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quinta-feira, 1 de maio de 2014

POR: JOÄO ROZAS BARRIOS - AS GARRAFADAS

Dr. Joao Rozas Barrios - do Movimento Médico Paulista Cafezinho Literário (MMCL) 

                                                AS GARRAFADAS

 Texto enviado pelo Dr. William Moffit Harris


     Garrafada, fórmula medicinal preparada com componentes de origem vegetal, mineral e animal. É um preparado de uso comum entre aqueles que buscam, na medicina popular, a solução de seus problemas de saúde física, mental e espiritual. Seus protagonistas ou oficiais, conforme o meio em que se pratica, é formado por curandeiros, raizeiros, benzedeiros e benzedeiras, rezadores, pais e mães de santo, catimbozeiros, juremeiros, pajés urbanos e até por pessoas comuns, simples curiosos entre outros.
     Em resumo: beberagem feita por leigos aplicada como remédio.
     A garrafada é herança das antigas triagas, preparados que existiam desde a Antiguidade clássica. Como a garrafada permanece no cenário da medicina popular ou rústica contemporâneo, deve-se admitir que seu poder de cura seja efeito da fé religiosa que alimenta a esperança de cura, acreditando na sua eficácia. Esse sentimento não é garantido pela medicina oficial ao doente. Esta a razão de admitirmos que qualquer tentativa de se explicar esse poder incomum de cura transcende o nosso entendimento, ultrapassando mesmo o resultado das detalhadas análises científicas farmacêuticas dos componentes dessas formulações, pois desobedecem a critérios lógicos de suas funções e de seus efeitos.
     As primeiras fórmulas trazidas pelos europeus ao Brasil eram as chamadas triagas que eram preparados à base de vinho e mel, acrescidas de substâncias de origem vegetal, animal e mineral conhecidas desde a Antiguidade. O termo de origem grega –Theriakè – e latina – Theriaca -, inicialmente significava antídoto contra envenenamento de qualquer origem.
     Essa história se inicia com Mithriades IV, rei da cidade de Ponto, na Ásia Menor. Esse monarca, que vivia com medo de ser envenenado, passou a vida tentando descobrir antídotos contra venenos. Ele os experimentou em seus escravos.  Essas experiências passaram à história com o nome de Mithridatum. Andrômaco, medico grego oriundo de Creta, e que servira como arquiatra de Nero, denominou o produto dessas experiências com o nome de Teriaga, que quer dizer fera.
     Com o tempo a própria Teriaga teve como sinônimo o termo Andrômaco.
     Inicialmente era preparada com algumas substâncias que se acreditava tivessem propriedades capazes de neutralizar os venenos das cobras e outros peçonhentos. Com o passar dos anos, o composto foi sendo enriquecido pelos mais variados ingredientes e chegou a ter cinqüenta e seis. Esse era o número da fórmula clássica da Teriaga.
     Esse composto, que começara com carne de víboras, sucos de alguns vegetais, sais diversos, pele de lobo, abelhas amassadas, óleos diversos, teve com o passar do tempo sua fórmula acrescida de muitos outros elementos.
     Galeno foi o cirurgião dos gladiadores e também um ginasta. Treinava  luta Greco romana. Utilizava muito a Teriaga e lhe aumentou os componentes fazendo com que chegassem a setenta. Ela levava meses para ser preparada e era guardada em potes e, como o vinho, quanto mais velha, melhor !
     Galeno tinha tanta fé nesse produto que ele pessoalmente a preparava para os imperadores aos quais servia.
     Durante toda a Idade Média, a Teriaga dominou a lista de preparados utilizados para combater todas as enfermidades.
     Não havia ninguém, plebeu ou nobre, cidadão ou escravo, “cultos ou ignorantes, expertos ou tolos,” que não confiasse cegamente na Teriaga. Servia para prevenir doenças, curar as picadas de qualquer serpente, tratar as inflamações e lutar contra a peste negra, como nos informa Petrucelli.
     O inglês Heberden, que por ter estudado e descrito as saliências que as pessoas artríticas têm nos dedos, e que ficaram com seu nome – nódulos de Heberden – realizou uma campanha crítica contra a Teriaga fazendo que esta passasse a perder a sua popularidade. Entretanto esteve em farmacopéias da França, Espanha e Alemanha até o último quarto do século XIX.
     Sob o ponto de vista farmacêutico seria um eletuário que é todo remédio de consistência um pouco mais solida que o mel.

