Pedro Israel Novaes de Almeida |
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
O texto foi encaminhado pelo sobramista Dr. William Harris e o autor é freqüentador eventual do MMCL.
NATUREZA REBELDE
Apesar dos avanços da ciência
e dos aparatos tecnológicos, a humanidade ainda é um amontoado de indivíduos,
submetido aos caprichos e rigores da natureza.
Não
evitamos os tsunamis, sequer conseguimos prever os terremotos, não entupimos
vulcões, não dissolvemos furacões e pouco influímos na distribuição das chuvas.
A tentativa de adaptar a natureza a nossas conveniências tem sido catastrófica.
Fizemos
dos rios depósitos de lixo e materiais poluentes, como se fossem garis naturais
que passam em nosso quintal. No mar, lançamos efluentes, com emissores que
passam desapercebidos a olhares distantes.
Na
agricultura e pecuária, tornamos monótona a paisagem e complicada a
sobrevivência de outros habitantes do planeta, com milhares e milhares de
hectares revestidos por uma única espécie vegetal. Estimulamos o surgimento de
pragas e doenças, cada vez mais vorazes, pois servimos o cardápio pouco
diversificado, sem concorrentes naturais com igual apetite.
Tornando
monótonas as paisagens, influímos no regime dos ventos, e das chuvas, para
depois reclamarmos, dizendo que a natureza endoidou. Maltratamos as nascentes,
e ficamos indignados quando uma pequena estiagem emagrece rios e seca
reservatórios.
Vivemos
importando plantas e animais estranhos, deixando que se espalhem ambiente
afora, como se a natureza não esboçasse qualquer reação, com os novos hóspedes.
Quando não importamos, cuidamos de cria-los, campeões de produtividade, como se
o constitucional Princípio da Precaução dissesse respeito a estudos e
acompanhamentos de poucas safras.
Ainda, e
por muito tempo, estaremos submetidos ao surgimento de pestes, doenças que
mataram milhões de pessoas, ao longo de nossa história. Vírus, bactérias e
fungos estão em permanente vigília, aguardando as condições para alarmar a
população e causar danos gigantescos.
Acenamos
com uma descoberta magnífica, quando descobrimos o valor nutritivo de cama de
frango, pomposo nome da mistura de palha com estrume, na alimentação
bovina. Ao ver o bovino ingerir bosta de
frango, a natureza blasfemou: - vaca louca !
Em nossa
intimidade com os animais, ultrapassamos a fronteira da amistosidade, e
repartimos com eles a Aids, a terrível doença dos pombos e tantas outras. Nas
redes sociais, cenas de animais domésticos, lambendo a boca de bebês, são tidas
como exemplos maravilhosos de carinho e respeito mútuo.
Quando da
grita mundial contra a poluição da atmosfera, nações poderosas postergam
medidas saneadoras, a pretexto de protegerem suas indústrias, livrando-as de
investimentos oneradores. Na zona urbana, aplaudimos o advento dos estudos de
impacto de vizinhança, e pouco percebemos que nossa maior vizinha, sempre
presente, é a própria natureza.
Criamos
uma sociedade onde as embalagens são mais importantes que os produtos, e
produtos são meros materiais transitórios, rumo ao descarte. Mudamos o
tradicional “nada se cria, tudo se copia”, pelo “nada se conserta, tudo se
descarta”. No rumo que tomamos, seremos, no futuro, exímios e desesperados
consumidores de insetos.