A MÚSICA
O sentido da audição é o primeiro a se desenvolver nos
seres humanos; no ventre materno o feto ouve e percebe o coração da mãe, e os
vários ruídos que o cercam, avivando sua interação entre o mundo particular que
o acolhe, com proteção, temperatura amena e nutrição pelo cordão umbilical, que
o alimenta constantemente com todos os nutrientes que precisa, com as defesas
da anticorpogênese que o fará enfrentar o novo mundo que o espera, pondo em
prova seus próprios sistemas orgânicos, em um teste cabal para sua
sobrevivência no mundo exógeno à sua antiga e confortável morada. Ele percebe
vários ruídos externos quando desenvolve a audição, e a primeira música cifrada
em seu pequenino encéfalo é a voz materna. Ela soa como um bálsamo a acalentá-lo,
e ele percebe a ternura e o amor da mãe e do amor inescrutável que o acolhe permanentemente,
essa interação guarda uma profundeza imensa de significados, que vai determinar
após o nascimento desse novo ser humano, até suas preferências musicais. Se a mãe,
o pai ou a família, entoam ou reproduzem algum gênero musical constantemente,
frente ao bebê, este terá uma tendência e inclinação natural a aquele gênero musical,
seja popular, clássico, rock ou outros tantos. Isso é comprovado
cientificamente com vários trabalhos. Jabal foi o precursor bíblico, no velho testamento,
a Torá dos hebreus, dos instrumentos musicais. As grandes celebrações de todos os
povos antigos e modernos, sempre foram enlevadas pela música típica de cada povo.
A harpa grega de singelo encanto, tocada para os filósofos, o senado; nos
banhos dos nobres e festividades, os instrumentos medievais de corda, percussão
e sopro, animando bailes com a corte e seus nobres em festas apoteóticas de saudação
aos príncipes e monarcas, em coreografias elegantes e estudadas pelos
participantes, em sincronia perfeita e reverência ao nobre, festejado muitas
vezes como um deus. As festas africanas com seus tambores uníssonos os reinos
africanos multicoloridos, em uma dança majestosa de seus guerreiros, com suas
lanças e flechas, escudos de couro de animais selvagens, pinturas típicas, e
passos firmes, implacáveis, lembrando conflitos enfrentados, vitórias e saudação
efusiva ao chefe tribal e monarcas africanos. O povo africano é dono do ritmo e
de uma das músicas mais propaladas e universais do mundo, e a alegria que a
entoam é contagiante, emocionante e cheia de felicidade e significado; tudo é
motivo de música e comemorações, desde uma caça bem sucedida, uma boa colheita,
uma chuva que irrigou bem seus campos, à vitórias memoráveis em campos de
guerra. Nossos índios brasileiros também têm sua tradição musical bem definida
e arraigada, eles usam tambores, troncos e instrumentos de sopro. Comemoram as
forças da natureza, comemoram os rios, o sol, os peixes que comem, comemoram a
floresta que é seu sustento, numa relação fraterna entre "mãe "e
filhos. Há um grande respeito pela natureza, pois dependem totalmente dela para
seu sustento. Eles fazem sua música, mas também têm a sinfonia dos pássaros,
dos bichos selvagens que emitem seus sons característicos, que para eles soam
como uma verdadeira música aos seus ouvidos, não corrompidos com os barulhos da
modernidade e da torpeza das grandes cidades. Uma fascinante música, também é
representada pela gaita escocesa, e sua história milenar na Grã-Bretanha. O
toque da gaita no campo de guerra com o exército perfilado pronto para o
combate com seus Kilts quadriculados, em guerras de secessão da Escóssia,
tentando sua independência é algo emocionante e de uma nobreza indefinível.
Muitas películas da sétima arte já nos mostraram esses episódios. A rainha
Elizabeth II, recentemente escolheu sua casa na Escóssia, para seu decesso,e o
cortejo fúnebre recebeu a saudação majestosa das gaitas e guarda escocesa. Não
poderíamos deixar de falar de nossa música brasileira, que é tida como uma das
melhores do mundo, por sua riqueza e diversidade correspondente ao seu povo.
Por aqui foram criados novos gêneros, como a bossa nova, o movimento tropicalista,
e claro os gêneros regionais. No entanto não há dúvida que o legítimo
representante do povo brasileiro é o samba. Ele traz em seu DNA a origem do
nosso povo, de sua negritude, de sua felicidade, espontaneidade, alegria contagiante
e identidade nacional. Temos a apoteose do samba chamado carnaval; festa que
convida a todos os brasileiros a " brincar”, configurando uma verdadeira
democracia na acepção da palavra, onde o "brincante" só precisa do
passaporte da alegria e do entusiasmo, sem ter que provar sua origem ou posse econômica.
É realmente a maior festa popular do mundo, copiada timidamente por outros
países que simplesmente não terão nunca o samba no pé de uma cabrocha negra brasileira,
e a malemolência de nosso povo e nosso samba. Definitivamente nossa música
brasileira é praticamente uma "comodities" de tão rica, diversa, e
lindamente construída. Ariano Suassuna, intelectual brasileiro, da mais alta estirpe,
oriundo de terras pernambucanas, escritor, dramaturgo, ensaísta, crítico musical,
definiu a música em uma análise profunda em " dionisíaca" e " apolínea”,
aquela seria de melodia, ritmicidade, acordes, e construção mais vertical,
objetiva, direta, persuasiva. Teríamos o rock n roll como um exemplo clássico,
música que significa protesto, rebeldia, inconformidade, jovialidade, identidade,
e é representativa de toda uma geração que a criou e que trafega hoje mais viva
do que nunca, em seus anseios e luta por aceitação e estilo de vida mais
excêntrico e muitas vezes alternativo. No entanto esse mesmo rock roll abriga
também múltiplas correntes e tem uma vasta riqueza, como o pop rock, o tecno
rock, o punk rock, o rock sinfônico, o rock metal e tantos outros. Cidadãos de
bem, com carreiras sólidas e respeitáveis, estão inclusos entre os apreciadores
deste género muitas vezes tido e lido preconceituosamente. A música Apolínea,
seria mais melodiosa, de acordes suaves, letras, cifras e partituras bem definidas,
teríamos então como exemplo marcante a música clássica, com suas sinfonias e
seus grandes autores, como Mozart, Beethoven, Chopin, Vivaldi e tantos outros
grandes gênios e mestres clássicos que presentearam a humanidade com
verdadeiras peças e obras de arte musicais que fazem um contato direto com o
espírito e os sentimentos mais profundos que o ser humano abriga dentro de si.
Outro fato muito importante é o poder que a música carrega, sendo ela a maior
representante das sete artes. Ela tem a capacidade de nos remeter ao passado
poderosamente trazendo recordações, fatos e até aromas que experimentamos em
tempos longínquos, também nos distrai no presente de maneira a alegrar nosso
dia a dia e nos motivar para a vida, e nos faz pensar no futuro através de
melodias que nos levam a novos horizontes e reúnem temáticas propriamente
pensadas para algo que nem vivenciamos ainda. Existe também uma forma melodiosa
musical, que nem sempre é tocada no coração do homem que é a sinfonia do amor
ao semelhante. Essa deve ser tocada diariamente, na busca incansável de um
mundo melhor, onde nossos ouvidos ouçam como uma música perfeita a declaração
perfeita: " Eu te amo!", Pois essa frase soa em qualquer ouvido humano,
como a mais linda música que podemos experimentar, e muitas vezes à buscamos
artificialmente em palavras que não nos foram ditas, mas sim a outros por
tantos músicos e cantores.