Dr. João Rozas Barrios
Médico Ortopedista em Sorocaba

     

domingo, 27 de abril de 2014

POR: CELINA CÔRTE PINHEIRO - MAIS UM PEDESTRE


Dra. Celina Côrte Pinheiro - Médica e Presidente da Sobrames-CE
Publicado do Jornal "O POVO" ,  24/04/2014.

Mais uma morte de pedestre nesta cidade chama a atenção. Há quase um mês, chorei a morte de amiga de 85 anos, bastante ativa e lúcida. Ao atravessar a rua, onde os automóveis se postavam parados diante do semáforo, foi colhida violentamente por um motociclista que não parou. Semelhança no nome das vítimas: ele, o Thalis; ela, a Taís. Algumas dessas mortes podem até ser reputadas ao próprio pedestre incauto ou ignorante em relação às normas do trânsito, contudo é importante que se discuta a questão da vulnerabilidade de quem caminha nesta cidade, por necessidade ou prazer.

O pedestre não é portador de uma carapaça ou armadura que o proteja. Qualquer impacto atinge diretamente seu corpo frágil. É visível a violência do trânsito onde imperam a falta de educação, a agressividade inútil e a pressa desnecessária dos motoristas. Atenção à direção defensiva parece ser um item negligenciado na prevenção de acidentes. Em 2012, o Detran-CE contabilizou 413 pedestres mortos no trânsito, correspondendo a 17,19% entre os óbitos. Acima deste valor, apenas os motociclistas que corresponderam a 36,91%.

De janeiro a setembro de 2013, foram contabilizados 736 atropelamentos de pedestres, o que corresponde a uma média de três ao dia. O risco de morte do pedestre atropelado aumenta conforme a velocidade do veículo que o atinge. Aos 40 km/h, o risco de morte é de 30%, eleva-se a 85% aos 60 km/h e é praticamente 100% aos 80 km/h. Construam-se passarelas, disponibilizem-se sinais para pedestres e outros aparatos destinados à sua proteção.

Contudo, enquanto o comportamento dos motoristas não for mudado, muitas mortes ainda ocorrerão. Há necessidade da integração de hábitos simples ao cotidiano dos guiadores. Dobrar esquinas em alta velocidade, não reduzi-la ao avistar um pedestre atravessando a rua, enfim, não obedecer às normas comezinhas da boa civilidade é atitude inadequada no trânsito. Sem cordialidade e respeito no trânsito, em pouco tempo, uma verdadeira guerrilha estará instalada, com estatísticas cada vez mais assustadoras.

Celina Côrte Pinheiro
celinacps@yahoo.com
Médica ortopedista e traumatologista

POR: FÁTIMA AZEVEDO - VERSINHOS DA HORA

Dra. Fátima Azevêdo - Médica e membro da Sobrames-CE

sábado, 26 de abril de 2014

POR: CELINA CÔRTE PINHEIRO - DIA DAS MÃES

Dra. Celina Côrte Pinheiro - Médica e Presidente da Sobrames-CE

DIA DAS MÃES
Celina Côrte Pinheiro

Abro o iPad e vejo meus e-mails
ofertas, ofertas, mais ofertas...
Uma delas desperta-me a atenção
"Ofertas especiais para o Dia das Mães"
Procuro em vão o que desejo
procuro mais um pouco e nada vejo
onde estão os carinhos, o amor puro e o desvelo
a mão leve que passa em meus cabelos
o beijo terno agradecido e carinhoso
a flor simples arrancada no jardim
e devagar colocada entre os cabelos...
Isto é tudo que preciso
isto é tudo o que quero
e não vejo...

quarta-feira, 23 de abril de 2014

POR: CLAUDIO JULIO FERRARESI - O REI DO RISO

Dr. Claudio Julio Ferraresi - Médico Gastroenterologista - Membro do MMCL (Movimento Médico Cafezinho Literário) - Núcleo do MMCL de Sorocaba-SP


