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quinta-feira, 16 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena 28º dia


Diário de uma quarentena 28º dia
O inoxidável e próximo papai do ano
Por Arruda Bastos

Muitas pessoas perguntam porque na maioria das minhas cônicas eu coloco a data. Eu costumo responder afirmando que o momento que estamos vivendo é de tamanha magnitude que devemos identificar todas as informações possíveis, pois estamos fazendo história e, sem dúvida, vamos ser lembrados durante muitos séculos como os sobreviventes de 2020.

Então, continuando, confirmo que hoje é 16 de abril, vigésimo oitavo dia de minha quarentena e, como escrevi em crônica anterior, não devemos nos entregar aos caprichos do coronavírus e ficar abatidos ou deprimidos. Muito pelo contrário, devemos manter nossa rotina e comemorarmos, mesmo fisicamente distantes, todas as datas importantes da nossa família.

Para isso, não nos faltam tecnologias, aplicativos e uma parafernália de opções. Aqui em casa todos combinamos uma festa surpresa para o meu genro Evalto, um dos mais estrogónoficos e inoxidáveis homens que conheço. Esposo da minha querida filha Lívia, pai do meu netinho Lucca e aguardando a Lina, que chega em agosto.

A descoberta do aço inoxidável foi um golpe de sorte do inglês Harry Brearley, em 1907. Ele trabalhava em seu laboratório para as companhias de aço. Os fabricantes de armas haviam pedido que ele criasse uma liga mais resistente ao desgaste, pois o interior dos canos das armas se esfarelava com as balas. Brearley misturou metais em diversas doses até notar que certa liga não sofria corrosão por oxigênio, não enferrujava, daí surgiu o aço inox.

Depois do inoxidável, lembrei-me do discurso que escutei há alguns anos e que fez muito sucesso no meio humorístico. Aproveitei, então, para rever o vídeo que me inspirou a saudar meu genro Evalto. A saudação aconteceu na cidade de Quixeramobim por parte de um popular com alcunha de “Carro Velho”, o Rei do Elogio. O programa era do apresentador Carlinho Eloi. A saudação foi assim: “você é uma pessoa mediocrática, uma pessoa retombante, uma pessoa cabriocárica, estrogónofico e inoxidável”.

Nesse tempo de pandemia, qualquer inspiração vale, e o importante mesmo é não nos deprimirmos. Se meu leitor não foi abençoado com genros semelhantes aos meus, tenha fé que você vai encontrar depois da pandemia. Finalizando, e retornando ao Evalto, desejamos nessa data tudo de bom, saúde, paz e felicidades. Sabemos que Deus tem um plano maravilhoso para sua vida, da Lívia, do Lucca e da Lina. Feliz aniversário!

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Esta foi a do dia 28. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

POR DIONE MOTA: O médico e o Covid

Poema : O médico e o Covid

Na beira do leito
A vontade de curar
Tudo é incerteza
Risco de se infectar
Os seus contaminar
Não pensa nisso agora
O importante é aquele paciente
À sua frente, aflito
Nos olhos o desespero...
Não pode ceder ao cansaço
Busca todas as pesquisas
Tem que manter a esperança 
Vai usar tudo o que já deu certo
Depois da tempestade vem a bonança 
E diz para o paciente
O que já disse pra si mesmo:
Tenha fé, Deus há de lhe curar.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (27º dia)

Diário de uma quarentena (27º dia)
Naquela mesa tá faltando ele
Por Arruda Bastos

Acordei saudoso no dia de hoje, 15 de abril de 2020, recordando do meu amado pai, que aniversaria nessa quarta-feira. Se não estivesse de quarentena, encontraria com toda a família no jazigo muito bem cuidado do Parque da Paz.  Minha amada mãe, enquanto viva, capitaneava e até exigia a presença de todos. Em sua homenagem, vou postar abaixo uma crônica que escrevi em 2017 quando do seu centenário de nascimento.

Para celebrarmos um século do seu nascimento, escrevo essa crônica em memória do meu querido pai, da falta que ele faz e do exemplo que deixou. Sua saga iniciou em Saboeiro, no interior do Ceará, em 15 de abril de 1917, e desde cedo vivenciou as agruras do sertão, da seca e de uma precoce orfandade paterna. Sua gênese representou o alvorecer do meu herói e uma vida de seriedade, coragem, honestidade, fé em Deus e amor. Euclides da Cunha escreveu que “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Assim era meu pai: um forte.

