NORDESTE - Por: Ronald Teles

                       Dr. Ronald Teles / Cardiologista

 Nordeste

"O sertanejo é antes de tudo um forte", dizia nosso grande Euclides da Cunha, em sua obra literária emblemática, "Os sertões ",onde o autor vislumbrava na fraqueza aparente, e nas vicissitudes da vida do nordestino um homem talhado para a superação das dificuldades de seu pobre território e sofrido destino.

Temos em nossa região nordeste o maior número de estados da federação, que são nove, o mais pobre deles que é o Maranhão, uma área que corresponde à 18% do território nacional, com cerca de 1.500.000 k2,com uma população de 57 milhões de habitantes. Estamos localizados próximo ao Equador na latitude 45,temos 4 climas, mas o prevalente é o tropical semi-árido, que basicamente nos confere duas estações de seca ou verão e inverno ou chuva. Nosso relevo característico também é responsável por nosso clima e envolve os planaltos, como o da Borborema, Chapada Diamantina e outros que impedem as massas de ar frio vindas dos oceanos funcionando como verdadeiras barreiras, esquentando os outros dois relevos que são as planícies e depressões. Temos três bacias hidrográficas, sendo a mais importante, a bacia do São Francisco que é perene e tem varias hidroelétricas ,projetos de irrigação ,funciona como importante hidrovia e tem grande extensão . As outras duas são a do Parnaíba, que tem o maior delta  do Brasil, e a do Tocantins / Araguaia.

Nossa capital Fortaleza é a de maior PIB e o estado mais rico é o Ceará. Temos um IDH alto, a capital turística mais visitada do Brasil, as praias mais lindas, e também uns dos 16 Bilionários do país residem nas plagas alencarinas. Nossos 187 municípios cearenses estão dentro do clima seco/úmido. Nosso estado tem imenso potencial turístico, assim como também requisitos do segundo Polo de energia limpa do Brasil, através do sol e ventos que aqui são abundantes quase todo o ano, facultando energia solar e eólica ,assim como em breve futuro a instalação de usinas de eletrólise para obtenção do hidrogênio verde, que é o combustível que vai cessar o deletério efeito da mal fadada matriz do petróleo, carvão e gás que estão destruindo o planeta terra 

Nosso estado do Ceará é destaque também na educação e o município de Sobral empresta seu modelo ao Brasil, com enorme sucesso em todos os níveis pedagógicos. Somos o estado com maior número de vitoriosos no vestibular mais difícil do Brasil, que é o do ITA. Este curiosamente foi criado por um Cearense nascido em 1905 e falecido 90 anos depois, o marechal do ar, Firmino Montenegro, que dirigiu o ITA até 1965,e o fundou após uma ida ao Massachusetts institute of Tecnology(MIT),como um modelo de instituição de alto nível intelectual e tecnológico, que futuramente exportaria grandes valores e conhecimentos de engenharia mecânica, elétrica, eletrônica e aeroespacial para outros países, assim como em importantes cargos e funções destacadas em nosso próprio país. Empreendimentos resultantes do ITA, se destacam como a EMBRAER, fabricante de aviões consagrados em todo o planeta, com a assinatura brilhante de nossos engenheiros.

Nosso símbolo nordestino é uma vegetação xerófita, chamada mandacaru, um cacto que teima em sobreviver, sem uma gota d'água, acumulando o orvalho, em seu caule esponjoso. Ele nunca perde seu verdor, parece feliz ,cercado da caatinga, com seu microclima, arrodeado de terra seca e dos bichos que lá também lutam pela vida, como os répteis, lagartos, passarinhos e carcarás. Ele têm também pequenos espinhos que o fazem valente, contra aqueles que pensam em aniquilar sua resiliência frente às intempéries de sua vida solitária, única e exemplar.

Esse cacto é nosso espelho, nós que padecemos da pobreza resultante das monoculturas da cana de açúcar no século XVI ,e do algodão no século XVIII, dos nossos descobridores e exploradores, portugueses que as exportavam para a Europa, em regime escravagista e extrativista exploratório, com a hierarquia da casa grande e senzala, a pecuária extensiva no interior, a concentração de renda dos grandes latifundiários, a pouca diversidade e baixa industrialização completam a explicação de nossa sina, associadas ao nosso semi-árido, índices pluviométricos inconstantes e baixos, assim como baixa escolaridade, más condições sanitárias, e assistência médica insuficiente. No século XX sofremos com a exploração dos outros entes federados, aos quais enviávamos alimento e manufaturas, em uma relação desigual e martirizante. Houve uma migração massiva, do nordestinos ao sul/ sudeste, os " cabeças chata' e " paraíbas" ,colocaram suas  preciosas mãos nessas regiões e construíram uma herança inesquecível, em toda sorte de ocupações, na maioria mais humildes, mas honestamente e com muito amor e alegria que caracterizam nosso povo. Muita discriminação houve e ainda hoje, nós que fomos as "aves de arribação" daquela época por uma perversão exploratória, ainda hoje somo vistos como os " judeus", migratórios e cidadãos de segunda classe.

Na verdade não somos nada disso! Nosso DNA mitocondrial( materno) mostra nossa origem maior de ascendência portuguesa e holandesa, seguida da africana e indígena. Essa bendita miscigenação nos deu uma vasta cultura, uma fé inabalável, uma culinária única, uma música única, uma alegria única, um orgulho único, uma riqueza singular, e um Deus a nós abençoar constantemente, pois ELE   diz que : " Os humilhados serão exaltados".

Não há como citar todas as virtuoses das áreas que assinalamos, mas me sinto na obrigação de indicar  os construtores das letras do Nordeste do Brasil e também são universais, pois esses nomes fazem parte de uma das sete artes, e também uma das mais importantes, pois o livro e a literatura atravessam as barreiras do tempo e nos fazem viajar pelo presente, passado ou futuro, assim como projetam dentro de nossos corações sentimentos diversos de auto- conhecimento e lições para a vida.

Castro Alves, Augusto dos Anjos, Manoel Bandeira, José de Alencar, Rachel de Queiroz( a primeira mulher a adentrar à ABL),Graciliano Ramos, Euclides da Cunha, José Lins do Rego, Graça Aranha, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna, Ferreira Gullar, Patativa do Assaré, e tantos outros, assim como nomes da atualidade, e uma modalidade de literatura nossa que é o cordel, que remonta aos cancioneiros medievais e encanta por sua verve de repente, improvisação e grande inteligência e perspicácia. 

Nosso sangue nordestino é motivo de orgulho e altivez perpetrado através de nossa vida aflitiva e por um passado de escravidão, subordinação e desprezo. Hoje há uma migração reversa e nossos irmãos voltam aos seus torrões, pois somos também fortes, progressistas, intrépidos, e corajosos. Nossa resignação, paciência e grande inteligência, nos fazem vocacionados para um futuro de paz, prosperidade e progresso em todas as áreas, com as bênçãos perenes de Deus sobre nossa sofrida terra nordestina, que no século XXI desponta como uma promessa realizada de nosso imenso Brasil.