O REI DO RISO ( * )

Nota: Texto encaminhado pelo Dr. William Moffitt Harris 

                        O humor é uma das chaves para a compreensão da cultura, religiões e costumes da sociedade. A palavra humor, surgiu da medicina humoral dos antigos gregos, que acreditavam ser o humor, responsável por regular a saúde física e emocional humana.  Na imprensa escrita no Brasil, aparecem as primeiras “charges” que ridicularizam o cotidiano urbano e político da capital da República. O passo seguinte é o humor presente no radio, deixando registros geniais como, por exemplo, Lauro Borges e Castro Barbosa na famosa PRK 30. A chegada da televisão na metade do século passado, traz como conteúdo presente em sua programação, o circo e o teatro de comédia. Do Circo destacaram-se Fuzarca e Torresmo, Arrelia e Pimentinha e Carequinha. O Teatro de comédia intercalava-se com o Teatro Dramático. Na década de 60. 70 surgem comediantes ( vindos principalmente do radio ) que  fizeram história na TV como Chico Anísio, Jô Soares, José Vasconcelos, Golias, Nair Belo, Costinha, Agildo Ribeiro, Valter e Ema D ‘Avila  e outros. No cinema destacam-se Mazaropi, Oscarito, Grande Otelo, Ankito.
Derci Gonçalves. Uma das fórmulas de sucesso nas grades de programação televisiva, são as escolinhas do humor. Ficaram famosas as escolinhas do Professor Raimundo, interpretada magistralmente por Chico Anísio, tendo como alunos, um “cast“ maravilhoso de artistas. Seguem na mesma linha as escolinhas do Gugu ( Augusto Liberato ) e a de Carlos Alberto de Nóbrega com um e seus alunos, nada menos do que Ronald Golias. Afirma-se no meio artístico que o precursor do “stand up“ no Brasil, tenha sido Jose de Vasconcelos. Essa modalidade de humor, muito presente nos dias de hoje, caracteriza-se pelo humor executado por apenas um comediante, que se apresenta geralmente em pé, sem acessórios, cenários ou caracterização. O reconhecimento e homenagem que pretendemos, e deve ser passada aos nossos jovens, é para o humorista Nhô Totico,  Vital Fernandes da Silva nascido em Belém do Descalvado/SP em 1903 e falecido em São Paulo em 1996, que criou a Escolinha da Dona Olinda. Ele criou dezenas de personagens, interpretando e fazendo sonoplastia, tudo de improviso e ao vivo, um pioneiro das comunicações. Iniciou a carreira em 1933. Representou com maestria o diálogo entre o caipira e o urbano. Estilizou o universo urbano em formação, profundamente ligado às imigrações e migrações do final do século XIX e primeira década do século XX.  Ele caracterizou sozinho seus personagens, uma verdadeira “companhia “ de atores reunidas num só homem. Alguns de seus personagens são: Dona Olinda que era a professora e os alunos Minguinho, Mingote, Mingau ( Italiano ), Jorginho ( de origem Árabe ), Manuel ( Português ), Sebastião ( Rural ), Sokô ( Japonês ) e Seu Joaquim         ( preto velho, bedel da escola ). A ponte aérea Rio/São Paulo foi inaugurada pela VASP em 1936. Em 1941, Nhô Totico de  São Paulo, aterrisa no Aeroporto Santos Dumont para apresentar-se nos luxuosos auditórios da Radio Mayrink Veiga. Sucesso estrondoso, mas Nhô Totico rejeita ofertas de trabalho no Rio e volta a São Paulo. Passa para a Radio Educadora Paulista. Sua penetração através do rádio, é imensa, haja vista que um dos bordões da personagem Caropita ( uma italianinha a procura de casamento )  “cajado ô xortero? “ invade São Paulo. Nessa época, está na Radio Cultura, PRE4, o “Palácio do Radio” e os “speaker“ da época usavam expressões como “Rei do Riso”, “Mago da Palavra” para anunciar seus programas. Sem sobra de duvidas, Nhô Totico foi precursor da Escolinha e do Stand up, pois suas apresentações no radio, eram no palco, sozinho, em pé no improviso e com platéia atenta ouvindo e aplaudindo.