Em todas as famílias temos tradições e para que elas existam é necessário tempo e forte motivação. Uma delas, que participo desde criança, é o almoço dominical na casa dos meus pais. A família é numerosa, mamãe já tem bisnetos e mesmo assim a tradição se mantém. Meu pai foi o inspirador e era o grande motivador desse costume. A mesa de jantar sempre foi um dos destaques de nossas casas.

Com a passagem terrena de papai, poderia até se pensar no rompimento dessa tradição, mas felizmente ela persiste, a diferença é que naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim. Como forma de amenizar sua ausência e ter sempre por perto a lembrança do seu amado esposo, minha mãe tomou a iniciativa de colocar um quadro com sua foto próximo da cabeceira da mesa e de manter sua cadeira sempre vazia.

A emoção de ser meu pai o protagonista dessa crônica é indescritível; não é fácil falar de quem marcou nossa vida com lindas e indeléveis recordações. Quando criança, a sua figura austera e altiva era para mim como um gigante a me proteger; na juventude aquele provedor que trabalhava diuturnamente para dar à família a melhor condição de vida possível; na maturidade ganhei um amigo, parceiro, colaborador e mais que seu filho eu fiquei seu fã.

Na literatura encontro inspiração para expressar do fundo do meu coração o sentimento que tenho com relação à figura do meu pai. Ele era um esposo fiel e dedicado, um pai exemplar e ciente da responsabilidade de criar nove filhos em um período de grande dificuldade, um filho carinhoso e protetor da minha querida avó, um irmão e tio sempre aberto a acolher aqueles que necessitavam, uma qualidade atestada pelos muitos sobrinhos e irmãos que ajudou.

Meu pai tinha uma saúde de ferro, não recordo de nenhum grave problema, nunca se hospitalizou. Fumou durante um período de sua vida e, por insistência e amor à família, parou e nunca mais voltou. Era um motorista sem muita experiência, pois passou a dirigir já na meia idade. Teve várias Kombis, único veículo que comportava toda a família e que nos levava diariamente em algazarra ao colégio. Como servidor público federal, honrou todas as funções e cargos que ocupou, um exemplo de dedicação e compromisso com a sua repartição. São muitas lembranças!

Recordo da sua elegância, do terno de linho branco, do sapato sempre engraxado, do cabelo com brilhantina e barba sempre bem cortados, do charme do seu bigode, do tingimento que usava quando os cabelos brancos surgiram, do pijama de listras que vestia em casa, das festas e casamentos da família que, com muito esmero, promovia, do cuidado de não ser pego no flagra como Papai Noel e até das belas curvas da sua letra. Lembro também de pequenos gestos como os presentes e guloseimas que de vez em quando comprava e da sua impoluta figura abrindo o portão de casa todos os dias voltando do trabalho trazendo aquele gostoso pão da Padaria Ideal.

Ah! Que saudade dos sábados pela manhã quando papai chegava com mamãe em nossas casas com as frutas da semana. Digo que cada um dos nove filhos tem recordações próprias. O importante é que todas elas são sempre de um pai e homem maravilhoso, fato que nos faz agradecer diariamente a benção de termos nascido seus filhos. A minha santa mãe, que com dedicação, amor e devoção encaminhou nossa família para o bem, o nosso eterno reconhecimento. Ao Altíssimo, o agradecimento pela sua força e por permanecer entre nós com lucidez e saúde.

Meu pai era um homem de muita fé, um cristão convicto, um companheiro dos terços que minha mãe rezava todos os dias, principalmente durante a madrugada (no mínimo nove, um para cada filho). Sempre cumpridor das suas obrigações de católico, lembro do puxar dos dedos para nos acordar no domingo muito cedo para irmos à missa. Ele formava, com minha mãe, um santo casal e nessa área foi novamente um exemplo. Sempre dizia que não queria dar trabalho a ninguém e quando chegasse a sua hora, que ela fosse rápida. Seu pedido, infelizmente para nós, foi atendido em 01 de setembro de 2001.

