Dra. Celina Côrte lendo o texto "ENVELHECER" na reunião da Sobrames-CE de 13/01/2014 |
ENVELHECER
Manoel
BASTOS TIGRE
Poeta
pernambucano (1882-1957)
I
Entra
pela velhice com cuidado,
Pé
ante pé, sem provocar rumores
Que
despertem lembranças do passado,
Sonhos
de glórias, ilusões de amores.
Do
que tiveres no pomar plantando,
Apanha
os frutos e recolhe as flores;
Mas
lavra, ainda, e planta o teu eirado,
Que
outros virão colher quando te fores.
Não
te seja a velhice enfermidade.
Alimenta
no espírito a saúde,
Luta
contra as tibiezas da vontade.
Que
a neve caia, o teu ardor não mude.
Mantém-te
jovem, pouco importa a idade;
Tem
cada idade a sua juventude ! ...
II
Boa
noite, velhice, vens tão cedo;
Não
esperava, agora, a tua vinda.
Eu,
tão despreocupado estava, ainda,
Levando
a vida como um brinquedo...
Tens
tão meigo sorriso e um ar tão ledo.
Nos
teus cabelos como a prata é linda.
Ao
meu teto, velhice, sê bemvinda
Fica
à vontade. Não me fazes medo.
E
ela assim me falou, em tom amigo:
—
Estranha me supões, mas, em verdade,
Há
muito tempo que, ao teu lado, eu sigo.
Mas,
da vida na estúrdia alacridade,
Não
me viste viver, seguir contigo...
Eu
sou, amigo, a tua mocidade.
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