(*)Fonte: Fernandes, Paulo; Nhô Totico, O Rei do Riso; 1ª Ed.; Reverbo; 2010.



Claudio Julio Ferraresi

Abril/1     2014

sábado, 19 de abril de 2014

POR: FÁTIMA AZEVÊDO - AMOR DE PASSARINHO

 
Dra. Fátima Azevêdo - Médica e Membro da Sobrames-CE
AMOR DE PASSARINHO
O amor de passarinho
Arrepia é cafuné
Joga penas para o ar
Pula aqui pula acolá
Chega perto, corre ali
Vai e volta sem cessar
Roda gira me entontece
Fico zonza só de olhar
 O amor de passarinho
Ele azul, ela branquinha
Vale à pena observar
Ficam sempre bem juntinhos
Dão beijinhos sem parar
Quisera que teu amor
Fosse assim, de passarinho
(Fátima Azevêdo)

sexta-feira, 18 de abril de 2014

POR: SEBASTIÃO DIÓGENES - CAUSO DE CONSULTÓRIO - 3



 
Dr. Sebastião Diógenes - Médico e Tesoureiro da Sobrames-CE
Causo de consultório – 3

                O menino contava dez anos de idade e sofria de atopia. Apresentava, na ocasião da consulta, inflamação e fissuras profundas no sulco retroauricular de cada orelha. Enquanto examinava-o, a mãe falava mal do Dr. Mesquita, meu amigo e com quem dividia o consultório na Clínica Dr. Batista de Queiroz (na época eu atendia aos sábados em Quixadá). A mãe falava, eu só escutava. Que o Dr. Mesquita não sabia de nada, que a pomada que ele passou era o mesmo que água do pote. Eu só escutava e vasculhava o cérebro à procura de uma boa tese para defender o nobre colega. Um médico notável, sobretudo, humano e de excelente formação profissional: cirurgião geral, clínico geral, obstetra e pediatra. E a mãe não parava de falar. Que em Quixadá não tinha médico que prestasse, os doentes precisavam passar uma semana esperando um otorrino para consulta e outros queixumes mais. Então, ocorreu-me o assunto infalível para punir pelo colega, enquanto pensava as feridas do menino.
            - Mãe, a senhora tem quantos filhos?
            - Quatro. – Respondeu a mãe, acrescentando que o pequeno paciente era o mais velho deles.
            - Onde eles nasceram?
            - Na maternidade do padre Luís.
            - A senhora lembra quem fez os partos?
            - Claro! Foi o Dr. Mesquita. Ele fez os quatro partos. O último foi cesáreo, a criança estava sentada. – Informou a mãe, com a fala mais branda, como que desconfiada com a falta de freio da própria língua.
Após esse diálogo a mãe permaneceu calada, pensativa. Voltamos à anamnese.
            - Mãe, qual a pomada que o filho está usando?
            - Esta aqui. – E entregou-me o tubo da pomada vazio. Olhei-o, consultei a composição do medicamento e comentei:
            - Pois, graças a esta pomada que o Dr. Mesquita passou as orelhas dele não caíram.
            - Valha-me Deus! – Exclamou a pobre mãe com visível expressão de aflição estampada na cara. E continuou. – Eu falo assim do Dr. Mesquita só por falar, não é por maldade. Ele é um santo! Ô doutor de mão boa! Abaixo de Deus, aqui em Quixadá, só o Dr. Mesquita!
            Claro que logo depois tranquilizei a angustiada senhora, que os pavilhões auriculares do filho jamais correram risco de cair.
            - Por favor, não conte nada pro Dr. Mesquita. Ele pode ficar zangado.  - Suplicou-me a mãe, visivelmente preocupada.
            - Fica nada! Pode ficar sossegada. – Dei como resposta.
 O melhor dessa história, à feição de um prêmio que não poderia perder, foi uma sonora gargalhada do Dr. Mesquita quando lhe contei o presente causo. Lá se vão 38 anos!
            Sebastião Diógenes.
            Em 13-04-2014.