Meu herói executou todas as missões que Deus lhe confiou com ações excepcionais, sempre com responsabilidade, dedicação, coragem e amor. Ultrapassou os momentos de dificuldades que viveu, tendo como base princípios morais e éticos. O seu exemplo é um farol que ilumina a todos que o conheceram. Sei que muitos dos meus leitores tem pais semelhantes ao meu e é a eles que também dedico essa crônica. O padre António Vieira escreveu que: “Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras”. Assim foi meu pai.

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Esta foi a do dia 27. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (26° dia)

Diário de uma quarentena (26° dia)
A quarentena da caneta azul
Por Arruda Bastos

Durante a quarentena, é importante a manutenção de uma rotina mínima. A minha continua rígida, com hora para acordar, para fazer exercícios, tomar banho de sol e tudo mais. Também tenho aproveitado para dar andamento a muitos projetos que, por falta de tempo, estavam adormecidos nos meus computadores.

Vasculhando meus alfarrábios virtuais, encontrei várias crônicas escritas pela metade, sem revisão ou que, de tão sem noção, não tinha levado a frente e nem tive coragem de publicar. Como no isolamento social vale tudo para se entreter, resolvi terminar uma que escrevi em dezembro do ano passado que tinha como titulo “A história da caneta azul”.

Para adaptar ao momento atual, resolvi mudar o nome para “A quarentena da caneta azul”, fato que vai justificar minha coragem de divulgar a história que escrevi quando pensava em ficar milionário no final do ano passado com a Mega Sena da Virada. Infelizmente, só acertei um número e mesmo que tivesse acertado todos, no atual quadro, não faria a menor diferença.

A crônica que escrevi relata: Depois de escutar a música “Caneta azul” do compositor maranhense, morador da cidade de Balsas,  Manoel Jardim Gomes, de ver suas participações na mídia e, agora no final do ano, na propaganda da Caixa da Mega Sena da Virada, fiquei com o hit definitivamente na cabeça.

Fui, então, pesquisar sobre a letra da música e sobre o autor. Descobri que a inspiração do compositor veio de um fato acontecido com ele no passado. Toda a inspiração veio do desaparecimento da sua caneta azul em uma escola. Ela estava marcada com o seu nome, escrito com sua própria letra.

Encontrei, também, que todo dia o autor viajava para o colégio levando uma caneta azul e outra amarela. Acontece que, numa bela manhã de sol, a de cor azul desapareceu. O trauma foi tão grande que o compositor decidiu escrever uma música solicitando, até pelo amor de Deus, a devolução do importante objeto. O fato acarretou, inclusive, em um atrito com a sua professora.

Na letra, Manuel desabafa e diz que foi repreendido pela mestra por não ter uma caneta azul. Ele ficou fulo da vida, pois a última que tinha era a desaparecida. Depois de calmo, e para amenizar o problema, prometeu à profa. que compraria uma nova logo que possível.

Manuel Jardim compõe desde os quinze anos e só atualmente, aos 49 anos, veio a fazer sucesso. Em outubro passado ele registrou a “Caneta Azul” em cartório. Atualmente, nas ruas de Balsas e na maioria das cidades do Brasil, os versos da melodia e a história são assuntos comentados.

O vídeo da sua interpretação, postado na internet, superou a marca de muitos milhões de visualizações, batendo inclusive a de muitos artistas famosos do nosso país. Não sei como Manuel vai de grana, espero que bem, e em isolamento social como a maioria de nós. Tenho convicção que a sua música continua a inspirar muitos escritores incautos como eu.

Para terminar, vou postar a música na íntegra para que você, meu leitor, possa cantar na noite de hoje e até quem sabe fazer uma serenata, com muito humor, para sua amada. O momento atual só será superado com muita perseverança e bom humor.

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Esta foi a do dia 26. #FiqueEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES - CE).


