Dr. William Moffitt Harris - Médico e Membro da SOBRAMES-CE |
BANDEIRA VERMELHA: UMA OVA!
1
William Moffitt
Harris 2
Quando
ia a São Vicente e ficava lá alguns dias hospedado no apartamento de minha
filha, costumava fazer uma caminhada, quase que diariamente, de uns três a
quatro quilômetros ao longo da praia perto do mar onde a areia é mais firme.
Uma pequena deficiência física na altura do joelho esquerdo em consequência de
uma implantação de prótese total não muito bem sucedida, obriga-me a andar
devagar e com cautela, ajudado pela bengala para não tropeçar em alguma
anfractuosidade e cair. A bengala que usava tem como formidável dispositivo um
quadrado de borracha, trazida da Argentina por um amigo meu, preso em sua
extremidade que não a permite afundar na areia.
Em
fins-de-semana e nas férias escolares são milhares de pessoas que aproveitam o
bom tempo ensolarado para passar horas lagarteando e se banhando nas águas
frescas e movimentadas do mar.
Faz
alguns anos que observo que a CETESB, órgão estadual que cuida do saneamento
básico, iça em alguns pontos da praia uma pequena bandeira vermelha de mais ou
menos um terço de um metro quadrado onde está escrito: IMPRÓPRIA. CETESB. Não
existe qualquer informação sobre sua origem, finalidade e utilidade. Ninguém
está por lá para prestar qualquer tipo de esclarecimento. Quem teve a
paciência, interesse e compreensão técnico-administrativa para acompanhar a
entrevista da Secretária Estadual do Saneamento e Meio Ambiente Dilma Pena no
programa Opinião da TV Tribuna em
fevereiro, deve ter se sentido frustrado ao notar a grande preocupação do alto
escalão governamental em traçar metas a médio e longo prazo sem definir e
cuidar muito do planejamento a nível operacional na periferia do organograma.
Num
mês de fevereiro, há poucos anos, conversei um pouco com um dos bombeiros que estavam
de plantão perto do emissário próximo à Ilha de Urubuqueçaba. Disse-me que o
negócio deles é zelar pela segurança física dos banhistas. Nada têm a ver com a
poluição do mar. Estão bem equipados com tábuas de surfing, bóias, cordas, pequenos barcos a motor, uma ambulância
estacionada na praia para pronto atendimento e até um helicóptero sobrevoando
periodicamente as praias da circunvizinhança. Vi lá adiante uma cabecinha,
subindo e descendo com as ondas do mar e fiz uma pergunta ao bombeiro. Riu e disse-me
que era um nadador profissional muito conhecido dele e de seus companheiros e
que costumava avisar quando ia dar a volta na Ilha.
Lembro-me de que na
semana anterior, havia abordado um dos policiais que fazia, junto com dezenas
de colegas fardados, o policiamento ostensivo das calçadas e báias onde os
turistas estacionavam seus veículos. Indaguei dele o porque da total omissão
das autoridades locais face ao aviso da CETESB e as centenas de pessoas
mergulhando e brincando na água, a maioria das quais
crianças
até de tenra idade. Mostrei minha preocupação com doenças veiculadas pela
poluição e mesmo citei algumas transmitidas por fezes. Ficou interessado na
minha prosa, mas disse que realmente não era atribuição de seu pessoal e que a
responsabilidade, no caso, seria da Secretaria da Saúde de São Vicente e seus
fiscais. Acrescentou que, pelo que soube, um fiscal foi até agredido por
insistir para as pessoas saírem da água. 3
Não
faz muito tempo - há cerca de dois anos
– vi perto da Ilha Porchat uma professorinha cuidando de umas quinze ou
vinte crianças na beira d’ água e
algumas maiorzinhas adentradas no mar. Creio que eram de alguma creche ou
escolinha municipal. Tinham entre sete e dez anos de idade aproximadamente.
Abordei a professora de forma educada e interessada, e perguntei se conhecia o
significado daquela bandeira vermelha. Foi categórica: - Ninguém aqui liga para isto, não. É coisa de políticos;
briga entre os governos municipal e estadual. Acho que é também coisa de
médico...
Identifiquei-me
como médico sanitarista e professor aposentado da USP. Replicou incontinenti: - ‘Tá vendo? Não falei?
E
voltou a seus afazeres junto às crianças que estavam se divertindo à beça. Não
me deu mais a menor atenção...
__________________________
1 -
Apresentado nas seguintes tertúlias literárias do Movimento
Médico Paulista do Cafezinho Literário - MMCL : 92ª em 7/fev/2009 em Santos
(15ª reunião de Santos), 93ª em 18/fev/2009 em Sorocaba (12ª reunião de
Sorocaba), 94ª em 7/março/2009 em Taubaté (10ª reunião de Taubaté), 95ª em
14/março/2009 em Santo André (10ª reunião de Sto André), 96ª tertulia literária
do MMCL em 21/março/2009 em Piracicaba (9ª reunião de Piracicaba) e na
100a em 21/maio/2009 em Sorocaba (13a reunião de
Sorocaba). Apresentado na reunião da “Academia em Poesia” da Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” em
9/março/2009 e no 2º Congresso Paulista
Comunitário de Letras em Santos (1 a 3 de maio de 2009) quando foi
festejado o 4º aniversário do MMCL.
2 – Pediatra Sanitarista. Prof. Dr. (aposentado) da
Faculdade de Saúde Pública – USP. Fundador (05/05/05) e Coordenador Estadual do
Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL. Membro Titular
ativo da Associação Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES desde
2003, nível central SOBRAMES-BR,
níveis regionais: SOBRAMES-RS da SOBRAMES-CE (Membro Honorário e Titular).
Dissidente e separatista da SOBRAMES-SP. Membro Correspondente da Academia
Maceioense de Letras. Sócio Titular da Associação Paulista de Medicina
e Associado da Associação dos Médicos de Santos. Membro Associado da Academia Vicentina de Letras, Artes e
Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” de S. Vicente – SP. “Padrinho” do Movimento Literário Saberes
e Sabores – MLSS de S. Gonçalo do
Sapucai – MG.
3 – Estas
baias foram depois retiradas para dar lugar a uma ciclovia que vai até Praia
Grande. Os moradores locais também reclamavam da barulheira que os donos dos
carros estacionados faziam à noite e em fins de semana com o som de seus rádios
ligados no máximo volume.