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segunda-feira, 9 de junho de 2025

Por Rebeca Diógenes: Entre Algoritmos e Pulsações - Inteligência Artificial na Medicina.

Rebeca Diógenes - Acadêmica de Medicina 


Entre Algoritmos e Pulsações - Inteligência Artificial na Medicina.

Por Rebeca Diógenes - Acadêmica de Medicina (Unichristus), Advogada(UNIFOR), Escritora e membro da SOBRAMES. Presidente da Liga de Interação Medicamentosa e Dependência Química (LINDEP). Autora de relatos científicos, projetos de pesquisa em trauma e saúde pública. Apaixonada pela medicina que escuta, acolhe e escreve com alma.

Ela chegou de mansinho. Primeiro como curiosidade nos congressos, depois como protocolo no hospital, e hoje… está em quase tudo. A Inteligência Artificial, com seus algoritmos ágeis e respostas rápidas, entrou na medicina com a promessa de tempo ganho, diagnósticos precisos e prontuários mais enxutos.

E é verdade: ela ajuda. Muito.

Lê milhares de imagens em segundos. Cruza exames, sintomas, desfechos — e surge uma suspeita, uma sugestão de conduta, um alerta precoce.

Mas há algo que ela ainda não aprendeu: tocar.

A IA não sente o frio da mão do paciente. Não percebe o tremor na voz de quem disfarça o medo com piada. Não entende o silêncio da mãe que ouve o diagnóstico do filho como quem desaba por dentro. Ela calcula, prediz, orienta — mas não escuta com o coração.

A inteligência artificial pode ser uma parceira fiel. Substituirá horas de burocracia, planilhas, laudos repetitivos. Libertará o médico do peso das tarefas que esvaziam o tempo do cuidar. Mas não, não ocupará a cadeira ao lado da cama. Porque essa cadeira é da escuta, da presença, do “estou aqui”.

O paciente não busca apenas um tratamento. Ele busca ser visto. E para ser visto, é preciso mais do que um software treinado — é preciso empatia, contexto, alma. O bom médico, mesmo com IA ao lado, continuará sendo insubstituível, porque nenhuma máquina lê o olhar como ele. Nenhuma linha de código sente a intuição que pulsa entre os batimentos cardíacos e o histórico familiar.

Se a medicina é ciência, sim, a IA tem lugar.

Mas se a medicina é também encontro, então o humano segue essencial.

Um algoritmo pode prever a falência de um órgão. Mas não acolhe a angústia de um pai. Pode cruzar dados de mil artigos em minutos. Mas não sabe segurar uma mão em silêncio quando a dor é maior que qualquer palavra.

A medicina do futuro será, certamente, tecnológica. Mas que seja também mais humana.

Que o chip não roube o estetoscópio, mas o liberte para ouvir melhor.

Que a tela seja aliada, e não barreira.

Porque, no fim, quem cura não é só o remédio — é o cuidado. E cuidado, minha cara IA, ainda é verbo que só o humano sabe conjugar.

 

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