Caneta Azul
Manoel Gomes

Caneta azul, azul caneta
Caneta azul tá marcada com minhas letra
Caneta azul, azul caneta
Caneta azul tá marcada com minhas letra

Todo dia eu viajo pra o colégio
Com uma caneta azul e uma caneta amarela
Eu perdi minha caneta e eu peço, por favor
Quem encontrou, me entrega ela

Caneta azul, azul caneta
Caneta azul tá marcada com minhas letra

A professora, ela veio brigar comigo
Porque eu perdi a última caneta que eu tinha
Não brigue, professora, porque eu vou comprar outra canetinha

Caneta azul, azul caneta
Caneta azul tá marcada com minhas letra
Caneta azul, azul caneta
Caneta azul tá marcada com minhas letra

segunda-feira, 13 de abril de 2020

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (25° dia)

Diário de uma quarentena (25° dia)
Fortaleza, a “arretada” loira desposada do sol.
Por Arruda Bastos

Hoje, 13 de abril de 2020, no meu vigésimo quinto dia de quarentena, a cidade de Fortaleza “intera” os seus 294 anos. Pensei até em escrever uma nova crônica, mas preferi postar a que escrevi em 2018 para o último Congresso da SOBRAMES em São Luís-MA, pois ela expressa todo o meu amor por Fortaleza.

Quando convidado a prosear para a antologia nacional da Sobrames – Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – sobre a capital cearense, fiquei “aperreado” com a missão de retratar tanta beleza e tanta história da nossa linda cidade de Fortaleza. Resolvi, então, apelar para o “cearensês” e incorporar ao texto algumas palavras do linguajar do nosso estado.

Para nós, “cabeças-chatas”, é uma dificuldade “arretada” tratar da capital isoladamente, sem falar da Terra da Luz. Por isso, resolvi “botar boneco” e, mesmo correndo o risco de ser chamado de “abestado”, encarar dessa forma o desafio.

Como não disponho do livro todo para a minha prosa, sendo limitado meu espaço para discorrer, vou “chinelar” e me deter a pincelar alguns aspectos da linda história de Fortaleza. A situação é “braba”, por isso vou abordar principalmente aspectos da alma do “arretado” povo fortalezense, desses “cabras bom da moléstia” e das belezas incontestes do nosso torrão abençoado por Deus.

Dando uma de “buliçoso” e “assuntando” a história, esclareço a alguns dos meus leitores que o cognome de Terra da Luz, dado ao estado do Ceará, não tem nada a ver com o forte sol tropical que apreciamos durante todo o ano por aqui. Esse honroso título, de autoria de José do Patrocínio, deve-se aos “cabras-da-peste” da então província que, “dando o grau”, libertaram os escravos cearenses antes mesmo do Brasil, em 25 de março de 1884.

Não nego que sou “arriado” e um apaixonado por minha terra natal, e não a trocaria por nenhuma outra, pois, além de suas “apetrechadas” praias, Fortaleza conserva inúmeros monumentos, belos conjuntos arquitetônicos e belezas naturais que deixam qualquer “curriola” de boca aberta. Ainda, aqui se respira muita cultura e não vou ser “besta” de esquecer o papel exercido pela nossa Sobrames tupiniquim.

Em Fortaleza, o sol sempre foi testemunha de muitas histórias e uma das mais “abirobadas” da cidade aconteceu no início da tarde do dia 30 de janeiro de 1942, quando uma “cambada de fuleiros” na Praça do Ferreira tomou uma atitude inusitada. Na época, nos jornais, as notícias eram sobre a Segunda Guerra Mundial e a seca que vivenciávamos. O céu estava nublado há dois dias e a previsão era grande para um “toró”, mas o astro rei resolveu dar o ar da sua graça. O sol foi, então, vaiado sem censura e esse fato firmou a cultura da irreverência do nosso povo, que ansiava pela chuva que ameaçava banhar a cidade.

O fortalezense, como os demais cearenses, tem esse espírito de “achar e fazer graça”. Em Fortaleza, não se dispensa, portanto, os shows de humor. A vaia, para nós, não é somente uma expressão de inconformismo, ela é também um recurso moleque que consagrou o Ceará como um celeiro de humoristas. Dentre esses expoentes, podemos citar: Chico Anysio, Renato Aragão, Tom Cavalcante, Rossicléia e, no passado, Quintino Cunha e Paula Ney, que faziam humor só como parte da espiritualidade natural do cearense.

Sem “arrudiar”, digo que Fortaleza tem seu nome inspirado no Forte Schoonenborch, construído pelos holandeses em 1649, período em que dominavam nosso território. O batismo de “Loira desposada do sol”, deve-se aos versos do poeta Paula Ney: “Ao longe, em brancas praias embalada pelas ondas azuis dos verdes mares, a Fortaleza, a loura desposada do sol (…)”. Fortaleza já não é mais um “bruguelo” e ocupa atualmente a posição de quinta maior capital do Brasil em população e detém um importante centro industrial, comercial e turístico.

