Dr. Airton Ferro Marinho - Médico e Membro da SOBRAMES-CE |
ABERTURA DE NOVAS FACULDADES DE MEDICINA
PONTO DE VISTA
O que vemos, atualmente, é a liberação de novas Faculdades de Medicina, o que
nos causa espécie, principalmente aqui no Ceará, onde já temos sete e
se fala na Inauguração da oitava, na cidade de Quixadá, a Raínha do
Sertão. Preocupamo-nos não com a qualidade de ensino teórico, pois sabemos que
a docência está eficiente e profícua, uma vez que o mestrado e o doutorado são
condições básicas e indispensáveis para a seleção de seus professores. Sabemos
que, com a globalização, a tecnologia muito tem evoluído e as aulas são
ministradas com muitos recursos áudio-visuais, virtuais e com a mais moderna
tecnologia eletrônica, onde os alunos podem utilizar a internet como fonte de
pesquisa e de consultas.
A formatura de 400 a 500 médicos por ano, aqui no Ceará, em breve, saturará o
mercado desses neófitos profissionais e, dificilmente, terão o retorno das
mensalidades em Faculdades Particulares, que são em torno de R5.000,00
por mês, fora os livros e apostilas, combustíveis, merendas e às vezes alojamentos.
Os neófitos terão que se superar nos testes de seleção para a Residência
Médica, que já chegou a uma vaga para 80 candidatos. A correria para o mestrado
e para o doutorado também é grande, pois muitos procuram estes cursos de
pós-graduação, apenas visando o dinheiro das bolsas, pois lhes faltam empregos
e outras oportunidades nas empresas particulares e concursos públicos. A rigor,
estes cursos de Mestrado e de Doutorado são apenas para quem gostaria de se
dedicar à Docência Universitária, como antigamente, quando aqueles convidados
ou interessados realmente levavam recomendações de Catedráticos para, após a
conclusão destas pós-graduações, voltarem com um lugar já garantido.
E o exercício da profissão propriamente dita? Onde haverá lugar para tantos, já
que no momento é bastante difícil, mesmo para as cidades interioranas, que não
cumprem as Leis Trabalhistas e outras vezes são apenas de cunho eleitoreiro,
com prejuízo para os colegas ávidos para trabalharem e empregarem os seus
conhecimentos recém-adquiridos, onde muitas vezes, não vão ter oportunidade de
utilizarem equipamentos e laboratórios de análises clínicas de exames
propedêuticos, como aprenderam nas Faculdades? Em algumas cidades interioranas
não há sequer o básico indispensável neste setor científico, nem condições
mínimas de qualidade de vida.
Pelo que ouço e vejo é que o Conselho Federal de Medicina é contrário à
instalação de novas Faculdades e ameaça até fechar algumas, principalmente
no Sudeste e Sul do País. No entanto, a proliferação continua e o Ministério da
Educação e Cultura aprova.
Minha impressão é que o Estado do Ceará que exportava braços para o Sudeste nas
décadas de 1940, de 1950 e de 1960 para Brasília, principalmente para a
construção civil, está fazendo agora também com humoristas, jogadores de futebol e, muito em
breve, com médicos. Esta é a triste verdade! A Organização Mundial da Saúde
preconizava um médico para 1.000 habitantes e já vemos que o Ceará está com
excesso destes profissionais da Saúde, uma vez que as últimas estatísticas
mostram que há um médico para 700
habitantes. E o número vai inchando….
Urge que reunamos esforços para enfrentarmos esta situação e acompanhemos o
evolver científico e prático, para que estejamos aptos para exercermos a
Medicina no presente e no futuro e recebamos de muito bom grado os novos
colegas, com os princípios básicos desta Ciência e Arte, que nos desafia e nos
encanta dia a dia. Pautados, pois, nos princípios éticos, morais e
deontológicos, enfrentemos as novidades das pesquisas, dos estudos e dos
desafios da época do genoma e da clonagem, que nos motivam e muito nos
engrandecem nesta difícil, porém bonita e sublime profissão, a despeito de alguns
acharem que ELA seja uma verdadeira Mistress, que nos trás desconforto, mas que
não conseguimos abandoná-la.
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