de fevereiro, há poucos anos, conversei um pouco com um dos bombeiros que estavam de plantão perto do emissário próximo à Ilha de Urubuqueçaba. Disse-me que o negócio deles é zelar pela segurança física dos banhistas. Nada têm a ver com a poluição do mar. Estão bem equipados com tábuas de surfing, bóias, cordas, pequenos barcos a motor, uma ambulância estacionada na praia para pronto atendimento e até um helicóptero sobrevoando periodicamente as praias da circunvizinhança. Vi lá adiante uma cabecinha, subindo e descendo com as ondas do mar e fiz uma pergunta ao bombeiro. Riu e disse-me que era um nadador profissional muito conhecido dele e de seus companheiros e que costumava avisar quando ia dar a volta na Ilha.
Lembro-me de que na semana anterior, havia abordado um dos policiais que fazia, junto com dezenas de colegas fardados, o policiamento ostensivo das calçadas e báias onde os turistas estacionavam seus veículos. Indaguei dele o porque da total omissão das autoridades locais face ao aviso da CETESB e as centenas de pessoas mergulhando e brincando na água, a maioria das quais

crianças até de tenra idade. Mostrei minha preocupação com doenças veiculadas pela poluição e mesmo citei algumas transmitidas por fezes. Ficou interessado na minha prosa, mas disse que realmente não era atribuição de seu pessoal e que a responsabilidade, no caso, seria da Secretaria da Saúde de São Vicente e seus fiscais. Acrescentou que, pelo que soube, um fiscal foi até agredido por insistir para as pessoas saírem da água. 3
Não faz muito tempo  - há cerca de dois anos – vi perto da Ilha Porchat uma professorinha cuidando de umas quinze ou vinte  crianças na beira d’ água e algumas maiorzinhas adentradas no mar. Creio que eram de alguma creche ou escolinha municipal. Tinham entre sete e dez anos de idade aproximadamente. Abordei a professora de forma educada e interessada, e perguntei se conhecia o significado daquela bandeira vermelha. Foi categórica: - Ninguém aqui liga para isto, não. É coisa de políticos; briga entre os governos municipal e estadual. Acho que é também coisa de médico...
Identifiquei-me como médico sanitarista e professor aposentado da USP. Replicou incontinenti: - ‘Tá vendo? Não falei?
E voltou a seus afazeres junto às crianças que estavam se divertindo à beça. Não me deu mais a menor atenção...
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1 - Apresentado nas seguintes tertúlias literárias do  Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário - MMCL : 92ª em 7/fev/2009 em Santos (15ª reunião de Santos), 93ª em 18/fev/2009 em Sorocaba (12ª reunião de Sorocaba), 94ª em 7/março/2009 em Taubaté (10ª reunião de Taubaté), 95ª em 14/março/2009 em Santo André (10ª reunião de Sto André), 96ª tertulia literária do MMCL em 21/março/2009 em Piracicaba (9ª reunião de Piracicaba) e na 100a em 21/maio/2009 em Sorocaba (13a reunião de Sorocaba). Apresentado na reunião da “Academia em Poesia” da Academia Vicentina de Letras, Artes  e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” em 9/março/2009 e no 2º Congresso Paulista Comunitário de Letras em Santos (1 a 3 de maio de 2009) quando foi festejado o 4º aniversário do MMCL.
2Pediatra Sanitarista. Prof. Dr. (aposentado) da Faculdade de Saúde Pública – USP. Fundador (05/05/05) e Coordenador Estadual do Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL. Membro Titular ativo da Associação Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES desde 2003, nível central SOBRAMES-BR, níveis regionais: SOBRAMES-RS da SOBRAMES-CE (Membro Honorário e Titular). Dissidente e separatista da SOBRAMES-SP. Membro Correspondente da Academia Maceioense de Letras. Sócio Titular da Associação Paulista de Medicina e Associado da Associação dos Médicos de Santos. Membro Associado da Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” de S. Vicente – SP.  “Padrinho” do Movimento Literário Saberes e Sabores  – MLSS de S. Gonçalo do Sapucai – MG.

3 – Estas baias foram depois retiradas para dar lugar a uma ciclovia que vai até Praia Grande. Os moradores locais também reclamavam da barulheira que os donos dos carros estacionados faziam à noite e em fins de semana com o som de seus rádios ligados no máximo volume.

Um comentário:

  1. Pois é, prezado professor William, na sabedoria bíblica nos é ensinado a nao atirarmos pérolas aos porcos. Perda de tempo, infelizmente!! Por outro lado, é um ato de caridade a disseminação do conhecimento. Minha opinião? Faça a caridade e nao olhe para trás...

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