Não vou “arribar” sem citar que nossa metrópole cearense é a terra natal de brasileiros de grande renome como Dom Hélder Câmara (1909-1999), Gustavo Barroso (1888-1959), Casimiro Montenegro (1904-2000), José de Alencar (1829-1877) e Rachel de Queiroz (1910-2003), entre outros inúmeros e ilustres nomes. Fortaleza é, também, a capital brasileira mais próxima da Europa.

O litoral de Fortaleza abriga praias que são “só o mi disbulhado”, entre elas podemos citar a da Barra do Ceará e a de Iracema, com seus bares, prédios históricos, Igrejas, o Estoril, a Ponte Metálica, além do Centro Dragão do Mar. Na Praia do Meireles, encontra-se a Avenida Beira Mar com robustos hotéis, o Clube Náutico, a feira de artesanato e a Volta da Jurema. A do Mucuripe é famosa por seus pescadores, jangadas e o mercado de peixes. A Praia do Futuro é ocupada por “barracas” especializadas na sua “guaribada” caranguejada. Fortaleza, para quem gosta de “zuada”, é a terra do forró e seus “bate-coxas” e “arrasta-pés” são famosos em todo Brasil.

O povo “quintura”, hospitaleiro e a gastronomia local são grandes marcas da nossa metrópole de 2,5 milhões de habitantes. O regabofe é bem diversificado, com pratos típicos do sertão e do litoral do Nordeste. Ao cair do sol, a capital mostra sua intensa vida noturna. São inúmeros bares, casas de espetáculo, shows, além do badalado calçadão da Avenida Beira Mar, com sua Feirinha de Artesanato que não aceita “xexeiros”.

O Teatro e a Casa de José de Alencar são símbolos da cultura do nosso povo ao longo da história. As manifestações religiosas tem grande importância para a vida cotidiana da cidade, nossa Catedral é uma das mais belas do Brasil. A festa de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da cidade, que acontece em 15 de agosto, e as festas juninas nem se fala, são “só o pitel”

Fortaleza tem uma vida cultural intensa, com diversas agremiações, instituições literárias e científicas. O Instituto do Ceará de 1887, a Academia Cearense de Letras fundada em 1894, o Centro Cultural do Banco do Nordeste, da Caixa Econômica, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e uma “ruma” de outras associações culturais de grande conceito. Aqui nada é de “rebolar no mato”.

A gastronomia é diferenciada, ressaltando-se pratos como o baião de dois, o churrasco de carneiro e carne-de-sol, frutos do mar, peixadas de cavala ou pargo, o afamado caranguejo e tapioca para todos os gostos. O camarão também é uma iguaria bem degustada. Os pólos gastronômicos da Varjota, da Praia de Iracema e da Avenida Beira Mar são os de maior diversidade e nada “fajuto”.

Ademais, existem vários museus em Fortaleza. Os mais importantes são o Museu do Ceará, que reúne peças valiosas sobre a cultura e o povo cearense, o Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar e o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará. As maiores bibliotecas de Fortaleza são as da Universidade Federal, Universidade de Fortaleza e a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, uma das mais importantes do Brasil. Tudo bem pertinho e não no “inferno da pedra”.

“Perainda”, que não posso me furtar de falar da nossa arquitetura composta por prédios tombados, que devem ser visitados, como a Casa e o Theatro José de Alencar; a Estação João Felipe, que foi a primeira estação ferroviária do Ceará; O Palácio da Luz, que foi a sede do governo; o Farol do Mucuripe, que é um dos símbolos de Fortaleza; e o Cinema São Luiz, que figura entre um dos mais belos do Brasil. Temos também o Estoril, na Paria de Iracema, e o Mercado dos Pinhões, o primeiro mercado público de Fortaleza.

Fortaleza, a “arretada” loira desposada do sol, é uma cidade que meu amigo leitor precisa conhecer. Ela é aconchegante e seu povo é hospitaleiro por excelência. Ficar por alguns dias vai ser pouco para conhecer tanta coisa boa. Sei que todos quando “caparem o gato” da nossa cidade vão quase “bater o catolé” de saudade, pois quero cegar da “gota serena” se não falei só a verdade, uma vez que aqui não tem nada “paia”, pode acreditar.

