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sábado, 27 de setembro de 2025

Por Ronald Teles - ROSAS

Dr. Ronald Teles - Cardiologista

ROSAS


Me cerco de flores,

De amores perfeitos,

Que brotam do meu peito,

E digo não ao ódio,

Resguardo- me de tua face crua,

Humores ácidos que escorrem de teu ser,

Destarte o bem que recebeste,

De tantos que te cercaram,

Em dolorosas vertigens,

Da tua carne atormentada,

Supliciada pelo tempo, por agudos momentos,

Diante tudo que te maltratava,

Agora aqui estamos,

Juntos novamente,

Aproveita a inocência e beleza das rosas,

Que se enchem da graça,

Que vem do alto,

Sem quereres de sol ou chuva,

Brilhando todo o dia,

Com pétalas suaves e molhadas,

Pela brisa e gotas lacrimosas,

Felicidade que não demora,

Mas não te diz nada,

Para que então um dia pressintas,

Que necessitas desta mesma graça,

Liberdade para tua alma

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

POR REBECA DIÓGENES: O TEMPO DAS HORAS E O FIM DO MUNDO

Rebeca Diógenes - Acadêmica de Medicina  

O Tempo das Horas e o Fim dos Mundos

Antigamente, a vida corria no compasso dos sinos da igreja e do apito do trem. O dia começava com o galo, terminava quando o sol se escondia, e o mundo parecia imenso e ao mesmo tempo simples. As conversas aconteciam na calçada, o tempo era medido pelo cheiro do café coado e pela rotina das estações. O futuro não se apressava — vinha lento, como chuva anunciada no horizonte.

Hoje, o tempo não cabe mais no relógio. As horas se dissolvem em telas luminosas, e a vida é contada em notificações. Conversamos menos com quem está ao lado e mais com quem está a quilômetros. O mundo, que antes parecia distante, agora cabe no bolso — mas, paradoxalmente, nunca pareceu tão esmagador. Falamos em progresso, mas nos perdemos em algoritmos; corremos contra o tempo, mas sempre chegamos atrasados.

E quanto ao fim do mundo? Talvez ele não venha com trombetas ou fogo dos céus, mas em pequenas doses cotidianas: no silêncio entre duas pessoas na mesma mesa, na pressa que devora o presente, na solidão de quem tem mil amigos virtuais e nenhum ombro real. O fim do mundo pode estar menos no planeta e mais dentro de nós, no instante em que esquecemos de viver como antes — com a calma de quem sabia esperar, com a simplicidade de quem reconhecia beleza no pouco.

Cecília Meireles, em sua delicada sabedoria, já nos lembrava que “a vida só é possível reinventada”. E talvez seja isso: o fim não é apenas destruição, mas o perigo de não reinventarmos a própria existência, de nos perdermos no ruído e esquecermos a poesia escondida nos gestos simples. Quando deixamos de reparar nas flores que nascem sem alarde ou no silêncio das estrelas, é como se começássemos a escrever, em silêncio, o nosso próprio apocalipse.

Talvez o mundo não acabe em explosão, mas em esquecimento. O fim não será um clarão, mas um piscar de olhos. E, quem sabe, um dia ainda olharemos para trás e veremos que o verdadeiro fim começou quando deixamos de olhar o céu — esse mesmo céu de Cecília, sempre aberto, sempre nos lembrando que “o tempo é a minha matéria, o tempo presente, pessoas presentes, a vida presente”.

 

 

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

POR RONALD TELES - TEU OLHAR

 

Dr, Ronald Teles - Cardiologista

Teu olhar


Vi minha vida nos teus olhos,

Refletida em passos frágeis,

Caminhados e postados,

Às  margens de nossos destinos,

Lágrimas escorridas em sussurros,

Pensamentos leves como o vento,

Que assolam em um lamento o passado;

Mas, eis me aqui de novo,

Fitando o sol do teu olhar,

Límpida estrada que me move,

Ao meu interior que tudo pode,

Até mesmo me perdoar,

Quando derramas esta luz dentro de mim,

E recalcitrante ainda erro,

Sabendo que me afasto de ti,

Então me olhas de novo,

E sinto a esperança,

Da paz de uma criança,

Em seu plácido sono,

Sabendo que mais um dia foi vencido,

E antes do sol haver partido,

Habitaste em meu coração

terça-feira, 19 de agosto de 2025

POR RONALD TELES: DESTINO

 


Destino

Tuas dores são caminhos inexplicáveis,
Que reverberam em tantos outros,
Que guardo em meu peito,
Mas não me dou o direito de decifrá- las,
Relíquias de novos valores,
Alegrias, amores ou rancores,
Abrasados pelas emoções,
Vivas em teu coração,
Já perdoados pelo tempo,
Descortinando novos rumos,
Avançando em auroras,
Que te acolhem por inteiro,
Te convidando a enxergar- te,
Dentro de si mesmo,
Onde finalmente repousarão, 
As asas da paz que elevam teu espírito,
Ao momento mágico e inaudito,
De um sorriso pleno,
Sem mais lamentos,
Pois encontrastes teu destino,
Eras um menino, que homem se tornou.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

