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Rebeca Diógenes - Acadêmica de Medicina |
Entre Algoritmos e Pulsações -
Inteligência Artificial na Medicina.
Por Rebeca Diógenes - Acadêmica de
Medicina (Unichristus), Advogada(UNIFOR), Escritora e membro da SOBRAMES.
Presidente da Liga de Interação Medicamentosa e Dependência Química (LINDEP).
Autora de relatos científicos, projetos de pesquisa em trauma e saúde pública.
Apaixonada pela medicina que escuta, acolhe e escreve com alma.
Ela chegou de
mansinho. Primeiro como curiosidade nos congressos, depois como protocolo no
hospital, e hoje… está em quase tudo. A Inteligência Artificial, com seus
algoritmos ágeis e respostas rápidas, entrou na medicina com a promessa de
tempo ganho, diagnósticos precisos e prontuários mais enxutos.
E é verdade: ela
ajuda. Muito.
Lê milhares de
imagens em segundos. Cruza exames, sintomas, desfechos — e surge uma suspeita,
uma sugestão de conduta, um alerta precoce.
Mas há algo que
ela ainda não aprendeu: tocar.
A IA não sente o
frio da mão do paciente. Não percebe o tremor na voz de quem disfarça o medo
com piada. Não entende o silêncio da mãe que ouve o diagnóstico do filho como
quem desaba por dentro. Ela calcula, prediz, orienta — mas não escuta com o
coração.
A inteligência
artificial pode ser uma parceira fiel. Substituirá horas de burocracia,
planilhas, laudos repetitivos. Libertará o médico do peso das tarefas que
esvaziam o tempo do cuidar. Mas não, não ocupará a cadeira ao lado da cama.
Porque essa cadeira é da escuta, da presença, do “estou aqui”.
O paciente não
busca apenas um tratamento. Ele busca ser visto. E para ser visto, é preciso
mais do que um software treinado — é preciso empatia, contexto, alma. O bom
médico, mesmo com IA ao lado, continuará sendo insubstituível, porque nenhuma
máquina lê o olhar como ele. Nenhuma linha de código sente a intuição que pulsa
entre os batimentos cardíacos e o histórico familiar.
Se a medicina é
ciência, sim, a IA tem lugar.
Mas se a medicina
é também encontro, então o humano segue essencial.
Um algoritmo pode
prever a falência de um órgão. Mas não acolhe a angústia de um pai. Pode cruzar
dados de mil artigos em minutos. Mas não sabe segurar uma mão em silêncio
quando a dor é maior que qualquer palavra.
A medicina do
futuro será, certamente, tecnológica. Mas que seja também mais humana.
Que o chip não
roube o estetoscópio, mas o liberte para ouvir melhor.
Que a tela seja
aliada, e não barreira.
Porque, no fim,
quem cura não é só o remédio — é o cuidado. E cuidado, minha cara IA, ainda é
verbo que só o humano sabe conjugar.