Amanhã eu volto com uma nova crônica

Este foi o dia nº 25. #FicamEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES -CE)

Dicionário Cearense (Cearensês)

*Abestado – Bobo, tolo, apalermado.
*Abirobado – Doido no sentido mais suave da palavra. Maluco.
*Achar graça – Rir, sorrir.
*Aperreado – Muito nervoso, sem saber o que fazer.
*Apetrechada – Dotada de beleza física.
*Arretado (a) – Elogio a uma pessoa. Muito bom, bonito.
*Arriado – Apaixonado
*Arribar – Levantar, erguer, sair.
*Arrudiar – Dar a volta.
*Assuntar – Procurar saber mais sobre o assunto.
*Bate-coxa – Dança em que o casal fica muito colado. Arrasta-pé.
*Bater o catolé – Morrer, passar dessa para melhor.
*Besta – Pessoa tola, ingênua.
*Botar buneco – Criar caso, fazer confusão.
*Brabo – Gente irritadiça ou valente. Difícil.
*Bruguelo – Recém nascido ou criança muito nova.
*Buliçoso – Pessoa que mexe em tudo.
*Cabeça-chata – Apelido dos cearenses.
*Cabra-da-peste – Homem valente, intrépido, afoito.
*Cambada – Turma, grupo etc. Pode ter conotação pejorativa ou carinhosa:
*Capar-o-gato – Significa: ir embora, fugir de alguma situação, “se mandar”.
*Chilelar – Andar bem rápido.
*Curriola – Turma. Grupo de amigos.
*Dar o grau – Caprichar.
*Fajuto – Ruim, de má qualidade, falso.
*Fuleiro – Pessoa muito irreverente, brincalhão.
*Gota serena – Expressão usada, principalmente, nos juramentos.
*Guaribada – Dar uma caprichada.
*Inferno da pedra – Lugar tão longe que ninguém sabe nem dizer onde fica.
*Paia – O mesmo que brega ou o mais popular peba.
*Perainda – Forma sintetizada de: Espere ainda um pouco.
*Quintura – Pessoa legal, competente, gente boa.
*Rebolar no mato – Jogar fora, atirar.
*Ruma – Um monte, uma grande quantidade de alguma coisa.
*Só o mi disbuiado – Coisa muito especial.
*Só o pitel – Muito bom.Ótimo. Maravilhoso.
*Toró – Grande chuva.
*Xexeiro – Caloteiro.
*Zoada (Zuada) – Barulho.

Crônica lançada durante o XXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES – de 20 a 22 de setembro de 2018 em São Luís – MA.

domingo, 12 de abril de 2020

POR MANOEL FONSECA: Páscoa

Páscoa

Jesus, o Ressuscitado,
No simbolismo cristão,
Significa um chamado
À humana renovação.

Páscoa quer dizer passagem
Da tormenta e escuridão
Para uma nova viagem:
A vida em celebração.

O pão e vinho sagrados,
Com amizade e afeição,
São dados de mui bom grado
A amig@s do coração.

Que uma nova primavera
Chegue com esta passagem.
Nossa saudação sincera:
Saúde, paz e coragem!

Iracema Serra Azul,
Manoel Fonseca e família

POR ARRUDA BASTOS: Diário de uma quarentena (24° dia)


Diário de uma quarentena (24° dia)
Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim?
Por Arruda Bastos

O isolamento social e a Páscoa nos levam a lembranças de momentos da nossa vida, mesmo que os fatos tenham acontecido na infância e já estejamos “dobrando o Cabo da Boa Esperança”.

Para os que não conhecem essa expressão popular, “dobrar o cabo da boa esperança” é atribuída às pessoas que viveram intensamente, vencendo as adversidades, e que chegaram a um estágio da vida com certa idade e muita experiência.

Essa expressão foi inspirada nas dificuldades que tiveram os portugueses em contornar o Cabo da Boa Esperança no extremo sul da África, na época dos descobrimentos, à procura de alcançar o tão sonhado caminho para as Índias. O esforço foi sobre-humano para a esquadra do navegante Bartolomeu Dias.