POR RONALD TELES: PRESSA

 

Pressa

Corro contra o tempo,
Busco o último raio solar ,
Que encontrou o primeiro brilho da lua,
Perdido entre ponteiros de relógio,
Assinando a face clara do destino,
Que me conduziu como um menino,
E agora me fez só, comigo,
Sonhando com a plenitude da calma,
Essa mesma que afaga nossa alma,
Nos mostrando novos caminhos,
Não veredas confusas,
Mas avenidas banhadas de orvalho,
Enfeitadas com flores lindas,
Pavimentadas de louvor e regozijo,
Com tudo o que é preciso,
Para ver que ainda resta alento,
Para saber que não hajam  dolosos lamentos,
Por correr tanto contra o tempo,
Quando tudo que é bom, airoso e profundo,
Guardamos dentro de nossa alma e corações,
Transbordantes de brilhante amor,
Superando dores e cicatrizes,
 Nos libertando então do mundo

terça-feira, 24 de junho de 2025

Por Ronald Teles: BITUPITÁ


BITUPITÁ

Ofereço este poema ao meu pai Paulo Teles e a todos os meus tios, da família Teles.

Uma luz no pontal reflete em outra no alto mar,
Irradiando meu coração com ondas flamejantes,
Que movem areias em seu leito,
Em um movimento constante,
Vagueando pelos ventos,
Também itinerantes,
Que revolvem o presente e o passado,
Trazendo lembranças vivas,
Espraiadas ao meu lado,
Fugidias por um momento,
E acolhidas em lágrimas,
Que escorrem em meu rosto,
E que secam ao mesmo vento,
Que beija minha face,
E as recolhe no mesmo mar,
Vida e morte de tantos,
Que se foram e ainda estão aqui,
Presentes neste solo sagrado,
Osculado e amado por teus filhos varonis
E agora revisitado por quem sempre te amou,
E fingiu que não te quis,
Pedindo perdão pelo bem que sempre nos deste, e nunca se acabou .

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Por Rebeca Diógenes: Entre Algoritmos e Pulsações - Inteligência Artificial na Medicina.

Rebeca Diógenes - Acadêmica de Medicina 


Entre Algoritmos e Pulsações - Inteligência Artificial na Medicina.

Por Rebeca Diógenes - Acadêmica de Medicina (Unichristus), Advogada(UNIFOR), Escritora e membro da SOBRAMES. Presidente da Liga de Interação Medicamentosa e Dependência Química (LINDEP). Autora de relatos científicos, projetos de pesquisa em trauma e saúde pública. Apaixonada pela medicina que escuta, acolhe e escreve com alma.

Ela chegou de mansinho. Primeiro como curiosidade nos congressos, depois como protocolo no hospital, e hoje… está em quase tudo. A Inteligência Artificial, com seus algoritmos ágeis e respostas rápidas, entrou na medicina com a promessa de tempo ganho, diagnósticos precisos e prontuários mais enxutos.

E é verdade: ela ajuda. Muito.

Lê milhares de imagens em segundos. Cruza exames, sintomas, desfechos — e surge uma suspeita, uma sugestão de conduta, um alerta precoce.

Mas há algo que ela ainda não aprendeu: tocar.

A IA não sente o frio da mão do paciente. Não percebe o tremor na voz de quem disfarça o medo com piada. Não entende o silêncio da mãe que ouve o diagnóstico do filho como quem desaba por dentro. Ela calcula, prediz, orienta — mas não escuta com o coração.

A inteligência artificial pode ser uma parceira fiel. Substituirá horas de burocracia, planilhas, laudos repetitivos. Libertará o médico do peso das tarefas que esvaziam o tempo do cuidar. Mas não, não ocupará a cadeira ao lado da cama. Porque essa cadeira é da escuta, da presença, do “estou aqui”.

O paciente não busca apenas um tratamento. Ele busca ser visto. E para ser visto, é preciso mais do que um software treinado — é preciso empatia, contexto, alma. O bom médico, mesmo com IA ao lado, continuará sendo insubstituível, porque nenhuma máquina lê o olhar como ele. Nenhuma linha de código sente a intuição que pulsa entre os batimentos cardíacos e o histórico familiar.

Se a medicina é ciência, sim, a IA tem lugar.

Mas se a medicina é também encontro, então o humano segue essencial.

Um algoritmo pode prever a falência de um órgão. Mas não acolhe a angústia de um pai. Pode cruzar dados de mil artigos em minutos. Mas não sabe segurar uma mão em silêncio quando a dor é maior que qualquer palavra.

A medicina do futuro será, certamente, tecnológica. Mas que seja também mais humana.

Que o chip não roube o estetoscópio, mas o liberte para ouvir melhor.

Que a tela seja aliada, e não barreira.

Porque, no fim, quem cura não é só o remédio — é o cuidado. E cuidado, minha cara IA, ainda é verbo que só o humano sabe conjugar.