Dr. Sebastião Diógenes - Médico e Primeiro Tesoureiro da Sobrames-CE |
O
neurocirurgião
Quando o meu irmão entrou no centro
cirúrgico contava 17 anos de idade, efeito do grande hematoma subdural que lhe
afetava o juízo. Assistiu-o um competente neurocirurgião da nova geração. Ele
possui um ativo de 6 anos de residência no centro mais avançado em cirurgias
neurológicas do mundo e 10 anos de experiência profissional no Instituto Dr.
José Frota.
Ao deixar o centro cirúrgico, o
mano já se encontrava com a idade normal: 73 anos bem contados, especificando o
dia, o mês, o ano e o local de nascimento. Sucesso absoluto!
Durante o tempo que o neurocirurgião
realizava a avaliação pós-operatória imediata, vi-o adolescente transitando na
minha memória. Passei a relembrar algumas travessuras dele quando menino
enquanto contemplava o grande médico que acabara de devolver a felicidade à
nossa família. Louvado seja!
Ele sempre foi muito inteligente e
estudioso, embora chegado às reinações próprias da juventude. Fez sucesso
quando cumpria o intercâmbio cultural nos Estados Unidos. Os pais americanos
logo se apaixonaram pelo engenhoso estudante estrangeiro. Ele tem esse dom de
cativar as pessoas. Na escola a adaptação foi muito fácil e logo se destacou
nos estudos. Obtinha notas excelentes o que fascinava a mãe americana. Ela
exultava de alegria e não se cansava de elogiá-lo. Com o braço em flexão e o
punho brandindo em sugestão de vitória, ele exclamava:
- I am
“escroto”, Mum!
- What does “escroto” mean, son?
Ele
explicava, à luz das suas conveniências, o significado da palavra. Não lhe
continha, porém, o riso maroto. A mãe não era boba e se deliciava com a sua
erudição. E quando dela recebia presentes ficava muito contente, agradecia com
um efusivo abraço e exagerava nos elogios:
- You are “foda”, Mum!
E assim o tempo foi passando até o dia da
formatura. Os pais viajaram de Fortaleza para participar da solenidade, fazia
parte da tradição. E trazer o filho de volta, e era tempo. Os maravilhados pais
americanos ofereceram um churrasco de despedida.
- The barbecue is very good, Mrs
Goodhill. Comentou o pai,
que dominava bem o inglês.
- I am “escroto”, Dr. Francisco!
Percebeu-se traída pelo transporte e ficou
meio encabulada. Pediu desculpas pelas intimidades, se poderia tratá-lo pelo
primeiro nome. “Sure”, disse Dr. Francisco. A americana estava cheia de
entusiasmo e curtiu pra valer o último dia com o filho, que não tivera
dificuldades de amá-lo.
Dr. Francisco logo compreendeu que o filho
andara aprontando. Não pôde conter um risinho zombeteiro, no entanto, a sua
mulher fechou a cara, não achou graça nenhuma. Por sorte, não havia outros
brasileiros na festa.
Ao se despedirem, a americana deu um forte e
demorado abraço no filho e, ao mirar os pais com os olhos marejados, externou o
mais genuíno sentimento de sua alma:
- The little Francisco is “foda”!
Ainda
no táxi, no caminho do aeroporto, o filho se explicou e pediu desculpas pela
brincadeira que praticara com a mãe americana. Foi uma maneira que encontrara
para ouvir, no dia a dia, tais vocábulos e, assim, aliviar um pouco a saudade
da linguagem da nossa gente.
A estória terminaria aqui se no ano seguinte
os americanos não viessem para a festa de aniversário do pequeno Francisco.
Momentos antes da festa, com visível preocupação estampada na cara, “little”
Francisco chamou a mãe a um canto e pediu- -lhe que não pronunciasse aquelas
palavras. Explicou-lhe os feios significados e pediu desculpas pela
brincadeira. Ela abraçou-o, beijou-o e disse que não se preocupasse, já
conhecia o calão das referidas palavras. Claro estava que não iria
pronunciá-las aqui no Brasil. Sem ele saber, havia recorrido ao dicionário logo
que notara o seu jeito meio molequinho de ser. E se havia pronunciado tais
palavras por ocasião do churrasco, porque queria fazer uma despedida bem
alegre, descontraída, à maneira brasileira. E nestes termos encerrou-se a
conversa sobre o vocabulário das obscenas frases de “little” Francisco:
- No problem, son! You are great!"
Passados
tantos anos, ainda hoje eles se encontram e se confraternizam: lá e cá, com o
léxico das boas maneiras.
E
o Neurocirurgião - com a inicial maiúscula, que o novo Acordo não leve em
consideração a desobediência -, deve estar se perguntando o resignado leitor.
Obrigado pela paciência de ter chegado até aqui, respondo-lhe com ciência.
Trata-se de um trabalhador incansável, chega junto ao paciente e não o abandona
nunca. Artífice do bisturi e do trépano: é um salvador de vidas. De quebra, é
católico! Quer mais? Procure um santo!
Sebastião
Diógenes. Em 31 de dezembro de 2013.
Querido amigo Sebastiao, gostei de sua forma elegante, clara, sintética de relatar um fato real e jocoso, além de prestar uma homenagem a um profissional competente, um Neurocirurgião de mão cheia! E...... ou F..., como devo considerá-lo? ;-)
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