Embora ainda esteja nesse estágio de vida, nessa manhã acordei lembrando-me de fatos longínquos da minha infância ligados à Páscoa. Recordo que, no jardim de infância, que fiz no Colégio Juvenal de Carvalho das irmãs Salesianas aqui em Fortaleza, fui coelhinho da Páscoa por um dia.

Como instituição religiosa, o colégio tinha uma programação toda especial para a Semana Santa. Na época, idos da década de sessenta, as missas eram diárias e as professoras leigas e as irmãs competiam entre si para apresentarem para a Madre Superiora a melhor participação dos seus alunos.

A minha professora era a irmã Paula que, com seu hábito impecável todo preto e, em outras vezes, reluzente de cor branca, me impressionava. Naquele tempo, o hábito era o tradicional, com touca que emoldurava o rosto e até cobria as orelhas, uma longa veste, meias, sapatos fechados e um cinto de tecido segurando o rosário. Daí o ditado popular “mais escondido que orelha de freira”.

Voltando à Páscoa, naquele ano, graças aos meus dotes artísticos, fui escolhido para representar a turma como personagem principal da peça infantil da Páscoa que foi encenada no auditório, para todo o colégio.

Como coelhinho da Páscoa, tive que vestir uma fantasia completa com orelhas, rabinho e tudo mais. Além da vestimenta, tinha que dançar e declamar “Coelhinho da páscoa, o que trazes pra mim? / Um ovo, dois ovos, três ovos assim / Coelhinho da páscoa, que cor eles têm? / Azul, amarelo, vermelho também”.

No final da minha performance, foi uma apoteose, sendo, então, aplaudido de pé, episódio que, sem dúvida, marcou para sempre aqueles dias de inocente criança no Juvenal e foi o responsável pelo meu desembaraço em falar em público para grandes multidões, fato que facilitou as minhas inúmeras campanhas políticas.

Mas a história do coelho não termina por aí, pois alguns anos depois, em uma festa de carnaval, o coelhinho ressurgiu lépido e fagueiro em um baile do Clube General Sampaio da Avenida da Universidade. Acho que isso aconteceu uns dois anos depois da minha estreia como ator. A fantasia, que estava guardada, como seria natural, quase não me cabia e teve o seu fechecler fechado a força, pois era o único traje carnavalesco que tinha.

A festa transcorria animadamente e meu saudoso tio Quelé, que nos levou ao baile, incentivou-me a cair na folia, mesmo com o desconforto da roupa. Resolvi, então, quando a animada bandinha iniciou a musica “A marcha da cueca”, cair na folia e ensaiar minhas primeiras voltas no salão.

Qual não foi minha surpresa quando senti que os foliões passaram a puxar partes da minha fantasia. Primeiro, arrancaram o rabo, depois, as orelhas, e assim as outras partes também. O certo é que depois de algumas voltas e antes dos acordes finais da marchinha com o tradicional “Eu mato, eu mato / Quem roubou minha cueca / Pra fazer pano de prato”, eu estava só de cueca.

Essa minha crônica de hoje representa muito bem as voltas que o mundo dá. Passei de ator de sucesso na Semana Santa encarnando o coelhinho da páscoa a uma pobre criança envergonhada no carnaval de dois anos depois.

O importante é encarar e, sempre que cair, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. E foi assim que eu fiz na época e que vamos, todos unidos, fazer agora na pandemia do coronavírus.

Para concluir, transcrevo três mensagens de páscoa, a primeira que diz: Uma prova de que Deus está conosco não é o fato de nunca cairmos, mas sim o fato de sempre levantarmos. A segunda, que nos faz pensar no espírito da Páscoa: O maior poder de Jesus não é ressuscitar os mortos, e sim ressuscitar os vivos. E a terceira que nos remete ao momento de solidariedade atual: Páscoa é ajudar mais gente a ser gente, é viver em constante libertação, é crer na vida que vence a morte. Páscoa é renascimento, é recomeço, é lutar por um mundo melhor e mais solidário. Que a alegria da ressurreição de Cristo esteja em seu coração hoje e sempre independe das dificuldades.

Feliz Páscoa!

Amanhã eu volto com uma nova crônica
Este foi o dia nº 24. #FicamEmCasa

Arruda Bastos é médico, professor universitário e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES -CE).